Por Maria Manuel Duarte
Escrever
sobre Helena Petrovna Blavatsky é algo que nos transcende. A sua vida, passo a
passo, já foi bem dissecada e estudada pelos seus admiradores, como pelos seus
detratores. Saber quem ela foi na realidade, isso ninguém sabe. Tinha poderes
psíquicos inatos, mas também os tinha concedidos pelos Mestres de Sabedoria,
com a tônica no “seu Mestre” desde criança, que via em sonhos, o Mestre Morya,
e que conheceu pessoalmente, em 1851, na grande exposição do Hyde Park, em
Londres, das últimas invenções da Ciência e tecnologia do mundo inteiro. Essa
exposição, inaugurada pela Rainha Vitória, foi visitada por delegações dos
diferentes países que nela tomaram parte, Blavatsky reconheceu o Mestre na
mostra da Índia e com ele se encontrou, sem nunca divulgar o que ele lhe disse.
Foi a 12 de Agosto (que corresponde a 31 de Julho no calendário russo), dia em
que fazia 20 anos.
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O
Mestre tinha para ela uma missão importante, que exigia toda a cooperação, para
a qual tinha de preparar-se, uma missão para a vida. Iniciou, então, a sua
busca começando por viver três anos no Tibete. Andou por todos os continentes,
muitas vezes vestida de homem, em lugares impensáveis serem visitados por uma
mulher do seu tempo. Principiou por estudar os índios americanos – o Novo
Mundo, futuro lugar de uma nova raça. «Em Atenas», escreveu ela a uma amiga, «no
Egipto, no Eufrates, em todas as partes, procurei a minha pedra filosofal… Vivi
com os dervixes rodopiantes, com os drusos do Monte Líbano, com os árabes
beduínos e com os eremitas de Damasco. Mas não a encontrei em parte alguma!
Aprendi sobre necromancia, astrologia, leitura de cristais e espiritismo e
nada…!» E tudo isto, continuava ela, para iniciar um trabalho que no futuro
iria libertar a humanidade da escravidão mental: «Este trabalho não é meu, mas
daquele que me enviou», dizia, parafraseando o Evangelho de João. É fácil
conhecer todas as suas viagens, estão divulgadas na sua biografia, bem como as
datas marcantes da sua vida nesse maravilhoso livro Helena Blavatsky –
A vida e a influência extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico
Moderno, de Sylvia Cranston.
Esta
é uma breve referência ao seu aprendizado que durou, incansavelmente, até
culminar na fundação da Sociedade Teosófica, a 8 de setembro de 1875, nos
Estados Unidos, na residência de HPB, um grupo de homens e mulheres onde
estavam o Coronel Olcott e William Q. Judge. Oficialmente, a ST foi fundada a
17 de novembro do mesmo ano. A escolha do nome, aceite por unanimidade, vem dos
neoplatónicos e, mais tarde, foi usado pelos cristãos místicos – Theosophy,
Sabedoria Divina, a possuída pelos deuses. Aqui começou a tal “missão” da sua
vida: o início da escrita, da divulgação dos ideais teosóficos por todos os
meios possíveis, sempre sobre a orientação dos Mahatmas ou dos sábios do
Tibete, motivo mais que suficiente para lhe cair em cima a intelectualidade da
época e toda a senha das igrejas cristãs.
Durante
toda a vida, e até principiar a escrever a sua obra maior, a Doutrina
Secreta, em 1885, em Würzburg, na Alemanha, Madame Blavatsky esteve três
vezes gravemente enferma e três vezes foi salva miraculosamente pelo seu
Mestre. Tentou explicar essas curas escrevendo no II Volume da Doutrina
Secreta- Simbolismo Arcaico Universal (edição portuguesa, pág. 266):
«Nós dizemos e reafirmamos que o SOM é uma terrível força oculta; uma força
tremenda, cuja potencialidade menor, quando manejada como conhecimento do
Oculto, não poderia ser detida pela eletricidade gerada por um milhão de
Niágaras. É possível produzir um som de tal natureza, que seria capaz de erguer
nos ares a pirâmide de Quéops, ou de fazer reviver um moribundo,
restituindo-lhe o vigor e a energia, e até um homem que houvesse exalado o seu
último alento. Porque o som engendra, ou melhor, aglutina os elementos que
produzem o ozônio, cuja fabricação transcende a Química normal, mas pertence à
Alquimia. Pode até ressuscitar um homem ou um animal cujo “corpo vital” astral
não esteja ainda irreparavelmente separado do seu corpo físico pela ruptura do
“cordão” ódico ou magnético. Por haver sido salva três vezes da morte, em
virtude daquela força, é natural que se julgue a autora pessoalmente
conhecedora de algo a esse respeito».
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A
escrita da Doutrina Secreta foi, realmente, um trabalho doloroso. Ela própria
descreve o processo à sua companheira dos últimos anos de vida, a Condessa
Constance Wachtmeister: «Produzo algo que só poderia descrever como uma espécie
de vácuo no ar diante de mim e fixo a minha visão e a minha vontade nele e cena
após cena passa diante de mim, como retratos sucessivos projetados num diorama
ou, se necessito de uma informação de algum livro, concentro a mente com força,
a contraparte do livro aparece, e retiro dele aquilo que necessito. Quanto mais
a minha mente estiver livre de distracções e sofrimentos, mais energia e
precisão ela tem e mais facilmente posso fazer a tarefa.» Por vezes, as
citações saíam erradas ou eram de difícil tradução ou compreensão, tornava a
“ver” e “tentar” até o Mestre dizer que estavam certas, num esforço
sobre-humano. Estes livros foram pois ditados e produzidos por ela e pelos
Mestres Morya e Mestre Koot Humi e publicados nos fins do outono de 1889. Num
esforço maior ainda publicou a Chave da Teosofia e A
Voz do Silêncio, em 1889.
Faleceu
a 8 de Maio de 1891 e foi cremada em Inglaterra. No seu testamento, HPB pediu
que, nesse dia, a cada aniversário de sua morte, os seus amigos se juntassem e
em sua memória lessem um texto de A Luz da Ásia de Edwin
Arnold ou do Gita. Para os teosofistas do mundo inteiro, o dia 8 de
Maio é o dia do Lótus Branco porque em Adyar, na Índia, sede da Sociedade
Teosófica, no primeiro aniversário da sua morte os lótus cresceram numa
quantidade fora do comum.
Fonte:www.cerberusmagazine.com
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