Por Ir.'. João Anatalino
A
ideia de que Deus é pura luz e o que o espírito humano é feito de luz é uma
intuição bastante antiga que já existia nos tempos mais primitivos da
civilização humana. Os persas e os hindus, em tempos anteriores a Zaratrusta
(século XII a.C), já possuíam uma noção bastante avançada desse conceito, pois
sustentavam a existência de dois princípios a reger a vida no universo. Esses
princípios eram a luz, representada pelo deus Marduc (Ahura Mazda) e as trevas,
representada pelo deus Arimã. Paralelamente, numa tradição que tem,
provavelmente, a mesma idade que a tradição religiosa persa, os egípcios,
também desenvolveram uma teogonia com base num conceito similar, que colocava o
deus Rá, simbolizado pelo sol, como a divindade suprema do seu panteão, a quem
estavam submissas todas as outras deidades.[1]
Os
povos da Mesopotâmea também colocavam um fenômeno luminoso, representado pelo
sol, como princípio gerador de todo o universo. Destarte, todos seus deuses
tinham vindo do espaço, sendo Shamash aquele que representava o sol. A própria
ação civilizadora da humanidade teria sido, conforme as antigas crenças sumrrias,
uma realização desses deuses austronautas, que á terra teriam baixado em uma
expedição de exploração, e aqui deram início á uma colonização.[2]
Assim,
praticamente, a maioria dos povos antigos praticavam religiões solares, onde o
astro-rei aparece como origem e mantenedor da vida. Essa cultura religiosa
floresceu também entre os primitivos habitantes das Américas, ganhando destaque
entre os astecas, maias e incas, os quais, com poucas variações, desenvolveram
religiões solares que ainda hoje, mesmo cristianizados, os habitantes das
regiões onde essas civilizações floresceram, ainda conservam alguns mitos.
A
influência do mito solar, entretanto, era tão forte entre os antigos, que nem
os israelitas, povo inovador em termos de religião escapou dela. Embora os
israelitas tenham sintetizado os atributos da Divindade num conceito abstrato,
lançando a ideia de um Deus espírito que
não podia ser representado por nenhuma forma que a mente humana pudesse
imaginar, eles no entanto, não conseguiram fugir da noção de que Deus é, em
essência, uma forma de energia que se manifesta em forma de luz. Assim, o
primeiro ato de Deus, ao fazer o mundo, segundo a Bíblia, foi “libertar a luz”.
Pois conforme diz o texto sagrado, o primeiro comando divino ao criar o mundo
foi “ Haja luz.”[3]
E
mais tarde, quando quis se manifestar a um ser humano, Ele o fez na forma de
uma chama, ou seja, uma forma luminosa, uma sarça ardente, que entretanto não
se queimava.[4]
Ora,
o que é “libertar a luz?” Certamente não é fabricar a luz, pois fabricar sugere
uma ação de transformação de uma matéria prima em produto. A Bíblia diz que
Deus “tirou” a luz de dentro das trevas e com ela fez o dia e com a escuridão
fez a noite. Grandiosa metáfora essa. Pois o dia corresponde á realidade
observável, ao universo real, ao chamado mundo manifesto. Isso pressupõe que o
universo, tal como o vemos, é feito de luz.
“Deus (disse o rabino Schimeon Ben-Jochai, o
codificador da Cabala, em comentário feito sobre a Siprha Dizeniûta, o Livro do
Mistério Oculto, a bíblia cabalística), quando quis criar o universo, velou sua
glória e nas pregas desse véu projetou sua sombra. Dessa sombra se destacaram
os gigantes que disseram: ─Somos reis ! Mas eles não eram mais que fantasmas Eles apareceram porque Deus havia se
ocultado, iniciando a noite dentro do caos, e desapareceram quando Ele dirigiu
para o oriente a cabeça luminosa, a cabeça que a humanidade assume proclamando
a existência de Deus, o sol regulador de nossas aspirações e pensamentos. Os
deuses são ilusões óticas da sombra e Deus é a síntese dos esplendores. Os
usurpadores caem quando o rei ascende ao seu trono e quando Deus aparece os
deuses se desvanecem.”[5]
Corroborando
essa visão os cientistas dizem que o universo saiu de dentro de um átomo que
explodiu. Nem a Bíblia nem a ciência dizem o que havia antes disso e o que era
Deus antes de fazer o universo. Mas para algo sair de dentro de alguma coisa é
preciso que esse algo tenha uma existência anterior ao próprio parto. Não pode
simplesmente “nascer” algo que não tem existência anterior ao nascimento, sendo
o nascimento apenas o ingresso de alguma coisa na esfera da existência
positiva.
Nascer
é uma etapa posterior a gerar. Só pode nascer algo que foi gerado. Por isso o mestre
cabalista diz que “Deus, quando quis criar o universo, velou sua glória e nas
pregas desse véu projetou sua sombra”. Isso quer dizer: Deus existia antes
mesmo de sua criação. Ele era a luz presa dentro da própria sombra, a energia
contida no corpo celeste que originou o big-bang.
“Dessa
sombra se destacaram os gigantes que disseram: ─ Somos reis ! Mas não eram mais
que fantasmas”, diz o mestre cabalista.[6]
Ele
se refere aqui ás leis naturais, que se manifestaram no abismo sombrio, mobilizando
a imobilidade, para que a energia liberada pela manifestação da divindade se
transformasse em ato criador. Por isso, esse iminente mestre, ao responder à
pergunta de um discípulo sobre o que era Deus, ele disse simplesmente:
"Deus é pressão".
Nessa
mesma linha de pensamento, o mestre cabalista diz: “ Eles (as leis naturais, os
reis), apareceram porque Deus havia se ocultado, iniciando a noite dentro do
caos, e desapareceram quando Ele dirigiu para o oriente a cabeça luminosa, a
cabeça que a humanidade assume proclamando a existência de Deus, o sol
regulador de nossas aspirações e pensamentos.”[7]
Isso
quer dizer que as leis naturais existem e regulam a vida do universo enquanto
Deus não interfere nelas. Elas foram necessárias para regular o caos liberado
com a manifestação de Deus (a energia) no terreno da existência positiva. De um
modo geral os cientistas concordam que o universo nasceu caótico e
descontrolado. No início era como a energia de uma bomba que explode e expele a
sua força destruidora para todos os lados. Mas quando o universo começa a ser
organizado, quando a energia começa a se transformar em massa, gerando os
grandes corpos celestes e os sistemas siderais, todas as leis naturais passam a
obedecer a um comando único: a gravidade, que é a força da energia existente em
cada corpo, controlando os movimentos dos demais corpos com menor grau de
energia (luz). Então estrelas se juntam em galáxias, e os planetas se aglomeram
em volta de estrelas. É a prevalência da
luz maior sobre a menor, a energia mais forte sobre a mais fraca. Nasce daí o simbolismo da deidade máxima,
simbolizada pelo sol, que os antigos cultuavam.
E
nasce daí a funcionalidade do pensamento humano, cuja função é produzir
fenômeno semelhante. Pois que essa função é justamente dar ordem ao caos,
identificando e catalogando todas as realidades que saem do útero cósmico. Por
isso a função da mente do homem: conhecer. Essa, precisamente, a ideia de Jesus
quando diz aos seus discípulos “ porque todo aquele que faz o mal aborrece a
luz e não se chega á luz para que não se vejam as suas obras; mas aquele que
pratica a verdade chega-se para a luz a fim de que suas obras sejam manifestas;
porque são feitas segundo Deus.” [8]
Então
conclui o mestre: “Os deuses são ilusões óticas da sombra e Deus é a síntese
dos esplendores”. Os usurpadores caem quando o rei ascende ao seu trono e
quando Deus aparece os deuses se desvanecem.”[9]
Quer
dizer: nada ofusca o brilho de Deus. Não há poder no universo que não seja dado
pelo brilho da sua luz. E como ele é pura luz, a ele só nos integraremos quando
nós mesmos também formos luz purificada.
Essa
é razão pela qual toda disciplina iniciática busca, simbolicamente, levar o
candidato a um estado em que ele possa, livremente, liberar a própria luz que
nele está contida. Aquela " luz
interdita” contida, presa na matéria pela condição de pro- fano em que ele se
encontra.[10]
Dai
as perguntas contidas no Ritual de Iniciação maçônica que se refere ao
"temerário que tem o arrojo de querer forçar a entrada no Templo" e a
consequente resposta que diz tratar-se de "um pobre candidato que caminha
nas trevas e, despojado de todas as vaidades, deseja receber a Luz".
E
por fim, a apoteose final da iniciação, que revela o cerne do simbolismo
contido nesse verdadeiro culto á luz, que a Maçonaria conservou como sua
primeira e fundamental proposta iniciática.
●
●
●No princípio do mundo, disse o
Gr.’.Arq .’. do Univ.’.:
─
Faça-se a luz,
─
A Luz feita.
─
A Luz seja dada ao Neófito.
[1]
Teogonia é a doutrina mística que explica o nascimento do universo através da
ação dos deuses.
[2]
Essa tese é defendida pelo arqueólogo
soviético Zecharia Sitchin (1920─ 2010) o qual atribui o desenvolvimento
da antiga cultura suméria aos "anunnaki" (ou "nefilim"
conforme os chama a Bíblia). Essa teria sido uma raça extraterrestre oriunda de
um planeta chamado Nibiru, que existia nos confins do Sistema Solar e por isso
ainda não teria sido descoberto pelos nossos cientistas. Ele baseia suas
especulações na tradução que fez dos textos sumérios antigos, encontrados na
famosa biblioteca de Assurbanipal. Registre-se que os antigos reis sumérios
chamavam a si mesmos de anunnakis, e que o famoso Código de Hamurabi, conhecido
como o primeiro código de leis da humanidade foi promulgado pelo rei “anunnaki”
Hamurabi. Ver, a esse respeito sua obra O Décimo Segundo Planeta- Vol. I
-Madras, 2013
[3]
Gênesis, 1:3
[4]
Êxodo, 3:2
[5]
Citado por Eliphas Lévi, em sua obra As Origens da Cabala -Editora Pensamento,
São Paulo, 1968.
[6]
Idem, Eliphas Lévi, As Origens da Cabala -Editora Pensamento, São Paulo, 1968.
[7]
Eliphas Levi, op citado.
[8]
João, 3:20
[9]
Ibidem, op. Citado.
[10]
A expressão “luz interdita” se refere ao fenômeno luminoso que é associado á
uma partícula atômica de alta radiação.
Fonte: Recanto das Letras
2 Comentários
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNão há como não fazer alguns comentários ao presente texto do irmão João Anatalino.
ResponderExcluirA primeira dela é que os deuses eram astronautas. Seriam?
Ele assim afirma em sua oração. SIC: “... conforme as antigas crenças sumrrias (acredito ser CRENÇAS SUMÉRIAS), uma realização desses deuses astronautas, que á terra teriam baixado em uma expedição de exploração, e aqui deram início á uma colonização”.
Está me parecendo mais com coisas das ideias de Eric Von Daniken. Que todos os deuses antigos eram astronautas. Não afirmo que sejam irrelevantes as ideias de Eric Von Daniken, mas torna-se fora de contexto quando se quer fazer análises de coisas religiosas agregadas a Cabala, quiçá as antigas religiões.
Por outra, discordo que o povo judeu tenha sido inovador em matérias de religiões. Se formos analisar bem e fielmente, ela a religião judaica ou o Torá guarda enormes semelhanças de fatos, imagens, e narrativas elaboradas em diversas religiões dos povos daquela região. Povos bem mais antigos. A interferência, ou inferências de outras religiões deixa de se uma coisa causal, fortuito, para ser algo deliberado, pois ninguém vive quatrocentos anos sob o jugo de alguém, sem quer lhe seja atribuído algo. Caso dos judeus que viveram como povo escravo dos Egípcios.
Quanto a Cabala, que hoje são estudadas e aplicadas (simbologias) as coisas da maçonaria, perdeu-se no tempo e no espaço, quando passou a ser cristianizada.
EfeGueiros...