História
No dia da consagração do Tabernáculo, Aarão imolou um bode pelos pecados
do povo, por que essa era uma tradição antiga que dizia que esse animal possuía
características especiais que o faziam ser capaz de catalisar os influxos
espirituais do povo. E desde então o bode passou a ser considerado um animal
sagrado.(1)
Em muitas culturas ele é o confessor dos pecados do povo e o seu redentor.
Para os antigos povos, a figura do bode sempre esteve conectado com
questões místicas. Os gregos, por exemplo, o utilizavam na representação dos
Mistérios Dionísicos. Nas cerimônias egípcias de iniciação nos Mistérios de
Isis e Osíris, costumava-se também lançar ao Nilo um bode, com os seguintes
votos: “se algum mal paira sobre a cabeça desses que estão sendo iniciados, ou
sobre a terra do Egito, que ele desapareça com essa oferta.” (2)
A cerimônia dos hebreus, sacrificando um bode pelo povo, ou levando-o
para o deserto e abandonando-o lá, tinha o mesmo sentido de sacrifício que
levava os gregos e os egípcios a essas práticas. Pensava-se que o animal podia
ser um catalisador de forças malignas e com a sua destruição, o mal seria
também destruído. Com base nessa tradição, alguns povos desenvolveram o costume
de “confessar para o bode” os seus pecados, por que, segundo se dizia, ele era
um animal confiável, ou seja, não divulgava para ninguém os segredos do
confessor.
A Tradição
A ideia de identificar o bode com temas luciferinos é uma
inspiração da Igreja Católica, que assim fez para desacreditar e
estigmatizar as antigas tradições que viam nesse animal um símbolo benéfico.
Essas tradições eram oriundas especialmente da cultura grega, onde
se conectava esse animal com o Deus Pã, a deidade protetora dos
pastores, que era representada por uma figura semelhante a um
bode.
O Bode na Maçonaria
O Bode, na Maçonaria está conectado justamente com as virtudes
iniciáticas que o animal inspira. A Maçonaria é, em sua origem e significados,
uma derivação dos Antigos Mistérios Gregos, os quais eram expressos através das
sagas dos heróis.
Já vimos que nas antigas tradições, o bode é purificador das faltas da
comunidade. Em grego ele era o Pharmakóy (o purificador), muitas vezes
confundido com o herói da pólis (a comunidade). Por carregar as faltas da
comunidade ele se tornava intocável e "sagrado". Dessa forma, quando
ele superava todos os obstáculos, como no caso do herói grego, ele se tornava
um ser altamente benéfico. Assim eram os heróis gregos que estavam sempre
dispostos a se sacrificar pela comunidade.
Dessa forma, a alegoria do bode está estreitamente ligada à tradição
iniciática. O Herói "Bode" é sempre um iniciado. Assim foi Hércules,
Teseu, Perseu, Jasão, Belerofonte e outros. A mesma analogia se pode fazer em
relação aos "heróis bodes" dos outros povos, como Rômulo e Remo para
os romanos, o babilônio Gilgamés, o egípcio Osíris, o troiano Páris, o hebreu
Moisés e por ai adiante. Todos, de alguma maneira, são representados como
"bodes" do sacrifício para seus povos.
Dessa forma, na tradição iniciática, "Bode", é o que foi
iniciado, passou por imensas provações, venceu e afinal foi glorificado como
herói.
Para a Maçonaria o termo “bode” pode assumir vários sentidos. Ao
sacrificar, na iniciação, os vícios da vida profana e assumir o seu compromisso
de maçom, o Irmão assume a condição de “bode” do sacrifício. (3)
Por outro lado, o segredo é um dos princípios da boa Maçonaria. Daí o
termo se referir, principalmente, ao indivíduo que sabe guardar segredo, isto
é, àquele que mesmo torturado não fala. Essa tradição vem dos tempos da
Inquisição, quando a Igreja mandava prender e torturar os praticantes das
chamadas heresias. Diziam os torturadores que tais indivíduos eram como
“bodes”. Berravam mas não falavam. (4)
__________________________________________________________________
Notas
1- Levítico: 16: 20 a 28.
2- Cf. E. Wallis Budge, op citado, Vol I. Para os antigos egípcios, o
bode também representava o signo zodíaco de Capricórnio e era o guardião do
portão por onde o iniciado entrava para receber os Divinos Mistérios.
3- Os maçons são chamados de “bodes” por diversas razões. Uma delas é o
caráter sagrado que esse animal assumia nos antigos rituais iniciáticos.
4- Diz-se que Napoleão Bonaparte fechou várias Lojas maçônicas em seus
domínios e mandou torturar muitos irmãos para que eles denunciassem pretensos
conspiradores. Segundo a tradição, os torturadores, ao reportar ao Imperador o
resultado de suas torturas, disseram a ele a mesma coisa que os carrascos do
Santo Ofício: “Majestade, esses maçons berram como bodes, mas não dizem um
único nome”.
Por João Anatalino
0 Comentários