Os fenícios, como a grande maioria dos povos
da época, eram politeístas. Primitivamente foram adoradores de árvores,
rochedos e de certas pedras negras de forma oval, os bétilos. Mais tarde
passaram a adorar os astros e as forças da natureza, considerando como
divindade maior o Sol. O culto compreendia um conjunto de práticas grosseiras,
licenciosas e cruéis, com prostituição sagrada e com sacrifícios humanos,
sobretudo de crianças, que se lançavam vivas aos braços incandescentes da
estátua de bronze representativa da divindade, aquecida por uma fornalha. Suas
divindades celestes chamavam-se Baal (senhor, marido, dono) e havia
praticamente um deus para cada cidade: Biblos ou Gebal, Sidom e Tiro adoravam
um Baal feminino (Baalat), Astartéia ou Astarte; Cartago venerava Tanit; Dagon
era o protetor do litoral; Melcart, o deus das cidades, era também o Baal de
Tiro. Inúmeros outros eram cultuados: Adôn (Adônis), Amom, Moloc, etc.
(Primeiramente os judeus usavam o nome Baal para designar o seu Deus. Mais
tarde, em razão das recordações idólatras do termo, Baal deixou de ser a
palavra aplicada ao Deus dos judeus, sendo comum utilizá-la para designar
quaisquer das divindades pagãs. Na Bíblia, freqüentemente encontra-se o nome
Baal em sua forma plural Baalim).
Além dos deuses celestes, haviam os deuses
agrários. O mito da oposição entre Mot e Alein, deuses ligados à colheita e aos
frutos, conta suas mortes alternadas: um no inverno, ressuscitando na
primavera, e o outro percorrendo o caminho oposto. Astartéia ou Astarte surgiu
inicialmente como deusa dos pastores. Com o aumento de seus seguidores, suas
virtudes foram se ampliando, vindo a se tornar a grande deusa da Natureza e da
fecundidade animal e humana. Na Bíblia, Astartéia é referida como Astarote. Era
adorada nas cidades fenícias de Biblos, Sidon e Tiro e por outros povos sob
distintos nomes: Istar na Assíria e na Babilônia; Ísis pelos egípcios; Afrodite
(Vênus), a deusa do amor e Artemisa (Diana) a deusa da caça e da lua por gregos
e romanos. Como o culto de Astartéia era de natureza licenciosa, os judeus
constantemente eram por ele atraídos. O próprio Salomão rendeu-lhe homenagens,
edificando-lhe um templo em Jerusalém.
Os Fenícios eram grandes comerciantes e
navegadores, guardando judiciosamente o segredo de suas rotas marítimas e de seus
descobrimentos, assim como os seus conhecimentos sobre astronomia, rotas
migratórias de certos peixes, voo das aves, ventos e correntes marítimas.
Extremamente zelosos na preservação do segredo de suas rotas, havia uma
exigência de caráter comercial, válida para todos os marinheiros fenícios, que
obrigavam-nos a afundar suas embarcações se fossem seguidas e estivessem em
desvantagem. Chegaram a circunavegar a África, façanha comprovada em razão do
historiador grego Heródoto ter considerado um absurdo o relato dos marinheiros
fenícios de que, em um determinado momento, o Sol começava a nascer à direita,
contrariando todo o conhecimento dos povos de então. Pois esse detalhe é
justamente o que comprova que os fenícios contornaram o cabo da Boa Esperança,
no sul da África, retomando o rumo norte. Pode-se dizer que os fenícios foram
os primeiros a realizar uma política colonizadora de envergadura, expandindo
sua influência pelas ilhas do Mar Egeu, Malta, Sardenha, Sicília, Mar Negro, Cáucaso
e costa da África, onde fundaram Hipo, Útica e Cartago. Chegaram até a Espanha,
à França e às ilhas britânicas.
Como comerciantes, os Fenícios distribuíam
produtos provenientes principalmente do Egito, Babilônia, Pérsia, Índia, Arábia
e Israel. De Chipre traziam cobre; da Trácia prata; das ilhas do Mediterrâneo
mármores, alúmen e enxofre; da Espanha estanho e prata; da Índia especiarias;
do mar Negro ao Cáucaso buscavam ouro, prata, cobre e escravos. Além de
negociantes, eram também piratas. Quando em pequeno número, desembarcavam num
lugar, expunham suas mercadorias e contentavam-se com os lucros; mas, se eram
numerosos e mais fortes que os da terra em que aportavam, muitas vezes
saqueavam as casas, incendiavam os povoados e arrebatavam mulheres e crianças
para vende-las como escravos.
Suas indústrias produziam tecidos, inclusive
de lã, utensílios de cobre e bronze, perfumes, incenso, jóias e artigos de
cerâmica e de vidro, cuja fabricação melhoraram descobrindo o meio de faze-los
transparentes e imitando pedras preciosas. A púrpura era a maior riqueza dos
fenícios, que detinham o monopólio da fabricação do corante extraído da concha
do murex, utilizado para dar cor às luxuosas vestimentas usadas pelas
aristocracias da época.
Voltados para o comércio marítimo, os
fenícios não se interessaram pelas artes, conquanto, para satisfazer os seus
clientes, copiavam com perfeição os produtos artísticos de outros povos.
Provavelmente em razão da necessidade de escriturarem seu comércio,
simplificaram o complicado modo de escrever então existente, inventando o
primeiro alfabeto. Os fenícios prestaram um grande serviço à civilização,
propagando entre os povos ainda incultos da Europa a cultura do Oriente.
Quanto à cidade-estado de Tiro, o profeta
Ezequiel, antes de lançar suas profecias contra Tiro, faz uma histórica
descrição da pujança daquela cidade (Ezeq 27:3-25):
Hiram, rei de Tiro e contemporâneo dos reis
judeus David e Salomão, era filho e sucessor de Abibal. Nasceu no ano de 1063
a.C. e morreu em 985 a.C. Segundo o historiador judeu Flávius Josefo, seu
reinado durou 34 anos.
Para
outros historiadores, ocupou o trono por 60 anos. Hiram guerreou e submeteu os
egeus, que se recusavam a pagar-lhe tributos. Fortificou a cidade de Tiro e
realizou obras de terraplanagem entre a cidade de Tiro e o templo de Júpiter
Olimpo, o qual embelezou com grande quantidade de ouro. Demoliu os templos em
ruínas e construiu outros, consagrados a Hércules. A Bíblia conta que Hiram foi
amigo e aliado do rei David, a quem ofereceu homens e materiais para a
construção de seu palácio e do templo que pretendia erigir para cultuar a Deus.
Com a morte de David, Hiram tornou-se também amigo e aliado de Salomão, a quem
renovou o oferecimento feito a seu pai. A aliança entre Salomão e Hiram, com
excelentes resultados para ambos os monarcas, era sólida o suficiente para
incluir algumas expedições marítimas conjuntas – que se opunham às tradições
fenícias de não revelar os segredos de suas rotas – entre as quais a Tarsis e a
Ofir, de onde trouxeram ouro, prata e marfim. A pedido de Salomão, Hiram
mandou-lhe ainda Hiram Abif para adornar o templo. Pelos materiais e homens
postos à disposição por Hiram, os judeus pagavam, anualmente aos fenícios
tírios, 20.000 coros (7.288 m3) de trigo e de cevada e 20.000 batos (720.000
litros) de vinho e de azeite. Adicionalmente, Salomão transferiu para o
controle de Hiram 20 cidades da Galiléia, limítrofes à Tiro. Segundo a narração
bíblica (I Reis 9:11-13), ao inspecionar as 20 cidades que recebera de Salomão,
Hiram ficou decepcionado: “Que cidades são estas que me deste, irmão meu?” e
chamou-as Terra de Cabul, que significa terra de areia, terra seca, terra de
nada, terra desprezível, terra sem valor.
Para a Maçonaria, Hiram representa o atributo
da Força, pois as obras do templo foram sustentadas com a força de Hiram, que
forneceu homens e materiais a Salomão. Hiram é personificado, nas Lojas
maçônicas, pelo Primeiro Vigilante e por Hércules, símbolo clássico da Força e
a quem Hiram dedicou, durante o seu reinado, inúmeros templos.
Excertos do livro (no prelo) Maçonaria para
Maçons, Simpatizantes, Curiosos e Detratores
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