Por José Maurício Guimarães
No dia 15 de julho de 1927, um sinistro em
Viena destruiu uma coleção de documentos referentes aos primórdios da Maçonaria
na Europa, barbárie perpetrada pelos participantes da malfadada tentativa de
golpe dos nazistas cognominada Putsch da Cervejaria de Munique.
Em 27 de fevereiro de 1933, outro sinistro: o
incêndio do Reichstag em Berlim cuja autoria fora atribuída a Van der Lubbe, um
ativista comunista e pedreiro desempregado que chegara recentemente à Alemanha
para realizar suas atividades políticas. Mas investigações posteriores chegaram
à conclusão de que Van der Lubbe não agira sozinho: os nazistas estavam
envolvidos no planejamento do atentado.
Sigmund Freud lança uma luz sobre as
tragédias que caem sobre a memória de um povo:
A primeira delas está na obra “O futuro de
uma ilusão”:
“Quanto menos as pessoas sabem do passado e
do presente, tanto mais impreciso será o juízo que farão sobre o futuro”.
Lemos a outra em “A história do movimento
psicanalítico”:
“Todos os conteúdos refutados, longe de serem
destruídos ou esquecidos definitivamente através da repressão psíquica, ao se
ligarem à pulsão, mantém sua efetividade psíquica no inconsciente. O recalcado
retornará como sintoma”.
O Brasil sabe cada vez menos do passado e
essa ignorância (planejada e programada por interesses políticos) afeta nosso
presente tornando assim nosso futuro um ponto de interrogação sem resposta. E
todos os significados rejeitados mantêm-se perigosamente em nosso inconsciente,
prontos para explodirem a qualquer momento.
Iniciamos este mês de setembro de 2018, com a
violenta perda do Museu Nacional situado na Quinta da Boa Vista, em São
Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro.
Abstenho-me de repetir os clichês sobre a
importância do Museu Nacional. Deixo essa tarefa para a imprensa e alguns de
seus segmentos que devem estar exultantes por usufruírem de pauta tão rentável
para seus medíocres comentários e interesses. Vivem eles dos restos mortais da
cultura brasileira, esses abutres que devoram igualmente as carnes de nossa
dignidade como nação.
Para os que enxergam a cultura como coisa
supérflua, o Museu Nacional e a Quinta da Boa Vista não significam realmente
nada. “Museu é velharia e coisa de historiador” ‒ como ouvi de alguns Irmãos
nossos por ocasião da pesquisa que à duras penas eu vinha realizando para a
redação do meu livro “História, Fundamentos e Formação da Grande Loja Maçônica
de Minas Gerais” (2014).
Resta saber se o incêndio do Museu Nacional
(talvez criminoso) entrará para o escabroso rol de tragédias não solucionadas,
como o desastre ecológico do rompimento da barragem de Fundão, localizada em
Bento Rodrigues, no município mineiro de Mariana. Naquela época, semelhante
asneira dita por um doutor ‒ a de que “mineração envolve riscos” ‒ assemelha-se
aos iconoclastas da cultura maçônica que apregoam pelos arredores dos botequins
e cantinas que “maçons não gostam de ler” (atestado de burrice exarada de
próprio punho, ou própria boca).
Morre o Museu Nacional na Quinta da Boa Vista
assim como pereceu a Biblioteca de Alexandria, incinerada pelos asseclas de
Cirilo no ano 47 de nossa Era. Morre o Museu Nacional assim como morreu
Joana D’Arc que defendia a liberdade de um povo; como Giordano Bruno que
defendeu a liberdade do pensamento; e como Jacques de Molay que lutava,
juntamente com os Templários pela verdade acima dos dogmas.
De nada adiantam agora os “choramingos” dos
políticos que certamente tentarão obter dividendos eleitorais desse fato; ou
das instituições e pessoas que se digladiarão ‒ uns jogando a culpa nos outros
‒ para salvarem as próprias peles. Sem falar nas atitudes infantis de “abraçar
a Quinta da Boa Vista” ou jogar flores em direção às cinzas daquele que foi o
maior patrimônio cultural e histórico do Brasil.
Ninguém falará o suficiente sobre o
desperdício de dinheiro acontecido no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro,
para a realização das Olimpíadas ou na construção de estádios de futebol. Um
centésimo dessas despesas todas seriam suficientes para a manutenção de todos
os museus e instituições culturais do país.
Nessa tragédia tem que haver um responsável ‒
ou responsáveis. Qualquer país sério insistiria numa investigação severa para
se apurarem os culpados e os negligentes; e puni-los exemplarmente.
Enquanto isso não acontece (e duvido que
acontecerá) só nos resta ficar de boca aberta diante da televisão ouvindo
asneiras e entrevistas forjadas no único intuito de ludibriar os brasileiros
que pagam impostos e são os mantenedores do patrimônio público.
Oh! Senhor meu Deus!
Cubram as cabeças de luto.
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