R.’. J.B.O. – R:. L:. MESTRE AFFONSO DOMINGUES
Ao longo dos últimos 300 anos a maçonaria
passou por perseguições de toda a ordem. Políticas, religiosas, culturais e
étnicas. Assim, resolvi apresentar uma breve reflexão sobre a perseguição á
maçonaria antes da II Guerra Mundial, e durante a mesma, sumarizando os tempos
difíceis pela qual a maçonaria passou nos meados do século XX.
O rol de perseguições á nossa augusta ordem foi
enorme e de toda a espécie. Durante as primeiras décadas do século XX essa
perseguição atingiu uma particular violência um pouco por toda a Europa.
Começando no primeiro regime Fascista da
Europa, na Hungria em 1919 com Bella Kun, e prosseguindo com o regime Fascista
de Mussolini em 1923, esses tempos difíceis na maçonaria propagaram-se também a
Portugal e a Espanha.
Por exemplo, mesmo aqui ao lado durante, e
após, o termo da Guerra Civil Espanhola, o Generalíssimo Franco promulgou em
1940 a Lei de Repressão contra a Maçonaria e o Comunismo. Aliás, Franco
atribuía frequentemente todos os males que padecia Espanha ao complot Judaico
Maçónico, como se pode testemunhar ainda no seu último discurso feito em Madrid
em 10 de Janeiro de 1975.
Das muitas perseguições que a maçonaria
sofreu no último século, posso destacar a perseguição sobre o jugo nazi e as
coincidências temporais pela qual a maçonaria foi também perseguida em
Portugal.
Quando Hitler chegou ao poder em 1933, a sua
política estava bem definida, pois já no seu livro “Minha Luta”, Hitler dizia
que “a maçonaria sucumbiu aos judeus e converteu-se num excelente
instrumento para combater pelos seus interesses […]”.
No entanto os esforços para eliminar a
maçonaria não eram a sua primeira prioridade. Mas, e após o estabelecimento e
fortalecimento das bases do regime nacional-socialista, a perseguição chegou às
portas das lojas. Primeiramente, as lojas que defendiam a tolerância, a
igualdade, e que de algum modo estavam ligadas aos sociais-democratas ou liberais,
foram sujeitas a perseguições e eram pressionadas para abater colunas
“voluntariamente”.
Nessa primeira fase, durante o ano de 1933
aquelas lojas mais conservadoras, e que estavam dispostas a acomodar-se ao
regime, ainda puderam funcionar durante mais algum tempo.
No entanto, os nacionais socialistas desde
bem cedo pretenderam excluir de cargos públicos todos aqueles mações que se
recusavam a renunciar á maçonaria.
A situação mudaria radicalmente no início de
1934 quando Roland Freisler (Juiz Nazi e Ministro da Justiça do Terceiro Reich)
criou o “Volksgerichtshof” (Tribunal do Povo), que não era nem mais
nem menos que um tribunal político pelo qual os nacionais socialistas tentavam
controlar a população através de penas desproporcionadas e brutais.
Roland Freisler decidiu em Janeiro de
1934 que os maçons que não deixassem as suas lojas até 30 de janeiro desse ano,
não se poderiam filiar no Partido Nacional Socialista. Ainda no mesmo mês,
Hermann Goering na altura ministro do Interior da Prússia emitiu um decreto
ordenando que as lojas se dissolvessem “voluntariamente”, e exigindo que essas
acções “voluntárias” lhe fossem submetidas para a sua aprovação.
Além disso, as lojas foram atacadas em toda a
Alemanha por unidades locais da S.A., que destruíram os templos, e seus
recheios. Isto tudo somado á crescente pressão, sobre os funcionários públicos
suspeitos de pertencerem á maçonaria (Magistrados, Professores, Militares),
levou a que fosse desferido um duro golpe na nossa Ordem.
Ainda em Maio de 1934, o Ministério da Defesa
Alemão proibiu a maçonaria, a todo o seu pessoal militar, e civil. Os
funcionários estavam proibidos de aderir ou pertencer a qualquer loja maçónica.
Nesse Outono de 1934, depois de Himmler e Reinhard Heydrich tomarem
as rédeas da Gestapo, a polícia Alemã fechou muitas lojas e confiscou os seus
bens.
Entretanto em 28 de Outubro de 1934, o
Ministro do Interior do Reich, Wilhelm Frick, emitiu um decreto em que
considera as lojas como “hostis ao Estado”. Ao serem declaradas hostis ao
Estado as lojas sujeitavam-se a ficar com os seus bens apreendidos.
Só por curiosidade, em Portugal o então
deputado José Cabral, Director-Geral dos Serviços Prisionais, apresenta, em 19
de Janeiro de 1935, na Assembleia Nacional, o projecto de lei n.º 2, visando a
extinção das associações secretas. O projeto adoptava uma definição de
associação secreta que tinha em vista atingir a maçonaria. Enfim coincidências…
Finalmente, em 17 de Agosto de 1935, citando
a autoridade de “O Decreto do Fogo do Reichstag (Reichstagsbrandverordnung)*”,
Frickordenou que todas as Lojas restantes fossem dissolvidas e seus bens
confiscados.
Também em Portugal em 27 de Março de 1935 a
Câmara Corporativa emite um parecer favorável à aprovação do projeto de lei, nº
2 num extenso parecer subscrito por Domingos Fezas Vital, Afonso de Melo, e
Gustavo Cordeiro Ramos. A 21 de Janeiro de 1937 foi emitida uma portaria
(baseada na lei nº 1901), que dissolve o Grémio Lusitano (Associação profana
que suporta o Grande Oriente), e a lei nº 1950 que entrega todos os bens do
Grémio Lusitano á Legião Portuguesa.
Ainda em 1935 Reinhard Heydrich Chefe da
Polícia de Segurança e do S.D.** dizia que os Maçons, os Judeus, e o Clero,
eram os “inimigos mais implacáveis da raça alemã”. Afirmava convictamente que
era necessário erradicar de todos os Alemães a “influência indirecta do
espírito judaico”, pois para ele essa influência, “era um resíduo infeccioso
Judeu, Liberal e Maçónico, que contaminava acima de tudo o mundo académico e
intelectual”.
Heydrich criou uma secção especial do Serviço
de Segurança SS, Secção II /111, para enfrentar e exterminar especificamente a
Maçonaria. O S.D. estava muito interessado neste tema, pois acreditava, que a
maçonaria exercia um poder político real, e que controlava a opinião pública
através da Imprensa, o que significava que a maçonaria, estaria em condições de
fomentar a subversão e a revolução.
Mais tarde a RSHA*** uma mistura de S.D. e de
Policia de Segurança formada em 1939 assumiu a secção dedicada á investigação
da maçonaria.
No entanto a seguir aos anos tempestuosos de
1934, a 1936 e com a Alemanha a preparar-se para a guerra nota-se em 1937 e
1938, um alívio sobre a maçonaria.
Hitler amnistia alguns membros que
renunciaram á maçonaria em Abril de 1938, e foram decididas algumas
reintegrações nos serviços do Estado caso a caso. Após a II Guerra Mundial
começar em 1939, muitos ex-maçons que tinham sido obrigados a aposentarem-se
regressaram ao serviço público, sendo levantada a proibição de ex-maçons
servirem na Wehrmacht (Forças Armadas Alemães), inclusivamente como oficiais.
No entanto o Partido Nacional Socialista continuou a proibir os ex-maçons a
aderirem às suas fileiras embora tenham havido algumas exceções depois de 1938.
Após conquistarem a Europa em 1940, e nos
países aonde estabeleceram um regime de ocupação, os Alemães dissolveram as
organizações maçónicas e confiscaram os seus bens e documentos.
Assim, alguns dos parceiros Alemães do Eixo
decretaram medidas policiais e de segregação desfavoráveis aos maçons. Um
exemplo claro desta política é o decreto proferido em agosto de 1940, pelo
regime Francês de Vichy. Esse decreto afirmava que os maçons eram inimigos do
estado e permitiam a vigilância policial a todo e qualquer maçon. Isso levou a
que as autoridades Francesas do Regime de Vichy criassem um arquivo onde
estavam identificados todos os membros do Grande Oriente da França, uma das
principais organizações Maçónicas francesas;
Quanto ao modo de atuar dos Alemães nas zonas
ocupadas, era o seguinte:
Depois de fecharem uma Obediência apreendiam
a lista de membros, bibliotecas, mobiliário e outros artefatos culturais. Os
itens apreendidos eram enviados para a agência alemã apropriada, principalmente
o S.D. e mais tarde, o RSHA.
Também, como parte de sua campanha de
propaganda contra a maçonaria, os nazistas e outras organizações de direita
locais, montaram exposições antimaçónicas em toda a Europa ocupada. Assim, um
pouco por toda a Europa a Alemanha, montou várias exposições, como a de Paris
em outubro de 1940, e a de Bruxelas em fevereiro de 1941. Exibindo rituais
maçónicos e artefatos culturais roubados de lojas, essas exposições visavam
ridicularizar e dirigir o ódio contra os maçons e aumentar os temores de uma
Conspiração Judaico-Maçónica.
Além disso a propaganda Alemã durante e
guerra, sempre acusou os judeus e os maçons de terem provocado a Segunda Guerra
Mundial e serem responsáveis pelas políticas do presidente dos EUA Franklin
Delano Roosevelt, que foi identificado como maçom.
Em 1942, Alfred Rosenberg**** foi autorizado
por um decreto de Hitler a realizar uma “guerra intelectual” contra os judeus e
os maçons. Assim, Hitler concedeu uma autorização a Rosenberg, de livre acesso
a todos os arquivos e bibliotecas maçónicas, de modo a ter informação e
conhecimentos suficientes para continuar “a luta intelectual e metódica”, que
era necessária para vencer a guerra.
Aquando do fim da Segunda Guerra Mundial,
foram capturados aos Alemães enormes quantidades de arquivos e bibliografia
maçónica que tinham sido apreendidas pelas autoridades Alemãs. Esse material
foi capturado pelos aliados e enviado quer para Moscou (importante arquivo capturado
na Silésia), quer para Washington e Londres.
Desde o fim da Guerra Fria, muitas coleções
relacionadas com a maçonaria foram restituídas aos países de origem, enquanto
outras continuam a ser mantidas em armazéns no estrangeiro.
Honestamente é difícil determinar quantos
Irmãos morreram durante o regime nacional-socialista apenas por serem maçons,
mas uma estimativa conservadora aponta que os números de maçons Alemães que
foram executados ou morreram em campos de concentração foram cerca de 80 000. Já,
em todos os países ocupados estima-se que tenham morrido há volta de 200 000
maçons.
Por incrível que pareça a II Guerra Mundial
além de derrotar o nacional-socialismo veio dar um novo sopro de vida á
maçonaria principalmente nos Estados Unidos como explica William J. Jones de
Villa Grove, (quinquagésimo terceiro Grão-Mestre do Estado de Illinois,
2000-2003). Segundo ele, “Após o final da guerra muitos dos homens que
combateram além-mar juntaram-se á maçonaria. Eu penso que os veteranos
experimentaram uma grande comunhão de objetivos e princípios com os seus
camaradas quando estavam no serviço além-mar. Na Guerra eles estavam juntos,
com outros homens, e sentiam um parentesco próximo, uma verdadeira irmandade.
Quando chegaram aos Estados Unidos, não encontraram esse mesmo sentimento de
irmandade que sentiam quando estavam além-mar, e refletindo chegaram á
conclusão que gostariam de se juntar a uma fraternidade, a uma organização
masculina, para que pudessem ter uma comunhão semelhante ao que tinham tido quando
estavam em serviço além-mar.”
O exemplo disso é o do Estado de Illinois.
Entre 1940 e 1950 a maçonaria ganhou 55751 novos Irmãos. É caso para dizer
que o nacional-socialismo e o fascismo perderam em todos os sentidos para a
maçonaria.
JBO
M:. M:. da R:. L:. Mestre Affonso Domingues
em Fevereiro 2016
Fontes:
·
https://en.wikipedia.org/wiki/Reichstag_Fire_Decree
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_n.%C2%BA_1901,_de_21_de_Maio_de_1935
·
https://en.wikipedia.org/wiki/Sicherheitsdienst#Inland-SD
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http://freimaurer-wiki.de/index.php/En:_Freemasonry_under_the_Nazis#Portugal
·
https://blog.philosophicalsociety.org/2016/10/26/persecuted-masons-the
holocaustand-hitlers-attack-on-freemasonry/
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http://www.grandlodgescotland.com/masonic-subjects/holocaust-memorial-day
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http://rlmad.net/2014/07/08/a-flor-da-miosotis/
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https://en.wikipedia.org/wiki/Roland_Freisler
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http://www.knightstemplar.org/pgeo/mepgm/53.html
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Http://www.eiu.edu/historia/Stanford2013.pdf
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https://en.wikipedia.org/wiki/Sicherheitsdienst
·
https://pt.wikipedia.org/wiki/RSHA
·
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Rosenberg
·
Mein Kampf
·
Adolf
Hitler IHCM
·
Hitler’s Elite: The SS 1939-45
·
Chris
McNab Bloomsbury “
·
“Freemasonry, its world view and organization and
policies”
·
Dieter
Schwarz Weltanschauung
·
NOTAS:
·
* Ordem
do Império Presidente para a Proteção de Pessoas e EstadoCom base no artigo
48, parágrafo 2, da Constituição do Reich, prescreve-se o seguinte para a
defesa contra os actos de violência comunistas que prejudicam o estado: com
base em actos de violência comunistas que acabam com o estado: § 1º. Os artigos
114, 115, 117, 118, 123, 124 e 153 da Constituição do Reich alemão serão
suspensos até novo aviso. É, portanto, restrições à liberdade pessoal, ao
direito à liberdade de expressão, incluindo liberdade de imprensa, direitos de
associação e reunião, intervenções no segredo postal, postal, telegráfico e
telefónico, ordens de busca e apreensão de casas e restrições de propriedade,
mesmo fora dela de outra maneira permitida por lei. § 1. Os artigos 114, 115,
117, 118, 123, 124 e 153 da Constituição do Reich são suspensos até novo aviso.
[Habeas corpus], liberdade de opinião, incluindo a liberdade de imprensa, a
liberdade de organizar e reunir, a privacidade das comunicações posta,
telegráficas e telefónicas. Os mandados para pesquisas domiciliares, ordens de
confisco e restrições de propriedade são, portanto, permitidos além dos limites
legais prescritos de outra forma.
·
·
**Sicherheitsdienst (alemão:
[zɪçɐhaɪtsˌdiːnst], Serviço de Segurança), o título completo Sicherheitsdienst
des Reichsführers-SS (Serviço de Segurança do Reichsführer-SS), ou SD, foi a
agência de inteligência das SS e o Partido Nazista na Alemanha nazista. A
organização foi a primeira organização de inteligência nazista a ser
estabelecida e foi considerada uma organização irmã com a Gestapo, que a SS se
infiltrava muito depois de 1934. Entre 1933 e 1939, o SD foi administrado como
um escritório SS independente, após o qual foi transferido para a autoridade do
Reich Main Security Office (Reichssicherheitshauptamt; RSHA), como um dos seus
sete departamentos / escritórios. O Seu primeiro diretor, Reinhard Heydrich,
destinado ao SD a trazer cada indivíduo dentro do alcance do Terceiro Reich sob
“supervisão contínua”.
·
·
***
O Reichssicherheitshauptamt, (em português Gabinete Central
de Segurança do Reich) abreviado como RSHA, era o órgão do
Partido Nazista que controlava as polícias, segurança alemãs e administração
das mesmas no período de 1939, quando foi criada, até 1945.
·
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**** Alfred
Rosenberg (Reval, 12 de janeiro de 1893 — Nuremberg, 16 de Outubro de
1946) foi um político e escritor alemão, sendo o principal teórico do
nacional-socialismo, sintetizado na obra O Mito do Século XX (Der
Mythus des zwanzigsten Jahrhunderts, 1930). Conselheiro de Adolf Hitler,
chegando a ser ministro encarregado dos territórios da Europa Oriental, em
1941, onde deportou e exterminou centenas de milhares de pessoas,
principalmente judeus. O Tribunal de Nuremberg (ou Nuremberga) condenou-o à
morte por enforcamento, pelos crimes de guerra.
Fonte: A PARTIR PEDRA
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