Da
Agência Brasil
Jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975 pela ditadura militar | Divulgação |
A
morte do jornalista Vladimir Herzog completa 40 anos neste domingo (25). Ele
era diretor do telejornal “Hora da Notícia”, veiculado pela TV Cultura de São
Paulo. Segundo foi reconhecido depois, Vlado foi morto sob tortura pelos
militares após ser detido nas dependências do Destacamento de Operação de
Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOPS/SP) . Ele deixou
viúva a esposa Clarice, com os dois filhos do casal, Ivo, na época com 9 anos,
e André, com 7.
A
comoção causada pela morte do jornalista reaglutinou diversos setores da
sociedade e provocou a primeira reação popular contra os excessos do regime
militar. Por esse motivo, a data de morte foi escolhida para celebrar a
democracia no país, sendo considerada o “Dia da Democracia”.
Um
marco desse processo foi o ato ecumênico realizado na Catedral da Sé. Realizado
cerca de uma semana após a morte de Herzog, o ato, que teve a presença do rabino Henry Sobel e do
arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, reuniu milhares de pessoas para
homenagear o jornalista, em um protesto silencioso contra o regime.
Circunstâncias da morte
Divulgada
como suicídio em comunicado do II Exército na época, com a utilização de uma
foto forjada, a versão das circustância em que Valdo morreu – também mantida pelo Inquérito Policial
Militar (IPM) realizado naquele ano – foi desmontada ao longo dos anos. Com uma
ação declaratória realizada no ano seguinte, Clarice Herzog conseguiu, em
outubro de 1978, a condenação da União pela prisão arbitrária, tortura e morte
de Vladimir.
Em
2013, como parte dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a família
conseguiu a retificação do atestado de óbito onde consta que a morte do
jornalista se deu em função de “lesões e maus tratos sofridos durante os
interrogatórios em dependência do II Exército (DOI-CODI)”.
O
relatório final da comissão aponta “não existir mais qualquer dúvida acerca das
circunstâncias de Vladimir Herzog, detido ilegalmente, torturado e assassinado
por agentes do Estado nas dependências do DOI-CODI do II Exército, em São
Paulo, em outubro de 1975”.
Em
setembro de 2014, a equipe de peritos da comissão concluiu laudo pericial
indireto sobre a morte do jornalista, que constatou a evidência de duas marcas distintas na região
cervical, determinante para os peritos afirmarem o seguinte: “Vladimir Herzog
foi inicialmente estrangulado, provavelmente com a cinta citada pelo perito
criminal e, em ato contínuo, foi montado um sistema de forca uma das
extremidades foi fixada a grade metálica de proteção da janela e, a outra,
envolvida ao redor do pescoço de Vladimir Herzog, por meio de uma laçada móvel.
Após, o corpo foi colocado em suspensão incompleta de forma a simular um
enforcamento”.
Segundo
o relatório da Comissão da Verdade, Vlado foi morto pela “Operação Radar”, que
tinha o objetivo de localizar e desarticular a infraestrutura do Partido
Comunista do Brasil (PCB) em todo o território nacional e foi responsável pela
morte de 20 militantes do partido entre 1974 e 1976, 11 deles ainda
desaparecidos.
Prisão
Vladimir
Herzog, então diretor do telejornal Hora da Notícia, foi procurado por agentes
da repressão em casa e no trabalho no dia 24 de outubro de 1975. Preocupada com
a estranha visita, a esposa Clarice se dirigiu à TV Cultura onde Herzog
acompanhava o fechamento e veiculação do telejornal que dirigia. Dois agentes o
esperavam do lado de fora. Com intervenção de colegas e da direção da TV
Cultura, Herzog não foi levado naquele dia e se prontificou a se apresentar na
manhã seguinte aos militares na rua Thomás Carvalhal, 1030, sede do DOI. No dia
25, ele se apresentou conforme o combinado e ficou detido para interrogatórios,
de onde não saiu com vida.
Antes
do conhecimento da morte, os colegas de Vlado souberam da detenção por meio de
uma nota do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, então presidido
pelo alagoano Audálio Dantas. Além de anunciar a prisão de Vlado, a nota
publicada no dia 26 em alguns jornais trazia o nome de mais 10 jornalistas que
estavam em poder dos militares, todos presos naquele mês. Em uma reportagem
completa sobre o caso publicada um mês depois no Jornal Ex, Mylon Severiano,
Narciso Kalili e Palmério Dória, editores do veículo e colegas de Herzog
traçaram a seguinte descrição sobre ele.
“O
Vlado chegava sempre no meio da tarde, aí pelas 4 e meia. Naquela época ele era
uma espécie de secretário do telejornal. Era de chegar trabalhando: pegava a
pauta, lia imediatamente com uma atitude muito sua, a de coçar alguns cabelos
do alto da cabeça, de pé, e o papel na outra mão. Sua função era editar e botar
no ar o telejornal que nós fazíamos, com uma equipe de mais de 20 pessoas. Ou
seja, às 21 horas em ponto, com script na mão, ele acompanhava da técnica os 30
minutos de “Hora da Notícia”, como um responsável e representante da redação,
ali na hora, no estúdio”.
No
dia seguinte chegava a nota oficial do II Exército, informando a morte do
jornalista e apontando que ele teria se suicidado. O primeiro questionamento a
essa versão partiu do sindicato em São Paulo. Além de informar que Vlado tinha
sido procurado por agentes de segurança no dia 24 por volta das 21h30 e se
apresentado espontaneamente no dia seguinte, a nota apontava a responsabilidade
dos agentes pela morte de Vlado e questionava o modo arbitrário pelo qual
ocorriam as prisões de jornalistas.
“Não
obstante as informações oficiais fornecidas pelo II Exército, em nota
distribuída à imprensa, o Sindicato dos Jornalistas deseja notar que, perante a
lei, a autoridade é sempre responsável pela integridade física das pessoas que
coloca sob sua guarda. O Sindicato dos Jornalistas, que ainda aguarda
esclarecimentos necessários e completos, denuncia e reclama das autoridades um
fim a esta situação em que jornalistas profissionais, no pleno, claro e público
exercício de sua profissão, cidadãos com trabalho regular e residência
conhecida, permanecem sujeitos ao arbítrio dos orgãos de Segurança, que os
levam de suas casas, ou de seus locais de trabalho, sempre a pretexto de que
irão apenas prestar depoimento, e os mantém presos, incomunicáveis, sem
assistência da família e jurídica, por vários dias e até por várias semanas em
flagrante desrespeito à lei”.
Vida de Herzog
Vlado
Herzog nasceu em Osijek na Iugoslávia em 27 de junho de 1937 e se mudou para o
Brasil com a família para fugir da perseguição aos judeus durante a Segunda
Guerra Mundial. Naturalizado brasileiro, mudou seu nome para Vladimir.
Vlado
se formou em Filosofia pela Universidade de São Paulo em 1959 e, desde então,
exerceu a atividade jornalística em diferentes veículos de imprensa e também no
cinema. Ele iniciou a carreira jornalística como repórter do jornal O Estado e
S. Paulo e participou do grupo responsável pela instalação da sucursal de
Brasília do jornal. Em 1962, conheceu a estudante de ciências sociais Clarice
Chaves, com quem iria se casar em fevereiro de 1964, cerca de dois meses do
golpe militar.
Em
1963, filmou no Rio de Janeiro o documentário “Marimbás” , primeiro filme
brasileiro a utilizar som direto. Em 1965, gerenciou a produção do curta-metragem “Subterrâneos do
Futebol” (1965), de Maurice Capovilla; e o início do roteiro do filme
“Doramundo”, que só viria a ser filmado depois da morte dele por João Batista
de Andrade. O mesmo cineasta homenageou Vlado com um documentário 30 anos
depois.
Entre
as primeiras consequências do regime militar na vida do casal, está a ida para
Londres em 1965 onde Vlado foi contratado pela BBC. Na Inglaterra, nasceram os
filhos do casal, Ivo e André. Ele voltou ao Brasil em 1968 e passou a atuar
como editor da revista Visão. Em 1972, trabalhou pela primeira vez na TV
Cultura.
FONTE:
SUL 21
2 Comentários
Para que exista ditadura, é necessário e imprescindível haver ditador. O Brasil só teve um ditador, no meu entender e de alguns semi-ignorantes como eu, não reconhecido nos compêndios de história. Se vc. não perguntar, QUEM?, é por que sabe quem foi.
ResponderExcluirToda ditadura é uma bosta. O ser humano é livre por desígnio de DEUS. Toda pessoa que aplaude ditadura militar nada mais é do que um ser que tem dentro de si um ditador e quer que esse ditador se torne coletivo.
ResponderExcluir