Pesquisa realizada de 21 de fevereiro a 18 de
março de 2018 entre maçons deste nosso país (o melhor dos países imagináveis)
teve por objetivo auscultar nossa opinião sobre o estado das coisas.
Já era tempo! O mínimo que nossas
instituições podem fazer a bem da Ordem e de nossos augustos quadros é
perguntar:
“‒ E os Obreiros?! estão
satisfeitos!?”
Não pretendo reler o relatório cujo link disponibilizo
no final deste texto. Nem quero dissecar esses resultados coligidos com
excelente perícia e método. Todos sabem ler e que cada um tire suas próprias
conclusões. Vou me deter, porém, nalguns busílis que pelo meu entendimento
deveriam nos preocupar, e muito.
Na apuração das respostas percebi o adejar de
quirópteros noturnos bastante perigosos, um tom preocupante (pessimista,
talvez) e apreensivo sobre a maçonaria de hoje; e incertezas sobre o restante
deste século XXI. (Só para esclarecer: uso maçonaria com “m” minúsculo para o
fazer-maçônico habitual; e Maçonaria com “M” maiúsculo quando me refiro à
ciência ou conhecimento tradicional da Ordem Maçônica).
Na Tabela 1 do Relatório é
curioso o percentual dos membros das Potências/Obediências que se dispuseram a
participar da pesquisa:
Em 1º lugar, vem o Grande Oriente do Brasil
com 14,25% do total de respostas;
Em 2º lugar, a Grande Loja Maçônica de Minas
Gerais (da qual faço parte) com 11,36%;
Em 3º lugar, a Grande Loja de Santa Catarina,
com 9,66%.
Segue, em ordem decrescente, o Grande Oriente
Paulista (9,12%), o Grande Oriente de Minas Gerais (6,90%), a Grande Loja
Maçônica do Mato Grosso do Sul (6,04%), a Grande Loja do Paraná (4,85%), a
Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (4,82%).
As demais 24 Potências/Obediências pontuaram
entre 3,43% e 0,15%.
Pausa para meditação, pois uma coisa é
certa: quem está na zona de conforto, com égua amarrada na sombra, nunca
participa de pesquisas; aliás, não participa de nada que não seja ágape,
fotografia abraçando políticos e rodinha após as sessões para falar mal da vida
dos outros. Outros espécimes composta por gente que está “no poder” (salvo
honrosas exceções) não entram nessa ‒ nem para responder pesquisa, nem para
avaliar os rumos que elas apontam. É preciso considerar que os entrevistados
mediante o questionário eletrônico não são meros palpiteiros: 49,60% têm 10
anos ou mais de filiação.
Houve perguntas específicas e diretas; por
exemplo:
“O que a maçonaria deveria fazer e não
está? (ou está fazendo pouco)...”
Trata-se, salvo melhor juízo, de uma
interrogativa pelo ponto de vista negatório. Eu perguntaria também: “o que a
maçonaria está fazendo bem?” ‒ inferência inócua, talvez, e que não mudaria
muito o panorama geral. Sendo assim ‒ confiram ‒ três respostas mais frequentes
apontaram, em ordem decrescente:
1) a maçonaria deveria fazer melhor seleção
de seus membros; 2) a maçonaria deveria promover educação maçônica de melhor
qualidade; 3) a maçonaria deveria preservar melhor seus rituais e seus
segredos.
Noutras palavras: nossa Ordem escolhe
mal seus candidatos, educa mal os que são iniciados e não preserva a integridade
do sistema maçônico.
Outra pergunta relevante:
“O que mais lhe desagrada na maçonaria
atualmente?”
Também aqui uma interrogativa pelo ponto de
vista negatório. Eu perguntaria também: “o que mais lhe agrada na maçonaria de
hoje?” ‒ mas de igual modo isso não mudaria muito nem a paisagem, nem a
moldura.
A pergunta, da forma que foi formulada,
motivou três respostas mais frequentes, em ordem decrescente: 1) conflitos
entre as Potências/Obediências maçônicas; 2) brigas pelo poder nas Lojas e nas
Potências/Obediências; 3) “profanos de avental”.
Conflitos e brigas são velhos conhecidos
nossos, consequências óbvias da péssima seleção de membros (qualquer pessoa
serve, desde que seja “um cara legal” ou “gente fina prá caramba”
‒ a palavra é outra, me desculpem). As instruções maçônicas são deficientes
(para não dizer “um caos”). Não exigem o mínimo comprometimento humanitarista,
nem formação da inteligência, da transcendência ou da ética. Não estou
inventando nada: esses são os pilares do pensamento maçônico. Tão certo quanto
“a noite surge após as horas do dia”, as sindicâncias somadas às instruções mal
feitas fazem germinar os “profanos de avental”, aves de vistosa plumagem para
as quais não dispomos de controles que possibilitem sua exclusão. Achamos até engraçado
dizer “profano de avental”, virou moda; reclamamos, mas muitos deles se
candidatam e vencem eleições; quando não são “bons de voto”, recebem um cargo
administrativo no “terceiro escalão” da maçonaria.
Outra apuração que me deixa de queixo caído e
a face sulcada por profundas rugas de preocupação:
“O maçom brasileiro não sabe o que é a
Maçonaria” ‒
menos de 5% dos maçons brasileiros sabe o que é a Maçonaria. Noutras palavras:
numa Potência/Obediência que tenha 10.000 membros, apenas 500 (quinhentos)
sabem o que é a Ordem e o que deveriam estar fazendo em nossas fileiras.
Assustador, pois 9.500 devem estar fazendo apenas uma espécie de turismo,
batendo papo, pedindo emprestado e criando problemas nas Lojas. No meio dessa
turba estão aqueles que buscam votos para vereador, para deputado ‒ nunca
são eleitos pela força da maçonaria, já notaram isso? ‒ sem falar dos
mais bonitinhos que vivem cercando os fotógrafos nas festas e nas assembleias
para posarem de “papagaio-de-pirata” na terceira fila atrás das “autoridades”.
O maçom brasileiro pode não sabe o que é Maçonaria, mas sabe uma porção de
espertezas pró sobrevivência.
Num dia desses ouvi a tresloucada afirmação
de um sapo-entíssimo maçom que afirmava: “Maçom de Grande Loja não gosta de
ler; quem gosta de ler é maçom de Grande Oriente” ‒ por aí vocês avaliem o
desastre que se aproxima de nossas Lojas neste restinho de século XXI. Evitei
perguntar ao sapo-entíssimo o que ele entendia por “maçom”, “Grande Loja”,
“Grande Oriente” e “leitura” ‒ certamente ele é um expert em “linguiça”, “sola
de sapato”, “cabo de vassoura” e “maçaneta de janela”.
Ser ou não ser maçom, eis as questões, meus
caros watsons!
Esperamos mais de um século para que alguém
tivesse a coragem de fazer circular uma pesquisa dessa natureza e publicar seu
resultado. Se o Grão‒Mestre Guatimozim (Dom Pedro I) tivesse
dado um potente chega prá-la na dupla Zé Bonifácio e Gonçalves Ledo por ocasião
das primeiras querelas e desordem que criaram na maçonaria brasileira, e mandasse fazer
uma pesquisa de satisfação entre os maçons do Império, as coisas hoje
seriam outras.
Mas não. Ao invés disso, aprendemos a brincar
de “poderosos” e imitamos os passos da República que se avizinhava. Criaram
poder legislativo, poder judiciário, tribunais, ministérios públicos ‒ só
faltou a polícia e o maçônica.
Conclusões:
A primeira ‒ que não decorre necessariamente
dos termos da pesquisa ‒ é “tão-velha-quanto-a-serra” ‒ a discussão sobre
CONTRAPARTIDA, necessária conexão entre direitos e deveres ‒ seja das
instituições para com os membros, seja destes para com as instituições. Todo
mundo sabe que “maçonaria é coisa cara”; cada maçom contribui com dinheiro e
trabalho voluntário para a sobrevivência da Ordem. Nada mais lógico, portanto,
que fossem espontâneas as PRESTAÇÕES DE CONTAS ‒ no mínimo trimestrais ‒ de
todas as Lojas, Potências/Obediências, Corpos Maçônicos, entidades
paramaçônicas, Academias, etc.
Felizmente a maioria de nossas instituições
trabalha com transparência e demonstram quanto dinheiro entrou quanto foi gasto
(e em quê), quanto sobrou ou quanto deve, e assim por diante. Mas é
“apenas a maioria”.
A segunda questão refere-se ao VOTO. A
Maçonaria defende o sufrágio universal: um papelzinho dobrado em quatro,
chamado “cédula”, que periodicamente enfiamos num buraquinho chamado urna a fim
de manifestarmos nossa vontade, nosso contentamento ou descontentamento, a
opinião sobre quem deve ser o primeiro da hierarquia, e assim por diante.
Infelizmente, também nesse aspecto “apenas a maioria” dos
segmentos maçônicos consulta seus membros, ou contribuintes, sobre quem deve
estar no topo (primeiro escalão) ou nos degraus subsequentes da escada (que não
é a de Jacó). Muita coisa ainda permanece sendo decidida no “Petit comité”
(expressão francesa para “panelinha”).
Diante desse talvez triste quadro, tenho a
audácia de dizer que SOMOS UMA ORDEM VITORIOSA!
Sim, pois havendo aqui e ali falta de
prestações de contas; havendo ali e aqui as “panelinhas” em substituição ao
voto; grassando pelos quatro cantos da terra as sindicâncias mal feitas;
instruções deficientes proferidas por “inventores de maçonarias”; a falta de
leitura e de estudo, a profanação dos segredos e desvirtuamento dos rituais;
havendo frequentes conflitos, arranca-rabos e autofagia pelo poder; existindo
uma epidemia de “profanos de avental” e o quase total desconhecimento dos
membros sobre o que é Maçonaria e seus objetivos..., já era para termos
desaparecido da face da terra brasileira há 196 anos e mais. NO ENTANTO, AQUI
ESTAMOS NÓS!, como rezava a propaganda colada nas paredes dos bondes de
antigamente:
“Veja, ilustre passageiro, o belo tipo
faceiro
que você tem ao seu lado.
No entanto, acredite: quase morreu de
bronquite!
Salvou-o o rum Creosotado”.
OBSERVAÇÃO:
Se você ainda não
leu o
RELATÓRIO DA PESQUISA,
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