Por
Eduardo Amarante (*)
Nada para nós, Senhor, nada para
nós, mas para glorificar o teu nome
Já
tendo abordado várias facetas da Milícia de Cristo iremos, neste capítulo,
focar um aspecto diferente, mas que é, quanto a nós, talvez o mais importante:
refere-se precisamente à Ordem do Templo. Fundada no século XII, teve um papel
importantíssimo em toda a Europa, sobretudo no lado ocidental e, muito
particularmente, em Portugal.
Há
um fato, um fenômeno que nos suscita uma questão: porque é que no imaginário
português está tão presente e tão viva a história dos Templários e o seu
ideário? Não é fácil encontrar uma resposta definitiva, pois falta-nos ainda
muito para compreender na sua totalidade este fenômeno que foi a Ordem do Templo.
Relativamente
ao tema deste capítulo há, por um lado, a mensagem propriamente dita – que nem
sempre é abordada e, por outro lado, existe um aspecto mais divulgado e
extremamente importante, que é o dos símbolos e da história templária. Porém,
este último aspecto sem a mensagem, sem o lado esotérico, equivale a um corpo
sem alma, impedindo-nos de entender as causas profundas que moveram a Ordem do
Templo. Convém, no entanto, esclarecer que o lado esotérico é muito subjetivo.
O verdadeiro esoterismo não pode ser dito; o que se pode é propiciar o caminho
para se chegar ao interior das coisas, às realidades que se encontram para além
das aparências.
S. Bernardo de Claraval. |
Se
recuarmos um pouco na história, veremos que os finais de Roma coincidiram com a
perda dos Mistérios na Europa, que se trasladaram para o Oriente. Nesse momento
aconteceu a queda do Império Romano que originou a Idade Média europeia.
Oficialmente, Roma caiu em 453 d.C., mas, na realidade, já tinha caído aquando
do assassinato do Imperador Juliano e a consequente perda dos Mistérios e dos
valores do mundo clássico. A partir daí assiste-se a um interregno enorme, comumente
chamado “Idade Média”, que é na realidade um período intermédio entre duas
culturas, duas civilizações. Os Mistérios deslocaram-se, pois, para o Oriente e
o pouco que ficou foi canalizado por determinadas personagens, a nível
individual, e por algumas organizações. A primeira tentativa de fazer emergir a
Humanidade ocidental dessa terrível noite medieval nasceu com a Távola Redonda,
o Rei Artur e o mito de Camelot, baseado no antigo esoterismo druídico celta.
Cinco ou seis séculos mais tarde nasceu um fenômeno na Europa, uma personagem
absolutamente excepcional, tanto sob o ponto de vista político como místico:
São Bernardo.
"Bernardo
de Claraval. Mentor da Ordem do Templo a Ocidente e da Ordem Teutônica a Oriente,
foi o precursor do projeto espiritual de uma Europa Unida.
O
contexto histórico do século XII proporcionou o advento de São Bernardo. Para
além deste vulto de gênio também surgiu a Escola de Chartres que
muito contribuiu para o renascimento da antiga maçonaria de tipo egípcio na
Europa. Os Templários, cuja Ordem foi fundada nos inícios do século XII, vão-se
inserir perfeitamente neste portentoso fluxo de conhecimentos e
espiritualidade, ao assimilarem os conhecimentos que a Escola de Chartres lhes
propiciou, conhecimentos esses baseados na fusão do que restou dos antigos
Mistérios de Roma com os Mistérios druídicos.
Havia
a necessidade de uma organização que fosse a catalisadora de todo esse fluxo
espiritual. Por um lado apareceu São Bernardo e, por outro, a Escola de
Chartres, com a qual se deu início à construção das catedrais góticas,
autênticos livros de pedra lavrada repletos de significado simbólico e
esotérico. Ali estava todo um manancial de saber que, depois, irradiou um pouco
por toda a Europa. Porém, a nível de organização propriamente dita, atuando no
campo político e esotérico, surge a Ordem do Templo.
Os
Templários apareceram com todo um conjunto de símbolos que tornavam evidente a
sua missão para aqueles que os sabiam interpretar. Assim, quem sabia ler esses
símbolos entrou imediatamente em contato com a mensagem esotérica e aderiu, de
uma forma intelectual ou prática, à obra que os Templários se dispunham fazer.
Não foi uma obra dentro de um contexto isolado, já que houve condições para que
a realizassem. Se assim não fosse, nunca poderiam ter feito o que fizeram. No
entanto, há um dado que importa salientar e que, quanto a nós, é a parte mais
interessante desta temática: é que eles não concluíram a obra ou, como diria Fernando
Pessoa “há uma missão que falta cumprir”. Nesta base, falar do passado é
extremamente importante, mas falar do futuro assente no passado não é menos
necessário. O passado, não o podemos modificar; o futuro, ainda o podemos
construir.
Reflitamos
um pouco sobre o significado da palavra TEMPLÁRIO. Eles pertenciam à Ordem do
Templo, queriam construir um templo. A Ordem também tinha um outro nome:
MILÍCIA DE CRISTO. Contudo, os Templários não se referiam em sentido estrito ao
Cristo da Igreja Católica, mas ao Cristo Cósmico, porque Christos significa
o Iluminado, que é o mesmo que Budha ou estado búdhico. Da
mesma forma que Budha se chamava Sidharta Gautama antes de alcançar o estado búdhico ou
a Iluminação, também Cristo se chamava Jesus antes de alcançar o estado crístico, ou
seja, a Iluminação. Cedo os homens alteraram a sua mensagem, temporalizaram-na
demasiado, tendo-se criado uma ou várias fraturas no cristianismo, a mais
importante das quais no século IV, que deu à Igreja Católica Romana o domínio
de todo o Ocidente e à qual todos deviam estar submetidos, sob pena de
excomunhão. Ficaram de fora todos aqueles que seguiam a pureza do cristianismo
original. Foram vários os movimentos que canalizaram esse espírito,
nomeadamente a Gnose e, mais tarde – já que não iremos aqui fazer uma
retrospectiva do cristianismo -, os Templários. Relativamente à denominação
Ordem do Templo, é claro que, oficialmente, referiam-se ao Templo de
Salomão; no entanto, este último só tinha importância para eles no seu aspecto
simbólico porque, na realidade, o que eles queriam era construir o templo dentro
deles próprios para, depois, se refletir no exterior. Por quê? Porque, para os
Templários, como para todos os que seguem a via esotérica, o Homem é o templo
de Deus. O Homem é feito à imagem de Deus. Só que a parte feita à imagem de
Deus não é o corpo físico, mas o Espírito. Quando se entendeu, erroneamente,
que era o corpo físico que estava feito à imagem de Deus, antropomorfizou-se
Deus e criou-se Deus à imagem do homem e não o Homem à imagem de Deus. Na
verdade, o corpo é o receptáculo-templo que alberga o Espírito, como um templo
de pedra também alberga o Espírito. Daí haver toda uma relação entre o
templo-universo-macrocosmos e o templo/corpo humano-homem-microcosmos. Assim,
verificamos que as igrejas de outrora eram todas construídas na base da relação
entre o macrocosmos e o microcosmos. Exemplificando, a planta típica de uma
igreja compunha-se da seguinte forma:
a)
havia uma nave central (linha vertical);
b)
depois o transepto que cortava a nave (linha horizontal);
c)
e a ábside (forma redonda)
Este
esquema representa o Homem com os braços abertos e com a cabeça virada para o
Oriente. O templo tinha determinadas formas, regras e leis, pois interessava
que ao entrar aí o Homem sofresse um processo de transmutação. É evidente que
tudo isso é simbólico, mas havendo a forma adequada o espírito pode entrar
nela. O templo estava sempre orientado, pois se não estivesse no eixo
oriente-ocidente estaria desorientado.
Ora,
já temos um símbolo bastante indicativo do que pretendiam os Templários. Não
iremos aqui analisar o número oito, mas sim o número cinco que tem mais diretamente
a ver com o tema que agora nos ocupa e é uma das muitas chaves de acesso ao
conhecimento interno da Ordem. Tomar, a segunda província templária no mundo,
foi um foco importantíssimo de irradiação mística, espiritual e esotérica. Aí,
na rosácea do pórtico principal da Igreja de Santa Maria do Olival – onde está
sepultado Gualdim Pais, fundador do castelo e da cidade de Tomar -, está
inscrita uma estrela de cinco pontas sobre uma rosa com as pétalas abertas. É
clara aqui a relação entre a rosa e a cruz, à semelhança da que foi
recentemente descoberta no interior do próprio castelo e que despertou,
finalmente, a atenção dos nossos historiadores oficiais, ou seja, exotéricos.
Começa-se, assim, a relacionar todo o simbolismo existente entre a Rosa e a
Cruz.
A
estrela de cinco pontas na Igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar. Repare-se
na foto de cima, onde a estrela surge de uma flor com as pétalas abertas.
A
estrela de cinco pontas representa o microcosmos/homem, o quinto princípio
humano – mente superior ou parte espiritual. Representa igualmente aquilo a que
Fernando Pessoa chamou o quinto império, porque o quinto elemento é
aquele que emerge do quatro, do quadrado. Se tivermos um quadrado e traçarmos
duas diagonais, o seu ponto de intersecção é o quinto elemento e, se lhe dermos
profundidade ao elevar esse ponto central, obteremos uma pirâmide de base
quadrada e quatro lados triangulares que dá o número sete, símbolo da
realização humana completa.
A
nossa meta é a obtenção do quinto elemento, porque o quatro já nós o
conhecemos: os quatro ângulos do espaço, os quatro pontos cardeais, o
“quaternário”. O “quadrado” por si vê as coisas de forma quadrada. Necessitamos
de uma dimensão metafísica, espiritual. É aí que entra o quinto elemento (o que
dá profundidade), que os orientais, os alquimistas chamaram éter. Não
interessa tanto o nome, mas sim que esse quinto elemento é o elemento
espiritual.
Os
Templários também deixaram outros símbolos que todos nós conhecemos. Um deles é
o famoso medalhão com dois cavaleiros numa montada, símbolo da pobreza inicial
da Ordem, já que os cavaleiros templários, à semelhança de todos os movimentos
espirituais, começaram realmente com muitas dificuldades. Mas há um outro
simbolismo por detrás desse, que é a representação de dois mundos, de duas
missões; representa a dualidade esotérico/exotérico, espiritual/material. Os
Templários tinham uma missão exotérica (exterior), pública, que satisfazia a
Igreja e outra, interna, que nós ainda hoje não conseguimos desvendar na sua
totalidade. Felizmente deixaram-nos símbolos, marcas, sinais que nos
possibilitam avançar na busca.
A
dualidade inscrita no medalhão templário e no seu gonfalão representa
igualmente a luta do bem contra o mal.
Também
utilizaram como símbolo o machado duplo, que vamos encontrar nas mais diversas
civilizações do passado. Em Creta, no palácio do rei Minos havia o labirinto
(da raiz labris = machado) onde estava encerrado o Minotauro. Teseu,
o herói grego, entrou aí munido de duas armas ou instrumentos: um fio e um
machado duplo. Foi com este último instrumento que ele matou o Minotauro. Do
ponto de vista psicológico, este mito significa que o labirinto está dentro de
nós e que, para encontrar o seu centro e matar o monstro, há que estar
preparado e ir munido com esse fio para não perder o rumo e com o machado duplo
para fazer um trabalho interno e outro externo.
Os
Templários trabalhavam a sua natureza interna, tornando-se puros e convictos do
Ideal que os habitava: um Ideal profundamente humano, universal, que se insere
na atual Era de Aquário. Eles sabiam bem o perigo de cair na especulação
intelectual. Atualmente, e para nosso grande mal, intelectualizamos muito e atuamos
muito pouco, cristalizamos demasiado o nosso pensamento a ponto de a prática
não se conformar com o que pensamos. Os cavaleiros do Templo, ao invés, não
separavam o intelecto da prática. Recordemos que a divisa templária é “ORA ET
LABORA”, ou seja, orar e trabalhar; cultivar o nosso interior e aplicar os seus
frutos em prol da comunidade.
Dinis
terá sido, na Europa do século XIV, o rei que melhor entendeu e soube da missão
dos Templários. Assumindo a qualidade de Pontifex, assegurou a ponte
entre o visível e o invisível, entre o mundo material e o mundo espiritual.
Rei, poeta, lavrador, o seu símbolo era, por excelência, o machado duplo, que
refletia a sua dupla ação: como poeta, lavrou os campos do espírito e, como
lavrador, cultivou os terrenos físicos. D. Dinis lavrou as terras, construiu
naus e preparou a epopeia marítima lusa que viria no futuro. Tal como diz
Fernando Pessoa, “foi o plantador de naus a haver”. Além disso, protegeu os
Templários perseguidos em toda a Europa pela cobiça de Filipe o Belo, criando
para o efeito a Ordem de Cristo em substituição da extinta Ordem do Templo. A
Ordem mudou de nome, mas os cavaleiros da Milícia de Cristo (nome pelo qual
também eram conhecidos os Templários) foram preservados assim como os seus
bens. D. Dinis, com este golpe político de génio, permitiu que a missão da
Ordem do Templo continuasse na Europa, na sua primeira fase e, posteriormente na
sua segunda fase, no mundo, como de facto veio a acontecer com resultados
palpáveis na época dos Descobrimentos.
No
Convento de Cristo em Tomar podemos observar ainda outros símbolos,
criptogramas e criptografados com vários níveis de acesso. É interessante
depararmos com uma mão com cinco dedos esculpida na pedra, uma das muitas
chaves simbólicas representativas do quinto elemento utilizado tanto pelos
Templários como pelas facções esotéricas do Islão. Inclusivamente e o que é
interessante para um estudioso, trata-se de um símbolo universal que se
encontra desde a América pré-colombiana até às culturas megalíticas. Num dos
claustros do mesmo convento vemos também, esculpida na pedra, uma figura
enigmática: Hermes Trismegisto. É uma divindade egípcia muito esotérica que
simboliza, de entre muitas coisas, o conhecimento interno da natureza. De
Hermes provém a palavra hermetismo, o que é hermético, fechado,
reservado aos iniciados.
Outra
figura que presumivelmente podemos encontrar no Convento de Cristo é o célebre Baphomet.
Houve quem erradamente pensasse que se tratava do diabo. Na realidade, a
palavra Baphomet provém do grego Bafe e Metis que
significa “iniciação na sabedoria”, pelo que a sua presença nesse lugar terá um
sentido mais amplo… a fazer fé pela forma como este símbolo é representado.
Um
outro aspecto a realçar, e já referenciado, é o de que o Castelo de Tomar
configura uma barca e está desenhado à imagem da constelação do Boieiro, da
qual faz parte a estrela Arcturo (Arthus/Artur). Este desenho ou representação
simbólica, figurada da barca do Castelo com a constelação do Boieiro, tem o seu quid,
pois induz a missão a cumprir no tempo terreno. É um dos legados transmitidos e
que nos indicia uma relação entre os cavaleiros templários em
Portugal e o mito do Rei Artur. Lembremo-nos que o Rei Artur, o Rei Urso, num
dos seus aspectos, é aquele que encarna na Terra o poder espiritual.
Arthus/Artur: o mito
Há
uma lei na evolução do mito por forma a que as proezas de um herói antigo sejam
“reatualizadas” nas de um herói mais recente. Assim, o novo Hércules (ou
Arjuna, personagem guerreira do Bhagavad Gîta do pensamento indiano) do século
VI d.C. chama-se Arthus e o seu instrutor é Merlin (o Krishna
galocelta), o mestre iniciador que se manifesta ao discípulo antes de este dar
início ao seu trabalho redentor. Merlin, arquidruida ou pontífice, surge
epifanicamente perante o olhar assombrado de Arthus, incumbindo-o de empreender
a difícil tarefa da conquista do Santo Graal, ou Monte Santo da iniciação, que
não é nenhum cálice, taça, jóia ou pedra física.
Merlin,
como mestre-iniciador, guarda relações com todos os heróis das teogonias e,
deste modo, assume-se como Hércules ógmico – deus civilizador -, que inspira
com seus doze trabalhos solares a demanda de seu discípulo Arthus.
Este reúne, então, seus doze cavaleiros/discípulos em redor da mesa ou
Távola Redonda, cavaleiros esses que representam os doze meses do ano
e os doze trabalhos hercúleos que o Sol realiza na Terra ao longo do ano.
Ou ainda, os doze patriarcas antediluvianos, os doze discípulos
de Jesus Cristo, os doze deuses maiores, ou signos do Zodíaco…
A
tradição cavaleiresca apresenta-nos Merlin encerrado na cidade de Daythia do
submundo, transformado em corvo, ou seja, sumido nas trevas deste ciclo humano
de queda na matéria, à espera do cisne, o Lohengrin ou cavaleiro andante
do ideal, que virá um dia desencantá-lo, isto é, propiciar o ressurgimento da magia
branca que trará de novo a Idade de Ouro. A lenda simbólica de Merlin está,
pois, relacionada com as grandes lendas iniciáticas, desde o Prometeu
agrilhoado, até ao Paraíso Perdido, às duas aves, branca e negra, de Odin
(Hugin e Munin), e ao símbolo do corvo-cisne dos cavaleiros Templários.
Assim,
o ancião Merlin, o jovem Arthus, os doze cavaleiros da Távola
Redonda, mesa eucarística do Santo Graal, conformam todos uma teogonia medieval
que, como as antigas, se apresenta no seu séptuplo significado (ou sete chaves
de interpretação): astronómico, numérico, geométrico, filológico, biológico,
artístico e histórico. E, tal como as demais, tratando-se de uma teogonia
secreta, somente por iniciação se poderia alcançá-la.
A Távola Redonda, mesa
eucarística do Santo Graal.
À sua volta encontram-se os doze
cavaleiros, iguais entre iguais. O cadeirão vazio (ou trono) aguarda o momento
próprio para ser ocupado pelo Senhor do Mundo.
Por
conseguinte, é mais um sinal de algo que os Templários nos quiseram
deixar quanto ao sentido da mensagem que pretendiam levar ao mundo e a
missão que pretendiam fazer. Não foi por acaso que D. Dinis, conhecedor e
sabedor da interpretação iniciática da tradição da Ordem do Templo, os tenha
protegido, compreendido e impulsionado na sua missão de levarem o ensinamento do
Quinto Império ao mundo através da saga dos Descobrimentos Lusos. Porém, ainda
não havia chegado a Hora, como bem entenderam os visionários da nossa
história, entre os quais Camões e Fernando Pessoa.
O
que é que podemos extrair, no imediato, da mensagem templária? Que não se pode
realizar uma obra espiritual se se estiver demasiado apegado às coisas
terrenas, dissipando a vida em ódios e intrigas. Há que primeiro realizar um
trabalho interno de transmutação; depois, ter a coragem de o levar para a
frente e de o concretizar. Neste momento, o que mais se necessita é de homens
espirituais, de homens de boa vontade imbuídos do espírito de entrega e serviço
a uma causa, a um ideal, com o fito de cumprir a missão pela qual a sua
existência se realiza; homens de espírito que saibam a missão para a qual foram
designados e tenham a luz, a força e o amor suficientes para canalizar todos os
que aspiram, sem reservas, a ter um papel na história para que a missão se
cumpra.
Esse
sonho, esse Ideal habita de tal modo em nós que ainda hoje andamos massacrados
interiormente com o Mito Sebastianista que, sob um determinado ponto de vista,
é a consequência negativa desse sonho inacabado.
O
que é que pretendiam os Templários? Pretendiam criar dentro do espírito da Nova
Era e da Idade de Aquário, uma simbiose entre a Ciência e a Religião, ou seja,
religião na ciência e ciência na religião, de modo a desenvolver a capacidade
de percepcionar Deus, o Inteligível, a Unidade Cósmica na Ciência e na
Religião. A Ordem do Templo, em suma, procurava a Verdade.
A
mensagem que os Templários têm para nós é a de criar esse Quinto Império – o
Império do Espírito na Terra, onde os valores espirituais predominam sobre os
valores materiais. Isso não impede que haja concretização. Os frades do Templo
sabiam muito bem que, para realizar a missão, era necessária uma sólida
estrutura material, embora submetida aos valores do espírito. É esse o conceito
de Quinto Império: o império do espírito sobre a matéria, o império do
entendimento e da concórdia. No ideal templário todos tinham o seu lugar,
porque haviam superado as diferenças de raças, credos, nacionalidades.
Nos
séculos XII, XIII, embora fossem obrigados pelas circunstâncias a assumir uma
posição oficial de acordo com as diretrizes da Igreja de Roma, mantiveram
ocultamente ligações muito estreitas com as elites intelectuais do Oriente.
Pretendiam preparar o terreno para que houvesse um entendimento entre os povos,
baseado naquilo a que podemos chamar uma religião universal, respeitadora
das diferenças de culto. Entendiam que Deus é Uno, que há um Caminho,
uma Unidade, um Objetivo Último, um Destino Comum para toda a Humanidade.
Se
aceitarmos que somos diferentes e que, apesar ou graças a essas diferenças,
podemos conviver uns com os outros, porque sabemos que há algo de superior que
nos une, começaremos a realizar no presente a anunciada Confederação de Estados
regidos por um princípio unitário.
A
obra que os Templários deixaram nas Índias e na América foi significativa;
porém, ainda não tinha chegado o momento histórico para implantar um Império
espiritual. Na realidade, tal como sucedeu na Grécia clássica com os
pré-socráticos, houve naquela época um movimento esotérico que serviu de
laboratório de ensaio para o futuro.
Os
Templários constituíram um foco de luz de tal modo potente que ainda hoje
ilumina o inconsciente coletivo do povo português. É uma força que não
conseguimos controlar, pois ultrapassa a nossa razão. Daí querermos entender a
mensagem que eles nos deixaram, descobrir verdadeiramente por que é que existiram,
já que pressentimos que há algo que ficou inacabado. Há que procurar inteligir
os símbolos, procurar compreender a missão templária e depois fazer a ligação
com o futuro, com a Nova Era.
Portugal
tem um papel importante no mundo. Teve no passado quando desbravou as trevas da
Idade Média e terá no futuro dando o exemplo de como se pode conviver com os
outros povos, independentemente de credos ou raças. Essa inspiradora luz
podemos nós encontrá-la na Ordem do Templo (ou de Cristo) que é parte integrante
da nossa história e é essa mesma história que agora nos chama para a missão do
futuro. Chegou a Hora.
(*) Eduardo
Amarante
Eduardo
Amarante nasceu no Porto em 1953. É autor de dezenas de livros e de artigos
cuja temática versa sobre a História em geral, a Simbologia e os Cultos e Tradições
de Portugal. O seu objetivo é levar ao conhecimento público as motivações
profundas e essenciais que caracterizam o modus vivendi do povo português.
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