Autor: Andres Alvarez
No século XIV uma língua românica ganhou
força na Itália sobre outros dialetos da região, desenvolvida na Idade Média,
foi imposta graças ao prestígio de escritores importantes como: Francesco
Petraca, Giovanni Boccaccio e Dante Alighieri.
Mais de um século depois, com a ascensão de Maquiavel, ratifica a dignidade do toscano como uma "língua iterária" da Itália, a passagem da história à modernidade, dilui o toscano com o passar do tempo, deixando o italiano moderno como língua oficial.
No centro desta revolução cultural estava A
Divina Comédia, obra escrita por Dante Alighieri, este poema foi durante
séculos o único meio de unidade intelectual e moral em uma Itália que se
dividiu em vários estados e dialetos. Dante com seu trabalho, alcançou a
unidade entre os italianos, todos deveriam de alguma forma entender a Toscana
para entender em primeira mão o que Dante queria nos dizer com este poema.
Quero trazer essa reflexão a este ponto, para
compreender plenamente os pecados capitais, não podemos fazê-lo de uma
perspectiva puramente conceitual, teríamos a forma, mas não a essência do
significado; devemos fazê-lo desde o campo filosófico e teológico para alcançar
a profundidade que desejamos. A obra que por excelência aborda os pecados
capitais nesses sentidos é precisamente a Divina Comédia, sendo mais
específico, o capítulo dedicado ao Purgatório.
“Agora
o pequeno barco da minha engenhosidade, que deixa para trás um mar tão cruel,
desdobrará suas velas para navegar melhores águas; e cantarei aquele segundo
reino, onde o espírito humano é purificado e digno de subir ao céu. " É
parte do primeiro parágrafo que Dante conta, quando finalmente sai do inferno
pelas mãos de seu mestre Virgílio e chega ao Purgatório.
Com esta simples frase, Dante nos diz o que é
verdadeiramente um pecado capital. Em síntese, qualquer vício ou desejo que vai
contra a moral cristã é definido como um pecado capital, e é chamado de
“capital” porque é o início ou a porta para outros pecados mais graves. No
entanto, se pudermos nos livrar deles, podemos chegar ao paraíso.
Virgílio diz a Dante que para superar o
Purgatório, ele deve purificar sua alma, passando pelas 7 etapas, cada etapa
representa um pecado capital. Virgílio também lhe explica que só chegam ao
purgatório as almas que conseguem retificar o seu caminho, só então têm a opção
de ir para o céu. Abaixo, listo as 7 camadas, com as punições adequadas para
purificar a alma:
1ª Camada - Orgulho: O castigo para os
orgulhosos será carregar pedras pesadas, para que tenham sempre a cabeça baixa,
só assim serão humildes.
2º Grau - Inveja: Os invejosos terão os olhos
costurados com fios de ferro, para que nunca mais percebam o que veem e
aprendam a ouvir com respeito. É a mensagem para a humanidade, para que
fortaleça sua empatia com os outros.
3º Grau - Raiva: As pessoas raivosas devem
caminhar sobre aberturas acre, é um símbolo do efeito que a raiva pode ter
sobre as outras pessoas. A melhor maneira de combater esse pecado é forjando
nossa paciência com todos os nossos semelhantes.
4ª Camada - Preguiça: A punição para os
preguiçosos será o trabalho constante, eles nunca irão descansar; A mensagem é
óbvia, em nossa vida deve haver proatividade constante para evitar cair neste
pecado.
5º Grau - Avareza: Os avarentos e amantes do
material, ficarão no chão, sem possibilidade de desfalque, para valorizar-se
mais, sem ter que ter qualquer objeto material em suas mãos. A ganância é
combatida com generosidade, dando e compreendendo aos outros.
6ª Série - Gula: Todos aqueles que não se
contentam em comer, beber ou deixar de comer, vivem dos excessos; eles devem
morrer de fome diante de árvores cheias de frutas que nunca estarão ao seu
alcance. É uma chamada direta à temperança e moderação que devemos ter como
seres racionais.
7ª Série - Luxúria: Almas cujo desejo sexual
está mal orientado, devem cruzar chamas incessantes se quiserem passar para o
outro lado. Aqui tenho que fazer um parêntese, quando Dante decide purificar
sua alma desse pecado, o medo o invadiu, ao cruzar as chamas, ele conheceu
Beatriz, que o esperava no paraíso, e que era a mulher que ele sempre amou.
Beatriz na vida real foi aquela que Dante sempre reverenciou, ela era seu amor
platônico, mas ela se casou com outro, sem dar tempo a Dante para declarar seu
amor.
Beatriz morre jovem, estima-se que foi antes
de escrever a divina comédia, e é a ela que se dedica o capítulo do paraíso,
para Dante ela era uma alma pura. Com este cruzamento de metáforas, o autor
tenta nos iluminar, a luxúria nunca será o caminho para encontrar o amor;
Devemos superá-lo e dar nossa sexualidade apenas àqueles que amamos, assim
encontraremos o amor verdadeiro.
No século V o padre João Cassiano e seu
mestre Evagrio em Nitria, postularam 8 pecados capitais, mais tarde Papa
Gregório I, baseia-se nestes 8 pecados, para elaborar os 7 pecados capitais que
conhecemos hoje, destaca-se que Gregório I desenha da lista de tristeza,
descartou-o como um pecado capital.
Na minha opinião pessoal essa estimativa é
mal feita, todos nós em algum momento da vida podemos nos sentir tristes, mas
quando esse sentimento permanece presente, é uma indicação clara de que somos
muito gratos com a vida e com Deus, portanto, deveria continuam a ser
considerados um pecado capital.
Por fim, quero destacar o momento em que
Virgílio explica a Dante a distribuição dos degraus do purgatório, que vão
desde o pecado mais grave (orgulho) até o pecado menos grave (luxúria). O
orgulho é sério, porque anulamos automaticamente o nosso semelhante, nesse
sentido também podemos intuir que o ateu é alguém soberbo, pois não conhece a
existência de que no universo pode haver alguém superior a nós.
O inferno, por outro lado, é dividido em 9
círculos, o nono sendo aquele no centro da terra, onde estão aquelas almas que
cometeram o pecado mais grave de todos, a traição. Aqui está a grande diferença
entre um pecado capital e um pecado grave.
Na nossa vida sempre cometeremos erros,
equívocos ou pecados, o pecado torna-se grave, quando é recorrente, é bom
sentir raiva ou às vezes ser preguiçoso, mas devemos sempre cuidar da
frequência desses atos, pois é aí que a pessoa virtuosa ficará comprometida.
Por outro lado, quebrar nossa palavra é algo que o ser humano não pode
permitir, não só falta alguém, mas também a si mesmo.
Termino com uma frase cujo autor não consegui
encontrar, mas engloba o significado destas palavras:
"Não há pecado mais vergonhoso do que
enganar aqueles que acreditam em você"
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