O
surgimento da Maçonaria na China é efeito do processo de interpenetração dos
interesses das potências marítimas europeias que através das suas Companhias
das Índias Orientais demandaram o país do Meio e o Japão à procura de
mercadorias raras na Europa como a seda, o chá e a porcelana.
A
primeira potência europeia a chegar à China foi Portugal, em 1515, através de
iniciativa do navegador Jorge Álvares que a partir de Malaca realizou várias
viagens ao Sul da China estabelecendo inúmeras feitorias na província de
Cantão. Jorge Álvares terá participado em inúmeras incursões contra o sultão de
Bintão vindo a estabelecer-se na ilha de Sanchoão junto a Tamang (Cantão),
passando a ser considerado o feitor português da cidade. Narra a história que
durante a segunda metade do século XVI os portugueses terão participado com
quinhentos homens numa batalha marítima contra piratas que assolavam a costa do
Sul da China, captando a confiança e agradecimento do mandarim de Cantão.
Em
1557, surge o estabelecimento de Macau, tornando-se o entreposto um porto
florescente na rota comercial dominada pelos portugueses, de Goa e Malaca até
ao Japão e à China. Praticamente até a meio do século XVII os portugueses
detiveram o exclusivo do comércio com a China e o Japão, perdendo pouco a pouco
o seu papel dominante para outras potências europeias, como a Holanda e já no
século XIX (1842) para a Grã-Bretanha, por via das Guerras do Ópio.
O
primeiro sinal de atividade maçônica na China surge na segunda metade do século
XVIII quando um barco da Companhia das Índias Orientais, o “Prince Carl”,
aportou a Macau para iniciar atividade mercantil entre os portos da China. Nele
viajavam vários maçons que detinham uma carta-patente que os autorizava a
realizar sessões maçônicas nos portos por onde aportassem. O facto da língua
mercantil (da altura) nessa zona do mundo ser o português, a localização
estratégica do enclave e os direitos de exclusividade de Portugal nas rotas de
comércio da China, levou a que se estabelecessem laços de companheirismo entre
esses maçons, oficiais da guarnição portuguesa e membros destacados da
comunidade europeia e macaense.
Desse
intercâmbio surgiu uma loja maçônica, com obreiros de várias nacionalidades e
não integrada em qualquer Obediência que terá funcionado por alguns anos. Ao
mesmo tempo, a partir de Macau mas também de outros pontos da Ásia do Sul,
pastores protestantes demandaram o território chinês desenvolvendo
significativa obra de evangelização junto dos gentios, com a aparente
permissividade das autoridades imperiais chinesas. Entre eles encontrar-se-iam
maçons. Segundo fontes sínicas, a partir de 1747 (dinastia Qing), levantaram
colunas inúmeras lojas em território chinês em zonas de concessão europeias
instaladas em portos chineses, ficando essas lojas na dependência das grandes
lojas dos países de origem. São assinaladas lojas americanas, italianas,
alemãs, francesas e inglesas a funcionar na China durante parte significativa
dos séculos XVIII e XIX.
Vivendo
com grande autonomia face à metrópole, os portugueses em Macau incentivaram o
cruzamento de culturas, modos de vida, práticas religiosas e casamentos
interraciais, sendo muito reduzido o número de senhoras portuguesas que vieram
instalar-se em Macau. A maçonaria acompanhou este fluxo e várias lojas
emergiram associando portugueses e
estrangeiros membros das profissões liberais, do clero, do exército, marinha e
ainda comerciantes. A distância da metrópole (a um mês de viajem por barco)
implicou que essas lojas funcionassem com grande autonomia e sem particular
articulação com as obediências portuguesas que na sequência da explosão do
movimento liberal se expandiam ou retraiam, consoante o pendor absolutista ou
mais liberal do monarca que reinava em Portugal.
Na
parte final do século XIX (1872) uma loja de nome “Luís Camões” ergueu colunas,
ao que tudo indica, sob a tutela da Loja Lusitânea, criada em Londres por
exilados liberais. Esta última foi reconhecida pela Grande Loja de Inglaterra.
A criação da Loja Camões terá sido facilitada pelo reconhecimento do estatuto
da presença portuguesa em Macau, por força do Tratado de 1862, enquanto poder
soberano, passando o enclave a ser uma colónia de Portugal em termos idênticos
a Goa, Damão, Diu ou Timor.
Contemporâneo
deste eventos, Sun Yat-Sen (孫文/孫中山/孫逸仙), que seria mais tarde o
primeiro Presidente da República Chinesa, desenvolveu uma relação privilegiada
com os maçons de Macau. Segundo se relata, Sun terá sido iniciado numa loja
americana, em Honolulu, vindo a residir em Hong Kong em 1887, onde se licenciou
em medicina. Exerceu clínica em Macau no Hospital Kiang-Wu, abrindo uma
farmácia sino-europeia com a ajuda de amigos portugueses, entre os quais
personalidades de Macau referidas por várias fontes como Maçons. Foi forçado a
deixar Macau, indo para Cantão, onde participou na criação do partido
republicano, que mais tarde se transformaria no Partido Kuomintang (中國國民黨).
Envolvido
num motim de soldados chineses contra as autoridades imperiais, no fim da
guerra sino-japonesa, viu-se obrigado a fugir para Macau onde foi acolhido por
Francisco Fernandes, membro da Loja Camões. Dali fugiu para Londres, ficando
detido na embaixada chinesa e sendo posteriormente libertado a exigência do
governo britânico. Em Outubro de 1911, eclodiu o movimento revolucionário em
Wuchang e a república foi proclamada a 3 de Novembro, tornando-se Sun Yat-Sen,
seu primeiro Presidente, em 10 de Janeiro de 1912. O apreço pelos maçons
portugueses encontram-se registado em cartas suas.
Uma
segunda loja com a mesma designação “Luís de Camões” ergueu colunas em 1908 sob
os auspícios da Loja “Pró Veritate” de Coimbra subordinada ao Grande Oriente
Lusitano, integrando figuras proeminente do Conselho do Governo e do Leal
Senado como Constâncio José da Silva, editor do jornal “A Verdade”, o capitão
Rosa Duque, o poeta Camilo Pessanha e provavelmente o governador Carlos da
Maia. Seguindo a orientação prevalecente na maçonaria portuguesa (de então), os
maçons de Macau participarem na difusão dos ideais republicanos e laicos junto
da comunidade expatriada, combatendo a influência dominante da Igreja Católica
e as ordens religiosas no ensino, na cultura e nos círculos do poder.
Na
sequência da revolução republicana de 5 de Outubro de 1910, exigiriam a
proclamação da república em Macau, a expulsão das ordens religiosas e a
separação da Igreja e do Estado, exigências parcialmente satisfeitas pelo
Governador Álvaro de Melo Machado. Vários maçons foram nos anos seguintes à
proclamação da República eleitos como senadores e deputados em Portugal, em
representação de Macau, entre eles Francisco Valdez e Francisco Anacleto da
Silva.
Quase
no fim da segunda metade do século XX foi fundada, em Xangai, em Março de 1949
a Grande Loja da China sob os auspícios da Grande Loja das Filipinas. Na
sequência da proclamação da República Popular da China (1949) e com a
auto-suspensão das atividades maçônicas (1951), as lojas localizadas no
continente chinês dividiram-se. Parte delas transferiram-se para Hong Kong
(associando-se no Zetland Hall), transformando-se em lojas distritais na
dependência das três grandes lojas britânicas; outras mudaram-se para Taiwan,
em 1954. Durante algum tempo, as lojas transferidas para Taiwan procuraram o
reconhecimento da Grande Loja Unida de Inglaterra o que lhes foi recusado,
entendendo a UGLE que as lojas se deveriam subordinar aos Distritos regionais
de Hong Kong. Em sequência deste processo, as lojas localizadas em Taiwan foram
reativadas sob a chancela de Grande Loja da China de que seria Grão-Mestre o
filho do Presidente de Taiwan, Chiang kai-Shek (蔣介石 蔣中正), o General Chiang. A Grande
Loja da China encontra-se reconhecida pelas grandes potências maçônicas do
mundo, designadamente a Grande Loja Unida de Inglaterra. A Grande Loja da China
mantém atividade regular agregando cerca de onze lojas, com maçons de diversas
nacionalidades, praticando os ritos de emulação e escocês antigo e aceite tanto
em língua inglesa como em mandarim.
Hong
Kong tem cerca de setenta lojas subordinadas à jurisdição das três grandes
lojas britânicas apenas em língua inglesa, a Grande Loja Unida de Inglaterra, a
Grande Loja da Irlanda e a Grande Loja da Escócia. Hong Kong é uma região
administrativa especial da China usufruindo por cinquenta anos do sistema
legal, do modo de viver e do conjunto de direitos, liberdades e garantias
deixados pela administração colonial britânica.
Existem
indicações de que a atividade maçônica foi reatada em Xangai em 2004 com maçons
oriundos da Grande Loja da China (Taiwan) formando uma Loja circunscrita a
expatriados. Existem informações que levantaram colunas na cidade de Pequim uma
loja francesa e outra norte-americana, cuja filiação é desconhecida.
Em
Macau, levantou colunas na década de 70 uma loja subordinada ao Grande Oriente
Lusitano formada por membros da comunidade portuguesa expatriada e da
comunidade macaense. Em Janeiro de 2007, levantou colunas um triângulo com o
nome Luz do Oriente, subordinado à Loja Anderson da Grande Loja Legal de
Portugal (GLRP), formada por maçons portugueses. Em 26 de Janeiro de 2011, o
Triangulo transformou-se em Loja adoptando o nome e o registo ‘Loja Luz do
Oriente n.º 80’ e praticando o Rito Escocês Antigo e Aceite. Encontra-se a
levantar colunas, uma segunda Loja, sob jurisdição da Grande Loja Legal de
Portugal, a funcionar no Rito de York e constituída por Maçons de diferentes
nacionalidades que vivem em Macau ou em zonas adjacentes da Republica Popular
da China. Macau usufrui por cinquenta anos como região administrativa da China
do sistema de direitos fundamentais e liberdade de associação deixada por
Portugal em 1999.
Por Arnaldo
M. A. G., Cav.'. Kad.’.
Conselho
Kadosh Marquês de Pombal, Supremo Conselho dos Grandes Inspectores do Grau 33,
Lisboa - Portugal
Fonte: Maçonaria.net
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