*Por Francisco Feitosa
A Maçonaria é uma Ordem milenar
que, ao longo de sua história, instituiu um
sistema de moral, transmitido através de alegorias, sinais e símbolos. Não há
quem, ao deparar com um símbolo maçônico, facilmente, não faça sua ligação com
nossa Ordem.
Exemplos disso são,
principalmente, com relação ao Simbolismo, o Esquadro e o Compasso e, para os
Altos Graus, a Águia de duas Cabeças ou Bicéfala. Esse símbolo, embora seja de
fácil ligação com os Supremos Conselhos do R\E\A\A\, foi, apenas, por eles
absorvido como sua representação. Sua origem, na verdade, atravessa tempos
imemoriais, e, por muitos historiadores, é considerado o mais antigo do mundo.
A Águia Bicéfala remonta à antiquíssima
cidade de Lagash, que se situava na Suméria, Sul da Babilônia, na chamada baixa
Mesopotâmia, entre os rios Eufrates e Tigre, perto da atual cidade de Shatra,
no Iraque. Essa região, na época, tinha uma vintena de templos e santuários
consagrados a diferentes divindades.
Na Índia, tal símbolo, também, tem sua representação,
sendo chamado de Gandaberunda, também, conhecido como o Berunda, trata-se de um pássaro mitológico de duas
cabeças da mitologia hindu, ao qual lhe é dado possuir força
mágica. Ele é usado como o emblema oficial pelo governo de Karnataka, cidade do Sul
da Índia, por
causa de sua imensa força, capaz de lidar com as forças finais de destruição, e
é muito comum vê-lo esculpido nos templos hindus.
Segundo alguns historiadores, há
mais de mil anos, antes do êxodo do povo de Moisés, no Egito, esse símbolo já
era utilizado. Encontramos, no Freemasons' Guide and Compendium, de Bernard E.
Jones, relato sobre a escavação das fundações de um templo, construído cerca de
3000 a .C.,
isto é, cerca de 2000 anos antes da construção do Templo de Salomão, sobre um
achado de duas placas de terracota com inscrições, detalhando como a construção
havia sido ordenada e iniciada. Essas placas foram ali depositadas, quando do
lançamento da pedra fundamental do templo, por Gudea, governador de Lagash, na
Babilônia. As inscrições dos cilindros, impressas nas mesmas, incluíam um
esboço de um "pássaro da tormenta", representado por uma Águia com
duas cabeças.
Em
nossas pesquisas, constatamos que, além de os sumérios, esse símbolo foi
utilizado pelo povo de Akkad; pelos hititas - povo indo-europeu,
que, no II milénio a.C., fundou um poderoso Império na Anatólia central, hoje,
atual Turquia; dos recônditos da Ásia Menor para a posse de sultões, até ser
trazida pelos Cruzados aos Imperadores do Oriente e Ocidente, cujos sucessores
foram os hapsburg (Sacro Império
Romano-Germânico) e os romanoff (Rússia).
No ano 102 a .C., o Cônsul romano
Marius decretou que a Águia seria um símbolo da Roma Imperial. Mais tarde, já
como potência mundial, Roma utilizou a Águia de Duas Cabeças, uma, voltada a
Este, e outra, a Oeste, como símbolo da unidade do Sagrado Império Romano, em 414 a .C., utilizando-a em
seus selos, simbolizando a unidade e universalidade do Império. Descrita, geralmente, em preto
sobre um fundo dourado, a Águia Bicéfala substituiu a águia de cabeça única,
utilizada anteriormente, e foi, posteriormente, adotada nos brasões de muitas
cidades alemãs e famílias aristocráticas. Os Imperadores do
Império Romano cristianizado continuaram a sua utilização, sendo, depois,
adotado na Alemanha, durante o período de conquista e poder Imperial.
A primeira menção de uma águia de duas cabeças, no
Ocidente, remonta a cerca de 1250, em um rolo de brasões enviado pelo monge
beneditino, cartógrafo e historiador Mattew Paris para o Imperador Frederico II, do Sacro Império Romano, a quem
tinha grande admiração, e a quem o contemplou com o epíteto, que ficou muito
conhecido, de “Mundi Stupor” – estupor do mundo. Após a dissolução do Sacro
Império Romano, em 1806, a águia de duas cabeças foi adotada pelo Império Austríaco, e serviu,
também, como o brasão de armas da Confederação Alemã.
Era um elemento principal do brasão de armas do Império
Russo, sendo modificado diversas vezes, desde o reinado de Ivan
III (1462-1505), recebendo sua forma definitiva no reinado de Pedro,
o Grande (1682-1725). A Águia Bicéfala russa continuou em uso até ser abolida na Revolução
Russa, em 1917. Como
símbolo, foi restaurado em 1993,
depois daquele ano de
crise constitucional e
permanece em uso até os dias atuais, embora, o brasão atual passou a ser de
ouro ao invés do tradicional preto, imperial.
Os reis da Mércia, um dos
sete reinos que compunham a Heptarquia anglo-saxônica, atual Inglaterra, a usaram
como símbolo, antes da conquista normanda. Leofric,
Conde de Mércia, a
usou para representar a
antiga família Shropshire. Na Escócia, a podemos encontrar no brasão de armas do Burgo de Perthshire,
tornando-se, mais tarde, a defensora dos brasões do distrito de Perth e
Kinross (1975).
A dinastia sérvia Nemanjić a adotou,
em uma versão, na cor branca, para significar a sua própria independência e, de fato, o
direito ao trono imperial de Constantinopla. A
águia branca foi mantida pela maioria das dinastias medievais sérvias, bem como
as Casas de Karađorđević, Obrenovic e Petrovic-Njegos e
permanece, até hoje, em uso no brasão de armas dos países da Sérvia e Montenegro. George
Kastrioti (Skanderbeg) adotou uma bandeira semelhante em sua luta contra os otomanos,
que consiste em uma águia preta em fundo vermelho, que foi ressuscitado na
atual bandeira da Albânia. Durante
os séculos seguintes, a águia apresentava-se prendendo, em suas garras, uma
espada e/ou um cetro, e um globo com uma cruz, símbolos da soberania dupla acima
mencionada.
Seu uso, também, sobreviveu como um elemento da Igreja
Ortodoxa Grega, que era o herdeiro do legado bizantino durante o Império
Otomano, mantendo-se como um símbolo popular entre os gregos, estando, ainda,
em uso em bandeiras da Igreja. Na Grécia moderna, é usada, oficialmente, pelo Exército,
no brasão da Hellenic Army General Staff.
Enfim, esse enigmático símbolo foi adotado por diversos povos
e ocasiões, aparecendo em diversos brasões de
armas e bandeiras atuais e históricos de muitos países e
territórios, incluindo Albânia, Arménia, Áustria (1934-1938), Áustria-Hungria, Império
Bizantino, Confederação Alemã, do
Sacro Império Romano Império, Reino da Mércia (527-918), Montenegro, Reino
de Mysore, Império Russo, Rússia, Império
Seljúcida, Sérvia, Império Sérvio, Reino
da Sérvia, do Império Espanhol (durante
a dinastia Habsburgo) e Reino
da Iugoslávia. A
localizamos no brasão e na bandeira da cidade de Toledo,
na Espanha, e no brasão da cidade de Velletri, na Itália, uma
série de cidades da Alemanha, Holanda e Sérvia.
A encontramos, também, na bandeira
da Igreja Ortodoxa Grega e na bandeira do Exército Helênico
– 16º Divisão de Infantaria, e no esporte, como emblema de clubes desportivos, como: AEK e PAOK
(Grécia); Konyaspor (Turquia); Nec e Vitesse (Holanda); AFC Wimbledom e San
Johnstone FC (Inglaterra). Já o Bengaluru
FC, um clube de futebol com sede
em Bangalore, capital de
Karnataka, na Índia, tem uma Gandaberunda, águia de duas cabeças, no escudo do
clube.
Na Maçonaria, até onde
conseguimos pesquisar, a Águia Bicéfala foi introduzida pelo Conselho dos
Imperadores do Oriente e Ocidente, Grande e Soberana Loja Escocesa de
São João de Jerusalém, que foi fundado em Pirlet, em Paris, em 1758. Tal
Conselho foi responsável pela criação do sistema de Altos Graus Escoceses,
impondo-lhe o limite de 25 graus, resolução que seria, oficialmente, inscrita
nos seus estatutos de 1762. Essa escala de 25 graus foi chamada de Rito de
Perfeição ou de Heredon, servindo, mais tarde, como base para o surgimento do
REAA, com a criação do seu primeiro Supremo Conselho, Jurisdição Sul dos EUA,
em Charleston, em 1º de maio de 1801.
Coincidências
a parte, é curioso notar que existe um padrão com relação à utilização da Águia
Bicéfala pelos Supremos Conselhos do REAA. Os Supremos Conselhos, que tinham
laços com a Grande Loja da Inglaterra, têm, em seus selos, a Águia com as asas
para cima, enquanto os Supremos Conselhos, que tinham laços com a Grande Loja
da França, têm, em seus selos, a Águia com as asas voltadas para baixo.
Águia
Bicéfala utilizada como símbolo do REAA, tem suas asas abertas e está coroada
pela coroa imperial da Prússia, tendo sobre a coroa um triângulo equilátero
dourado reluzente com o número 33, no seu interior. Suas garras estão segurando
uma espada desembainhada, que tem uma fita como ornamento, serpenteando-a desde
seu punho até a extremidade da lâmina, contendo a divisa: " DEUS MEUMQUE
JUS " – que significa “Deus e o meu direito”.
História e
curiosidade à parte, todo símbolo apresenta-se ao verdadeiro Iniciado como uma
misteriosa esfinge, induzindo-o decifrá-lo. Embora, ainda, estejamos galgando
os primeiros degraus da infinita escada evolucional, permitam-nos uma despretensiosa
interpretação iniciática desse símbolo, a título de analogia: a águia é um
pássaro de voo altaneiro, de visão privilegiada, símbolo do poder e da expressão
da Mente Universal, no seu aspecto Onisciência. Esse símbolo, ligado à
Iniciação, expressa o objetivo a que se propõem todas as verdadeiras Escolas de
Iniciação do presente ciclo: o despertar, em seus membros, da quintessência, da
Mente Superior, do Princípio Divino no ser humano.
Como a palavra mesmo diz, Iniciação é
iniciar uma ação interna, de preparação do quartenário da matéria, nossa
personalidade, para o despertar da “Quintessência”, nosso Princípio Crístico,
nosso EU Verdadeiro. A Águia, com as duas cabeças, representa as duas mentes,
ou seja, a mente concreta, já plenamente desenvolvida pela humanidade, e a
abstrata, propósito a ser atingido com a conclusão da atual 5ª Raça-Mãe, a
Ariana.
Enveredando-nos pelos estudos dos Altos
Graus do REAA, deparamo-nos, em determinado Grau, com a ponte, que nos
permitirá, se alcançarmos mérito para tanto, adentrar a Jerusalém Celeste. Todo
esse simbolismo, na verdade, está dentro de nós, com o despertar de um estado
de consciência, possibilitando-nos perceber a essência dos Mistérios Maiores.
Além da Águia Bicéfala, sobre cujo simbolismo, superficialmente, apresentamos uma breve interpretação, falaremos na Cruz Papal ou do Pontífice, usada na heráldica eclesiástica. Também, conhecida como Cruz Tripla ou do Hierofante, suas três barras horizontais representam as três funções do Papa, como Bispo de Roma, Patriarca do Ocidente e Sucessor de Pedro. A Cruz Papal ou do Pontífice é, também, usada pelo nosso Soberano Grande Comendador do REAA, em seu barrete, além de ser aposta a sua assinatura nos documentos oficiais do Supremo Conselho.
Além da Águia Bicéfala, sobre cujo simbolismo, superficialmente, apresentamos uma breve interpretação, falaremos na Cruz Papal ou do Pontífice, usada na heráldica eclesiástica. Também, conhecida como Cruz Tripla ou do Hierofante, suas três barras horizontais representam as três funções do Papa, como Bispo de Roma, Patriarca do Ocidente e Sucessor de Pedro. A Cruz Papal ou do Pontífice é, também, usada pelo nosso Soberano Grande Comendador do REAA, em seu barrete, além de ser aposta a sua assinatura nos documentos oficiais do Supremo Conselho.
Lembremos que o Pontífice é o artífice
construtor de pontes. É aquele que constrói a ponte, que permite a outros a
transposição de um obstáculo e a alcançar o outro lado. Tal ponte, referindo-nos
ao REAA, é, gradualmente, construída pelo profundo e dedicado estudo dos excelsos
ensinamentos do Rito, com isso, proporcionando aos Irmãos transporem, em
consciência, do mundo material (mente concreta) para o mundo espiritual (mente
abstrata), alegoria muito bem expressa pelas duas cabeças da Águia.
O Soberano Grande Comendador, a exemplo do Papa
para o Cristianismo, é o Pontífice, o Soberano Artífice, construtor de ponte,
permitindo aos Maçons, através dos excelsos ensinamentos dos Arcanos do REAA, atingirem
um estado de consciência mais elevado; alcançarem o outro lado, através da
ponte.
A espada - arma de dois fios - presa nas
potentes garras da Águia Bicéfala, representa, ao mesmo tempo, a Força, para se combater os inimigos da
verdade, e a Sabedoria, para se fazer,
acima de tudo, valer a justiça, o que pode ser corroborado pela tradução da
inscrição latina na fita que a serpenteia: “Deus e o Meu Direito”.
Não sabemos detalhes da Águia Bicéfala, quando
adotada pelo Conselho de Imperadores do Oriente e do Ocidente, mas a do
primeiro Supremo Conselho do REAA era a águia americana, marrom, tendo a cauda
e a cabeça brancas. A Águia Bicéfala adotada pelo Supremo Conselho do REAA do Grau
33º do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil é de cor púrpura,
cor da nobreza, do equilíbrio perfeito e da realização, matiz muito utilizada
por várias religiões, e por Escolas de Iniciação do Oriente, por expressar a união
das energias cósmica (Fohat - verde) e telúrica (Kundaline – vermelho), significando
o perfeito entrelaçamento dos dois triângulos, formando o Hexágono Sagrado
(interpenetração dos mundos celestes e terreno).
A Águia Bicéfala, considerada por muitos um
dos símbolos mais antigo do mundo, expressa o Poder e a Soberania. Esse
símbolo, quando utilizado em uma Escola de Iniciação, como é o caso, na
Maçonaria, permite, aos “que têm olhos de ver”, aos verdadeiros Iniciados nos Augustos
Mistérios, quando contemplá-lo, adentrar em seus enigmáticos arquétipos, levando-os
a imaginar que tal símbolo, ainda que intuitivamente, fora sabiamente escolhido
para expressar a enorme riqueza contida nas entrelinhas dos excelsos
ensinamentos do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Dados
do autor:
Francisco
Feitosa da Fonseca - M\I\ - 33º
Grande
Inspetor Litúrgico da 14ª – MG
Consultor
do Capítulo Cavaleiros de São Lourenço nº 713
Titular
da cadeira nº 21 da Academia Niteroiense Maçônica de Letras, História, Ciência
e Artes
Titular
da Cadeira nº 11 da Academia Maçônica de Letras, Ciências e Artes do Estado do
Rio de Janeiro
Membro
Honorário da Loja de Estudos e Pesquisas Quatour Coronati Pedro Campos de
Miranda – MG.
Membro
Correspondente das Academias:
·
Acad. Maçônica de Letras de Juiz de Fora;
·
·
Acad. Maranhense Maçônica de Letras;
·
·
Acad. Maçônica de Letras de Mato Grosso do
Sul;
·
·
Acad. Paraibana Maçônica de Letras;
·
·
Loja de Pesquisas Francisco Xavier Ferreira
– RS.
·
4 Comentários
A lendária Águia bicéfalo é Símbolo Maçônico do Supremos Conselhos do R.E.A.A.
ResponderExcluirIsto, pois, a ÁGUIA é tida como o REI DAS ALTURAS, DOS ARES. Ela é de uma invejável capacidade vigilante de longas distâncias em altitude, que é seguida de ataques infalíveis sobre suas presas, até parece ter duas cabeças. Parecendo com a inteligência do homem, que é composta de 1ª instâncias vigilante irracional de comportamento em Fim de nivelada base e de 2ª instância vigilante racional de comportamento em Meio de aprumada coluna, que lhe proporciona mentalmente ir nas alturas da ÁGUIA.
Pensa que esclarece as Lendas que nada mais são que verdades de partes obscuras, a que cabem as crenças. Isso assegura, porque a racionalidade é razão, que iguala os modos de pensar.
A Priori desejo parabenizar o ilustre e Poderoso ir.'. Francisco Feitosa pela agradável e útil matéria , ja fui assinante por 12 meses da revista O malhete pelo qual vim também a conhecer um pouquinho deste expoente autor , minha familia é de São Lourenço e breve pretendo poder encostar coração com coração ao poder dar 3 fraternos abraços no ir.'.feitosa , maravilhosa leitura , tenho dito meus IIr.'.
ResponderExcluirEste é um selo revelado pelo Criador para quem tem olhos para ver. Manifesta-se a todos os homens mas poucos haverão de compreende-la. Quem porta o Símbolo é merecedor da Glória Divina.
ResponderExcluirÁguia de duas cabeças pode ser representado como a plena consciência de entender as duas correntes do ar presente no homem que cria a coluna reta inspirando e transpirando e assim poder criar o criador..
ResponderExcluirDevoto em educar meus pensamentos com Sophia agradeco no aki agora concebo o que mim concebe..
Obgd Santo Santo Barro.