JOSÉ BONIFÁCIO E GONÇALVES LEDO - MAÇONS ANTAGONISTAS

Por Rogério Vaz
José Bonifácio de Andrada                               Joaquim Gonçalves Ledo
Introdução

Ao deparar com a tarefa de analisar a rivalidade ideológica e maçônica entre José Bonifácio de Andrada e Silva Joaquim Gonçalves Ledo, não imaginava o quanto de profundo deveria ir na história da América Latina, Europa e finalmente do Brasil, e o quanto foram complexas e intrincadas as formas de pensar e dos diversos grupos que formavam a elite política e intelectual luso-portuguesa.

Entender o cerne das disputas destes dois personagens, determinou uma breve revisão bibliográfica dos fatores pré-independência do Brasil, seus articuladores e os grupos que integravam. Portanto, é fundamental uma breve exposição de como era visto e sentido o Brasil do início do Séc. XIX e por consequência a Maçonaria.  Ao longo do estudo ficou nítido que a maçonaria brasileira não possuía uma homogeneidade e concordância no pensamento político dos grupos que atuaram no “Movimento de 1822”. Explicitado nos diversos conflitos internos entre os partidários que defendiam a forma republicana de governo para o Brasil independente, a exemplo de Joaquim Gonçalves Ledo, e os seus concorrentes, entre os quais se destacavam José Bonifácio e Hipólito José da Costa, que visavam a manutenção do regime monárquico.  


José Bonifácio e Gonçalves Ledo – Maçons Antagonistas
A força de um ideal é tamanha que poderá mudar o mundo. As revoluções acontecem pela crença em ideais e terem à frente, homens capazes de liderarem grupos que levem a diante o propósito de mudança. O Brasil teve inúmeros luminares, porém o destaque deste trabalho ficará com dois personagens que no embate de suas ideias, mudaram o Brasil e por consequência, mudaram o mundo.

 José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em Santos, São Paulo, no dia 13 de Junho de 1763. Frequentou a Faculdade de Direito de Coimbra, complementou seus estudos com filosofia, história, química e matemática. Fruto de seu brilhantismo acadêmico tornou-se secretário da Academia de Ciências de Lisboa, membro das mais importantes sociedades de pesquisa da Europa, catedrático de mineralogia em Coimbra; deputado, vice-presidente da Província de São Paulo, ministro do Império; exilado político, tutor do imperador Pedro II e articulador da independência brasileira. Faleceu em 6 de abril de 1838, em Niterói-RJ.[1]

Não há data e local de sua iniciação maçônica exata, pois quando em seu discurso de posse ao cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, declarou que tornou-se maçom quando de sua viagem científica por diversos reinos da Europa, financiado pelo Estado Português, que teve início em 1790. Ao retornar a Portugal em 1800, não frequentou as lojas maçônicas em funcionamento. Disse ainda:
“Como legítimo Maçom, fui sempre homem honrado e fiel aos meus juramentos, amei a minha Pátria e ao meu Rei, respeitei sempre a religião de meus Pais, procurei ser caridoso para com o meu próximo, e mormente para com meus Irmãos. Mas não vendo (talvez me enganasse e fosse injusto), na organização de novas Lojas Portuguesas realizados os fins sublimes da Verdadeira e Legal Maçonaria, julguei então dever executar para com elas o conselho do Evangelho – Sacudi o pó das sandálias, e mudei de terra.”[2]

Joaquim Gonçalves Ledo foi jornalista, orador e político brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1781, e faleceu no município de Cachoeiras, no Rio de Janeiro, em 19 de maio de 1847. Participou ativamente dos movimentos de 1821 pela independência brasileira, surgiu nas lojas maçônicas como uma de suas principais figuras. Fundou o Revérbero Constitucional Fluminense, órgão de propaganda política, tornando-se posteriormente o arauto da campanha de libertação.

Pertencente à Loja Maçônica “Comércio e Artes”, Ledo atendia pelo nome simbólico de Ir.’. Diderot, uma alusão a Denis Diderot (1713/1783), filósofo e escritor francês. Juntamente com Januário Barbosa, escreveu o famoso discurso que em 13 de maio de 1822, em nome dos patriotas, ofereceu a D. Pedro o título de Defensor Perpétuo do Brasil. Com sua atuação política, conseguiu a assinatura do decreto que convocava a Constituinte. Maçônicamente propôs a imediata independência do Brasil.

Rompeu com José Bonifácio, logo depois da Proclamação, e teve que fugir para Buenos Aires, pois corria perigo de morte. Voltando mais tarde, foi homenageado por D. Pedro I com a Ordem do Cruzeiro e com a Comenda de Cristo.
Despotismo Ilustrado
Na América Latina, a necessidade de criar repúblicas ou países independentes, no contexto de uma sociedade muito mais atrasada do que a europeia, fez com que ganhasse corpo a ideia do despotismo ilustrado como ideologia de construção nacional. Para Wanderley Guilherme dos Santos (1978), cientista político, é um discurso de modernização de países periféricos que se acreditam atrasados.

Uma revolução pelo alto. Este movimento iniciou-se no século XVIII, onde alguns países europeus perceberam o grande distanciamento entre os demais, apresentando exércitos maiores, desenvolvimento econômico, e ao analisarem o cenário dos países mais desenvolvidos perceberam que estes estavam enfrentando os senhores feudais e a Igreja. Citamos a França e Inglaterra como países que iniciaram este enfrentamento e Portugal, Espanha e Prússia foram os países que resolveram reduzir este atraso. Voltaire, o grande arauto iluminista do despotismo ilustrado, dizia: “um bom rei é a melhor coisa que um céu pode dar ao pais. O rei ilustrado, claro, orientado pelo bem comum, eliminará o poder da Igreja e da grande propriedade rural para modernizar o pais”.

A independência da América ibérica trouxe à baila um grande debate: seria ela uma monarquia ou uma república? Ocorreu então um fenômeno curioso. A liberdade foi o discurso principal que os países utilizaram em suas independências, porém liberdade, por sua vez, estava associada à descentralização. Os patriotas eram todos pertencentes às camadas dirigentes, às elites sociais. Ao cortarem laços com a Espanha, e as oligarquias se libertando dos espanhóis, surgiu o seguinte questão: quem mandará a partir de agora?

Todas as oligarquias reivindicaram o posto, este foi o estopim para o início da guerra civil. Afinal, não havia mais a autoridade legítima que mantinha o centro e a unidade. O movimento de independência, feito em nome da liberdade, obrigou esses países a construir estados em nome da ordem, e passaram a restringir essa mesma liberdade. Tornando-se necessária a imposição da ordem pública pela autoridade que devia legitimar-se no poder. Surgindo um paradoxo, uma “ditadura” em nome da liberdade. É possível que o atual alinhamento ideológico dos países da América Latina seja reflexo destes movimentos iniciais de ruptura com a Metrópole Espanhola e o gosto pelo poder exercitado pelas elites oligárquicas.

Maçonaria brasileira e sua atuação
Os maçons estiveram presentes nos movimentos de independência dos países da américa latina e a criação de repúblicas oligárquicas, que impregnados pelo pensamento iluminista espalharam seus ideais por todo o continente, no Brasil não foi diferente, a maçonaria brasileira, que para a historiadora Eliane Lúcia Colussi (2003) diz:

(...) recebeu forte influência especialmente da [maçonaria] francesa que, no transcorrer daquele século, foi assumindo gradativamente posicionamentos políticos liberais, anticlericais, laicizistas e racionalistas. Exemplo disso foi o Grande Oriente da França, que (...) excluiu de seus estatutos a obrigação (...) da crença em Deus, na imortalidade da alma e do juramento sobre a Bíblia (...). As maçonarias da Inglaterra e dos Estados Unidos reagiram a isso de forma radical e, juntamente com outros países, romperam relações com a da França e demais países sob a sua influência. Assim, consolidaram-se duas principais vertentes maçônicas que já há muitas décadas atuavam com perspectivas diferentes: a considerada por alguns historiadores como maçonaria regular, ou ortodoxa, e a outra, a maçonaria irregular, heterodoxa.[3] 

A aparente união fraternal propugnada pelos ideais maçônicos, não foi impeditivo para uma oposição ideológica entre republicanos e monarquistas, fomentando as divergências no seio dos maçons brasileiros. Isabel Lustosa (2011) afirma que Gonçalves Ledo foi um dos maiores idealistas do Brasil, porém não menos José Bonifácio e Hipólito José da Costa, opositores ferrenhos, construindo desta forma o pensamento e o papel dos integrantes da maçonaria no momento da independência brasileira. 

Diante deste cenário de oposição entre simpatizantes republicanos e monarquistas, podemos inferir que o processo da Independência do Brasil não teve nada de “romântico”, leve ou até mesmo consensual. O embate ideológico foi ferrenho e o terreno utilizado foi a maçonaria. No processo de independência brasileiro, quase todos os estados se dividiam entre as correntes liberais, que desejavam o modelo americano, de república federativa, e os conservadores, que preferiam centralização e unidade.

Na ebulição ideológica da época, destacaram-se dois grupos políticos os “Saquaremas” e os “Luzias”, que irão situar as posições antagonistas de José Bonifácio e Gonçalves Ledo.

 “Saquarema” foi a denominação dada aos conservadores do Império. “Luzia” era o apelido dedicado aos liberais da época. Saquarema era o nome do município do Rio de Janeiro onde um dos líderes conservadores, o Visconde de Itaboraí, tinha uma fazenda, local onde o grupo se reunia com frequência. Luzia era uma referência a uma pequena cidade de Minas Gerais, Santa Luzia, onde ocorreu a maior derrota dos liberais na revolta de 1842.

Os saquaremas, conservadores, defendiam a centralização do poder; os luzias, liberais, pregavam a monarquia federativa, opondo-se ao Poder Moderador e ao Senado vitalício, dominado pelos conservadores. Nesta divisão ideológica podemos indicar que os pensamentos de José Bonifácio enquadravam-se como “Saquarema” e de Gonçalves Ledo de “Luzia”.

A fragmentação da América Espanhola em pequenos estados, faz com que o Brasil torne-se um caso único, mantém praticamente todo o seu espaço físico intacto e com o retorno de D. João à Portugal, deixa aqui um protótipo de burocracia estatal, caso inédito nos países hispano-americanos. Colocando em postos estratégicos da administração do Brasil, praticamente todos os brasileiros que haviam estudado em Coimbra e achavam importante manter os vínculos com Portugal, pois um Reino Unido a Portugal significava manter os vínculos também com a Europa e, portanto, com a civilização.

Na época, não havia nenhum segmento social, fora da burocracia, que conseguisse ver o país como uma unidade. Sua cidade era sua pátria, depois vinha sua província e, em seguida, a condição de português-americano. Ninguém tinha a identidade de brasileiro. Brasil era simplesmente um nome genérico que designava o conjunto de possessões de Portugal na América. A Inconfidência Mineira, por exemplo, não desejava emancipar o Brasil, e sim Minas Gerais.

O pensamento burocrático e seus apoiadores, no entanto, viam o Império português como uma coisa só, unido em torno da dinastia de Bragança. Angola, Moçambique, Brasil, Portugal, Algárvia, tudo isso representava a mesma unidade. Havia uma hierarquia, claro, mas de alguma maneira esses burocratas luso-brasileiros – todos mais ou menos discípulos de Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares, sobrinho do Marquês de Pombal e ministro de D. João – viam o Brasil e o Império como uma unidade.

O Brasil atual ainda reflete o pensamento dos burocratas luso-brasileiros, mantendo-se altamente burocrático, privilégios e concessões aos produtos do exterior, sejam bens de consumo ou culturais.

A eclosão da Revolta do Porto (1820) precipitou uma crise em Portugal de caráter liberal e tinham como objetivos reduzir os poderes de D. João VI, e buscar o resgate da tradição colonial de Portugal. Deram-se início os trabalhos das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes de Portugal, entretanto, neste primeiro momento sem a participação de deputados brasileiros. Porém José Bonifácio de Andrade e Silva exerceria sua influência Corte Portuguesa, apresentando seu projeto de nova concepção de Reino Unido, sendo representado por seu irmão Antônio Carlos de Andrada e Silva, deputado constituinte por São Paulo.

Bonifácio era defensor da manutenção do Reino Unido, mas com a prevalência do princípio federativo, não ficando nenhuma das partes subordinada a outra, porém a sua estratégia de conseguir nas cortes portuguesas manter a união entre Brasil e Portugal não funcionou, já que os deputados portugueses ficaram irredutíveis, e alguns deputados brasileiros, em virtude de seus interesses locais, ficaram simpáticos a tese dos portugueses.

Parte do fracasso da tese de Bonifácio teve a atuação de Joaquim Gonçalves Ledo que articula a convocação de uma Assembleia Constituinte no Brasil convocada por D. Pedro, mesmo contra a vontade de seu Ministro José de Bonifácio. Surpreso com o ardil de Ledo, que após do dia do Fico, utilizando-se da imprensa, apresenta uma representação pedindo a convocação da constituinte brasileira, derrubando de vez José Bonifácio, que renuncia ao Cargo de Ministro. Porém, mesmo tendo falhado em sua estratégia inicial, afasta-se do cenário político, e ao retornar virá mais forte, e posicionando-se pela independência do Brasil, acarretando graves consequências para Ledo e para a Maçonaria.

Neste contexto podemos resumir claramente que no primeiro momento José Bonifácio não pensava em independência do Brasil e sim um Reino Unido e com maior probabilidade de crescimento, já Gonçalves Ledo alimentava o rompimento com a Metrópole. A primeira derrota de Bonifácio foi o estopim para se antagonizar com Gonçalves Ledo.

O primeiro tiro foi dado, agora faltava definir o campo de batalha, que logo apresentou-se nos jornais. Ledo publicará o Revérbero Constitucional Fluminense[4], que como próprio nome demonstra encabeçou a campanha pela convocação da Assembleia Constituinte Brasileira. Este jornal era verdadeiramente independente, já que não possuía nenhum vínculo com o governo.

Em contraposição ao Revérbero Bonifácio orientaria principalmente dois jornais O Espelho5, editado por Ferreira de Araújo, ex-editor do Correio do Rio de Janeiro, e o Regulador Brasílico-Luso6 (depois Regulador Brasílico) editado pelo maçom frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, e que pelo seu primeiro nome já demonstrava claramente o ideal de José Bonifácio de manter o Reino, dentro de uma monarquia constitucional.

A efervescência dos debates continuou e a maçonaria também foi integrada a esta disputa política e ideológica, na época estava em funcionamento o Grande Oriente Brasílico, mostrando-se que a influência de Gonçalves Ledo prevaleceria sobre José Bonifácio, apesar de o primeiro ter um cargo hierarquicamente menor, já que Bonifácio era o Grão-Mestre e Ledo o seu Primeiro Vigilante. Contudo é notório que nas reuniões mais importantes daquele ano de 1822, Gonçalves Ledo presidirá as sessões, função que caberia a Bonifácio, que havia perdido seu espaço na Maçonaria.

Com a ausência de José Bonifácio, Joaquim Gonçalves Ledo, primeiro vigilante, presidiu uma das reuniões mais importantes da maçonaria brasileira. Tendo nesta reunião, no dia 9 de setembro de 1822, sido proposta a Independência do Brasil e a proclamação do Príncipe Regente com Imperador Constitucional do Brasil. O termo constitucional demonstra a preocupação de dar a nova nação um cunho liberal, já que Ledo acreditava numa independência mais próxima da República, e para isto o controle constitucional seria indispensável. A ausência do Grão-Mestre em tão importante sessão demonstra o choque de interesses dos principais malhetes da Maçonaria brasileira. Aliás nesta reunião, ainda não se sabia o que tinha ocorrido no dia 7 de setembro às margens do Ipiranga.

Com relação aos jornais, nesta mesma sessão do Grande Oriente, Ledo fez aprovar moção para que o editor do Regulador Brasílico comparecesse a uma Assembleia Geral e desse explicações acerca de suas ideias, que para a Maçonaria (Ledo), feria os interesses do Brasil. Em caso de não comparecimento do editor, o maçom frei Sampaio, sofreria as penas maçônicas e os maçons deveria cancelar assinatura do periódico e devolver as edições anteriores.

O acirramento entre Bonifácio e Ledo já vinha aumentando desde quando Bonifácio propôs e foi aprovada a iniciação de D. Pedro na maçonaria em 13 de Julho de 1822, tendo este adotado o nome simbólico de Guatimozim. O Grão-Mestre dispensou os trâmites e em poucos dias eleva D. Pedro ao grau de Mestre Maçom, mostrando claramente que queria trazê-lo para a maçonaria, aumentando assim a influência sobre o futuro imperador.

Joaquim Gonçalves Ledo não ficará inerte frente esta ofensiva de Bonifácio, e tentará influenciar o neófito utilizando-se da maçonaria para tal fim. No mês de Setembro de 1822 numa sessão do Grande Oriente, novamente presidia por Gonçalves Ledo, como havia ocorrido na sessão do dia 09 daquele mês, o Primeiro Vigilante comunica ao povo maçônico que D. Pedro, para a maçonaria o irmão Pedro Guatimozim, havia sido escolhido para ser o Grão-Mestre do Grande Oriente Brasílico.

Ledo tentou não só se aproximar mais do futuro imperador, mas, principalmente, anular o poder de Bonifácio junto a ordem maçônica. A substituição do Grão-Mestre foi um verdadeiro golpe dentro da maçonaria, retirando Bonifácio do mais alto cargo da ordem, colocando este em uma cilada, se reivindicasse seu cargo ofenderia D. Pedro, se deixasse a influência da maçonaria crescer sobre o Príncipe perderia influência sobre este. Sem dúvida a chegada de D. Pedro ao cargo de Grão-Mestre, do Grande Oriente Brasílico, foi o capítulo definitivo da luta entre Bonifácio e Ledo, e trará consequências drásticas a ordem maçônica e a seus dois líderes.

O clima de hostilidade entre o grupo de Bonifácio e de Ledo chega ao máximo, e a maçonaria se torna um barril de pólvora pronto para explodir. Ainda dentro das manifestações pós-independência, o jornalista João Soares Lisboa, maçom ligado a Joaquim Gonçalves Ledo, publica artigo informando que D. Pedro I apoiaria a República se o povo assim quisesse. O imperador achou tal atitude subversiva e deu oito dias para que Soares Lisboa deixasse o Rio de Janeiro.

A tendência republicana do grupo de maçons, liderada por Ledo, fez com que Imperador, e Grão-Mestre do Grande Oriente Brasílico, sob a influência direta de José Bonifácio mandasse suspender os trabalhos do Grande Oriente para averiguações, D. Pedro I tentava investigar quais maçons estariam de seu lado e quais poderiam ser perigoso na nova ordem que se estabelecia.

O fechamento da maçonaria fora planejado por Bonifácio sobre a acusação de que havia uma conspiração de caráter republicano, liderada por Ledo.

Inicia-se um período de perseguições conhecida por a Bonifácia, que terá como principal alvo Ledo e seus seguidores, o que significa os maçons. Vários maçons foram presos, e outros, como Ledo, tiveram que fugir temendo represálias de José Bonifácio.

Diante destes fatos, apesar de não haver uma decisão formal do Grão-Mestre Pedro Guatimozim, que havia permitido a reabertura dos trabalhos do Grande Oriente Brasílico; a luta entre Bonifácio e Ledo tornou inviável a reunião dos maçons, tendo a maçonaria com suas colunas adormecidas praticamente durante todo o reinado de D. Pedro I.

Conclusão
Ao finalizar este trabalho, podemos inferir que o papel dos dois líderes maçons – Bonifácio e Ledo – Antagonistas, foi em defender suas ideias, e que Bonifácio com o passar do tempo mudou sua opinião sobre a independência, terminando por apoiá-la e defender seu modelo de governo centralizador. Gonçalves Ledo, no entanto, muitas vezes conseguiu submeter Bonifácio a sua vontade, tendo sido muito importante para isto a sua luta pelo poder dentro da maçonaria, onde conseguiu neutralizar José Bonifácio.

Prevaleceu o modelo de Bonifácio, embora não fosse um revolucionário e houvesse observado, na sua longa permanência na Europa, os perigos e inconvenientes de uma revolução, desde logo se impôs, pela cultura, pelo equilíbrio e moderação, como o principal estadista da Independência, cabendo-lhe, sem qualquer dúvida, com a maior legitimidade, o título que a história lhe consagra, de seu “patriarca”. 

Porém a posição de Gonçalves Ledo na defesa de uma Assembleia Constituinte acelerou o processo de independência, além do ingresso do então príncipe regente na ordem para influenciá-lo. Percebe-se com clareza ao reproduzirmos parte do seu discurso ao hesitante Príncipe D. Pedro:

a independência, Senhor, no sentido dos mais abalizados políticos, é inata nas colônias, como a separação das famílias o é na Humanidade. A natureza não formou satélites maiores que os seus planetas. A América deve pertencer à América, e Europa à Europa, porque não debalde o Grande Arquiteto do Universo meteu entre elas o espaço imenso que as separa. O momento para estabelecer-se um perdurável sistema, e ligar todas as partes do nosso grande todo, é este ....[7]

Sobre as consequências para a maçonaria, apesar das colunas do Grande Oriente Brasílico terem ficado adormecidas de 1822 até praticamente o fim do primeiro reinado, restou uma atuação importante na história do Brasil. O propósito do Grande Oriente Brasílico era a independência do Brasil, este objetivo foi atingido, e se não continuou a funcionar foi porque representava claramente um perigo para D. Pedro I, já que as sementes do pensamento republicano haviam sido plantadas e já germinavam. O próprio temor sobre seu funcionamento demonstra quão forte era seu poder de organização.

A República já estava em gestação, porém seu nascimento ocorreu somente a 15 de novembro de 1889.

REFERÊNCIAS
CASTELLANI, José. A Maçonaria Brasileira na Década da Abolição e da República. Rio de Janeiro: CopyMarket.com. 2000.
COLUSSI, Eliane Lucia. A Maçonaria Gaúcha no Século XIX. Passo Fundo: Editora da UFP, 2003.
CORDEIRO, Vitor Lopes. A Influência Política da Maçonaria no Período da Pré-Independência do Brasil. Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados – CEFOR, como parte das exigências do curso de Especialização em Instituições e Processos Políticos do Legislativo.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Do Império à República. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de org. História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: DIFEL,1972.
LUSTOSA, Isabel. A influência das sociedades secretas na política. In: BIBLIOTECA FAZENDO HISTÓRIA, 2011, Rio de Janeiro: Auditório Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional. Palestra Sociedades Secretas: mais mentiras do que mistérios. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2011.
. O Nascimento da Imprensa Brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2003.
LYNCH, Christian Edward Cyril. Saquaremas & Luzias: Sociologia do desgosto com o Brasil. Artigo publicado na Revista Insight Inteligência, ano XIV, nº 55, out/nov/dez 2011.
SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Ordem Burguesa e Liberalismo Político. 1. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1978.
SOUSA, Ailton Elisiário. Memorial Maçônico de Campina Grande – 8 décadas e mais de Regeneração Campinense. Campina Grande: Gráfica da UEPB. 2006.
OLIVEIRA, Cecilia Helena de Salles. O Espetáculo do Ipiranga: Reflexões Preliminares sobre o Imaginário da Independência. Artigo publicado Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.3 p.195-208 jan./dez. 1995.
VARELA, Francisco. Joaquim Gonçalves Ledo e a Emancipação Política do Brasil (1808 -1822). João Pessoa: Ideia Editora Ltda. 2010.
http://www.glojars.org.br, acesso em 15 Ago 17. 
https://educacao.uol.com.br/biografias/goncalves-ledo.htm, acessado em 15 Ago 17.
http://www.museumaconicoparanaense.com/MMPRaiz/AcademiaPML/Patro-23.htm acesso em 20 Ago 17.

Trabalho apresentado no Concurso de Monografias Maçônicas “O Saber Muda Culturas”, realizado pelo Grande Oriente do Brasil – Rio Grande do Sul. 

GRANDE ORIENTE DO BRASIL – RIO GRANDE DO SUL  
PORTO ALEGRE – RS  2017 



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1 Comentários

  1. Ricas informações sobre a Maçonaria Brasileira nos primórdios de sua fundação!

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