Por
José Maurício Guimarães (33º, MI,(*)
PREMISSAS:
"A
Maçonaria não impõe nenhum limite à livre investigação da verdade".
"A
Maçonaria tem por fim combater a ignorância em todas as suas formas; combater
os hipócritas que enganam a humanidade; os pérfidos, que a defraudam e os
ambiciosos que a usurpam."
Apesar
de a Maçonaria moderna ter se estruturado na Inglaterra em 1717, ela já existia
atuante no século anterior e de maneira germinal em tempos remotos. Foi na
Inglaterra que a Maçonaria alcançou o estágio mais sofisticado de "negócio
de Estado" e desde então, naquela ilha, os Pedreiros Livres (freemasons)
permanecem condescendente com o sistema monárquico de governo. Foi também nessa
boa e velha Inglaterra que, em 1960, foi formada a banda de "The
Beatles", que tanto admiramos, e que não tem nada a ver com a Maçonaria.
Foi
na França, com a assistência dos adversários comuns da Coroa Britânica – os
escoceses – que as bases de futuras repúblicas foram moldadas, e tomadas para
si, pelo Rito Escocês a partir de 1786 e no decorrer da história. Menos de
setenta anos separam a Maçonaria como negócio de Estado monárquico das
Maçonarias revolucionárias e republicanas (Revolução Francesa, 1789-1799),
cujos principais líderes e redatores da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão foram maçons.
Não
pretendo dizer que a Revolução Francesa foi exclusivamente "obra da
Maçonaria", mesmo porque toda obra maçônica só é válida quando abraçada
primeiro pelos seus membros e Lojas; depois pelo povo. Foi também na França que
nasceu, em 1915, a insuperável cantora Édith Piaf (que tanto amamos) e que não
tem nada a ver com a Maçonaria ou com as repúblicas.
A
progressiva saída de cena da Maçonaria aconteceu com o surgimento, por um lado,
das organizações sindicais durante o século XIX – no Reino Unido, em 1871, e na
França, em 1884 – e por outro, com o desenvolvimento das modernas
universidades, laicas e de caráter estatal, introduzindo-se assim uma relação
nova entre os governos, os trabalhadores e o conhecimento.
No
final do século XIX os "segredos" da organização do trabalho (atuação
operativa) e os "mistérios" da pesquisa científica (atuação
especulativa) passaram das mãos dos maçons para os sindicatos e as
universidades – não por descuido da Maçonaria, mas por vontade própria da
legítima organização maçônica que almeja, em primeiríssimo lugar, o processo
civilizatório condenando qualquer forma de absolutismo ou controle do pensamento.
Não
obstante essas realidades históricas, a Maçonaria do século seguinte
(1901-2000) insistiu em preservar os feudos que haviam sido derrubados há mais
de um século e meio. O desgaste advindo dessa peleja é melhor observado em
países de cultura jovem como o Brasil, pois nos Estados Unidos a Maçonaria
vinha se fortalecendo, nos últimos séculos, mediante projetos sólidos,
abrangentes em termos da república e do interesse social (ver meu livro
"Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, História Fundamentos e
Formação", Belo Horizonte, 2014 - III e IV partes).
Entre
nós, os prolongados queixumes entremeados de gemidos e gritos de grande pesar
face ao desgosto de que – dizem eles – "a Maçonaria não está fazendo
nada", reflete a consequência de um absolutismo que insiste num modelo
feudal, cuja natureza intrínseca e oculta é monárquica: muitos caciques e
poucos índios.
Este
é o "nó górdio" que ainda não conseguimos desatar (Górdio, segundo a
lenda, foi um camponês da Frigia – Anatólia, na moderna Turquia – coroado rei
quando, cumprindo a previsão dos oráculos, chegou à cidade numa humilde carroça
que ele amarrou numa coluna com um nó impossível de se desatar. Enquanto a
carroça ali estivesse, só ele poderia governar, fazer as leis e julgar.)
Assim
permanecem os novos carroceiros que amarram seus coches nas colunas do Templo
da Sabedoria com um nó desafiante ao poder de seus súditos. Chega-se ao poder
pelo voto democrático, mas governa-se pelo sistema discricionário – esta é a
regra das novas sociedades INICIÁTICAS (não só a Maçonaria!!!) onde a educação,
o conhecimento e o poder não são compartilhados de forma igualitária: uns
"sabem" mais que os outros e o mínimo que dizem saber não
compartilham; de igual forma inventam "histórias para bois dormirem",
enquanto a vaca vai para o brejo.
Voltemos
à Frigia do ano 340 A.C., quando Alexandre, o Grande, ouviu a história do nó
górdio e, intrigado com a questão, foi até o templo e, após muito analisar,
desembainhou sua espada e cortou o nó com um único golpe.
Onde
estarão os Alexandres hoje?
Parafraseando
Fiedrich Hegel, ouso apreciar o que acontece com quaisquer outros fatos do passado,
refiram-se eles aos costumes, às leis, etc. – fatos pertencentes à história que
a miopia do Séculos XX e do atual Século XXI insiste, à custa de cultuar a
estupidez, em classificá-los sem nenhuma relação com a vida presente. E por
melhor que os verdadeiros estudiosos reconheçam esses fatos e personalidades em
todos os seus pormenores, o desafio que devemos enfrentar não tem se tornado
cultura nossa.
A
indigência cultural impede que nossos direitos − o conhecimento do poder e a
participação no poder do conhecimento − produzam os efeitos da glória que já
não existe. O que é histórico, disse
Hegel, só é nosso quando pertence à
nação a que também pertencemos ou quando podemos considerar o presente em geral
como uma consequência de tais ou tais acontecimentos passados, em especial
daqueles cujos caracteres e atos neles representados se prendem como os anéis
de uma cadeia. Não basta o laço que existe entre o povo e a terra em
que ele vive; é preciso que haja uma íntima ligação entre o passado do nosso
povo e o nosso estado atual, a nossa vida e modo de existência de hoje.
Mas
que essa ligação entre o passado e o nosso estado atual não se imobilize pela
carroça de Górdio estacionada na entrada dos templos.
(*) O Irmão José Maurício Guimarães é Venerável Mestre e fundador da Loja Maçônica de Pesquisas “Quatuor Coronati, Pedro Campos de Miranda”, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica de Minas Gerais
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