HISTÓRIA DA FILOSOFIA - TALES DE MILETO

Por Claudio Blanc

TALES DE MILETO

(c. 623 - 624 - c. 556/558 a.C.)

Nascimento: Mileto, atual Turquia

Escola: Naturalismo

Áreas de atuação: Metafísica, Ética, Matemática, Astronomia

Obras: Água como “physis”, Teorema de Tales

Principais discípulos: Anaxímenes de Mileto e Anaximandro de Mileto

Importância: Considerado o pai da ciência e da filosofia ocidental

 

Tales de Mileto é considerado o fundador da filosofia ocidental. Foi o criador, do ponto de vista conceitual, do problema do “princípio” (arché ou arkhé), a origem de todas as coisas.

O filósofo, matemático, engenheiro, mercador e astrônomo grego Tales de Mileto nasceu, conforme indica seu nome, em Mileto, colônia grega, na Ásia Menor, atual Turquia, por volta de 623 a.C. ou 624 a.C. e faleceu, aproximadamente, em 546 a.C. ou 548 a.C. Tales, o fundador da Escola Jônica, é considerado o primeiro filósofo ocidental e é tido como um dos sete sábios da Grécia Antiga.

Não se sabe se escreveu livros, mas seu pensamento é conhecido por meio da tradição oral. Tales foi o iniciador da filosofia da “physis”, afirmando que existe um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem. Para os filósofos pré-socráticos, esse princípio único deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Era, portanto, o princípio pelo qual tudo vem a ser. A busca pela origem primeira de todas as coisas é, de fato, o ideal da filosofia e também o impulso para o próprio desenvolvimento dela.

Tales considerava que a água era a origem de todas as coisas. Segundo Aristóteles, Tales concebeu esta ideia porque todos os seres vivos nascem e se mantêm com vida por conta da água. Embora os seguidores de Tales discordassem quanto à “substância primordial”, aquela que constituía a essência do Universo, concordavam com ele sobre a existência de um princípio único que dava origem a tudo. Como a água, esse fundamento divino vivifica tudo o que penetra. Os primeiros filósofos, provavelmente o próprio Tales, chamaram esse princípio de “physis”, que indica natureza, no sentido de realidade primeira e fundamental.

Tales também foi o primeiro a explicar o  eclipse  solar, ao observar que a Lua é iluminada pelo Sol. Heródoto, o fundador da História, afirma que Tales previu um eclipse solar em 585 a.C. Para Aristóteles, a previsão marca o momento em que começa a filosofia. Por conta disso, Wilhelm Weischedel, filósofo e escritor, escreveu que “a filosofia dos gregos começa em 28 de maio de 585 a.C.” Contudo, Tales é considerado o fundador da filosofia por conta de sua busca do princípio único, arché.

 

Os Discípulos de Tales

Provavelmente discípulo de Tales, Anaximandro de Mileto nasceu por volta de fins do séc. VII a.C. e morreu no início da segunda metade do séc. VI. Elaborou um tratado sobre a natureza, do qual chegou um fragmento até nós. É, de fato, o primeiro tratado de filosofia do Ocidente e o primeiro escrito em prosa na língua grega.

Anaximandro criticou seu mestre, sustentando que a água já é algo derivado e que, ao contrário, o “princípio” (arché) é o infinito, ou seja, uma natureza (physis) infinita e indefinida, da qual provém todas as coisas que existem – um princípio de vitalidade ininterrupta e criativa. Anaximandro também afirmou que a causa da origem das coisas é uma espécie de “injustiça”, enquanto a causa da corrupção e da morte é uma espécie de “expiação” de tal injustiça.

Anaxímenes, também de Mileto, foi um discípulo de Anaximandro que escreveu no século VI a.C. Três fragmentos de um de seus escritos, Sobre a Natureza, sobreviveram até nossos dias. Como Anaximandro, Anaxímenes concorda que o “princípio” deve ser infinito e afirma que deve ser pensado como ar infinito, substância aérea ilimitada. Em um dos fragmentos da obra de Anaxímenes, lê-se: “Exatamente como a nossa alma (ou seja, o princípio que dá a vida), que é ar, se sustenta e se governa, assim também o sopro e o ar abarcam o Cosmo inteiro.”


Platão, sobre Tales

Enquanto observava as estrelas, olhando para o alto, Tales caiu em um poço. Presenciando o acontecido, uma espirituosa serva trácia diz- lhe gracejos: ele queria saber o que havia no céu, mas permanecia-lhe oculto o que estava diante dele e a seus pés. A mesma troça atinge todos os que vivem na filosofia. De fato, a alguém assim se oculta o que é próximo ou vizinho, não apenas com respeito ao que faz, mas também se é realmente humano ou não. Se obrigado a falar diante do tribunal, ou em qualquer outro lugar, sobre o que está a seus pés ou diante de seus olhos, o filósofo provoca risos não só de moças trácias, mas de todos os presentes. Por sua inexperiência, cai em poços e na perplexidade; sua espantosa falta de jeito faz com que pareça ingênuo. Mas o que é o homem e o que, diferentemente dos demais seres, cabe a ele fazer e sofrer –, é isso que o filósofo procura e se esforça para investigar.

 

Platão, citado por Wilhelm Weischedel em A Escada dos Fundos da Filosofia

Para Tales, o “princípio” arché é aquilo de que derivam e em que se resolvem todas as coisas, e aquilo que permanece imutável, mesmo nas várias formas que assume. Tales identificou o princípio de todas as coisas com a água, pois está presente em todo lugar em que há vida, e onde não existe água não há vida. Esta realidade originária foi denominada pelos primeiros filósofos de “physis”, “natureza”, e os primeiros filósofos que desenvolveram esta questão iniciada por Tales foram chamados de “físicos”.

 Fonte: Conhecer Fantástico

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