Autor:
H. L. Haywood
Tradução:
Luiz Marcelo Viegas
O
que é isso tudo? Essa foi uma pergunta que eu me fiz muitas vezes durante minha
iniciação. É uma pergunta que você, sem dúvida, também fez a si mesmo, e por
ela todos somos moldados até o fim do Terceiro Grau. A linguagem do ritual,
imponente e bonito como ele geralmente é, é para a maioria de nós um discurso
“misterioso”; e as instruções e a ritualística são igualmente confusas para o
neófito. Por isso é que fazemos a pergunta, “O que é isso tudo?”.
Depois
de nos tornarmos familiarizados com o ritual e ter aprendido alguma coisa de
seu significado, descobrimos que a própria Fraternidade, como um todo, e não
apenas uma parte ou detalhe mais misterioso, é algo quase demasiado complexo
para se entender. Com o passar do tempo o maçom fica tão acostumado com o
ambiente da Loja que ele se esquece de sua primeira sensação de estranheza, mas
mesmo assim ele ouve de tempos em tempos coisas sobre antiguidade, a
universalidade e a profundidade da Maçonaria; ouve conversas sobre o seu lugar
na história e no mundo, e isso o faz sentir que, apesar de toda sua
familiaridade com a Loja, ele pouco sabe sobre a Fraternidade Maçônica na sua
totalidade.
O
que é a Maçonaria? O que é que está tentando fazer? Como veio a ser? Quais são
os seus ensinamentos centrais e permanentes? É para responder a estas perguntas
— e essas perguntas passam pela mente de quase todos os Maçons, porém ele pode
ficar indiferente a elas — que a filosofia da Maçonaria existe. Para entender
“O que é isso tudo”, no seu conjunto, e não em partes, devemos aprender sobre a
filosofia de nossos mistérios.
O
indivíduo que ingressa na Maçonaria torna-se herdeiro de uma rica tradição; a
iniciação que lhe permite o acesso aos mistérios não é algo que o capacitará em
um dia, e ele vai aprender pouco se nenhuma tentativa fizer de se aprofundar em
seus ensinamentos. Ele deve aprender um pouco da história da Maçonaria; de suas
realizações nas grandes nações; dos seus professores excelentes, e o que eles
têm ensinado; de suas ideias, princípios, espírito.
A
Iniciação por si só não confere esse conhecimento (e não poderia): o próprio
iniciado deve se esforçar para compreender as riquezas inesgotáveis da Ordem.
Ele deve descobrir os propósitos maiores da Fraternidade a que pertence.
Não
há uma interpretação pronta para o que é Maçonaria. O irmão recém-iniciado não
encontra à sua espera um ritual leia-e-aprenda. Ele deve pensar o que é a
Maçonaria por si mesmo. Mas pensar o que é Maçonaria por si mesmo não é tarefa
fácil. Isso requer que o neófito a veja por suas próprias perspectivas; que se
conheçam os principais contornos da sua história; que se saiba como ela
realmente é, e o que está fazendo; e entender como ela foi entendida pelos seus
próprios pelos seus membros em seus primórdios. Não é fácil de fazer isso sem orientação
e ajuda, e é para dar esta orientação e ajuda que esta série foi escrita.
Há
ainda outra razão para o estudo da filosofia, ou, como nós aqui preferimos
dizer, os ensinamentos da Maçonaria. Nossa Fraternidade é uma organização
mundial com Grandes Lojas praticamente em todas as nações. Para sustentar,
gerenciar e promover tal sociedade custa ao mundo somas incalculáveis de
dinheiro e esforço humano. Como pode a Maçonaria justificar sua existência? O
que fazer para reembolsar o mundo com seus próprios recursos? De uma forma ou
de outra, essas perguntas são feitas a quase todos os membros, e cada membro
deve estar pronto para dar uma resposta verdadeira e adequada. Mas para dar tal
resposta exige-se que ele tenha entendido os grandes princípios e estar familiarizado
com os contornos das realizações do Craft, e isso novamente é um dos propósitos
do nosso filosofar sobre a Maçonaria.
Como
podemos chegar a uma filosofia da Maçonaria? Como podemos aprender a
interpretação autêntica dos ensinamentos da Maçonaria? Qual é o método pelo
qual aquele que não é nem um estudioso geral, nem um especialista maçônico pode
ganhar alguma compreensão abrangente da Maçonaria como foi dito nos parágrafos
anteriores? Em suma, como pode um homem “chegar a ela”?
Uma
forma de “chegar a ela” é ler uma ou duas boas histórias maçônicas. Não há
necessidade de entrar em detalhes ou ler sobre as várias questões colaterais de
interesse meramente histórico; isso é para o estudante profissional. Essa
leitura e apenas para obter a tendência geral da história e para capturar os
eventos pendentes; para saber o que a Maçonaria tem realmente realizado no
mundo e receber um insightsobre seus propósitos e princípios; para, como
qualquer outra organização, ver revelado seu espírito através de suas ações. A
partir de um conhecimento do que a Ordem tem sido e o que ela fez no passado
pode-se facilmente compreender a sua própria natureza presente e princípios, e
entender porque Maçonaria nunca teve necessidade de romper com o seu próprio
passado! A Maçonaria de hoje não nega a Maçonaria de ontem. Seu caráter resulta
claramente da sua própria história como uma montanha se destaca acima de uma
névoa; e que sempre tem sido, pelo menos em um grande caminho – é agora, e sem
dúvida sempre será.
Esta
mesma história constrói-se incessantemente, sempre renovando e formando-se.
Acontece no dia-a-dia, e o processo mantém-se aberto a todos, pois, afinal de
contas, não há muito que se esconder sobre a vida rica e incansável da
Fraternidade; na verdade, esta vida está constantemente revelando-se em todos
os lugares. Grandes Lojas publicam seus Anais; homens que exercem as funções
ativas de escritórios maçônicos fazem relatórios dos seus funcionamentos;
estudiosos do Craft escreverem artigos e publicam livros; Oradores maçônicos
entregar incontáveis discursos; conferências maçônicas especiais, qualquer que
seja a sua natureza, publicam os temas discutidos; a maioria dos eventos mais
importantes está presente nos jornais diários; há dezenas e dezenas de jornais
maçônicos, boletins e jornais, semanais, mensais e bimestrais, e há muitas
bibliotecas, clubes de estudo e de sociedades científicas em todos os lugares
se esforçando com zelo incansável para tornar claro aos membros e profanos “o
que é tudo isso.” Assim, verifica-se que para aprender isso por si mesmo não é
necessário que uma definição de Maçonaria ouvida por um irmão seja o fim da
linha; ele pode (e deve) pesquisar sobre o tema, ouvir outros irmãos, e ler um
pouco, e, assim, formar suas próprias conclusões. Para saber quais são esses
ensinamentos não é necessário nenhum talento raro, nenhum “conhecimento
interno”, mas apenas um pouco de esforço, um pouco de tempo.
Para
o neófito do mundo maçônico parece muito confuso, é tudo tão multifacetado, tão
longínquo, tão misterioso; mas isso, afinal de contas, não precisa assustá-lo e
impedi-lo de uma tentativa de entender esse mundo com uma visão abrangente, e
perceber que toda a Maçonaria gira em torno de algumas grandes ideias.
Compreender essas ideias por sua vez, é o que torna mais familiar para um Maçom
palavras tais como “Fraternidade”, “Igualdade”, “Tolerância”, etc., etc., de
modo que o mais jovem Aprendiz não precisa ter nenhuma dificuldade no seu
entendimento. Se ele chegar a elas, e se ele aprende a compreendê-las como
maçons devem entendê-las, elas vão ajudá-lo muito para conquistar essa visão
abrangente e inclusive do que chamamos de filosofia da Maçonaria.
Nada
foi dito ainda dos grandes mestres da Maçonaria. No passado havia Anderson,
Oliver, Preston, Hutchinson, etc .; depois vieram os filósofos da meia-idade,
Pyke, Krause, Mackey, Drummond, Parvin, Gould, Speth, Crawley, e outros; e em
nossos dias Waite, Pound, Newton, etc., etc. Nas obras desses homens as grandes
e simples ideias da Maçonaria se tornaram luminosas e inteligíveis, de modo que
podemos ler e compreender o que dizem.
Além
disso, o maçom deve estudar as leituras e instruções incorporadas ao ritual de
todos os ritos e graus, sendo estes instrumentos interpretativos uma parte do
próprio Craft. Nenhum deles é infalível – mas mesmo quando se afastam do
significado original de nossos símbolos são sempre valiosos em revelar as
ideias e os ideais das pessoas de que se originaram e que deles fizeram uso.
Isto
é para mostrar por que devemos nos esforçar para fazer da nossa própria mente
uma filosofia da Maçonaria, e de quantas maneiras pode-se chegar a essa
filosofia. Mas cuidado. O estudo da filosofia da Maçonaria não é o estudo da
filosofia maçônica; o estudante maçônico como tal, pode vir a ter pouco
interesse em Platão e Aristóteles, no neoplatonismo, misticismo, Escolástica,
racionalismo, idealismo, pragmatismo, Naturalismo, etc. Na Maçonaria há sinais
de cada um desses e de outros sistemas filosóficos principais, sem dúvida, mas
não existe essa coisa de filosofia maçônica, da mesma forma que não existe
religião maçônica. Falamos de uma filosofia da Maçonaria no mesmo sentido que
falamos de uma filosofia de governo, ou da indústria, ou arte, ou ciência.
Queremos dizer que se estuda a Maçonaria, da mesma forma ampla, esclarecida,
inclusiva e crítica, da mesma forma em que um economista estuda a política de
um governo ou um astrônomo estuda as estrelas.
Seria
uma coisa abençoada se um maior número de nossos membros deixasse de lado os
assuntos administrativos e, muitas vezes mesquinhos de sua própria Loja, a fim
de olhar com mais frequência para esses princípios profundos e sábios que estão
para nossa Fraternidade assim como as leis da natureza estão para o universo.
Fonte: http://www.deldebbio.com.br/
1 Comentários
Meu caro amigo: - Acabei de ler todo o texto que o senhor escreveu, e quero lhe parabenizar por deixar tudo bem mais claro com suas sábias palavras. Eu, infelizmente, ainda não consegui adentrar nas fileiras da Fraternidade. Mas já me sinto feliz em poder tido a oportunidade de aprender um pouquinho com sua ajuda . PAZPROFUNDA .'.
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