Por João Anatalino
No dia 18 de março de 1314, Jacques de Molay
e seu Irmão de Ordem, Geoffroy de Charney, foram queimados vivos em uma
fogueira erguida na Ilha dos Judeus, em frente á praça da Catedral de Notre
Dame. Depois de um rumoroso processo, iniciado por iniciativa do rei da França,
Filipe o Belo, os cavaleiros Templários foram condenados como hereges,
apóstatas, idólatras, devassos e praticantes de simonia, bruxaria e outros
crimes. Todos condenáveis pelo rígido código moral da época e especialmente
pelo que dispunha o direito canônico, que considerava tais delitos como crimes
hediondos, sujeitos á pena capital.
O processo durou sete anos, no decorrer dos
quais seus condutores, todos, de certa maneira, mancomunados com o rei e seus
ministros, fizeram de tudo para obter provas que pudessem levar á supressão da
Ordem e á condenação dos seus membros.
Os
Templários foram jogados em masmorras e submetidos a todo tipo de tortura moral
e física. Muitos morreram nas prisões em consequência do tratamento a que foram
submetidos. Um bom número deles acabou confessando a culpa pelos crimes pelos quais estavam sendo acusados.
Mas de uma centena foi queimada nas fogueiras que se acenderam por toda a
França. Inclusive o próprio Grão-Mestre da Ordem e alguns dos seus mais altos
dignatários fizeram confissões que levaram os inquisidores a crer que eles
eram, realmente, culpados.
Verificou-se, mais tarde, que tais confissões
tinham sido extraídas mediante tortura. Uma boa parte delas havia sido feita
por inimigos da Ordem, que foram introduzidos no seu seio, exatamente para
espionar e levantar informações que justificassem o ataque que lhes foi feito
pelo rei da França no dia 13 de outubro de 1307.
Todo o processo foi conduzido com a
finalidade específica de destruir a Ordem do Templo. Nenhum outro desfecho
seria aceito por Filipe, o Belo, pois a sua meta era eliminar todo e qualquer
poder concorrente, capaz de prejudicar sua política de formação de um estado
nacional, submetido única e totalmente á sua autoridade. E os dois poderes que
ainda lhe faziam sombra eram, exatamente, a Igreja e a Ordem do Templo.
Quanto á Igreja, Filipe havia obtido uma
grande vitória ao conseguir eleger um papa francês, na pessoa de Bertrand du Ghot,
um bispo seu aliado, que se tornou o papa Clemente V. Para fazer com que o papa
não escapasse da sua influência, Filipe obrigou a corte papal a sair de Roma e
se estabelecer na cidade de Avignon, território que, embora pertencesse á
Igreja, não obstante estava encravado em território francês, sujeito portanto,
á influência do rei de França.
Com um papa títere em suas mãos, ele
desfechou, na sexta-feira, 13 de outubro de 1307, um ataque de surpresa contra
a Ordem do Templo, mandando prender todos os Templarios que fossem encontrados
no território do seu reino.
Até o último momento o Grão-Mestre dos
Templários acreditou que a Igreja, a quem servira tão bem, viria em seu
socorro, pois somente ao papa cabia condenar ou absolver um membro de uma Ordem
a ela pertencente. Ao ser levado á fogueira, depois de sete anos de indizíveis
sofrimentos, traições, conspirações e maquinações, as mais espúrias possíveis,
urdidas pelos delegados do rei, o Grão-Mestre do Templo, Jacques de Molay, se
desiludiu. Em conseqüência, teria lançado uma maldição sobre o papa Clemente V,
o rei Filipe, o Belo e sua família, e os ministros que trabalharam para a
destruição da Ordem do Templo. Segundo a tradição, quando estava a caminho da
fogueira, ele teria convocado todos esses personagens, responsáveis por sua
desgraça, para comparecerem perante Deus, no prazo de um ano, para serem
julgados por aquele crime. E quando as chamas envolviam suas vestes eles teria
rogado uma praga sobre a família do rei, amaldiçoando-a até a terceira geração.
Verdadeira ou não, o fato é que o vaticínio
lançado sobre o papa, o rei e seus ministros se cumpriu, tal e qual o moribundo
Grão-Mestre profetizou. Naquele mesmo ano, Clemente V morreu em circunstâncias
misteriosas, dizem uns assassinado por envenenamento, dizem outros, de uma
infecção estomacal. Pouco mais de um mês depois da morte do papa, o ministro do
rei, Guilherme de Nogaret, que tinha sido o principal articulador do processo
contra a Ordem do Templo, também morreu em circunstâncias misteriosas. Foi
provavelmente envenenado pela fumaça das velas do seu gabinete ou pelos vapores
das tintas que usava em seu gabinete para escrever os documentos e ordenações
que fazia em nome do rei.
Quanto á família de Filipe, o Belo, essa se
extinguiu muito rapidamente. Seu filho, Luís, o Turbulento, que o sucedeu no
trono, reinou apenas dezoito meses. Também teria sido assassinado por
envenamento. Seu filho recém-nascido, que seria seu herdeiro, também teve o
mesmo destino, envenenado no próprio berço. Filipe, o Longo, segundo filho de
Filipe, o Belo, reinou durante sete anos. Mas morreu sem deixar herdeiros. Em
consequência, o trono da França foi ocupado pelo filho caçula, Carlos, o Belo,
que reinaria quatro anos, também sem deixar herdeiros. Assim, a descendência de
Filipe, o Belo, sobreviveu apenas quatorze anos, após a maldição sobre ela
lançada pelo Grão-Mestre do Templo. Foi sucedida no trono pelo ramo dos Valois,
através do filho mais velho de seu irmão, Carlos de Valois. A família dos
Capetos, denominação geral dos reis franceses, a qual pertencia Filipe, o Belo,
governou a França até o ano da grande revolução popular de 1789. Nesse ano,
como se sabe, o povo francês se revoltou e aboliu o chamado “Ancien Regime”,
que se fundamentava na soberania de um rei e de seus barões, fundando a
República. O úlltimo rei da dinastia capetíngea, Luís XVI, foi guilhotinado na
Praça da Concórdia, em Paris, no dia 21 de janeiro de 1793.Nele se completavam
exatamente treze gerações de rei capetíngeos, após Filipe, o Belo.
Quando a cabeça do rei rolou no cadafalso, um
indivíduo que estava na primeira fila, entre os expectadores do macabro
espetáculo, se adiantou, molhou os dedos no sangue do rei e os levou aos
lábios. E ao fazê-lo, alguém o teria ouvido dizer, com orgulhosa satisfação: – Jacques de Molay: finalmente estais
vingado.
Segundo algumas testemunhas, ele ostentava em
seu casaco uma pequena cruz templária, feita em prata.Usava também um broche
onde se destacavam, claramente, um esquadro e um compasso, símbolos da confraria
dos pedreiros livres de Paris.
Da Obra " Filhos da Viúva"- A
Conspiração dos Templários, no prelo
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