O Grande Oriente de Itália (Grande Leste de
Itália), a mais histórica e influente obediência maçônica da Itália, enfrenta
uma das maiores crises institucionais de sua história. Um verdadeiro abismo de
disputas internas, denúncias de má gestão e acusações de comportamento
antiético corroem sua estrutura e reputação. A crise, que se estende há anos,
parece agora alcançar um ponto crítico, com decisões judiciais de grande
impacto e uma cisão interna que ameaça desestabilizar a Maçonaria italiana.
O
Grupo de Bisi e o Poder em Vibo Valentia.
No centro do turbilhão está Stefano Bisi,
ex-Grão-Mestre, e seu grupo de aliados, que mantêm uma firme influência,
especialmente na região de Vibo Valentia, considerada o epicentro do poder
oculto dentro da Obediência. Na Calábria, o domínio de Bisi é contestado por
figuras como Seminario, um antigo Grão-Mestre caído, e Bellantoni, descrito
como o "homem das sombras". A disputa de poder é marcada por uma
atmosfera de repressão, acusações de má gestão financeira e uma estrutura que
mais se assemelha a uma gangue do que a uma associação iniciática.
As acusações contra o grupo de Bisi incluem
perseguições a membros que ousam levantar questões sobre corrupção e má gestão
financeira, como no caso da casa maçônica de Cosenza e do infame caso Vibo. Um
exemplo notável é a condenação do notário siciliano Silverio Magno, que
criticou abertamente o clima repressivo e a administração das obediências
sicilianas e calabresas. A sentença imposta a Magno pela sede de Vibo Valentia
incluiu censura solene, exclusão de atividades maçônicas por um ano, proibição
de cargos por três anos e uma multa de €3.000, evidenciando a intensidade das
retaliações internas.
Intervenção
Judicial: Um Marco na Crise
Em novembro de 2023, o Tribunal de Roma deu
um passo decisivo ao colocar o Grande Oriente de Itália sob administração
judicial. O advogado Raffaele Cappiello foi nomeado curador especial nos termos
do artigo 78 do Código de Processo Civil, efetivamente destituindo o poder de
Bisi e seu grupo. A decisão sinaliza um marco na crise, trazendo à tona a
desorganização interna e a fragilidade das estruturas de poder dentro da
Obediência.
Apesar dessa intervenção, Bisi e seus aliados
continuam a agir como se ainda detivessem o controle, realizando reuniões,
gerindo tribunais internos e promovendo decisões administrativas. Tal
comportamento tem alimentado ainda mais a insatisfação e os litígios, com novos
processos legais surgindo a cada dia. As denúncias incluem gestão inadequada de
fundos, uso impróprio de recursos e repressão contra vozes dissidentes.
Repercussões
e Denúncias Externas
A crise no Grande Oriente de Itália não está
limitada às suas fronteiras internas. Reportagens e investigações
jornalísticas, como a do Il Fatto Quotidiano, destacaram a suposta conexão entre
a Maçonaria e a máfia, incluindo a exploração da Obediência por organizações
criminosas para expandir sua influência no norte da Itália. Embora Bisi tenha
contestado tais afirmações, os tribunais italianos têm validado a legitimidade
de muitas dessas alegações, incluindo a obrigação de pagamento de €10.000 em
danos por difamação contra o Il Fatto Quotidiano, relacionada a uma matéria
sobre a relação entre máfia e maçonaria.
Adicionalmente, declarações do ex-Grão-Mestre
Giuliano Di Bernardo reforçam essas suspeitas, corroborando que a Maçonaria
italiana tem sido vulnerável à infiltração de grupos criminosos.
O
Futuro do Grande Oriente de Itália
A disputa de poder segue acirrada, com
adversários como Taroni, principal opositor de Bisi, reunindo informações e
aguardando o momento certo para agir. A instabilidade interna é exacerbada por
relatos de movimentos estratégicos em outras regiões, como Malta, que podem
trazer novas dimensões à crise.
A história ainda está longe de ser concluída,
mas a situação do Grande Oriente de Itália ilustra como disputas internas, má
gestão e falta de transparência podem corroer até mesmo as instituições mais
sólidas. Para a Maçonaria italiana, o desafio agora é reconstruir sua
credibilidade e reafirmar seus princípios fundamentais, enquanto lida com as
consequências de anos de tumulto e corrupção.
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