*Por Ir.'. Nuno Raimundo
Maçonaria
e Alquimia apesar de serem áreas e conceitos distintos têm um paralelismo
relevante que não pode ser negligenciado.
Ambas,
na sua definição de conceito simbólico são reconhecidas como a Arte Real, “Ars Regia”, e ambas procuram a perfeição.
Na
Alquimia, o iniciado Alquimista procura através da execução da Grande Obra, por
meio de vários processos laboratoriais (nomeadamente a dissolução, a
coagulação, a cocção, a sublimação e a projeção entre outros…) atingir o “Ouro
dos Filósofos”, como também é amplamente conhecida a desejada Pedra
Filosofal, a Perfeição.
Já
na Maçonaria, o Maçom tenta através do desbaste e burilagem da
sua “pedra bruta” (sua essência) torná-la próxima à “pedra cúbica”, pedra
essa já polida (estádio final do trabalho maçônico).
E,
enquanto ao maçom (neófito ainda) se lhe pediu que visitasse o interior da
terra (meditasse e refletisse para si e sobre si mesmo) para que pudesse
encontrar a pedra oculta que se encontra no seu íntimo (o
seu Eu), o alquimista durante o seu processo de aperfeiçoamento (suas operações)
também ele se depara com este vitriol durante o desenrolar da Grande
Obra, mais concretamente na fase do nigredo. É nesta fase do processo
alquímico que se dá o solve et coagula, (axioma alquímico bastante
conhecido), pois é durante esta fase que se efetua a dissolução da
matéria-prima (“libertação”)e a sua putrefação (“separação” dos
elementos que a compõem). O nigredo é uma das fases que integram a
Grande Obra, processo esse que é considerado por vários autores como
formado por três partes (existem outras teorias em que o número de fases são
quatro ou mais, dependendo o número de operações, via escolhida
e matérias-primas usadas), partes essas a saber: Nigredo, Albedo e Rubedo.
Encontramos
aqui uma das várias referências ao Ternário (outras poderão ser
encontradas no paralelismo com outros ternários que se encontram em
ambas, Maçonaria e Alquimia, tal como: matéria/corpo, mente e espírito, entre
outros…).
Ternário
esse de extrema relevância para os maçons, pois para eles é através do Ternário
(número 3) que a Dualidade/Binário (número 2) retorna à Unidade (número 1).
Todavia
na Alquimia, este “regresso à unidade” manifesta-se após as núpcias
alquímicas entre o Rei e a Rainha (Mercúrio e Enxofre
Filosofais; matérias-primas estas, que não têm nenhuma relação com os elementos
naturais e químicos, o metal Mercúrio (Hg) e o Não-metal Enxofre(S)) que
originam o Hermafrodita/Rébis (Sal que nada tem a haver com o
“sal comum” ou o sal resultante de uma reação química Ácido/Base), conhecido
como o “dois em um”.
À
semelhança do Adepto, também o Maçom necessita de um espaço onde
possa trabalhar a sua pedra até a mesma atingir a forma desejada. Enquanto o
Adepto necessita de um laboratório (labora et ora) físico e instrumentos e
aparelhos para o auxiliar nos seus trabalhos, o Maçom apenas necessita do
seu corpo (matéria) e mente (vontade) para trabalhar (o seu
espírito). E persistindo nesse trabalho é se possível transformar a “pedra
bruta” em “pedra polida”. Note-se aqui o termo “transformar”.
A
Maçonaria transforma algo existente em algo diferente, mas a matéria
final é a mesma matéria original. E a Alquimia transmuta, ou seja, cria
algo novo/diferente a partir de matérias/origens diferentes.
Ou
seja, enquanto o Maçom será sempre o mesmo Homem apenas com as mudanças no
comportamento/carácter associadas ao seu “aperfeiçoamento moral” (porque a
Maçonaria apenas (!) trata de aperfeiçoamentos morais e é considerada
uma via/caminho pessoal efetuado através da Virtude e também a
prossecução de outros princípios morais na vida do maçom), a sua essência será
sempre a mesma. Na Alquimia, o Adepto pega em metais menos nobres, e tenta
transformá-los em ouro/prata. Ou seja, parte de algo diferente e que
modifica a sua substancia. Neste caso, utiliza materiais filosofais e/ou físicos e
procura atingir a Perfeição (estado superior de espírito)
que tanto pode ser designado por Elixir da Imortalidade (tenho para
mim, que ele apenas é a lembrança da palavra e da ação do Homem
através dos tempos…) ou por Pedra Filosofal (na minha opinião, o
Conhecimento/Sabedoria; pois nada traz mais riqueza ao Homem que
o saber…). E essa dita Perfeição, será mais depressa obtida (ou
não…) dependendo do empenho do Adepto/Maçom durante esse trabalho que terá a
fazer (só o próprio e mais ninguém!).
Se
a Pedra ficará cúbica ou se a Obra se completará, somente os
intervenientes o saberão. Quanto a mim, apenas me resta continuar a burilar a
minha pedra “tosca” e “feia”, pois ainda se encontra muito longe da forma que
ambiciono para ela…
*Nuno
Raimundo é membro da R.'. L.'. Mestre Affonso Domingues Or.'. de Lisboa - Portuga.
1 Comentários
Profunda reflexao meu Irmao !
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