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Certificado de integrante da maçonaria, exposto na Biblioteca e Museu da Maçonaria, em Londres |
As
imagens associadas à maçonaria, tais como o esquadro e o compasso que adornam
incontáveis livros sobre o tema, podem aparecer para alguns de nós como
símbolos envoltos em mistério e evocar imagens de conspiração. De fato, elas
datam dos dias em que artesãos altamente capacitados estavam erguendo algumas
das mais espantosas catedrais e outras construções que ainda dominam as cidades
europeias.
Tais
edificações fornecem uma pista importante sobre as verdadeiras origens dessa
organização muito respeitada e amplamente difundida que se mantém viva e
atuante no mundo moderno. Você não pode deixar de se perguntar, enquanto dirige
o olhar para uma daquelas magníficas catedrais da Idade Média, como exatamente
os construtores do passado conseguiram erguer enormes blocos de pedra a alturas
incríveis; como conseguiram encaixá-los entre si tão precisamente, sem os
recursos da tecnologia e do conhecimento modernos. E mais: como elas apareceram
em momento tão semelhantes e construídas em formas relativamente próximas (no
século XII, enquanto as igrejas de Verona, Bérgamo e Cuomo eram construídas, na
Alemanha surgiam as de Lubeck e Freiburg; na França, as de Aix e Dijon; e na
distante Inglaterra, Canterbury e Bristol, todas com arcos romanos. Por fim,
você se pergunta, contemplando-as: como as construções ainda estão de pé tantos
séculos depois?
A
resposta jaz na geometria. Os mistérios da arte matemática eram, na época,
conhecidos por apenas uns poucos privilegiados entre os muitos que trabalhavam
dura e longamente para construir essas maravilhas arquitetônicas. Esses poucos
incluíam os mestres artesãos que trabalhavam a pedra. Graças a seu conhecimento
de geometria, os mestres pedreiros sabiam exatamente o que fazer com as enormes
rochas que vinham das pedreiras; como deveriam ser cortadas; como erguê-las; e
como conservá-las de pé ao longo dos séculos.
Para
compreender a razão pela qual esses artesãos poderiam ser chamados de
“pedreiros-livres” – expressão usada como sinônimo de “franco-maçons” ou
simplesmente “maçons” –, pense na enorme demanda por seus serviços naquele
período. Eles precisavam ser “livres” para viajar de um local de construção
para outro, em regimes de trabalho completamente diferente daquele dos homens
menos habilidosos, obrigados a servir seus mestres num único lugar. Os
pedreiros, como muitos artesãos da época, estavam organizados em guildas, como
a dos lombardos Mestres Comacinos, que aos poucos conquistaram algum poder na
organização social que começava a se transformar.
As
guildas surgiram primeiramente na Itália e em seguida na França, no século
VIII. Logo, o sistema se espalhou para o norte e, depois, pelo restante da
Europa. Ele se mostrou tão eficiente que em meados do século XIII já se tornara
uma das principais bases do sistema econômico e social europeu.
As
guildas pressupunham um sistema de ajuda mútua que incluía auxílio a membros
adoentados e órfãos e até mesmo sacerdotes a serviço do grupo para recomendar
os mortos. Mais do que isso, elas guardavam zelosamente os segredos de sua
profi ssão – quanto mais especializado o ofício fosse, maior o segredo
envolvido. Assim, ninguém fora dos círculos de mestres pedreiros, nem sequer os
homens poderosos que os empregavam para construir suas catedrais, conhecia os
meandros e as técnicas envolvidas em sua atividade – e muitos desses segredos
eram guardados por esses profissionais por gerações; eles dominavam técnicas
aprendidas com congêneres bizantinos e originadas na Antiguidade greco-romana.
O
propósito dessas corporações era estabelecer um controle efetivo sobre os
mecanismos produtivos. Elas encarregavam-se também de garantir que houvesse um
número suficiente, mas nunca excessivo, de conhecedores dos segredos e macetes
do ofício – e todos eles eram homens naquela época; mulheres não seriam aceitas
como artesãs por muitos séculos. As guildas
atuavam
também como protetoras desses segredos e se asseguravam de que os membros
correspondessem devidamente a certos padrões de habilidade artesanal. Esse alto
grau de especialização profissional se estendia de alguma maneira à vida
social, com educação, artes e divertimentos compartilhados pelos membros de
determinada guilda. Nela, eles encontravam
um
pequeno mundo completo, no qual ele se sentia protegido.
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