Por
Barbosa Nunes (*)
Quem
são eles? Quais os seus nomes? São homens e mulheres anônimos compenetrados e
atentos ao que estão fazendo em nosso benefício. Trabalham e passam
despercebidos como se fossem apenas sombras. Enfrentam as intempéries, perigos
de contaminação e nos prestam um inestimável serviço. Raros são alvos de
cumprimentos de moradores das ruas pelas quais passam, várias vezes por mês.
O Dia do Gari é comemorado
anualmente em 16 de maio,
em todo o Brasil. Esta data tem o objetivo de homenagear os profissionais
responsáveis em manter as ruas, praças limpas de todo o lixo gerado
naturalmente ou por ação do ser humano. Não recebem o devido respeito e
visibilidade que merecem. Graças ao seu trabalho podemos viver em uma cidade
mais limpa e bonita.
O
termo "gari" surgiu em homenagem ao francês Pedro Aleixo Gary, que ficou conhecido
por ser o fundador da primeira empresa de coleta de lixo nas ruas do Rio de
Janeiro, em 1976. Assim, os cariocas quando queriam que as ruas fossem limpas
após a passagem dos cavalos, chamavam os "garis". Ele assinou
contrato em outubro de 1876 com o Ministério Imperial para organizar o serviço
de limpeza da cidade do Rio de Janeiro, que incluía remoção de lixo das casas e
praias e posterior transporte para a Ilha de Sapucaia.
Antigamente
seus uniformes eram de cor cinza. O que causava maior invisibilidade. Muitos
garis acabavam sendo atropelados, principalmente à noite, por conta dessa “camuflagem”. Fora
então adotado aquele laranja bem forte, com faixas brancas nos braços, que
refletem parcialmente a pouca luz presente nas ruas no meio da noite. O
movimento das faixas nos braços acabava formando um tipo de sinalização para quem
não reparava, com isso, como já se era esperado, o número de acidentes caiu
bastante.
Não
por culpa deles, mas pela má administração de prefeituras, ruas de cidades
ficam sujas e expondo a população aos riscos e doenças que podem ser causadas
em consequência do lixo acumulado. A sociedade é ingrata com esses laboriosos e
silenciosos trabalhadores. Um gesto de bom dia para um gari tocará direto no
fundo do seu coração, pois neste momento ele foi considerado uma pessoa. O
psicólogo Fernando Braga da Costa, para concluir seu mestrado em
“Invisibilidade pública”, vestiu o uniforme e trabalhou um mês como gari,
varrendo ruas da Universidade de São Paulo.
“Constatou
que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são ‘seres
invisíveis’, ’sem nome’. Em sua tese de mestrado, pela USP,
conseguiu comprovar a existência da ‘invisibilidade pública’, ou
seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à
divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não
a pessoa”.
O
professor garante que teve a maior lição de sua vida: “Descobri que um simples
“bom dia”, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um
sinal da própria existência. Senti na pele o que é ser tratado como um objeto e
não como um ser humano. Professores que me abraçavam nos corredores da USP
passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes esbarravam
no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas seguiam me ignorando, como se
tivessem encostado em um poste”.
Apesar
de imprescindíveis, quase sempre passam despercebidos. As pessoas costumam
considerar este trabalhador braçal apenas como sombra na sociedade, seres
invisíveis, sem nome, enfrentando o drama da “invisibilidade pública”.
Fernando
Ângelo em poesia intitulada “Sou Gari”, traz a todos nós uma lição que permite
meditar sobre o tratamento que dispensamos aos amigos e irmãos garis.
“Sou
Gari, Sou catador de lixo, E me tratam como bicho. Quando quero trabalhar. Não
bastasse ainda o sacrifício, De acompanhar de perto o desperdício, De tudo
aquilo que ainda dá pra aproveitar. Menosprezam meu serviço, Mas ainda sinto
orgulho do meu ofício, Pois dele meu sustento posso tirar.
Ainda
assim o meu dinheiro, Não me paga o reconhecimento, Que eu deveria ganhar. Pois
não apenas varro ruas e calçadas, E nem somente recolho o lixo das estradas, Que
você insiste em sujar. Minha ação vai mais além, Pois mesmo sendo um
"ninguém", Da sua saúde ajudo a cuidar.
Mesmo
assim não sou doutor, Mas faço tudo com amor, Para que doenças não possam se
alastrar. Dê valor ao meu trabalho, Suo a camisa sem horário, Para tudo
organizar. E mesmo que você não veja, Eu sou aquele na peleja, Para uma cidade
limpa te entregar”.
“O
gari representa faxineiros e serventes... Em seu lugar, as máquinas não
têm a eficiência. Se não feita pelo gari, a limpeza parece ausente. O
trabalho simples, requer ordem e paciência. Repare no gari: – Parece um
ser "imantado". Apesar do mérito de seu serviço, é mal
remunerado. Sendo irrisório o seu ganho, sobrevive mal alimentado. Mas
com todas as dificuldades, o gari é educado... É uma educação vinda de
berço e da sua criação. Com pouco estudo, o gari se sujeita à
humilhação! Mais que um mero político, o gari merece respeito”.
Concluo
este artigo convidando-os amigos de todas as semanas para uma atenção, reflexão
sobre um tema novo “Invisibilidade Social”, que é tratada na tese de doutorado
do psicólogo Fernando Braga da Costa, relacionada a pessoas que exercem profissões desprovidas de
status, glamour, reconhecimento social e adequada remuneração.
São os
trabalhadores que executam tarefas imprescindíveis à sociedade moderna, mas
assumidas como de categoria inferior pelos mais variados motivos. Geralmente
não são nem percebidos como seres humanos, e sim apenas como “elementos” que
realizam trabalhos a que um membro das classes superiores jamais se submeteria.
Em consequência, o que não é reconhecido não é visto.
As
profissões cujos elementos carregam este estigma da “Invisibilidade Social”,
tais como lixeiros, garis, faxineiras, seguranças, frentistas, garçons,
cobradores de ônibus, e outras de caráter operacional. São vistos como inferiores
pela sociedade em geral.
Parabéns
meu irmão gari. Parabéns ser humano importante para a saude brasileira.
Parabéns pelo seu dia 16 de maio!
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