1. Ainda que convencido de que
seu oponente está errado, renda-se graciosamente, evite seguir com a discussão,
ou deliberadamente mude de assunto, mas não defenda obstinadamente sua opinião
até ficar irritado… Há muitos que, expressando opinião como se fossem leis,
defendem posições com frases do tipo “Se eu fosse presidente, ou governador,
iria…”, — e embora pelo calor do argumento só comprovem que são incapazes de
governar o próprio temperamento, seguirão tentando persuadi-lo de que são perfeitamente
competentes para liderar a nação.
2. Mantenha, se puder, uma
opinião política fixa. Não a exponha em todas as ocasiões e, acima de tudo, não
se proponha a forçar os outros a concordar com você. Ouça calmamente as ideias
deles e, se não puder concordar, discorde polidamente e consiga que seu
oponente, porquanto considere suas opiniões erradas, se veja obrigado a
reconhecer que você é um cavalheiro. Leia mais
3. Nunca interrompa ninguém; é
rude apontar uma data ou um nome que a pessoa esteja hesitando em dizer, a não
ser que te peçam para fazer isso. Outro erro crasso de etiqueta é antecipar
algum ponto da história que a pessoa está contando, ou terminar a frase para
roubar o final para si. Algumas pessoas justificam isso dizendo que o orador
estava estragando uma boa história, mas isso não justifica. É muito grosseria
deixar um homem entender que você não o considera apto a terminar uma anedota
que ele começou.
4. É falta de educação se
mostrar cansado durante o discurso de outra pessoa, e é muita grosseria olhar
para o relógio, ler uma carta, folhear um livro, ou qualquer outra ação que
mostre que você está entediado com o orador ou com o assunto.
5. Nunca fale quando outra
pessoa está falando, e nunca eleve a voz para cobrir a dos outros. Não fale de
maneira ditatorial e faça com que sua conversa seja sempre amável e franca,
livre de afetações.
6. Nunca, a não ser que peçam,
fale dos seus negócios ou profissão em público. Confinar a conversa apenas à
sua própria especialidade é vulgar. Faça o assunto se adequar à companhia.
Conversas leves e alegres são, de vez em quando, tão desnecessárias quanto
sermões numa festa, então deixe que o assunto seja grave ou feliz de acordo com
o tempo e lugar.
7. Numa briga, se você não tem
como reconciliar as partes, se abstenha. Você certamente faria um inimigo,
talvez dois, ao tomar um lado numa discussão onde ambos os lados já perderam a
calma.
8. Nunca chame a atenção apenas
para si. É rude entrar numa conversa com um grupo e tentar tirar algum dos
participantes dele para um diálogo.
9. Um homem inteligente é
geralmente modesto. Ele pode sentir que é intelectualmente superior em
sociedade, mas não procura fazer os outros se sentirem inferiores, nem mostrar
sua vantagem em relação a eles. Ele discutirá com simplicidade os tópicos
propostos pelos outros, e evitará aqueles que os outros não consigam discutir.
Tudo que ele diz é marcado pela polidez e deferência aos sentimentos e opiniões
dos outros.
10. Escutar com interesse e
atenção é uma conquista tão válida quanto falar bem. Ser bom ouvinte é
indispensável para ser um bom orador, e é no papel de ouvinte que você você
consegue detectar mais facilmente se um homem é educado para a vida social.
11. Nunca escute a conversa de
duas pessoas que se afastaram de um grupo. Se elas estão tão próximas que não
há como evitar ouvi-las, você pode, apropriadamente, mudar de lugar.
12. Faça que sua parte da
conversa seja tão modesta e breve quanto consistente com o assunto em debate, e
evite longos discursos e histórias tediosas. Se, no entanto, outra pessoa,
particularmente mais velha, conta um caso mais longo, escute respeitosamente
até que ela termine, antes de falar novamente.
13. Fale pouco de si. Seus
amigos conhecerão suas virtudes sem forçá-lo a nomeá-las, e você pode estar
certo de que é igualmente desnecessário expor você mesmo seus defeitos.
14. Se você aceita a lisonja,
deve também aceitar quando inferem que você é bobo e convencido.
15. Ao falar de seus amigos,
não compare uns aos outros. Fale dos méritos de cada indivíduo, mas não tente
aumentar as virtudes de um ao contrastá-las com os vícios de um outro.
16. Evite, numa conversa, todo
assunto que possa ferir alguém ausente. Um cavalheiro nunca calunia ou dá
ouvidos à calúnia.
17. O homem mais sagaz se
torna chato e mal educado quando pretende atrair toda a atenção de um grupo no
qual deveria interpretar um papel mais modesto.
18. Evite frases feitas, e
faça citações raramente. Elas às vezes temperam uma conversa, mas quando se
tornam hábito constante, são extremamente tediosas e de mau gosto.
19. Não seja pedante; é uma
marca, não de inteligência, mas de estupidez.
20. Fale sua língua
corretamente; ao mesmo tempo não seja maníaco em relação à formalidade e
correção das frases.
21. Nunca repare se outros
cometem erros de linguagem. Pontuar isso verbalmente ou por olhar, naqueles ao
seu redor, é falta de educação.
22. Se o assunto é de trabalho
ou científico, evite o uso de termos técnicos. São de mau gosto, porque muitos
não entenderiam. Entretanto, se você os usa inconscientemente numa frase, não
cometa o erro maior de explicar o significado. Ninguém o agradecerá por destacar-lhes
a ignorância.
23. Ao conversar com um
estrangeiro que não fale Inglês corretamente, escute com atenção, mas não
sugira uma palavra ou frase se ele hesitar. Acima de tudo, não demonstre por
ação ou palavra se está impaciente com as pausas e erros do orador. Se você
entender a língua dele, avise isso assim que se falarem; não é uma exibição do
seu conhecimento, mas uma gentileza, já que um estrangeiro ficará feliz em
falar e ouvir a língua materna num país estranho.
24. Tenha cuidado, em
sociedade, para nunca se colocar no papel de bufão, ou logo você será conhecido
como o “engraçado” da turma, e nada é mais perigoso para a dignidade de um
cavalheiro. Você se expõe à censura e ao ridículo, e pode estar certo que, para
cada pessoa que ri com você, duas riem de você, e para cada um que o admira,
dois assistem a tudo com reprovação.
25. Evite se gabar. Falar de
dinheiro, boas relações ou do luxo à sua disposição é de mau gosto. É
indelicado falar da sua intimidade com pessoas importantes. Se os nomes deles
ocorrerem naturalmente no curso da conversa, tudo bem; mas ficar constantemente
citando, “meu amigo, o Governador,” ou “meu amigo íntimo, o Presidente,” é
pomposo e de mau gosto.
26. Quando se recusar a fazer
piadas, não demonstre desprezo pela alegria alheia. É mal educado propor
assuntos graves quando uma conversa prazerosa está ocorrendo. Junte-se à
diversão e esqueça seus problemas mais graves, e você será mais popular do que
se tentar converter a alegria inocente em discussão grave.
27. Quando em sociedade com
acadêmicos, não os questione sobre seus trabalhos. Mostrar admiração por um
autor é de mau gosto, mas você pode ser gracioso se, com um citação ou
referência, mostrar que é um leitor e que aprecia a obra.
28. É extremamente rude e
pedante, numa conversa geral, fazer citações em língua estrangeira.
29. Usar frases de duplo
sentido não é cavalheiresco.
30. Se estiver ficando
irritado com a conversa, mude de assunto ou fique em silêncio. Você pode dizer,
num arroubo de paixão, palavras que nunca usaria num momento mais calmo, e as
quais você lamentaria depois de dizer.
31. “Nunca fale de cordas para
um homem cujo pai foi enforcado” é um ditado vulgar, mas popular. Evite
assuntos que possam ferir personalidades e assuntos de família. Evite, se puder,
conhecer os segredos de seus amigos, mas se algum lhe for confidenciado, nunca
o revele a terceiros.
32. Se você é viajado, não
fale constantemente disso. Nada é mais cansativo do que um homem que começa
todas as frases com, “Quando estive em Paris,” ou, “Na Itália eu vi…”
33. Quando fizer perguntas
sobre pessoas que não conhece num salão, evite usar adjetivos; ou você pode
perguntar à uma mãe, “Quem é a garota feia, esquisita?” e receber como
resposta, “Senhor, aquela é minha filha.”
34. Evite a fofoca; numa
mulher é detestável, mas num homem é simplesmente desprezível.
35. Não ofereça assistência ou
conselho à sociedade geral. Ninguém irá agradecê-lo por isso.
36. Evite a lisonja. Um elogio
delicado é permitido numa conversa, mas o excesso é rude, vulgar, e para
pessoas sensíveis, repugnante. Se você lisonjeia seus superiores, eles deixam
de confiar em você, acreditando que você tem algum motivo egoísta; se lisonjeia
damas, elas o desprezam, por pensarem que você não tem outro assunto.
37. Uma dama de bom senso se
sentirá mais elogiada se você conversar com ela sobre assuntos interessantes e
instrutivos, ao invés de apenas sobre sua beleza. Neste caso ela concluirá que
você a considera incapaz de discutir assuntos elevados, e você não pode esperar
que ela fique satisfeita em ser considerada uma pessoa boba e vaidosa, que
precisa ser adulada para ficar de bom humor.
Livre tradução de A
Gentleman’s Guide to Etiquette, de Cecil B. Hartley
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