Por Adrian Spinelli
No Brasil, a Maçonaria está em todos os
lugares que você olhar - se você souber o que procurar.
Uma
vez que você começa a ver os sinais da paixão do Brasil pela Maçonaria, você
não consegue parar de vê-los. Existem os óbvios, claro. Existem adesivos de
pára-choques, anéis de sinete e bandeiras de lojas maçônicas que são comuns em
quase todas as partes do país. Mas olhe um pouco mais fundo para a Maçonaria
brasileira, e você ficará sobrecarregado com dicas sutis de um fenômeno
cultural que não apenas sobreviveu na sede do poder sul-americano, mas também
prosperou.
Em
Paraty, Patrimônio Mundial da Unesco e destino turístico litorâneo do estado do
Rio de Janeiro, as deixas são ainda mais fortes. Construída por maçons
portugueses há 250 anos, a cidade é como um santuário da Maçonaria. As luzes da
rua e as colunas dos edifícios são gravadas com cifras geométricas e pintadas
de azul e branco. O próprio layout da cidade é um aceno de geometria maçônica,
construído em uma grade de 33 blocos.
E
acima da cidade voa sua bandeira distintiva e de inspiração maçônica, com três
estrelas em um triângulo.
Nos
dias de hoje, o Brasil carrega cada vez mais as marcas de um país onde a
Maçonaria está em ascensão. Enquanto o número de membros da fraternidade em
todo o mundo geralmente está em declínio, ela explodiu no Brasil. Existem hoje
mais de 6.000 lojas maçônicas no Brasil. Somente no estado de São Paulo,
existem mais de 800 lojas afiliadas apenas ao Grande Oriente do Brasil - o
maior dos vários órgãos maçônicos do país. (São Paulo e Califórnia têm
populações de tamanho semelhante; em comparação, a Grande Loja da Califórnia
tem pouco mais de 330 lojas.) Esses números também continuam crescendo. E com
eles, também as manifestações externas da influência da Maçonaria no Brasil.
Não
é só nas cidades. Caminhe por uma pequena cidade no interior e você certamente
se deparará com uma loja maçônica cuja presença parece levantar a questão: Como
isso veio parar aqui? Por que a Maçonaria se espalhou como fogo no Brasil, mas
não, digamos, no Equador? Como tudo no país, a resposta está em uma complexa
mistura de forças culturais e históricas.
A MAÇONARIA NO BRASIL: UMA HISTÓRIA DE
ORGULHO
A
Maçonaria desempenhou um papel fundamental na história do Brasil. O primeiro
imperador da república, Dom Pedro I, era um maçom convicto que, ao declarar a
independência de Portugal em 1822, nomeou seu conselheiro e companheiro maçom,
José Bonifácio, o primeiro grão-mestre do Grande Oriente do Brasil.
A
conexão foi fundamental para o Brasil do século 19, diz Monica Dantas,
professora associada da Universidade de São Paulo e especialista em
fraternidade na América do Sul. As lojas maçônicas eram um “espaço
privilegiado”, diz ela, onde os pais fundadores do Brasil podiam “formular uma
estratégia de independência sem estar sob os olhos do público”. Na ausência de
partidos políticos ou de um sistema universitário robusto, as lojas agiam como
um importante veículo para a difusão de um novo pensamento político – incluindo
a abolição da escravatura.
Essa
história ainda é grande no Brasil, que no ano de 2022 comemorou os 200 anos do
Grande Oriente do Brasil. E, ao contrário de muitos outros países, a discrição
não necessariamente faz parte da equação. Os membros exibem com orgulho sua
afiliação à loja e muitas vezes se esforçam para reconhecer uns aos outros em
público. A Maçonaria no Brasil, em outras palavras, é difícil de perder. Aliás,
o então vice-presidente, Hamilton Mourão, apareceu recentemente na maior rede
de TV do país para falar sobre a Maçonaria.
A MAÇONARIA BRASILEIRA EM TEMPOS DE BOOM
O
crescimento tem sido uma grande tendência na Maçonaria brasileira,
particularmente no século XXI. Os anos de boom econômico do início dos anos
2000 foram cruciais para essa expansão.
Segundo
o Banco Mundial, o tamanho da classe média brasileira mais que dobrou no espaço
de uma década. Ao mesmo tempo, o interesse pela Maçonaria aumentou. De 2003 a
2009, o Grande Oriente do Brasil (GOB) somou cerca de 500 lojas e 14.000
membros. Em 2013, entre as grandes lojas nacionais e estaduais, havia mais de
213.000 maçons no Brasil espalhados por 6.500 lojas, tornando-se uma das
maiores populações maçônicas do mundo. As comemorações do bicentenário
realizadas em cada estado trouxeram ainda mais atenção para a fraternidade. De
acordo com Gerald Koppe Jr., vice-grande chanceler de relações maçônicas
estrangeiras para o GOB, esse crescimento de membros trouxe a média de idade
dos maçons do Brasil para baixo drasticamente. Hoje, diz ele, a idade média dos
novos membros é de 28 anos. “Estamos iniciando muitos jovens de 20 e 21 anos e
recebemos muitos estudantes universitários por meio do trabalho de extensão com
as universidades”, diz ele. Além disso, a Maçonaria é popular entre os membros
das forças armadas do Brasil, diminuindo ainda mais a idade de seus membros.
No
entanto, as tendências demográficas não podem explicar totalmente o crescimento
da Maçonaria no Brasil. Para muitos, a resposta está na capacidade de seus
membros de casar a irmandade maçônica com a sede brasileira de vida social.
Isso, diz um membro, explica o número crescente de lojas em cidades pequenas,
onde a Maçonaria pode promover redes e estruturas comunitárias que, de outra
forma, seriam inexistentes. “As pessoas têm orgulho de serem conhecidas como maçons”,
ele oferece. “É uma verdadeira medalha de honra.”
Este
Texto foi publicado originalmente no site Califórnia Freemason
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