A MITOLOGIA EGÍPCIA
Os
povos da antiguidade, os egípcios certamente são os mais estudados. Mesmo antes
da descoberta da Pedra da Roseta, em 1799, a cultura egípcia já desafiava a
curiosidade dos exploradores europeus. Riquíssima em personagens que
possivelmente provêm de períodos anteriores ao dinástico (c. 3.100 a.C.), a
mitologia egípcia sempre foi pródiga na criação de divindades, heróis, vilões e
lendas para explicar não só acontecimentos corriqueiros do dia-a-dia, mas
também para dar uma dimensão mágica às questões religiosas e espirituais.
Nas
dezenas de séculos que durou sua civilização, tanto os personagens mitológicos
quanto os relatos em que estes estavam envolvidos sofreram diversas mutações,
adaptando-se às questões sociais e aos valores dos períodos históricos nos quais
estavam inseridos. Assim, os mesmos deuses, semideuses e entes mágicos
adquiriram personalidades, nuances e contornos diversos, tornando quase
impossível uma descrição única de suas características ao longo das diversas
dinastias. Hórus, por exemplo, uma das divindades mais antigas, assume tantos
papéis e desempenha funções tão diferentes ao longo dos séculos, que se
tentássemos montar um painel dos traços comuns a todas as suas versões, talvez
acabássemos apenas com seu nome.
Uma
civilização sofisticada como a do Egito, desenvolvida no calor inclemente do
norte da África, tinha, como não poderia deixar de ser, um rico folclore em
torno do trânsito solar[1]. Dentre os vários relatos fantásticos que contam
histórias sobre o Sol, o da Barca de Rá ou Barca do Sol ocupa um papel de
destaque. É contado em duas versões principais. A versão cosmológica é uma
criativa tentativa de justificar porque o Sol nascia para iluminar o dia e se
punha, trazendo a escuridão da noite. Já a versão mística, embora se valha praticamente
dos mesmos personagens da cosmológica, busca explicar um dos maiores mistérios
da criação: o que acontece depois da morte? Para tanto, elabora uma série de
situações que descrevem a peregrinação dos mortos no caminho do além-túmulo,
até alcançarem o direito a uma nova vida.
As
duas versões envolviam cultos próprios, revestidos da maior dramaticidade.
Ambas dispunham de rituais diurnos e noturnos. Os rituais noturnos,
especialmente, eram imersos em tensão e comoção, na eterna dúvida sobre se o Sol
nasceria pela manhã[2] ou, no caso da versão mística, se o morto poderia
viver novamente.
O
que veremos a seguir é como eram esses mitos e o que eles têm a ver com a
Maçonaria e com o uso da palavra Huzzé.
A VERSÃO COSMOLÓGICA
O
Sol do poderoso deus Rá já havia desaparecido atrás das montanhas ao longe,
deixando como prova de sua passagem apenas o vermelho-alaranjado do céu e a
silhueta das figueiras que, pouco a pouco, iam perdendo nitidez.
Na
Barca de Rá tudo era silêncio. À medida que o Sol se punha e que as trevas do
submundo (Duat) envolviam a nau, o medo e a apreensão se instalavam no coração
dos tripulantes. A partir daquele instante, navegariam nas águas do caos. Rá,
ao centro, mantinha sua serena austeridade, como a transmitir confiança aos
companheiros de viagem. Todos tinham um papel a desempenhar. Destacadamente, a
atuação de Heka, Set, Hu e Sia[3] seria determinante. Se vencessem Apep[4],
a demoníaca serpente, novamente o Sol faria jus ao ressurgimento no leste. Para
tanto, Heka garantiria que as magias praticadas contra Apep pelos sacerdotes
tivessem eficiência plena. Set, por sua vivência marcial, asseguraria ao
monstro um oponente cuja fúria estava à altura de sua malignidade. Sia traçaria
os planos para a previsivelmente turbulenta viagem e Hu se encarregaria de
verbalizá-los, comandando as ações e garantindo que fossem desempenhadas
adequadamente. Além de terem a incumbência de zelar pela segurança de Rá,
ambos, Hu e Sia, seriam os principais responsáveis por levar a viagem a bom
termo.
As
águas do caos pareciam calmas quando, repentinamente, um grito aterrador
atravessou a escuridão. Tomada de surpresa, a tripulação mal havia se
recomposto do susto quando a quilha da Barca bateu em algo que a fez adernar.
Era Apep, que contorcia seu enorme corpo sob a pequena embarcação na tentativa
de tombá-la e garantir desta forma que a escuridão eterna se instalasse no céu
do Egito.
À
medida que a noite avançava, mais intensas eram as sensações de que o naufrágio
era iminente e maior o desespero. Bramidos alucinantes, urros encolerizados.
Deuses contra monstro, luz contra trevas. Por horas a fio Hu e Sia, com
manobras audazes, conseguiram evitar que as investidas de Apep tivessem
sucesso. Mas estavam à beira da exaustão.
Já
era alta madrugada e a serpente parecia perto de conseguir seu intento, quando
Ra fez um sinal e Hu ordenou a Set que tentasse destruí-la.
A
primeira oportunidade logo surgiu. Foi numa tentativa do descomunal réptil
abocanhar Rá. Set saltou sobre ele como um raio e, valendo-se do elemento
surpresa, tentou asfixiar a fera. O que se seguiu foi aterrorizante. Set e a
serpente engalfinharam-se, revolvendo furiosamente as águas do caos e fazendo
com que a Barca ficasse ao sabor das ondas e redemoinhos, quase soçobrando não
fossem a precisão das orientações de Sia e a firmeza de Hu ao comandar.
Lamentos, gemidos, gritos, ruídos indecifráveis. Terror. O cheiro do medo no
ar… inquietação. Por fim, ao perceber a serpente extenuada pelos vãos esforços
de afundar a Barca, pelas maldições que lhe foram lançadas e pelos golpes que
lhe aplicara, Set conseguiu imobilizá-la e desferiu-lhe uma estocada sob a base
da cabeça, matando-a instantaneamente.
Prova
tua morte, ó Apep! Retrocede! Retira-te, ó inimigo de Rá! Cai! Sê repelido!
Volta e recua! Eu te faço voltar e te corto em pedaços! Rá triunfou sobre Apep!
Prova a tua morte, Apep![5], ecoavam os hinos no templo.
Trazido
de volta à Barca, Set foi recebido com alegria pelos companheiros. Mas,
acossado pela vaidade, ufanou-se de ter sido o único responsável pela morte da
traiçoeira cobra, o que provocou a ira de Rá, que imediatamente o fez abandonar
a embarcação, deixando-o numa das margens do caos.
Hu
prosseguiu no comando, ordenando as manobras previstas por Sia, até que,
finalmente, com Rá são e salvo, puderam concluir sua vitoriosa peregrinação
pelo submundo. A estrela da manhã brilhava no céu. A despeito das dificuldades
e obstáculos da viagem, a Barca de Rá, trazendo consigo o astro-rei, poderia
novamente cumprir sua viagem no firmamento egípcio.
Os
primeiros raios de luz apontavam no horizonte.
Reunidos
num dos altares e banhados pela claridade, desgastados, mas ansiosos por aquele
momento, os sacerdotes, num misto de alívio e intensa emoção, saudavam os
principais responsáveis pelo feito. Ajoelhavam-se em direção ao nascente e
exclamavam a uma só voz: Hu Sia! Hu Sia!, Hu Sia!
O
Sol voltara a brilhar…
A VERSÃO MÍSTICA
Como
dissemos antes, esta versão se utiliza basicamente dos mesmos protagonistas da
versão cósmica, embora com diferentes ênfases.
O
Sol da versão cósmica transforma-se aqui no morto que almeja o renascimento ou,
como querem alguns, a libertação eterna. Para conseguir seu intento ele
deveria, durante a vida, ter pautado suas atitudes pela pureza e pela correção.
O
julgamento seria conduzido por Ma’at, agora à frente da Barca, garantindo, em
primeiro lugar, que o coração do morto fosse pesado para avaliar suas ações.
Fosse bom, e seria mais leve que uma pena. Caso a balança de Ma’at pendesse
para o lado do coração, estaria condenado à escuridão e aos tormentos perenes
no submundo que esperava os adeptos do mal. Um lugar de incessantes castigos,
repleto de entes maléficos gerados pelas perversidades do mundo, que despiriam
o corpo do falecido e destroçariam suas entranhas como abutres, deixando-o ao
sabor da decomposição.
Os
maus teriam seus corações arrancados e suas almas ba ficariam
perdidas, sem terem como voltar ao corpo original. Ficariam entregues à sede e
à fome, e só teriam acesso às águas pútridas emanadas das fossas da impiedade.
Ma’at não mais ouviria suas súplicas e, como Set, teriam que deixar a Barca.
Seu tormento jamais cessaria. Já os bons, veriam suas esperanças de
renascimento se materializarem como um raio de luz ao amanhecer, enquanto os
sacerdotes responsáveis por ajudá-los em sua vitória sobre a morte cantariam
hinos e comemorariam exultantes. Celebrariam a força de Rá e saudariam aqueles
que transportaram o morto pelas águas do caos e o levaram incólume ao seu
auspicioso destino final, bradando: Hu Sia! Hu Sia! Hu Sia!
ECOS DE HU E SIA
Não
temos como afirmar que a lenda da Barca de Ra era exatamente assim. Algumas
versões posteriores transformam Ra em Horus e, ao que parece, surge por isso um
novo relato para a epopeia da Barca, embora com moral condizente com a
anterior. Os egiptólogos nos dão conta de que em algumas dinastias
acreditava-se na existência de duas barcas, uma noturna (Mesektet) e
outra diurna (Mandjet), cujas tripulações variavam entre si, embora na
versão diurna Hu e Sia sempre estivessem presentes, em geral apresentados como
uma dupla.
Até
há algum tempo os estudiosos imaginavam que Sia e Hu pudessem ser personagens
menores no panteão egípcio, mas as descobertas das últimas décadas mostraram
que eram deuses importantes, e mesmo o Papiro de Ani, também conhecido como Livro
dos Mortos, relata cerimônias realizadas em sua homenagem[6]. Sia
personificava a percepção, o planejamento perspicaz. Hu representava a voz de
comando, a fala que infunde respeito.
Indícios
de sua influência podem ser encontrados na cultura árabe pré-islâmica, ondeUzza era
uma deusa cultuada como uma das três filhas do deus supremo, protetoras da
cidade de Meca. A tradição diz que era a estrela da manhã (Vênus), o que mostra
que, de fato, está relacionada a Hu e Sia. Seu nome tem a mesma raiz de Izza,
que significa glória.Os nabateus, povo ancestral semita, a
consideravam a deusa da fertilidade. Uma notável surpresa para nós maçons é
que, posteriormente, na época de Maomé, havia uma tribo numerosa, denominada
Ghatafan, que reverenciava a acácia egípcia sob este nome[7].
Na
mesma linha das semelhanças fonéticas, a tradição judaica menciona um certo Husai,Uzzah ou Uzziah, fiel
conselheiro de Davi[8], e, mais tarde, o Sefer Zohar[9] refere-se aUzza como
um anjo que se opôs à criação do homem. Já na Grécia, Aristóteles
utilizava a palavra Ousia para expressar as qualidades
essenciais de algo.
É
impossível garantir que todos esses nomes tenham Hu e Sia como origem, mas,
certamente, alguns deles são repercussões da exaltação àquelas divindades nos
vibrantes rituais egípcios.
As
variações que julgamos potencialmente provenientes de Hu e Sia são aquelas que
têm conotação de aprovação, regozijo ou júbilo – algo equivalente às
interjeições salve ou vivaem português – ou que,
de alguma forma, mostram semelhanças com o papel que ambos representavam nos
mitos.
O CAMINHO PARA OS NOSSOS RITUAIS
A
primeira citação de huzza na língua inglesa data de 1573. O
Dicionário Oxford de Inglês diz que nos séculos XVII e XVIII huzza era
um cumprimento ou saudação usada por marinheiros para homenagear quem embarcava
ou desembarcava. Na realidade, uma interjeição exclamativa. Menciona-se também
que a expressão era um grito repetido em uníssono, sincronizadamente, quando os
marujos atuavam em conjunto para puxar os cabos das velas ou as amarras da
embarcação[10].
Há
relatos de que nos séculos XVIII e XIX três huzzas eram dados
pela infantaria britânica antes das cargas, como meio de ganhar moral e de
intimidar o inimigo. Há quem diga que eram dois huzzas curtos
seguidos de um terceiro, mais longo, dado durante a carga final.
De
todo modo, e embora não existam provas documentais sobre isso, é possível
deduzir que, a partir do Egito, a reverência a Hu e Sia tenha se espalhado por
todo o Oriente Médio, como ocorreu com várias divindades[11]. O Olho de Hórus,
por exemplo, era – e ainda é – presença frequente na proa das embarcações
mediterrâneas. Da mesma maneira, é bem plausível que Hu e Sia tenham se
tornado, por motivos óbvios, inspiradores ou padroeiros dos navegantes da
região e que seus vestígios tenham sido repassados a outros povos.
Foi
dessa forma, acreditamos, que o brado utilizado no R.E.A.A. deve ter chegado
aos marinheiros ingleses e depois, pelo fato da Inglaterra ser um país onde as
atividades navais ocupavam grande destaque, passado ao resto da sociedade não
só como exclamação de alegria e aprovação, mas também como designativo de união
e atitude solidária. Disso, talvez, advenha sua adoção pela Maçonaria.
Mackey
diz os que antigos manuscritos franceses do R.E.A.A. mencionavam a palavraHoschea como
aclamação, que ele supõe que seja uma corruptela do Huzza inglês.
No mesmo livro, apresenta um poema que parece ser um ritual em versos, datado
de 1750, que diz numa de suas estrofes, “A multidão com três huzzés conclui.”[12].
O
mais antigo ritual impresso do R.E.A.A., do ano de 1804[13], publicado na
França, já faz menção à tradicional manifestação.
CONCLUSÃO
São
várias as lições que podem ser tiradas do simbolismo subjacente à mitologia que
envolve Hu e Sia. A mais evidente é que, como Sia, temos que desenvolver nossa
sensibilidade e nossa capacidade de percepção para, com isso, podermos, como
Hu, comandar nossa vida com sabedoria e serenidade. Outra, é que a vida é um
ciclo que alterna claridade e escuridão e que, se nos momentos mais críticos
tivermos tranquilidade e acreditarmos firmemente na superação dos obstáculos,
voltaremos a navegar em águas plácidas, rumo a um recomeço ou, se preferirmos,
um novo amanhecer. Outra ainda, é que, por mais sucesso que tenhamos em alguma
atividade, nossas vitórias são resultantes, direta ou indiretamente, da
participação de várias pessoas. Não reconhecer isso é sucumbir ao feitiço da
vaidade, uma inimiga capaz de nos deixar à margem do que seria nosso processo
de crescimento.
Por
fim, talvez devamos admitir a participação divina em nossa evolução, embora
reconhecendo que esta é, paradoxalmente, individual e precisa ser conquistada
por cada um de nós, pelos nossos próprios esforços, mormente considerando que
“há mesmo muito mais coisas entre o céu e a terra…”.
Para
tanto, precisaríamos aceitar, também – porque se aguçarmos a percepção, como
Sia, sentiremos isso em nossas vidas – que essa evolução se processe pelo
enfrentamento corajoso das provas interpostas em nossos caminhos, todas elas
cada vez mais sutis, exigindo decisões também sempre mais refinadas, que são
aprimoradas e fortalecidas pelos valores e vibrações da corrente iniciática a
que estivermos ligados nesse caminho até à liberdade.
Essas
provas, das menores às maiores, sempre nos apresentam a opção de dois caminhos
a seguir, como uma polaridade divina necessária, metafísica, evidentemente
preservando nosso livre arbítrio. Mas isso todos nós já sabemos razoavelmente
bem. O que difere esta concepção das demais é a constatação de que uma
sequência de caminhos adotados equivocadamente, os chamados caminhos de
esquerda – das paixões e intransigências – ilusórios e mais fáceis, pode nos
levar à perda irreparável de valores edificantes, arremessando-nos
irremediavelmente, perdidos, para dentro do velho e dantesco labirinto, em cujo
portal está a sentença: “lasciate ogne speranza, voi ch’entrate”[14].
Para evitar isso, é necessário fortalecer nosso Hu interior para que ele nos
guie à senda da luz.
Essa
dicotomia, entendida como instrumento de evolução, nos é transmitida pela
sagrada iniciação e nos oferece um ciclo específico de experiências que
precisamos viver e vencer para aprender como chegar ao reino dos
céus conscientemente… entrar, enfim, num próximo ciclo por opção
própria, jamais por intermediação de terceiros nas nossas relações com Deus.
Assim,
a partir dessa divina dualidade, e segundo decisão pessoal inarredável, podemos
construir nossas próprias pontes, saltando o abismo da morte definitiva, o
labirinto onde poderemos ficar irremediavelmente presos, deixando no lugar de
partida tudo o que já não se preste ao progresso ou que deva ser descartado
para, quem sabe, aproveitamento em outro estado de evolução.
Entretanto,
essa polaridade, inevitável, parece claro, nos oferece a salvação
-gradativamente, em cada etapa do trabalho para a evolução da consciência –
para nos tornarmos heróis de nós mesmos, verdadeiros Hércules, vencedores de
todos os difíceis trabalhos que irremediavelmente se sucedem e precisam ser
vencidos, como condição “sine qua non” para termos o direito de
vivenciar o novo ciclo, como Hiram, que a cada nova volta do sol – ele próprio
– percorre[15] as 12 colunas de vivências indispensáveis e conquista o
direito de renascer para uma nova luz, sem que ela o cegue.
Será
que é isso mesmo?! Ou isso é apenas o caminho de aproveitamento das energias
que contemos, e que a verdadeira Maçonaria nos propõe, mas que, por não
entendermos direito, desperdiçamos pela estrada da vida apaixonada, onde
prevalecem as ilusões dos sentidos. “Chi lo sa?”[16]
Em
resumo, é possível aceitar a mortalidade da alma humana que não alcança os
níveis mínimos de consciência para o novo ciclo, nesta vida ou em futuras. Mas,
destaque-se, faz-se referência aqui à alma universal – “mahatma” – que
registra, para aproveitamento futuro, as experiências de todos que conquistam o
direito de entrar na barca da salvação.
Disso
tudo, evidencia-se a necessidade de conhecer, pelo menos em linhas gerais, “a
constituição oculta do homem”, antes estudada nos excelsos colégios iniciáticos,
ora levemente citada e simbolizada no avental maçônico.
Mas,
ainda assim, os mistérios do pós-vida permanecerão.
Coincidentemente,
o mito da Barca de Rá faz lembrar também os relatos daqueles que passaram por
experiências de quase-morte: o túnel, a escuridão inicial, a luz magnífica,
tangível, envolvente. Depois, a paz indizível, o encontro com entes queridos, a
doce alegria, a ternura do amor.
Alguns
cientistas defendem que estas impressões são apenas decorrência da privação de
oxigênio ou da liberação de endorfinas em casos de trauma. Quem sabe? Se for
assim, todos nós, quando chegar a hora, usufruiremos de sensações similares.
Pelo
sim, pelo não, já não tenho dúvidas sobre o que fazer e dizer quando chegar lá.
Levantarei meus olhos e, com o coração tomado pela gratidão, exclamarei tão
alto quanto possa: Huzzé! Huzzé! Huzzé! … e me deixarei
levar pela divina luz!
Autores:
Reinaldo Ramirez e S. K. Jerez
Fonte: O Ponto Dentro do Circulo
Notas
[1] –
A maioria das civilizações desenvolveu mitos solares, que são aqueles que, como
o nome indica, usam figurativamente o ciclo do pôr e nascer do sol como uma
metáfora para a existência. Eles contam histórias de deuses ou heróis,
mostrando que foram capazes não só de vencer seus desafios em vida, mas também
de triunfar sobre a morte. As lendas de Hórus, Odin, Mithra, Prometeu, Thor,
Osíris e muitas outras são consideradas mitos solares. Na Maçonaria, a lenda de
Hiram é, por excelência, um relato solar.
[2] –
Imagine-se o terror e o desespero das pessoas quando ocorria um eclipse solar.
[3] –
Pronuncia-se também sei, esia e esie.
[4] –
Apófis, para os gregos.
[5] –
Passagem do Livro para derrotar Apep, compilado por egiptólogos.
[6] –
Na sua tentativa de convencer Ma’at, a deusa da justiça, de que é merecedor de
outra vida, o morto diz: “eu realizei as cerimônias de Hu e Sia”, como prova de
ter cumprido obrigações religiosas.
[7] –
Albert Pike, no livro Moral e Dogma, faz menção a essa
reverência. Diz ele: “A Acácia genuína, também, é a espinhosa tamareira, a
mesma árvore que cresceu em torno do corpo de Osíris. Era uma planta sagrada
para os árabes, que dela fizeram o ídolo Al-Uzza, que Maomé destruiu. É um
arbusto abundante no Deserto de Thur, e dela foi feita a “coroa de espinhos”
que foi colocada na fronte de Jesus de Nazaré. É um tipo de planta que era
associada à imortalidade por causa de sua tenacidade em manter-se viva, pois
era sabido que, quando colocada como batente de porta, criava raízes novamente
e estirava ramos floridos sobre a soleira.”
[8] –
Crôn 27:33 e outros. Em português, Husai se transformou em Osias. Pode
ser que o nome derive de Hu Sia, mas não há qualquer indício que possibilite
esta conclusão.
[9] – O
Livro dos Esplendores, obra cabalística hebraica surgida na Espanha, por
volta de 1.280 d.C..
[10] –
O mesmo dicionário sugere a possibilidade de que huzza seja proveniente da
mesma raiz que hoist = içar. Parece pouco provável, mas mesmo
isso não descarta a hipótese de que Hu e Sia tenham dado origem às duas
palavras.
[11] –
Sabemos que as mitologias grega e romana, que são muito bem documentadas,
incorporaram inúmeros deuses e deusas originalmente egípcios.
[12] – The
mob with three huzzas conclude, no original. É preciso lembrar que, neste caso, a
palavra huzza pode estar sendo usada como sinônimo de saudação ou exclamação.
[13] –
O ritual de 1804, em linhas gerais, reproduz os procedimentos praticados pelos
maçons da Grande Loja dos “antigos” de Londres.
[14] –
Abandonem toda a esperança, vós que estais aqui!
[15] –
Na visão geocêntrica, adotada pela Ordem.
[16] – Quem
sabe? em italiano.
Bibliografia
HARRIS,
J. R., Boanerges, University Press, Cambridge, EUA, 1913.
MACKEY, A. G., Encyclopedia
of Freemasonry and its Kindred Sciences, The Masonic History Company,
London, UK,1914.
MCCLENACHAN,
C. T., The Book of the Ancient and Accepted Scottish Rite of
Freemasonry, Masonic Publishing Co., New York, 1884.
BOTTANI, A,
CARRARA, M. e GIARETTA P., Individuals, Essence and Identity: Themes of
Analytic Metaphysics, Kluwer Academic Publishers, Dordrecht, The
Netherlands, 2002.
GONZALEZ-WIPPLER,
M., The Complete Book of Spells, Ceremonies and Magic, Llewellyn
Publications, St. Paul, MN, EUA, 2004.
VAN DEN
DUNGEN, W., The Royal Ritual of Rebirth & Illumination,http://pt.scribd.com/doc/154258722/1-The-Pyramid-Text-of-UNAS-wim-Van-Den-Dungen-2007-68p.
CASTEL,
E., Gran Diccionario de Mitología Egipcia, Editorial Aldebarán,
Madrid, Espanha, 2001.
BUDGE, E. A.
W. (trad.), Papirus of Ani – Egyptian Book of the Dead, Dover
Publications, EUA, 1967.
PINCH, G., Magic
in Ancient Egypt, British Museum Press, London, UK, 1994.
Britannica
Encyclopedia of World Religions, Encyclopædia Britannica, Inc.,
Chicago, EUA, 1999.
Rite Ecossais Ancien & Accepté – Guide des Maçons
Écossais, Pesquisa e
Tradução: Oficina de Restauração do Rito Escocês Antigo e Aceito, Porto Alegre,
Brasil.
The Oxford
English Dictionary, Clarendon Press, Oxford, UK, 2013.
1 Comentários
Boa matéria sobre a mitologia egípcia que conta como ninguém a fascinante história da aquimia universal. Parabéns.
ResponderExcluir