Por Aileda de Mattos Oliveira
A sabedoria foi uma dádiva
recebida por Salomão, nascido no seio da natureza rude de Israel. Saber divino,
acrescido da percepção dos benefícios e das asperezas do ambiente onde vivia,
tudo, naquela esfera cultural, iria servir de simbolismo exemplar na sua vida
de justo juiz de difíceis causas. A ética estava ali, na natureza, bastava
querer vê-la.
Século XXI. Arrogantes
juristas, olhos fixos nas vantagens financeiras, autojulgam-se sapientes na
jurisprudência e encobrem a iniquidade com as pomposas capas que lhes caem dos
ombros, compondo-lhes a pose.
Condescendentes com o erro, são julgados pela voz do povo como defensores de
interesses poderosos.
Salomão edificou palácios e
neles levantou colunas de cedro. A Sala do Trono e a Sala do Julgamento eram
forradas da mesma madeira até o teto, onde vigas também de cedro sustentavam-se
sobre as colunas. Por que tal preferência, se o ouro reluz e enriquece o
ambiente?
Simples. O cedro é o símbolo
da incorruptibilidade, e o juiz não pode ser justo, se proferir o seu
julgamento com meias verdades para usufruir de totais vantagens. O cedro
lembrava a todos, juiz e julgados, que ali se praticava a justiça sem mancha,
sem brecha, sem duvidosa interpretação.
Século XXI. O palácio do
Supremo Tribunal Federal não tem colunas de cedro, nem vigas nem forro com tão
poderosa madeira.
A tecnologia avançada dos
botões e do deslizar acelerado dos dedos nos smartfones não pode
aceitar a convivência da primária natureza. Em compensação, as interpretações
cínicas invalidam prisões, põem em dúvida julgamentos de juiz honesto,
mastigam-se as palavras das leis, libertam-se prisioneiros, tudo em nome da
‘velha amizade’.
As colunas de cedro do palácio
de Salomão, simbolicamente lembravam a ereta e incorruptível conduta do juiz,
afim de que o julgamento se fizesse justo dentro da justeza das leis.
A durabilidade do cedro ao não
se deixar corromper nem com a chuva nem com o sol, destaca a rápida corrupção
do homem ao simples ‘molhar’ de sua mão.
Aileda de Mattos Oliveira é
Dr.ª em Língua Portuguesa.
Vice-Presidente da Academia Brasileira de Defesa.
Fonte: Alerta Total
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