Por Ir.'. João Anatalino
A Maçonaria especulativa, da
mesma forma que a antiga Maçonaria operativa, inicia muitos obreiros. E assim
como entre aqueles antigos mestres da Arte Real, também os modernos obreiros
dessa Augusta Arte não são todos eleitos, embora todos sejam iniciados. O
obreiro da Arte Real hoje, inicia-se como aprendiz e continua a ser eternamente
um aprendiz. É no decorrer do desenvolvimento da cadeia iniciática que o
iniciado poderá obter ou não a sua iluminação. Essa iluminação pode ser
definida como uma Gnose, ou uma sensibilidade da verdadeira razão de ser ele um
maçom. Então terá conquistado o status conferido aqueles que se abrigaram junto
ás duas colunas sagradas do Templo de Salomão, e se abeberaram na fonte dos
conhecimentos que delas brotam e que se expressam nos nomes sagrados que
Salomão deu á aquelas colunas: Booz e Jackin.
O certo, entretanto, é que
essas duas palavras, constantemente invocadas nos trabalhos das lojas
simbólicas, significam “ Estabilidade com Força”. As colunas Jackin e Booz
tinham dezoito côvados de altura (cerca de 9 metros), e eram encimadas por
capitéis de cinco côvados cada (2,5 metros),
com romãs e medalhas por ornamento. A romã, como se sabe, entre os povos
orientais era uma fruta que tinha um alto valor simbólico. Representava o amor,
a fertilidade, o sexo. Os poemas do Cântico dos Cânticos, atribuídos a Salomão,
muito se vale do simbolismo da romã para representar a sensualidade da união
entre os sexos.[1]
O templo maçônico procura
reproduzir, no que é possível, o Templo de Salomão. O costume de se colocar os
Aprendizes do lado da coluna B e os Companheiros na coluna J consta de uma
tradição que diz que Adoniram, para
pagar os trabalhadores do canteiro de obras, que eram milhares, costumava
separá-los por colunas. Os mestres (pedreiros, talhadores, escultores,
carpinteiros) eram pagos dentro do templo, daí o termo “ coluna do centro”,
onde os mestres maçons se colocam para assistir aos trabalhos em Loja. Os
demais trabalhadores, por serem muitos, tinham que ficar do lado de fora. Para
facilitar o pagamento, que consistia na distribuição de alimentos, roupas,
utensílios de trabalho (luvas, aventais, ferramentas etc), eles eram separados
em grupos. Conforme os graus de profissionalização eram perfilados do lado
direito ou esquerdo do templo, o que correspondia ás colunas Jackin ou Booz,
conforme o caso.
Daí o porque dos aprendizes,
que no caso do canteiro de obras do rei Salomão eram os cavouqueiros, os
carregadores, os serventes de pedreiro, ficarem no lado correspondente á coluna
B (Booz) e os companheiros (ajudantes, talhadores, assentadores de pedras etc),
sentarem-se no lado da coluna J ( Jackin).
Flávio Josefo, em suas
crônicas sobre as Antiguidades dos Judeus, capitulo III, item 6, também se
refere a essas duas colunas e seu significado. Diz aquele historiador que Deus
estabelecera o reino de Israel com estabilidade e força, e que tal composição
duraria enquanto os israelitas mantivessem o Pacto da Aliança com Ele. A força
provinha do seu fundador Davi, que estabelecera com sua competência militar o
reino hebreu, e a estabilidade lhe tinha sido dada por Salomão. Dessa forma, as
colunas Booz e Jackin não tinham apenas um significado religioso, mas também
celebrava motivos políticos e heróicos, homenageando, de um lado Davi, a força,
de outro lado Salomão, a estabilidade, a sabedoria.
Muita tinta já rolou acêrca
das colunas Booz e Jackin. Alguns autores desenvolveram inclusive a tese de que
as colunas ocas do templo de Salomão representavam símbolos fálicos, tradição
essa muito em voga entre as civilizações antigas. Elas seriam, segundo Curtis e
Madsem, uma projeção da Mazeboth, momumentos de pedra, que entre os fenícios
simbolizavam o órgão viril, pelo qual a fertilização da terra se processava.
Com base nessa interpretação “histórica”, esses autores concluem que as “duas
colunas ocas, com seus globos em cima, e os capitéis enfeitados com romãs,
(fruta que simbolizava a fertilidade), nada mais eram que símbolos fálicos
disfarçados. Daí a razão de serem ocas, pois representavam o órgão sexual
masculino, também oco e encimado por globos”....[2]
Mais que os significados
simbólicos que essas colunas possam ter, entretanto, talvez uma interpretação
pragmática possa nos dar uma explicação melhor. Booz, no alfabeto hebraico
significa firmeza e Jackin força. Talvez, com esses nomes, Salomão quisesse, na
verdade, indicar apenas disposições arquitetônicas. Significava que a estrutura
do templo estava apoiada sobre essas duas colunas com solidez e resistência. A
conexão com os significados dos simbolos fez o resto. Salomão, como todos os
israelitas, acreditava nas promessas que Deus teria feito ao seu povo através
dos profetas. Deus dissera que “habitaria” no meio daquele povo. Construindo um
templo para Ele, estava, na verdade, selando essa promessa. Com isso Israel
teria estabilidade como reino porque a força do Senhor estaria com eles. As
duas colunas celebravam, dessa forma, uma crença firmemente estabelecida.
A tradição maçônica associou
as duas colunas á sua própria liturgia ritual. Jackin e Booz( ou Boaz) passaram
a ser dois Mestres (Vigilantes), que imediatamente abaixo do Mestre Arquiteto
Hiram (Venerável), administravam os dois substratos de trabalhadores que
serviam no canteiro de obras do templo. Boaz tornou-se o Primeiro Vigilante e
Jackin o Segundo. Daí a ritualística segundo a qual o que o Venerável decide, o
Primeiro Vigilante estabelece e o Segundo confirma.[3]
Uma outra interpretação das
duas colunas gêmeas é a de que elas simbolizam as duas colunas de fogo e água
que Jeová ergueu em frente das tropas do faraó, quando ele encurralou os
hebreus junto ao Mar Vermelho. Diz a Bíblia que o Senhor ergueu colunas de fogo
que impediam que os egípcios atacassem os hebreus enquanto eles cruzavam o mar.
Depois, quando eles já haviam saído do outro lado em segurança, o Senhor afogou
as tropas do faraó lançando sobre eles colunas de água. Salomão teria celebrado
essa intervenção divina pela edificação das duas colunas. Por isso, inclusive,
é que nos antigos rituais de iniciação, as cerimônias de purificação pelo fogo
e pela água eram realizadas em frente aos respectivos altares onde se postam os
dois Vigilantes, símbolos das respectivas colunas. Esse simbolismo é ainda hoje
repetido, embora de forma sensivelmente modificada. Essa interpretação é a que
consta dos Primeiros Catecismos Maçônicos de 1725.[4]
[1] “Os teus lábios são como
fita de escarlate: e o teu falar, doce. Assim é o vermelho da romã partida,
assim é o nácar de tuas faces, sem falar no que está escondido dentro.” Cântico
dos Cânticos, 4;3
[2] Alex Horne: O Templo do Rei Salomão na
tradição maçônica, pg. 125
[3] Através das pancadas
ritualísticas
1 Comentários
Justo & Perfeito . ' .
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