(*) Por Fabio Pedro-Cyrino,
Ao
longo de sua história, a Maçonaria, não aquela das lendas e tradições
românticas, de tempos imemoriais, das guildas de ofício que pretendiam manter
uma reserva intelectual de mercado, mas sim a Maçonaria como Instituição, fruto
de um momento social iluminista nascido nos últimos instantes do século 17 e
primeiras décadas do século seguinte, sempre enfrentou oposição do chamado
“mundo profano”, principalmente por seu caráter sigiloso, reservado e secreto.
Nestes
quase 300 anos de existência oficial a ser completada agora em 2017, a
Maçonaria se deparou com fortes movimentos que pretenderam controlá-la e até
mesmo suprimi-la, com a eliminação de suas estruturas, a prisão e mesmo a
condenação à morte de seus integrantes. A Maçonaria tem enfrentado inúmeras
tentativas de sua supressão, desde a emissão da primeira Bula papal, a In
Eminenti, por parte de Clemente XII, em 28 de abril de 1738, até os fortes
ataques sofridos ao longo do século 20 por nações totalitárias de caráter
fascista. Mesmo assim a Maçonaria sempre representou ao mesmo tempo um farol de
conquistas sociais, de Liberdade e de Igualdade entre os Homens, e uma ameaça
àqueles que pretendiam a perpetuação de um status quo baseado no controle do
Estado e da Sociedade por poucos, uma elite perversa que visava ao controle do
conhecimento, dos meios de produção e das liberdades individuais.
Nestes
últimos 300 anos, em suas fileiras, a Maçonaria abrigou líderes políticos,
libertadores, intelectuais, filósofos, cientistas e artistas: de Saint-Martin,
Washington, José Bonifácio e Bento Gonçalves; de Voltaire e Franklin; de Mozart
e Puccini a Montaigne e Fleming. A Maçonaria sofreu e sobreviveu, sempre
permanecendo imune aos ataques externos e internos à sua estrutura globalizada,
em uma época em que o termo ainda nem sequer havia sido cunhado.
Nestes
300 anos, lutou-se pela Liberdade social, pelo acesso universal à instrução,
pelo direito de acesso aos meios de produção, pela liberdade política, pela
defesa dos Estados laicos e pela comunhão entre os povos. Lutou-se pelo fim do
Absolutismo; pelo fim da Escravidão; pela eliminação das oligarquias na
sociedade; pela eliminação do totalitarismo de Hitler, Mussolini e Franco,
exemplos de Estados onde a Maçonaria foi perseguida e praticamente eliminada,
com a morte de aproximadamente 400.000 maçons em campos de extermínio, conforme
os registros oficiais apontam; lutou-se pelo fim da Ditadura do Proletariado
nas quatro décadas após o término da Segunda Guerra Mundial e tem se lutado
ainda pela supressão das injustiças sociais e econômicas.
Embora,
no passado, sempre se apresentando de modo unificado junto a sociedade profana,
a Maçonaria Universal internamente sempre teve que conviver com certa
partidarização.
Em
sua origem etimológica latina, um partido é um grupo de seguidores de uma
ideia, de uma doutrina ou de uma pessoa. Na acepção moderna e estrita da
palavra, um partido significa uma “união voluntária de cidadãos com afinidades
ideológicas e políticas, organizada e com disciplina, visando uma disputa do
poder político”, o que pode ser verificado através da definição dada por dois
grandes pensadores modernos: para o filósofo alemão Friedrich Hegel
(1770-1831), um partido seria uma esfera constitutiva da vida social, caracterizada
pelos conflitos de interesses e pela competição de indivíduos e corporações,
que somente supera suas contradições com a ação universalista do Estado; já
para filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937), seria a esfera social de
organizações privadas, associações e instituições de natureza econômica e/ou
política, caracterizada pela produção espontânea de idéias, pactos e acordos
capazes de consolidar ou contestar a sociedade através da busca pelo poder.
Deste
modo, a Maçonaria estaria mais associada à origem antiga da palavra, por serem
os seus membros ou integrantes seguidores de uma ideia e de uma doutrina, do
que a disputa exata por um poder político.
A
Maçonaria Simbólica inglesa, nesse sentido, reafirmou desde 1717 esse
posicionamento ao proibir a discussão política-partidária durante as reuniões
maçônicas, assegurando com isso certa independência filosófica e garantindo um
posicionamento acima de correntes ou grupos partidários; na grande maioria das
Obediências maçônicas mundiais tal posicionamento foi mantido, ressalvadas as
exceções devidamente reconhecidas, principalmente as oriundas da Maçonaria
francesa.
Historicamente,
os integrantes desta segunda corrente, de origem francesa, sempre defenderam e
assumiram, expressa e publicamente, que a natureza da Maçonaria seria superior
à soma dos indivíduos que a compõe e que os seus Obreiros existem para servir a
Maçonaria, ao invés da Maçonaria existir para servi-los, transformando os
assuntos particulares em “assuntos de Estado”, restritos a uma esfera superior
e por vezes ignorando-se por completo os fundamentos de nossa Instituição.
Valendo-se
desta ótica, essas correntes sempre buscaram com tais atitudes construir um
“culto ao personalismo”, com a constituição de uma pseudo-liderança carismática.
Valem-se de teorias filosóficas políticas que afirmam que caberia à Maçonaria
dar aos seus membros uma unidade moral e vontade únicas, com uma efetiva
existência, desde que os interesses democráticos estabelecidos sejam plenamente
controlados. Estes valem-se de um posicionamento político existente desde a
década de 1920: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”, ou
por silogismo, “Tudo na Maçonaria, nada fora da Maçonaria, nada contra a
Maçonaria”, desde que a “Maçonaria” se restrinja a uma concepção muito
particular sobre o que é certo e o que é errado. Os recentes acontecimentos
envolvendo a Grande Loja Nacional Francesa é o extremo desta situação, onde a
crise interna acabou levando à suspensão do reconhecimento internacional daquela
Instituição.
No
caso brasileiro, esta tal “partidarização” maçônica interna sempre foi algo
inerente à própria natureza de nossa Instituição: desde a fundação do Grande
Oriente Brazílico em 1822 e sua “refundação”, em 1832, grupos distintos têm
coexistido internamente de certa forma harmoniosa. Claro que em determinados
momentos, posicionamentos extremos levaram às conhecidas cisões dos séculos 19
e 20. Apesar disto, a Maçonaria Universal, sobretudo a brasileira, sempre se
manteve “democrática” e tem sobrevivido às crises, reconstruindo-se e se
fortalecendo novamente
A
Maçonaria Simbólica, internacional e particularmente a brasileira, vive de sua
pluralidade, pluralidade esta de ideias e de posturas, não sendo cabível
qualquer forma de comportamento contrário a este direito inalienável em nossas
fileiras.
Mas
quais desafios a Maçonaria deve vencer?
Que
importância a Maçonaria hoje em dia representa para a sociedade profana, como
um todo? Não estaríamos vivendo numa suave indolência, um dolce far niente, na
pior interpretação da expressão, vivendo dentro da ilusão de que representamos
algo de importante na constituição de nosso meio?
Podemos,
para iniciar um estudo mais aprofundado posterior, analisar alguns conceitos e
alguns dados estatísticos proporcionais e absolutos referentes à Maçonaria
mundial.
Sabemos
que a questão da regularidade é algo complexo. Por tradição a questão da
regularidade é ligada ao chamado Grupo Principal, do qual fazem parte a GLUI, o
GOB, parte da CMSB e as Grandes Lojas dos EUA. Sabemos que uma Obediência para
ser regular possui uma gama de procedimentos para ser aceita por este grupo
principal, sejam os procedimentos de fundação, estrutura organizacional e
administrativa, bem como os valores para filiação e iniciação. Esses
procedimentos também demandam muito jogo político e acordos entre os já
existentes, como foi o caso dos tratados de reconhecimento e amizade firmados
entre o GOB e algumas Grandes Lojas Estaduais na década de 1990.
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O
total de Obediências espalhadas pelo mundo e não ligadas ao Grupo Principal é
difícil de se determinar, mas há inúmeras Obediências para todo gosto e
preferência, inclusive nos países mais tradicionais como a Inglaterra e França.
Para se ter uma ideia, só na Inglaterra, além da Grande Loja Unida da
Inglaterra (oficial) há ainda mais 2 outras “obediências” (Grand Lodge of All
England at York e a Regular Grand Lodge of England,ligada ao Masonic High
Council), num total de 3 corpos ligados à Maçonaria, independente de sua
regularidade ou não. O caso específico do Brasil a nosso ver é o mais
“preocupante”, uma vez que há Obediências de todo tipo e denominação.
Navegando
pela internet e tomados por curiosidade resolvemos empreender uma breve
pesquisa de quantas “maçonarias” existem atualmente no Brasil e o número é assustador:
Tirando-se
o Grande Oriente do Brasil e seus 27 federados e 4 das 27 Grandes Lojas
Estaduais, ligadas à CMSB, as únicas Obediências ligadas ao Grupo Principal no
Brasil, ainda existem inúmeras outras obediências que se autoproclamam
regulares ou que fazem parte de outras associações internacionais como a
CLIPSAS – Centro de Ligação e de Informação das Potências Signatárias do Apelo
de Estrasburgo ou a CIMAS – Confederação Interamericana de Maçonaria Simbólica
e que aceitam todo tipo de orientação maçônica sejam elas mistas,
exclusivamente masculinas ou femininas e que são associações independentes do
Grupo Principal. Os Grandes Orientes Independentes, congregados na COMAB,
apesar do bom relacionamento pontual com os Grandes Orientes Estaduais ligados
ao GOB não são internacionalmente reconhecidos pelo chamado Grupo Principal.
Pelas somas, temos 116 “maçonarias” no país, destas 112 não-reconhecidas pelo
Grupo Principal. Deve ser um recorde mundial de associações maçônicas, e isso
sem considerarmos todas as obediências filosóficas de todos os ritos existentes
no país.
Hoje
há 190 Obediências espalhadas pelo mundo que fazem parte do grupo denominado
“reconhecido”, grupo este encabeçado pela Grande Loja Unida da Inglaterra e do
qual o Grande Oriente do Brasil e as Grandes Lojas dos Estados de São Paulo,
Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro fazem parte. As demais
Grandes Lojas Estaduais brasileiras não possuem o amplo reconhecimento mundial,
muito menos os Grandes Orientes Independentes.
Deste
modo, podemos analisar os seguintes dados:
Das
190 Obediências regulares espalhadas pelo mundo, 172 delas possuem publicamente
divulgados os números que as compõem com relação ao número de Lojas e de
Obreiros. Essas 172 são as principais em números de obreiros e lojas; as 18
restantes são Obediências de pouca representatividade localizadas
principalmente no continente africano e as recém fundadas Obediências do Leste
Europeu que a partir da queda dos governos socialistas estão tentando se
reorganizar naqueles países.
A
Obediência com o maior número de Lojas e Obreiros é a Grande Loja Unida da
Inglaterra (237.923 Obreiros e 7.945 Lojas, com uma média de 30 Obreiros por
Loja); seguida pela Grande Loja da Pensilvânia (EUA) (114.447 Obreiros e 432
Lojas, com média de 265 Obreiros por Loja); Grande Loja de Ohio (EUA) (106.870
Obreiros, 512 Lojas, média de 209 Obreiros por Loja); Grande Loja do Texas
(EUA) (92.420 Obreiros, 873 Lojas, média de 106 Obreiros por Loja) e em 5ª
posição, o Grande Oriente do Brasil (71.577 Obreiros, 2.605 Lojas e média de 27
Obreiros por Loja).
As
três últimas da relação são a Grande Loja da Eslováquia, a Grande Loja da
Ucrânia e a Grande Loja do Congo, cada uma delas com pouco mais de 50 Obreiros
no total.
Os
Estados Unidos da América é o país com o maior número absoluto de maçons
regulares, com 0,478% da população do país sendo maçons regulares, com
1.476.341 maçons dentro de uma população de 308.745.538 habitantes, organizados
nas diversas Obediências em cada um dos estados daquele país.
Essa
é uma análise realizada sobre os números absolutos encontrados, uma simples
listagem de quantos somos, e que produzem na verdade uma falsa ideia de que
somos grandes pela quantidade de pessoas que se encontram em nossas Colunas.
Mas há outra forma de se analisar esses dados que é o de se verificar a % de
Maçons que há em cada país ou região em função do número de habitantes que
neles existem. Será que a estatística se repetiria?
A
Obediência com o maior representatividade frente à população de sua região ou
país é a Grande Loja do Maine (EUA), pois os seus 19.968 Obreiros representam
aproximadamente 1,503% da população daquele estado norte-americano; seguida
pela Grande Loja da Virginia Ocidental (EUA), com 22.078 Obreiros e
representando 1,187% da população; e pela Grande Loja de Vermont (EUA) com
6.685 Obreiros e 1,075% da população. As Obediências menos representativas são
a Grande Loja da Rússia com 418 Obreiros e 22 Lojas, representando 0,0003% da
população do país; a Grande Loja do Reino do Marrocos, com 80 Obreiros, 5 Lojas
e 0,0002% da população; e a Grande Loja da Ucrânia, com 57 Obreiros e 3 Lojas,
representando 0,0001% da população do país.
As
primeiras cinco Obediências do critério anterior ocupam as seguintes posições:
a Grande Loja Unida da Inglaterra ocupa a 40ª posição, com 0,44% da população
do país; a Grande Loja da Pensilvânia (EUA) ocupa a 7ª posição, com 0,921% da
população; a Grande Loja de Ohio (EUA) ocupa a 6ª posição, com 0,932% da
população; a Grande Loja do Texas (EUA) ocupa a 46ª posição, com 0,368% da
população; e o Grande Oriente do Brasil ocupa a 109ª posição, com 0,038% da
população do nosso país.
Em
números relativos às quatro Grandes Lojas Estaduais Brasileiras reconhecidas
ocupariam uma posição de maior relevância em suas regiões que o GOB frente à
totalidade do país: a Grande Loja do Espírito Santo está na 70ª posição, com
0,195% da população do estado; a Grande Loja do Mato Grosso do Sul na 83ª
posição, representando 0,097% da população; a Grande Loja de São Paulo na 97ª
posição, com 0,051% da população; e a Grande Loja do Rio de Janeiro na 100ª
posição, representando 0,046% da população.
Se
analisarmos o número de maçons por país e sua porcentagem com relação à sua
população, encontramos os seguintes números:
O
país com maior número relativo de maçons é a Islândia com 0,845% da população
do país sendo maçons regulares, com 3.409 maçons dentro de uma população de
403.367 habitantes; seguida pela Irlanda com 0,665% da população do país sendo
maçons regulares, com 41.239 maçons dentro de uma população de 6.197.100
habitantes; pela Escócia com 0,632% da população do país sendo maçons
regulares, com 32.984 maçons dentro de uma população de 5.222.100 habitantes.
Se
fossemos considerar a somatória do número de maçons das três principais
organizações maçônicas brasileiras – o GOB, a CMSB e a COMAB – representaríamos
0,1101% da população brasileira e passaríamos da 21ª posição no ranking de
Obediências para a 15ª posição, mesmo assim ainda atrás da Austrália,
Dinamarca, Uruguai, Finlândia e Cuba. Em números absolutos seríamos a 2ª
Obediência Maçônica do mundo atrás somente da Grande Loja Unida da Inglaterra.
Os
10 primeiros países em números relativos de maçons em função de sua população
coincidentemente são os países que apresentam excelentes posições no índice de
IDH (índice de desenvolvimento humano) adotado pelas Nações Unidas.
Fica
então a questão:
O
grau de desenvolvimento nos campos educacional, cultural, econômico, político e
social refletiria também a participação da Maçonaria na organização da
sociedade profana desses países? Ou estes números seriam apenas uma
coincidência estatística? O Brasil e os países com baixo IDH são os que estão
na outra ponta desta relação. Também seria apenas uma coincidência estatística?
É
algo que precisamos analisar com grande reflexão e clareza para definirmos o
grau de atuação de nossa Instituição dentro de um plano maior pelo bem de nossa
sociedade e de nossas nações.
Mas
antes de qualquer ação concreta, antes de se voltar à sociedade profana, a
Maçonaria deve se re-inventar, não no sentido de se criar um novo padrão de
atuação, mas sim de se retornar aos princípios defendidos e elaborados por
aqueles que “inventaram” a Instituição; uma reformulação da “ética maçônica”
com vias ao re-exame dos hábitos dos maçons e do seu caráter em geral, de modo
a se evitar o desmoronamento dos pilares de sustentação da Instituição; um
re-exame das reais necessidades da Maçonaria, principalmente com relação
àqueles que pretendem ocupar a liderança e a representação de nossa Ordem,
guindando-se aos seus maiores postos, não só o mais carismático, mas também
aquele que seja mais preparado do ponto de vista ético, intelectual e moral.
Agora
nestas primeiras décadas do século 21, a Maçonaria, de uma maneira geral,
enfrenta um inimigo maior que todos aqueles que já a confrontaram: a
indiferença. A indiferença por parte de seus integrantes de que não há mais
batalhas a serem vencidas; a indiferença e a acomodação por parte de seus
integrantes de que as grandes causas se resumem a encontros sociais e a
discursos vazios desassociados da realidade prática de um mundo em
transformação, um mundo que exige respostas rápidas para questões cada vez mais
complexas; a indiferença por parte de seus integrantes com relação aos
equívocos internos e à luta insana por um poder sem poder algum; a indiferença
diante de grupos que simplesmente se esquecem dos compromissos assumidos no
instante de suas iniciações.
Portanto,
o maior inimigo da Maçonaria Universal não está somente no crescimento de
movimentos antimaçônicos, no crescimento de teorias de conspirações, nos
ataques de grupos extremistas que tem se
infiltrado dentro da Ordem, com o intuito de se valer da “proteção” de seus
templos para fins menores e escusos. O maior inimigo da Maçonaria está na
constituição, internamente, em nossas fileiras, de grupos de interesses
particulares, na construção de uma oligarquia, de um governo de poucos, por si
só perverso, com pretensões de se perpetuar no poder da Instituição,
transformando-se numa autocracia (uma forma de governo na qual um único homem
detém o poder e o controle absoluto em todos os níveis de governo sem o
consentimento dos governados) ou mesmo numa plutocracia, onde os mais ricos governam
independentes da capacidade que estes possam ter. O que se tem visto de uma
forma generalizada é que os interesses maiores, os interesses sociais e
culturais de grande parte da sociedade profana e maçônica, foram deixados de
lado, em troca de uma política feita para se garantir regalias efêmeras e
reuniões festivas sem significados maiores.
Necessitamos
de um novo padrão de comportamento voltado para se vencer os desafios
referentes à construção de uma sociedade profana baseada nos princípios
fundamentais defendidos pela Ordem, ou seja a formação de Homens preparados
para a diminuição das diferenças existentes entre as classes, não somente sob a
ótica econômica, mas também do ponto de vista cultural e educacional, sobretudo
em função da “concorrência” existente pelas inúmeras ONGs, OSCIPs e Associações
de Voluntariado que atuam em toda parte do mundo e que se especializaram em
pontos específicos necessários à evolução da Humanidade. Hoje, essas
associações sem fins lucrativos tratam de inúmeras questões que vão desde a
Liberdade Política, de Imprensa e de Expressão, as questões ambientais, questões
raciais, educacionais e culturais. Isso em uma análise bem ampla poderia ser um
dos motivos que justificaria a dimininuição significativa do número de maçons
na maioria dos países. Apenas para ilustrar, durante a década de 1960 o número
de maçons nos EUA girava em torno de 6 milhões de maçons; hoje se restringe a
pouco mais de 1,5 milhão de maçons. Não podemos também deixar de notar que essa
diminuição é inversamente proporcional ao crescimento populacional daquele país
e do mundo como um todo. Certamente há aqueles mais responsáveis do que outros,
mas a verdade seja dita outra vez, se procurarmos um culpado da situação atual
mundial da Maçonaria, basta que olhemos para um espelho.
A
Maçonaria, que deve ser com seus nobres princípios o meio refletivo para a
Sociedade e não a Sociedade inspirar com seus defeitos a condução e a ação da
Maçonaria Universal, tem sido vítima daquilo que ela própria combate,
distorcendo nossos princípios fundamentais em prol de comportamentos
incompatíveis com o que a sociedade espera de nós mesmos.
A
Maçonaria Universal prega a Tolerância, mas infelizmente o termo está sendo
corrompido pela vaidade de alguns poucos que enxergam a Ordem como um palanque
de suas frustrações e incapacidades pessoais. A Tolerância deve servir como um
parâmetro de conduta e não como meio de omissão diante dos problemas da
Sociedade e de nossa própria Sublime Ordem. A Tolerância não deve ser, portanto
encarada como uma desculpa, como um ato de omissão e de concessão de
privilégios, mas sim seguir como uma das Virtudes cardeais do Maçom, sendo o
princípio auxiliar de difusão da Justiça e o meio norteador de nossas ações. A
Tolerância deve, principalmente dentro de nossa Sublime Ordem, não ser
transformada em excessiva Condescendência, e com isso permitir que a Liberdade
seja transformada em Liberalidade. Os erros, as falhas, os defeitos de cada um
de nós devem ser apontados sem temor, mas sempre com Justiça e embasados em
fatos verdadeiros e não em fatos fabricados, para que a Maçonaria não venha a ser
um espelho das faltas do mundo profano; para não permitirmos que os vícios do
mundo encontrem guarida entre as nossas Colunas.
Devemos
ser vaidosos não por aquilo que pretendemos ser, mas sim, orgulhosos por toda
ação e comportamento que nos identifiquem e reconheçam como Homens
preparados para transformar o Mundo. Devemos lutar para que os exemplos de
valorização do Homem, da História e da Cultura que sempre foram os grandes
pilares da Maçonaria iluminem o mundo de trevas profano a partir de nossas fileiras
e não o oposto, pois não podemos permitir que as trevas desse mesmo mundo
obscureçam as Colunas de nossa Instituição. A Maçonaria já trabalha e muito,
mas ainda há muito a ser feito, uma vez que os desafios do mundo não deixaram
de existir, mas sim tomaram outra forma. Nesse ponto que acreditamos que a
Maçonaria não pode ser uma Instituição de nobres ações isoladas, ações estas
empreendidas principalmente pelas Lojas individualmente. Não temos a
manifestação da Maçonaria como INSTITUIÇÃO, pois é isso o que realmente vale
para o mundo profano na atualidade.
Devemos
ter em mente que nossa Instituição é singular, tanto por sua estrutura e seu
alcance internacional, e um dos pontos que nos unem é a Tradição e o
conhecimento a fundo de nossa evolução e história particular.
Há
uma máxima no estudo da História que é mais ou menos assim: É preciso estudar a
História para não cometermos, no futuro, os erros do passado e ao mesmo tempo
não pode deixar de cometer erros, pois são com os erros que os homens de bom
senso aprendem a sabedoria para o futuro. Pois bem, acreditamos nisso e nisso
nos baseamos ao defender um retorno à tradição das estruturas da Maçonaria – a
prática original da Maçonaria Simbólica e a essência de seus ritos em sua
consolidação não impedem que uma organização seja evolucionista ou
progressista, uma vez que os objetivos de nossa sublime Ordem apenas nos
organizam em torno de objetivos maiores e comuns. Nisso a Maçonaria muito
acertadamente, como toda organização digna de nota, instituiu e tem pregado
desde sua fundação oficial há quase 300 anos.
Mas
precisamos ter em mente também que Tradição não significa retrocesso.
Evolução
e tradição são duas vias que caminham e devem seguir juntas, não somente em
Maçonaria, mas em diversas Instituições seculares ainda existentes. Afirmamos
que precisamos parar de discutir banalidades dentro da Ordem, que os nossos
trabalhos devem ser revistos, no sentido de se propiciar uma verdadeira
evolução de seus membros e consequentemente da sociedade, contudo a revisão
deve ser mais voltada ao comportamento dos Obreiros que uma revisão na essência
da Instituição. Nós podemos “modernizar” os nossos rituais e os procedimentos
internos (o que particularmente entendo como sendo o primeiro passo para o fim
definitivo de nossa Instituição, a pá de cal que falta), mas se não adotarmos
uma revisão do comportamento e da postura da Ordem como um todo, de nada
adiantará vivermos apenas das glórias do passado de nossa Sublime Instituição.
Os
objetivos de nossa Sublime Ordem existem e são claros: basta lermos os rituais
do grau de Aprendiz de qualquer rito, e encontraremos claramente lá o que deve
ser realizado.
Apenas
precisamos colocá-los em prática, pois não podemos nos esquecer que a
Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade não são meras palavras vazias, mas sim,
perspectivas de um mundo melhor.
Fraternalmente,
(*) Fabio
Pedro-Cyrino, M.I., 33REAA, 9RM
Secretário
Estadual de Orientação Ritualística
Grande
Oriente do Brasil / Grande Oriente de São Paulo
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