Pelo Ven.Irmão William Almeida de Carvalho
33
I
INTRODUÇÃO
A
idéia de fazer um trabalho sobre a maçonaria Prince Hall, ou seja a maçonaria
dos negros dos EEUU, tem por objetivo informar à comunidade maçônica brasileira
sobre uma maçonaria pujante que por longos anos tem sido escamoteada, em termos
de informação, ao mundo maçônico brasileiro.
Se
o Brasil se propõe a ser uma potência maçônica deve ter o cuidado de se
informar sobre o que se passa no resto do mundo e parar de repetir
acriticamente o que lhe é ofertado pelos sistemas de divulgação maçônicos
internacionais.
O
presente trabalho busca trazer à tona a figura histórica e a legenda do
primeiro maçom negro dos Estados Unidos, e talvez do Hemisfério Ocidental,
chamado Prince Hall, que deu origem à maçonaria dos negros norte-americanos.
Busca,
a seguir, relatar as dificuldades da Obediência Prince Hall nos Estado Unidos e
a tentativa de formar uma Grande Loja Nacional Prince Hall.
Relata
o que denominei de pérolas maçônicas, ou seja as instruções normativas da maçonaria
branca em negar reconhecimento à sua congênere negra, num bestialógico digno
dos tempos mais obscurantistas da história universal.
Termina
propondo um repto para que se estude mais a fundo este importante ramo da maçonaria
universal, visto que o Brasil, pela sua população negra não pode viver só da
versão do homem branco. Concomitantemente, busca extrair lições estratégicas
sobre o que se passa no mundo da alta política.
Como
surgiu a idéia de escrever algo sobre a maçonaria Prince Hall? Na minha última viagem
a Nova Iorque comprei um pequeno livro sobre a maçonaria Prince Hall[1] que li
com grande prazer, pois, no Brasil, sempre que desejei informar-me sobre a
maçonaria negra nos Estados Unidos, encontrava uma barreira devido à inexistência
de bibliografia apropriada.
O
autor, um militar negro chamado Joseph A.Walkes, tornous-e mestre maçom em 1965
na Loja Cecil A.Ellis nº 110, na base militar norte-americana de Karlrude, na
Alemanha Ocidental, que trabalhava sob a jurisdição da Grande Loja Prince Hall
de Maryland. É, ainda, membro honorário da Loja Militar da Zona do Canal nº 174
no canal do Panamá. Atualmente, pertence aos quadros da Loja Rei Salomão nº 15
de Forte Leonard Wood no Estado de Missouri. Foi editor da revista Masonic Light e, atualmente, edita a
revista News Quaterly do Supremo
Conselho Unido 33º da Jurisdição Sul (PHA) nos Estados Unidos.
Com
este Ir.’. negro, informei-me sobre o básico, da ótica negra evidentemente, da maçonaria
Prince Hall nos Estados Unidos. O presente trabalho segue, em linhas gerais, as
pegadas de Walkes. Aprendi, por exemplo, que ao lado do tronco da maçonaria
branca, que ele chama de maçonaria caucasiana,
existe um frondoso galho, chamado Prince Hall. Este galho e este tronco estão
em constante estado de guerra, surda ou aberta, até os dias de hoje.
Procurei distinguir o fato histórico real da lenda vigente. E, aqui, convém salientar o livro clássico de Grimshaw[2] que, se por um lado foi de importância fundamental em trazer à tona a legenda da figura seminal de Prince Hall, dando uma consciência de luta aos negros maçons norte-americanos, por outro lado, criou uma série de contos de fada sobre o mesmo Prince Hall, dificultando, e muito, a moderna historiografia. Sempre que usar, neste trabalho, a assertiva ‘a tradição afirma tal coisa’, estarei me referindo à versão de Grimshaw.
Neste
trabalho, procurei seguir as pegadas dos historiadores clássicos e modernos que
se debruçaram sobre a maçonaria Prince Hall, tais como o aludido Grimshaw,
Davis, Walkes, Sherman, Wesley, etc.
PASTA PARA PARAMENTOS
II A HISTÓRIA E A
LENDA DE PRINCE HALL
Deve-se
destacar, na figura de Prince Hall, a parte real, mas menos romântica,
resgatada pela moderna pesquisa historiográfica e a lenda, devida, na maioria
das vezes, a Grimshaw e que vem sendo alimentada pelo povo maçônico afro-americano.
A moderna historiografia estima que Prince Hall nasceu em 1735 em lugar
desconhecido. Alguns especulam que teria nascido em Barbados nas Índias
Ocidentais, outros que teria sido na África enquanto uma minoria chega a afirmar
que o seu local de nascimento seria os Estados Unidos. Documentos analisados
mostram que teria exercido várias profissões, tais como: trabalhador braçal,
artesão de roupa de couro e fornecedor de alimentos. Outros documentos apresentam-no
como líder e eleitor numa pequena comunidade negra em Boston.
A
versão tradicional, muito aceita mas de pouca ajuda para a pesquisa científica,
afirma que Prince Hall nasceu em Bridgetown, Barbados, nas Índias Ocidentais em
1748, filho de Thomas Hall, um inglês, mercador de couro que teria como esposa
uma mulher negra livre, de descendência francesa. Teria vindo para a Nova
Inglaterra durante a metade do século XVIII, estabelecendo-se em Boston, na
colônia de Massachusetts, onde teria se tornado pastor da Igreja Metodista.
A
versão tradicional ainda afirma que Prince Hall teria pertencido às fileiras do
Exército
Revolucionário
e lutado na guerra de independência norte-americana.
Um ponto controverso tem sido a versão de que Prince Hall tenha sido
escravo ou não. Sherman afirma que “tive a fortuna de descobrir, na Biblioteca
Athenaeum de Boston, uma cópia do documento de alforria, provando que Prince
Hall tinha, originalmente, sido escravo na família de um negociante em roupa de
couro de Boston chamado William Hall que o alforriou em 1770”.[3] Certos historiadores
afro-americanos rejeitam alguns documentos que tentam demostrar ter ele sido
escravo da família Hall, como se, em sendo isto verdade, teria sido uma desonra
para a figura de Prince Hall. Aqui, convém lembrar o dizer da carta de Mahatma
Gandhi ao Ir.´. W.E.B. Dubois em 1929: “Não deixem os 12 milhões de negros
[norte-americanos] se envergonharem pelo fato de serem descendentes de
escravos. Não há desonra em ter sido escravo. Há desonra em ter sido
proprietário de escravos”.[4] A maçonaria Prince Hall nunca negou iniciação a qualquer ex-escravo
desde que preenchesse os requisitos mínimos exigidos pela Ordem. A Grande Loja
Unida da Inglaterra, após a abolição da escravidão nas Índias Ocidentais pelo
Parlamento Britânico em 1º de setembro de 1847, mudou a expressão nascido livre
para homem livre como requisito para ingresso nas suas lojas.
A
tradição afirma que Prince Hall teria sido iniciado em 6 de março de 1775. E
aqui existe uma controvérsia entre a Loja nº 441 e a Loja Africana , sendo que
ambas estariam na gênese da maçonaria Prince Hall, com as implicações do
reconhecimento pela Grande Loja Unida da Inglaterra e o problema de haver duas
Obediências em um mesmo território. O historiador Jeremy Belknap afirma que
“tendo uma vez mencionado esta pessoa (Prince Hall), tenho a informar que ele
foi um grão-mestre de uma loja de maçons livres, composta na sua totalidade de
pretos e conhecida pelo nome de ‘Loja Africana’. Isto teria acontecido em 1775,
quando esta cidade foi tomada pelas tropas britânicas, possibilitando a
montagem de uma loja e a iniciação de um bom número de negros. Após o
estabelecimento da paz, enviou-se a Londres um pedido de reconhecimento,
obtendo-se uma carta timbrada pelo duque de Cumberland e assinada pelo conde de
Effingham”.[5]
Nelson
King, editor da revista Philalethes, afirma que “em 29 de setembro de 1784 uma carta
de reconhecimento (warrant) foi outorgada pela primeira Grande Loja da
Inglaterra para 15 homens em Boston, Massachusetts (inclusive o Ir.’.Hall, cujo
primeiro nome era Prince), formando a Loja Africana nº 459 no registro inglês.
A Loja Africana contribuiu com o Fundo de Caridade inglês até 1797 e permaneceu
correspondendo-se com o Grande Secretário até início do século XIX. Os livros
de registro da Grande Loja, para tal período, entretanto, são incompletos e não
é impossível que a correspondência, entre ambos os lados, apareça como tendo
sido ignorada. Após 1802, o contato foi perdido, devido, em grande parte, à
interrupção que as guerras napoleônicas causaram sobre os transportes e as
comunicações com a América do Norte. Em 1797, a Loja Africana, contrariamente
aos termos da carta de reconhecimento e às Constituições de Anderson, às quais estava
vinculada, deu autorização a dois grupos de homens para se reunirem como Lojas:
i) a Loja Africana nº 459B em Filadélfia na Pensilvânia e ii) a Loja Hiram (sem
número) em Providence, Rhode Island. Autorizações continuaram a ser dadas para
outras lojas a partir de 1808.
Após
a união das duas Grandes Lojas inglesas antigos e modernos em 1813 a fusão dos livros
de registro omitiu a Loja Africana (assim como muitas outras lojas na
Inglaterra e além mar) deixando de haver contato por longos anos. A Loja
Africana, contudo, não foi formalmente extinta”. [6]
Gould,
em toda sua monumental obra, não chega a citar a figura de Prince Hall, mas num
quadro em que lista as lojas nos EEUU reconhecidas pela Grande Loja da
Inglaterra entre 1733 e 1789 cita a African Lodge de Massachussets com a data
de 178486.[ 7]
Outro
historiador chega a afirmar que Prince Hall teria sido iniciado numa loja
militar, a Loja nº 441, sob a jurisdição da Grande Loja da Irlanda, ligada a um
dos regimentos do exército do General Gage e cujo Venerável Mestre era o Ir.´.
J.B.Watt.[8] Esta Loja volante existiu na vizinhança de Boston, estabelecendo-se
futuramente em Nova Iorque e participou na formação, segundo a versão da
maçonaria Prince Hall, da Primeira Grande Loja Caucasiana. Com a remoção da
Loja para Nova Iorque, supõe-se que aquele Ir.’.J.B.Watt tenha dado uma
“permissão” (se escrita, o documento perdeu-se; talvez oral, para que Prince
Hall continuasse a funcionar em Boston). Daí talvez a gênese da “Loja
Africana”. O que se especula é que essa “permissão” daria a Prince o direito de
fazer reunião e de enterrar seus mortos, quando necessário. As atas da “Loja Africana”
deixam muito a desejar sobre o que teria acontecido após a partida dos
ingleses, sendo que este fato concorre para que a maçonaria branca marginalize
a nascente maçonaria Prince Hall. Na época, Prince Hall mandou uma petição ao
Grande Mestre Provincial Joseph Warren, pedindo reconhecimento. Entretanto,
Warren foi morto na batalha de Bunker Hill antes de poder responder. Convém
salientar que, com a morte de Warren, a jurisdição de Massachusetts abateu
colunas e não havia autoridade maçônica na região. Em seguida buscou conseguir
uma autorização legal e regular que substituísse a precária “permissão” de
Watt. Primeiramente, tentou-se o Grande Oriente de França mas o seu intento foi
infrutífero. Procurou então contatar a Grande Loja de Londres (modernos)
através de duas cartas dirigidas ao Ir\William M. Moody em Londres.
Desta vez obteve sucesso, conseguindo finalmente o “warrant” em 20 de setembro
de 1784 para a African Lodge nº 459. Essa autorização chegou às mãos de Prince
em 29 de abril de 1787 e foi noticiada pelos jornais locais. É um documento de
importância vital para a maçonaria Prince Hall, pois é a prova inconteste para
fugir da irregularidade que a ela é imputada pela maçonaria branca. Walkes
chega a afirmar que “a carta permaneceu nas mãos da Prince Hall Grand Lodge of
Massachussets. Em 1869, foi chamuscada num incêndio, sendo, contudo, salva pela
ação do P.G.M. Kendall que recuperou o documento. Existe um grande número de
maçons Prince Hall que acreditam ter sido o incêndio uma tentativa de a
maçonaria caucasiana destruir o mais valioso de todos os documentos da
maçonaria Prince Hall. Enquanto esta crença não pode ser provada, o fato
alegado mostra a frequente relação tensa entre a fraternidade Prince Hall e a
sua contraparte caucasiana. Mostra também a conexão emocional entre a América
Negra e Branca.”[9]
É
preciso ter em mente o status colonial do negro norte-americano na época
da independência. Não possuíam educação formal, além do mais sofriam restrição
legal para adquiri-la e os códigos dos negros legais impediam reuniões ou
ajuntamentos com mais de três indivíduos da raça negra. Os historiadores negros
afirmam que os negros estavam na América Colonial mas não eram da América. Eram
súditos coloniais dos súditos coloniais da Inglaterra. Não estavam sendo explorados
por George III, mas sim por George Washington, pelos maçons e pelos donos de escravos.
Os Pais Brancos Fundadores não eram os Pais Negros Fundadores, pois os homens negros
viviam uma diferente Declaração de Independência, uma Revolução diferente numa
América diferente. A revista maçônica negra Phylaxis Magazine editada em Boston
comenta em seus editoriais que houve e tem sempre havido duas Américas, uma
Branca e outra Negra. Definilas juntas seria impossível. Medir a maçonaria de
cada uma em conjunto, também é praticamente impossível, pois a convenção
constitucional branca não foi a convenção constitucional negra, o começo branco
não foi o começo negro
Prince Hall demonstrou a sua combatividade em diversas ocasiões. Em 13 de janeiro de 1777, conjuntamente com outros companheiros de luta maçons ou não endereçou uma petição ao legislativo de Massachussets protestando contra a existência da escravidão na Colônia. Documentos demonstram que, novamente, em 27 de fevereiro de 1788, redigiu outra petição protestando contra o sequestro e subsequente venda como escravos de numerosos negros que foram levados de Boston para um navio em direção às Índias Ocidentais. Estes negros retornaram a Boston depois de detidos pelo governador do Maine que concordou com o pedido de auxílio do governador de Massachusets.
Deixou
vários documentos escritos, inclusive um livro de cartas, grande manancial para
os historiadores. Prince faleceu em 4 de dezembro de 1807 na glória de ter sido
o primeiro americano negro a receber os graus da maçonaria nos EEUU. Sua morte
foi noticiada em inúmeros jornais de Boston. Foi enterrado em Copps Hill ao
lado de uma de suas esposas.
A
maçonaria Prince Hall honra a memória de seu fundador em uma cerimônia pública
Prince Hall Americanism Day que acontece em setembro numa igreja em Boston.
Como os São Joães, Prince Hall é considerado um dos santos fundadores da
maçonaria negra nos EEUU. A cada dez anos a Conferência dos Grãos Mestres
Prince Hall realiza uma peregrinação à Boston no seu memorial em Copps Hill.
III A OBEDIÊNCIA
Mackey,
dentro da mais pura Doutrina Americana da Exclusiva Jurisdição Territorial,
estatui que “por esta razão que uma Grande Loja tem competência para outorgar
uma Autorização (Warrant) de Constituição e estabelecer uma Loja num território
não ocupado, por petição, claro, de um requisitado número de maçons. E este
direito de outorgar Autorização habitualmente conferido a cada Grande Loja no
mundo, e podendo ser exercido por quantas queiram fazê-lo, desde que nenhuma
Grande Loja esteja organizada no território. Assim, podem existir dez ou doze
Lojas funcionando ao mesmo tempo no mesmo território, e cada uma delas
derivando sua existência legal de uma diferente Grande Loja”.[10]
A
maçonaria Prince Hall queixa-se de que a maçonaria caucasiana, baseada nestes princípios,
sempre sabotou e não reconheceu a criação de uma Grande Loja Prince Hall. Para complicar
mais o quadro, a Grande Loja de Massachussets (branca) gaba-se de ser a
primeira Grande Loja do Hemisfério Ocidental, datando de 1733 quando Henry
Prince foi nomeado Grão Mestre Provincial para a Nova Inglaterra por uma
autorização de Lorde Montague na Inglaterra. Essa Grande Loja Provincial foi
jurisdicionada pela Grande Loja da Inglaterra até abril de 1769 quando se tornou
uma Grande Loja independente. Convém salientar que, com a independência dos
EEUU, as diversas Grandes Lojas Provinciais, ligadas à Inglaterra ou à Escócia
ou à Irlanda, declararam-se independentes de suas Grandes Lojas Mães.
A
tradição da maçonaria Prince Hall afirma que a primeira Grande Loja Africana da
América do Norte foi organizada em Boston, Massachussets, em 24 de junho de
1791, tendo Prince Hall como seu primeiro GrãoMestre. A seguir foram criadas as
seguintes Grandes Lojas Prince Hall [11]: 2 Loja Africana nº 459 de Filadélfia
(24/06/1797), 3 Grande Loja Boyer em Nova Iorque (12/03/1845), 4 Grande Loja
Africana de Maryland (1845), 5 Grande Loja União no Distrito de Colúmbia
(27/03/ 1848), 6 Grande Loja Prince Hall de Nova Jersey (24/06/1848), 7 GLPH de
Ohio (03/05/1849), 8 GLPH de Delaware (09/06/1849), 9 GLPH da Califórnia
(19/06/ 1855), 10 GLPH de Indiana (13/09/1856), 11 GLPH de Rhode Island (07/10/
1858), 12 GLPH de Louisiana (05/01/1863), 13 GLPH de Michigan (25/04/1866), 14
GLPH de Virginia (29/10/1865), 15 GLPH de Kentucky (16/08/1866), 16 GLPH de
Missouri (20/12/1866), 17 GLPH de Illinois (15/02/1867), 18 GLPH da Carolina do
Sul (junho 1867), 19 GLPH de Kansas (11/09/1867), 20 GLPH da Carolina do Norte
(01/03/1870), 21 Grande Loja União da Flórida, Belize e América Central (17/06/1870),
22 GLPH da Georgia (22/08/1870), 23 GLPH do Tennessee (31/08/1870), 24 GLPH do
Alabama, 25 Grande Loja Stringer do Mississippi (03/ 07/1875), 26 GLPH do
Arkansas (28/03/ 1873), 27 GLPH de Connecticut (03/11/ 1873), 28 GLPH da
Província de Ontario (1851), 29 GLPH do Texas (19/08/ 1875), 30 GLPH do
Colorado (17/01/1876), 31 GLPH de West Virginia (03/10/ 1877), 32 GLPH de Iowa
(09/08/1882), 33 GLPH de Oklahoma (15/08/1893), 34 GLPH de Minnesota
(16/08/1894), 35 GLPH de Washington (13/04/1903), 36 GLPH de Nebraska (02/08/1919),
37 GLPH do Arizona (30/05/1920), 38 GLPH do Novo México (21/09/1921), 39 GLPH do
Wisconsin (28/06/1952), 40 GLPH das Ilhas Bahamas (1951), 41 GLPH do Oregon (23/04/
1960), 42 GLPH do Alaska (setembro de 1969), 43 GLPH de Nevada (1980), 44
Grande Loja dos Antigos Maçons da República da Libéria (setembro de 1967).
As
últimas pesquisas historiográficas reformulam, em parte, a tradição da
maçonaria Prince Hall. Os fatos indicam que, em 1792, a Grande Loja da
Inglaterra, numa revisão de numeração de loja inativas, alterou o número da
African Lodge que passou de 459 para 370.
Em
1813 a African Lodge foi retirada dos anais da Grande Loja da Inglaterra por
falta de comunicação e pagamento do fundo de caridade. De 1813 a 1824 a Loja
Africana de Massachussets quase abateu colunas, reunindo-se pouquíssimas vezes.
Em 1824 foi remetida à Grande Loja da Inglaterra uma petição pedindo a
renovação de sua Carta Constitutiva, fato que ficou sem resposta até os dias de
hoje.
Em
1824 a African Lodge nº 459 (370) experimentou uma revivescência de atividades
pois as suas atas se tornaram mais minudentes e constantes. Sob a liderança de
um mulato, extremamente habilidoso e agressivo, chamado John Telemachus Hilton,
que se tornou seu Venerável Mestre em 1827, começou-se a pensar seriamente na
criação de uma Grande Loja que cuidasse dos assuntos da comunidade maçônica
negra nos EEUU. Assiste-se, a partir desta data, a um novo pomo de discórdia
com a maçonaria branca, sendo que esta alega ser tal criação totalmente
irregular para os padrões maçônicos tradicionais, como visto acima.
Assim,
em 1827, a African Lodge nº 459 de Boston assumiu o nome de African Grand Lodge
nº 459, passando a adotar o título de Prince Hall Grand Lodge somente a partir
de 1848. A maçonaria caucasiana teria, a partir de então, novo ponto de
discussão: não só a caducidade do “warrant” da Inglaterra como também a
autoproclamação irregular de uma Grande Loja, ainda mais num território
(Massachusetts) onde já existia uma Grande Loja (caucasiana evidentemente).
O
jornal Boston Daily Advertiser de 26 de junho de 1827 (vide Anexo)
publicou, na página 3, uma declaração de independência maçônica, datada de 16
de junho de 1827, assinada pelo VenerávelMestre, Vigilantes e Secretário. Nesta
proclamação pública menciona a carta autorizativa de 29 de setembro de 1784, as
dificuldades de comunicação com a Grande Loja de Londres e, o que é mais
importante, a declaração de independência de ser tributária ou governada por
qualquer Grande Loja dali em diante.
A
possessão da Carta de Reconhecimento da Grande Loja da Inglaterra sempre deu a Prince
Hall e seus associados uma certa aura de prestígio e de status social
entre os negros dos EEUU. Notese que em 22 de março de 1797 um tal Peter
Mantore de Philadelfia endereçou uma carta à African Lodge de Boston requerendo
uma “dispensação, um ‘warrant’ para uma Loja Africana”. Nos primórdios do
século XIX, uma Loja de Philadelfia, a Loja Harmonia de Providence em Rhode
Island e a Loja Boyer em Nova Iorque obtiveram da Loja Africana nº 459 de
Boston uma autorização para funcionar.
Para
encerrar esta parte obediencial, convém salientar outra peculiaridade da
maçonaria Prince Hall nos EEUU: a tentativa de organizar uma Grande Loja
Nacional, ou seja uma autoridade central que organizasse a maçonaria negra nos
diversos Estados da América do Norte.
Após
a Revolução Americana, a maçonaria caucasiana tentou, por diversas vezes,
organizar uma Grande Loja Geral, que teria até mesmo George Washington como
GrãoMestre Geral para todo os EEUU. Mackey afirma que “desde que as Grandes
Lojas deste país começaram, nos princípios da guerra revolucionária, a
abandonar sua dependência das Grandes Lojas da Inglaterra e da Escócia, ou
seja, tão logo emergiram da posição subordinada de Grandes Lojas provinciais e
foram compelidas a assumir um caráter soberano e independente, tentativas, tem
sido feitas de tempos em tempos, pelos membros da Arte Real em destruir esta
soberania das Grandes Lojas dos Estados Federados, e instituir, em seu lugar,
um poder superintendente, para ser constituído seja como um Grão-Mestre da
América do Norte seja como Grande Loja Geral dos EEUU. Conduzidos, talvez, pela
analogia das colônias unidas sob uma cabeça federal ou, no começo da luta
revolucionária, controlada por longos hábitos de dependência das Grandes Lojas-Mães
da Europa, a disputa mal tinha começado, quando teve lugar a ruptura de
relações políticas entre Inglaterra e América, no momento em que se tentava
instituir o cargo de Grão-Mestre dos Estados Unidos, cujo objeto era (do qual
dificilmente se pode duvidar) investir George Washington com a reconhecida
dignidade”.[12]
Desde
1844 discutia-se nos círculos de Nova Iorque e Boston a necessidade de se criar
uma Grande Loja Nacional Prince Hall. A
idéia e o motor da montagem da Grande Loja Nacional ou Compacta da maçonaria
Prince Hall foi, mais uma vez, aquele empreendedor visto acima: John Telemachus
Hilton. A elite da maçonaria negra, liderada por Hilton, tinha consciência de
que a maçonaria Prince Hall era a única organização interestadual fora da
igreja numa época de conflitos raciais intermitentes. Estes feudos estaduais,
contudo, não se comunicavam nem mantinham um mínimo de vínculo associativo. Assim,
no dia de São João Evangelista de 1847 na cidade de Boston, no Estado de Massachussets,
os delegados de Boston, Nova Iorque, Providence e Pensilvania criaram a Loja Nacional
dos Antigos Maçons de York Livre e Aceitos (Negros) dos Estados Unidos da
América, tendo John T. Hilton como seu primeiro Grão-Mestre.
Esta
Grande Loja Nacional, desde os primórdios, tornou-se um foco de dissensões e conflitos
entre a maçonaria Prince Hall. Por diversas vezes reconheceu outra Grande Loja
Prince Hall no mesmo Estado onde já existia uma.
As
discussões tomaram um rumo mais quente com a dissensão da Grande Loja de Ohio
em 1868. Como as Grandes Lojas Prince Hall dos Estados foram se retirando
gradativamente da Grande Loja Nacional, na segunda Convenção Nacional de 46 de
setembro de 1877 em Chicago, Illinois, resolveram dissolver a Grande Loja
Nacional, restaurando, assim, em parte, a soberania das Grandes Lojas
Estaduais.
Não
se pense, contudo, que a Grande Loja Nacional teria fenecido a partir daí, pois
Sherman relata que “os procedimentos normativos impressos da Grande Loja
Nacional estão disponíveis para os anos de 1856, 1862, 1865, 1874, 1898, 1909,
1910, 1915 e 1921. Foram examinados pelo Ir.´. Edward R. Cusick, com quem tenho
correspondido por um bom período de anos. Ele salientou o fato de que tem
havido uma Grande Loja Nacional de maçons de cor operando de 1847 a 1957 e eu
sei por correspondência pessoal que ela ainda esta funcionando”.[13] Apresenta
ainda no Apêndice D deste seu artigo a relação dos grão-mestres Nacionais de
1847 a 1978.
IV PÉROLAS
MAÇÔNICAS
Neste
item busca-se apresentar os procedimentos normativos, do passado e do presente,
sobre os negros, na sua maioria, como também alguns sobre índios e amarelos,
existentes na maçonaria, coletados pelos pesquisadores Prince Hall. Tais
procedimentos servem como indicadores preciosos do grau de conflito racial que
age como uma cunha na sociedade norte-americana. Tal fratura, apesar de ter
causado uma cruenta guerra civil, ainda mantém um potencial explosivo nos dias
de hoje. A tolerância maçônica inter-racial ainda não foi medianamente
absorvida pelos maçons dos EEUU. Possam estes procedimentos, chamados
ironicamente de pérolas maçônicas, servir de advertência aos maçons de outras
plagas sobre os perigos do conflito racial e tomada de consciência sobre o
abismo que separa os negros dos brancos na América do Norte. A tolerância
maçônica, nos EEUU, se mostra, ainda incapaz de servir como amortecedor entre
as duas tribos.
As
principais pérolas coletadas são as seguintes:
1)
Da
Grande Loja de Iowa, Procedimentos Normativos de 1852:
2)
“Exclusão
de pessoas da raça negra está de acordo com a lei maçônica e as Antigas Obrigações
e Regulamentos”.
2)
Grande Loja de Louisiana, decisão do GrãoMestre,1924:
“Uma
mistura de sangue branco e negro torna um homem inelegível para os graus da maçonaria”.
3)
Grande Loja da Carolina do Norte, Constituição, edição de 1915, seção 110, p.
50: “Um candidato tem que ser um homem branco nascido livre”.
4)
Grande Loja do Mississippi, Procedimentos Normativos para 1899, p. 43, e
Constituição
da Grande Loja, edição de 1914, estatui que:
“Um
Maçom que discute Maçonaria com um Negro deve ser expelido da sua Loja”.
5)
Grande Loja de Ohio, Procedimentos Normativos para 1857:
“Admissão
de pessoas de cor seria inconveniente e tende a estragar a harmonia da
fraternidade”.
6)
Grande Loja de Idaho, Procedimentos Normativos para 1916, p. 16, decisão de
Francis
Jenkins,
aprovada pelo Comitê de Jurisprudência Maçônica:
“Estatui
que um candidato deve ser um homem branco”.
7)
Grande Loja da Carolina do Sul, o “Ahiman Rezon”, compilado por Albert G.
Mackey, Grande Secretário, afirma:
“...que
o candidato deve ser de pais livres brancos.”
8)
Grande Loja de Nova Iorque, (a) Procedimentos Normativos para 1851:
“I.
Não é adequado iniciar nas nossas Lojas, pessoas da raça Negra; e sua exclusão
está de acordo com a lei Maçônica e as Antigas Obrigações e regulamentos, por
causa de sua condição social deprimente; a falta geral de inteligência, que os
impossibilita, como um corpo, a trabalhar ou adornar a maçonaria; a
impropriedade em fazê-los nossos iguais em algum lugar, quando pela sua condição
social, e as circunstâncias pela quais cada um quase se liga a eles, não
acontecendo o mesmo com outros, por não terem de um maneira geral NASCIDO
LIVRES...”
(b) Procedimentos Normativos para 1890:
“Iniciar
Negros em Loja pode quebrar a Fraternidade através do país”.
9)
Grande Loja de Kentucky
(a)
Procedimentos Normativos para
1914, p. 39:
(b)
“Um homem possuindo 1/8 a 1/16 graus de sangue
Negro não pode ser Maçom”.
(c)
Constituição,
edição de 1919, p. 28:
“Um
candidato tem de ser um homem branco nascido livre”.
(c)
Procedimentos Normativos para 1947, p. 139, o Secretário da Loja nº 228
perguntou: “Pode um Católico juntar-se ao Maçons?”. A decisão de Albert C.
Hanson, Grão-Mestre, em Opinião nº 45, responde: “Seção 105 do Livro das
Constituições determina que um candidato para a iniciação deve ser um homem
branco nascido livre, de 21 anos ou mais e de boa folha corrida”.
10) Grande Loja do Texas, Constituições e
Leis, 1948, Artigo XV, p. 34:
“Esta
Grande Loja não reconhece como legal ou Maçônico qualquer organização de Negros
trabalhando sob qualquer Carta de Reconhecimento nos EEUU, sem acatar o
organismo que outorgou tal Carta, considerando todas as Lojas de Negros como
clandestinas, ilegais e não Maçônicas, e além do mais, julgam como altamente
censurável o procedimento de qualquer Grande Loja nos EEUU que reconheça tais
organismos Negros como Lojas Maçônicas”.
11)
Grande Loja de Delaware, Procedimentos Normativos para 1867:
Iniciação
ou visitação “...de qualquer Negro, mulato ou pessoa de cor nos Estados Unidos
é proibido”.
12)
Grande Loja de Illinois
(a)
Procedimentos Normativos para 1851:
“...que esta Grande Loja se opõe totalmente à
admissão de Negros ou mulatos nas Loja sob sua jurisdição”.
(c)Procedimentos Normativos para 1899:
“Por
esta razão ter Lojas exclusivamente de Negros, poderia ser perigoso para a boa
fama de nossa Ordem. E, associá-los em Lojas com irmãos brancos, seria
impossível”.
13)
Grande Loja do Mississippi
(a) Procedimentos
Normativos para 1909:
A
um candidato foi negado aumento de salário em sua Loja porque ele tinha sido
instruído em seu grau anterior por um Negro.
b) Procedimentos
Normativos para 1914:
Porque
ele não sabia que era errado, e assim explicou para a Loja, que tinha visitado
uma Loja de Negros por ignorância, um membro da Loja nº 34 foi inocentado de
qualquer erro.
Por causa deste perdão, o Grão Mestre apreendeu
a Carta da Loja; determinando que o membro deveria ser punido.
14) Grande Loja de
Illinois
(a) Procedimentos
Normativos para
1846
O
Venerável Mestre de uma loja foi punido por ter conferido graus a um senhor
cuja mãe tinha sido uma índia Cherokee e seu pai um mulato.
(b) Procedimentos Normativos para 1852:
“A
Grande Loja de Illinois reprovou um de seus corpos subordinados por ter
admitido um índio meio-sangue americano como visitante, e passou uma resolução
proibindo, sob severa penalidade, a repetição de tal ofensa”.
(c) Procedimentos
Normativos para 1912:
Um
Past Master de uma loja, conjuntamente com um ex-Primeiro Vigilante e outro
membro assistiram, como carregadores do caixão, ao funeral de um Maçom Negro. O
Past Master foi expulso de sua loja e os outros dois, suspensos por um ano.
15)
Grande Loja de Nova Iorque, Procedimentos
Normativos para 1851:
Uma
resolução foi adotada declarando que homens da raça Índia na América eram
material impróprio para a Maçonaria.
16)
Grande Loja de Indiana, Procedimentos Normativos para 1945:
O
Grão-Mestre da Grande Loja recusou-se a permitir a iniciação de um senhor
chinês sob o pretexto de que ele não era um cidadão dos EEUU.
17)
Grande Loja da Província de Quebec
(a)
Procedimentos Normativos para 1923:
Charles
McBurney, Grão-Mestre, informou à sua Grande Loja que recusou permissão para um
grupo de Negros que desejavam estabelecer uma loja na cidade de Montreal.
(b) Procedimentos
Normativos para 1927:
William
J. Ewing, Grão-Mestre, recusou permissão para um grupo de Negros para erigir
uma loja em Montreal.
18)
Grande Loja do Texas
Constituição,
edição de 1876: Artigo XXXVI, declarou que todas as lojas de Negros eram clandestinas
e ilegais.
19)
Grande Loja do Mississippi
(a)
Procedimentos Normativos para 9 de
fevereiro de 1899:
Visto
que a Grande Loja de Washington tem declarado que se Negros estabelecerem lojas
e subseqüentemente uma Grande Loja neste Estado, aqueles não considerarão tal
fato como sendo uma invasão deste território Maçônico, a Grande Loja do Mississippi
cortou relações fraternais com a Grande Loja de Washington.
(b)
Procedimentos Normativos para 1873:
Embora
o Grão-Mestre, W.H. Hardy, advertisse sua Grande Loja que em Nova Jersey permitiu
a formação de uma loja em Newark, N.J., cujos membros eram brancos e negros, o
alto corpo do Mississippi não tomou nenhuma ação neste ano, mas o fez em 1909.
(c)
Procedimentos Normativos para 1909:
Durante
o mês de agosto de 1908, Edwin J. Martin, Grão-Mestre, descobriu que a Loja Alpha
nº 116, trabalhando sob a jurisdição da caucasiana Grande Loja de Nova Jersey
na cidade de Newark, funcionava com brancos e negros e visto que o Grão-Mestre de
Nova Jersey não renegou a Loja, o Grão-Mestre do Mississippi cortou relações
com o alto corpo de Nova Jersey.
20)
Grande Loja de Oklahoma
(a)
Procedimentos Normativos para 9 de
fevereiro de 1910:
Simpatizando
com a ação da Grande Loja do Mississippi, como descrito acima, esta Grande Loja
cortou relações com a Grande Loja de Nova Jersey por causa da composição racial
da Loja Alpha nº 116, sob a jurisdição da última.
Mais
tarde, Oklahoma reatou relações, baseado no entendimento de que todos os maçons
de Nova Jersey seriam bem vindos às lojas de Oklahoma, exceto os membros da
Loja Alpha nº 116.
(b)
Procedimentos Normativos para 14 de
fevereiro de 1940:
A
Grande Loja de Oklahoma, novamente, descobriu a existência da Loja Alpha nº
116, em Newark, e mais uma vez, cortou relações fraternas com a Grande Loja de
Nova Jersey mas que também foram reatadas a partir de 11 de fevereiro de 1942.
21)
Loja Arizona em Phoenix, Arizona:
Em
5 de janeiro de 1952, a Associated Press noticiou que o corpo de um soldado
negro, morto na Coréia, tinha sido mantido no necrotério da cidade de Phoenix
por cinco semanas, visto que o cemitério, propriedade da e operado pela Loja
Arizona, não teria permitido que o corpo fosse enterrado a menos que três
cartas de requerimento de sepultamento, registradas em cartório, fossem
submetidas à consideração se poderia ser enterrado ao lado dos veteranos
brancos no cemitério desta loja Maçônica.
E
para encerrar, com chave de ouro, uma pérola do general confederado da guerra
civil americana e Sob.’.Gr.’.Com.’.do Supr.’.Cons.’.Jur.’.Sul dos EEUU Albert Pike
, considerado o Platão moderno da maçonaria universal, autor do afamado Morals
and Dogma, uma das bíblias do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Seu
mais famoso biógrafo e apologista Duncan relata que, em 1858, Albert Pike e 11
de seus colaboradores emitiram uma circular conclamando a expulsão dos Negros libertos
e mulatos do Arkansas, citando “a preguiça e bestialidade de uma raça
degradada”, sua “imoralidade, imundície e indolência” e chamando o negro “tão
desprezível e depravado como um animal”.[14]
Walkes
afirma que “Albert Pike serviu como Chefe de Justiça da Ku Klux Klan quando era
Soberano Grande Comendador. Tendo sido, também, Grande Dragão para o
Arkansas”.[15] “Este senhor muitas vezes admitiu como sua opinião que a
Maçonaria Prince Hall era tão regular como a sua e, em algumas circunstâncias,
mais ainda, mas era incapaz de ultrapassar seu preconceito de cor, como
expresso na seguinte linguagem: “Eu tomei minhas obrigações para com homens brancos,
não para com Negros. Quando eu tiver que escolher entre Negros como Irmãos ou abandonar
a Maçonaria, eu abandonarei a Maçonaria””.[16]
Albert
Pike não é estranho ao Grande Oriente do Brasil, pois o arguto Kurt Prober
relata que “no correr do ano de 1887 o Grande Oriente do Brasil mandou cunhar
uma Medalha em homenagem ao Sob\Gr\Com\Albert Pike do Supr\Cons\Jur\ Sul
dos EEUU, que vai aqui ilustrada, pois é quase desconhecida entre nós, e
totalmente desconhecida aos colecionadores estrangeiros.
Nenhum
documento foi jamais encontrado alusivo a esta medalha, e nenhuma explicação sobre
os motivos que teriam induzido o Gr. M. Sob. Com. do GOB Vieira da Silva, a
mandar cunhar esta peça na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, sabendo-se apenas,
pelas anotações daquela Repartição, que se cunhou UM EXEMPLAR ÚNICO em OURO,
certamente mandado para os EEUU ao Ir.’.Pike, que ainda no princípio de 1887
estivera seriamente doente, de um ataque de “gota”, que já não mais lhe
permitia viajar, a ponto de estar morando com sua filha no prédio do Supremo
Conselho de Washington, no que chamava de “THE HOUSE OF THE TEMPLE” (A casa do
Templo).
Não
há dúvida de ter sido uma homenagem merecida, a prestada a Albert Pike pelo GOB
e pelo S.C.BRAS., pois fora ele, que em horas difíceis lhes tinha dado pleno
apoio, em diploma de 5.7. de 1869 (em meu arquivo, veja Nota 76, pg. 142)
declarando publicamente, que se tinha enganado “reconhecendo o Supr.’.Cons.’.(irregular)
do Gr. Or. dos Beneditinos”, e indicando para representante do S.C.BRAS. nos
EEUU o Ir.’. John Quincy Adams Fellows, que foi imediatamente confirmado pelo
GOB, e nomeando Pike depois o Ir.’.Francisco Leão Cohn para seu representante.
O
Ir.’.Albert Pike, nascido na cidade de Boston em 29.12.1809, pode ser
considerado, juntamente com George Washington, como um dos maiores maçons da
nação americana, de todos os tempos. Era Jornalista, Editor, Advogado além de
nas guerras dos Estados do Norte contra o México ocupou o cargo de General.
Foi
o único americano, durante os 244 anos de história maçônica daquele país, que mereceu
o título de GRÃO MESTRE VITALÍCIO. A sua cultura era quase fenomenal, lendo ele
corretamente o Grego, Latim, Sânscrito, Francês e Espanhol, além de falar
Alemão, Italiano, Português e diversos dialetos indus. Os seus poemas eram
altamente estimados pelo seu contemporâneo Edgar Allan Poe.
Pois
foi Albert Pike, que lançou a pedra fundamental para a importância da maçonaria
americana, e ao falecer em 2.4.1891, com a idade de 82 anos, recebeu com
justiça o cognome de “Patriarca da Maçonaria”.
E
foi este personagem, que em 1.7.1884 escreveu a famosa réplica à bula papal de 20.4.1884
de Leão XIII, conhecida pelo nome de Encíclica HUMANUS GENUS, que condenava a Maçonaria
com toda a violência. Esta resposta, revista, foi em 1.8.1884 publicada
oficialmente pelo Supr.’.Cons.’.e Pike foi tão acertado e feliz em suas contraprovas,
mostrando a inoportunidade e a sem razão da aludida bula, que desde então o
Vaticano não mais tomou atitude tão frontal contra a maçonaria universal
através de suas bulas papais, resumindo-se a combater os maçons pela legislação
canônica ou outras declarações esporádicas.
Portanto,
fora bem justa a homenagem que o GOB e a SCBRAS estavam prestando a Alberto
Pike”.[17]
Encerrado
este florilégio de pérolas maçônicas, já é hora de tirar algumas conclusões.
V CONCLUSÃO
O
fato estarrecedor que se impõe como conclusão preliminar não é tanto a falta de
informação do povo maçônico brasileiro sobre a maçonaria nos EEUU em geral
(Pike et caterva) e Prince Hall em particular, mas a desinformação, para não
dizer informação seletiva, proporcionada por dois dos nossos maiores
maçonólogos: Kurt Prober e Nicola Aslan.
Kurt
Prober, por só realçar os aspectos positivos de Albert Pike, como visto acima e
Nicola Aslan, por copiar ‘ipsis litteris’ a posição preconceituosa de
Mackey[18] com pouca visão crítica, proporcionam uma ótica parcial dos
complexos problemas maçônicos. A argumentação básica de Mackey é de que a Loja
Africana nunca foi reconhecida pela Grande Loja de Massachusetts (caucasiana),
a cujo corpo havia recusado sempre outorgar sua lealdade...
O
Brasil maçônico passa hoje, em boa parte devido ao trabalho d’A Trolha, por uma
revivescência de estudos maçônicos. Proliferam, no país, as Lojas de Pesquisas
Maçônicas. A moda no momento são os ingleses e a Loja de Pesquisas Quatuor
Coronati de Londres, fato que não deixa de ser altamente positivo. Se por um
lado, estamos saímos, aos poucos, de nosso provincianismo maçônico, por outro,
dentre os que sabem inglês, alguns começam a traduzir acriticamente os textos
da Quatuor Coronati e difundi-los em escala industrial para um mercado ávido de
informações.
Estamos
preparando, no momento, uma monografia que talvez intitulemos de “Geopolítica da
Maçonaria”, buscando mostrar como as grandes potências utilizam também a
maçonaria para a sua estratégia de dominação econômica e cultural.
Não
é preciso ser nenhum especialista em geopolítica para perceber que a Grande
Loja da Inglaterra reconheceu e deu uma carta patente para Prince Hall e seus
epígonos dentro de um contexto de guerra revolucionária, ou seja, procurava, de
todos os modos, dividir a elite branca nativa dos Estados Unidos que almejava a
independência da nação.
Findel,
na sua arguta análise, relata que “no princípio da guerra, diz o Ir,’,
Barthelmess, os ingleses trataram e não foi em vão, de ganhar para seu partido
aos índios e aos negros. Nas listas dos regimentos, encontram-se muitos nomes
que levam a designação de black ou negro. Todo o mundo conhece o dano que os
índios fizeram à milícia americana. A perspectiva de obter liberdade atraía,
principalmente no Sul, os escravos que buscavam reunir-se em massa sob a
bandeira do exército inglês e, ao término da guerra, abandonar o país de sua
servidão e estabelecer-se em regiões que haviam permanecido sob o domínio da
Inglaterra (Nova Escócia, Nova Brunswick e Canadá)”.[19]
Findel
conclui seu capítulo intitulado “História Positiva da Francomaçonaria Americana”
com estas palavras que não devem agradar à Mackey e à Grande Loja Unida da
Inglaterra: “estas cartas [de Prince Hall] provam não só a falsidade da
afirmação que se tem sustentado de que a Grande Loja da Inglaterra tinha
retirado sua patente pouco tempo depois de sua expedição, senão que ademais
provam que se existe alguma negligência nas relações das duas lojas, deve
atribuir-se a falta unicamente à Loja da Inglaterra”.[20]
Possa
esta pequena monografia despertar o estudo da maçonaria Prince Hall, que,
talvez, tenha mais interesse, como processo de aprendizagem, principalmente
para os maçons negros brasileiros, não só pelo seu porte pelos dados de 1989
seriam mais de 4675 lojas com quase 300.000 membros como também pelo seu
processo de luta num país dividido por uma tremenda luta racial. Sem embargo, o
estudo e a reflexão sobre Prince Hall, é de importância vital para que os maçonólogos
brasileiros brancos, pretos, mulatos e tutti quanti aprendam, neste
cipoal de fatos históricos, a trama do poder mundial que, na maioria das vezes,
utilizam a maçonaria e os maçons ingênuos, em função dos objetivos estratégicos
de poder.
A
título de curiosidade e da amenização do rancor da maçonaria caucasiana
norte-americana, apresentasse a seguir a relação, obtida na Internet, das
Grandes Lojas que já reconhecem, admitem conviver e permitem intervisitarão com
as Lojas Prince Hall: California, Colorado, Connecticut, Idaho, Kansas,
Massachusetts, Minnesota, Nebraska, North Dakota, Ohio, Vermont, Washington,
Wisconsin e Wyoming. No Canadá, as seguintes Grandes Lojas: Manitoba, New
Brunswick, Nova Scotia, Prince Edward Island e Quebec. Desnecessário dizer que
Prince Hall (Massachusetts) é reconhecida pelas Grandes Lojas da Inglaterra e
da Irlanda. Fato pitoresco e grotesco é que a Grande Loja Unida da Inglaterra
reconhece as Grandes Lojas da Nova Escócia, do Novo Brunswick e do Quebec e um
certo número de Grandes Lojas nos EEUU, mas proibiu os seus membros de visitar
as Lojas dessas jurisdições visto que tais jurisdições reconheceram Grandes
Lojas Prince Hall em vários estados que não o de Massachussetts!
Recentemente
o Supremo Conselho do R.E.A.A. dos EE.UU Jurisdição Norte concordou em manter
um reconhecimento mútuo com o Supremo Conselho do R.E.A.A. Prince Hall.
Para
se ter uma amostra da longa trajetória do reconhecimento, supondo-se que todas
as Grandes Lojas caucasianas desejassem reconhecer todas as Grandes Lojas
Prince Hall e vice-versa, haveria a necessidade de 2200 reconhecimentos mútuos,
haja vista existirem 51 Grandes Lojas caucasianas “regulares” nos EEUU enquanto
que as Grandes Lojas Prince Hall “regulares” somam 43. Quantos anos seriam
necessários para que se processasse tal reconhecimento entre as 94 Grandes
Lojas? Quem viver, verá.
7 B I B L I O G R A F I A
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[1] WALKES,
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[2] GRIMSHAW,
William Henry, Official History of Freemasonry among the Colored People of
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edição apareceu em 1903.
[3] SHERMAN,
John M., The Negro ‘Nacional’ or ‘Compact’ Grand Lodge, in Ars Quatuor
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148.
[4] APTHEKER,
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[5] WESLEY,
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[6]KING,
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[7] GOULD,
Robert Freke., The History of Freemasonry Its Antiquities, Symbols,
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[8]DAVIS,
Harry A. , A History of Freemasonry Among Negroes in America, United Supreme
Council, A. A.S.R., S.J., P.H.A, 1946, p. 29 in WALKES, JR., Joseph A., opus
cit., p.18.
[9] WALKES,
JR., Joseph A., opus cit., p.7.
[10] MACKEY,
Albert G., Jurisprudence of Freemasonry, Macoy Publishing & Masonic Supply
Co., Inc., Richmond, Virginia, 1980, p. 296.
[11] A partir
do final do século XIX os antigos nomes das Grandes Lojas passam a se chamar
Grande Loja Prince Hall de (nome do Estado), com toda a certeza a idéia foi
estimulada pelo livro de Grimshaw que exerceu tremenda influência no mundo maçônico
negro, apesar de conter muitas ficções.
[12] MACKEY,
Albert Gallatin, Enciclopedia de la Francmasonería, vol. II, Editorial
Grijalbo, Mexico, 1981, p.649. Como a tradução espanhola estava confusa optei
por traduzir direto do inglês no livro de WALKES, opus cit. p. 74.
[13] SHERMAN,
John M., The Negro ‘Nacional’ or ‘Compact’ Grand Lodge, in Ars Quatuor
Coronatorum, vol. 92, Anais da Quatuor Coronati Lodge Nº 2076, London, 1979, p.
15
[14] DUNCAN,
Robert Lipscomb, Reluctant General: The Life and Times of Albert Pike, E.P.
Dutton and Co., New York, 1961, p. 16
[15] WALKES,
Joseph A., The Ku Klux Klan and Regular Freemasonry, FPS, pp. 38 in Phylaxis,
vol. VIII, nº 1, 1st Quarter 198
[16] WALKES,
JR., Joseph A., A Prince Hall Masonic Quiz Book, Macoy Publishing & Masonic
Supply Inc., Richmond, Virginia, 1989, p.
84.
17] PROBER,
Kurt, História do Supremo Conselho do Grau 33\ do Brasil,
vol. I/1832 a 1927, Livraria Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1981, p. 184.
18] Comparar o
verbete NEGROS NA MAÇONARIA de Nicolas Aslan no Grande Dicionário Enciclopédico
de Maçonaria e Simbologia, vol.III, Ed. Artenova, Rio de Janeiro, 1974, p. 730
com o verbete NEGRAS LOGIAS, LAS de MACKEY no Enciclopedia de la Francmasonería,
vol.III, Editorial Grijalbo, Mexico, 1981, p.1046.
19] FINDEL,
J.H., Historia General de la Francmasonería in FRAU ABRINES, Lorenzo,
Diccionario Enciclopédico de la Masonería, vol.IV, Editorial del Valle de
Mexico, México, 1976, p.151.
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