Por Ir.'. José Eduardo Stama (*)
Entramos
para a Maçonaria como recebedores e devemos nos transformar em doadores e
transformadores. Até hoje, as informações que temos estudado sobre nossa
instituição são históricas, relevantes, evidentes, simbólicas e devidamente
estudadas e preservadas, mas… Sentimos a falta de um elo, de uma evidência
maior para preencher determinadas lacunas obscuras, difusas e mal explicadas.
A
Ordem tem preservado uma representação simbólica em todos seus componentes
ocultando uma verdade, mostrando apenas a forma visível e externa de uma
realidade interior e espiritual. Estamos ainda numa época em que todos ainda
necessitamos e aprendemos através do processo cerimonial precisando de uma
autoridade investida, e nos insurgimos contra qualquer liberdade e independência
fora dos padrões que elegemos e nos impusemos. Enaltecemos a liberdade de
consciência que é a única que os maçons admitem, aceitam e divulgam, mas nos
atemorizamos quando nos deparamos com outras verdades que não se enquadram com
nossa própria estratificação (2) ou modo de pensar (3).
Disse
o Senhor Buda… Que não devemos crer em algo meramente porque seja dito; nem em
tradições porque vem sendo transmitidas desde a antiguidade; nem em rumores;
nem em textos de filósofos porque foram estes que os escreveram; nem em ilusões
supostamente inspiradas em nós por um Deva (isto é, através de presumível
inspiração espiritual); nem em ilações obtidas de alguma suposição vaga e
casual; nem porque pareça ser uma necessidade análoga; nem devemos crer na mera
autoridade de nossos instrutores ou mestres. Entretanto, devemos crer, quando o
texto, a doutrina, ou os aforismos forem corroborados pela nossa própria razão
e consciência. “Por isto” disse o Buda ao concluir, “vos ensinei a não crerdes
meramente porque ouvistes falar, mas, quando houverdes crido de vossa própria
consciência, então devereis agir de conformidade e intensamente.” (4)
Os
mais atentos poderão verificar que existem similitudes de idéias e conceitos
nos textos de seus autores preferidos atuais ou antigos, pensadores, filósofos,
cristãos, cientistas e tantos quantos puderem relacionar; são idéias e
conceitos expostos com outra linguagem ou formas de expressão, pois, os
períodos são marcados pelos viajantes de sua própria época de conformidade com a
dinâmica da vida de seu tempo histórico.
Estamos
presenciando nesta época conturbada o esfacelamento das estruturas que
mantiveram a Humanidade num equilíbrio social e de comportamento desejável (5).
Todos os esforços despendidos para promover o ser humano em seus
relacionamentos estão sendo transformados e alterados de forma irreversível
sendo parte de um processo evolutivo que independe de nossas vontades, e deste
modo, aceitando ou simplesmente compreendendo, há necessidade de adaptação,
transformação ou pelo menos compreensão.
A
cada geração, aspectos essenciais são preservados e ao mesmo tempo enriquecidos
com outras formas que tomam o lugar das formas desgastadas pelo avanço
civilizatório. Esse processo evolutivo é firmado sobre alicerces que foram sedimentados
através do tempo e sobre eles, sempre atendendo temporariamente às aspirações
da vida interior (espiritual) que é dinâmica, incessante e anseia expandir.
Nossa
instituição proporciona um “despertar” para a vida interior através dos
procedimentos em todo processo da admissão, desde o convite ao profano (6) até
seu ingresso. É uma experiência subliminar (7) que estimula uma expansão da
consciência provocando e revelando degraus de possibilidades evolutivas. Toda a
dinâmica trabalhada nesse processo de iniciação tende a centrar para esse
despertar (8). Todos nós independente de nossa origem, berço ou formação,
enfrentou no mais íntimo de seu ser, aquela “crise existencial” em que nos
perguntamos “quem sou eu?”, “o que é a vida?”, “de onde viemos, para onde
vamos?”, “qual minha tarefa para essa existência?”. O trabalho maçônico e sua
dinâmica possibilitam a resposta a essas reflexões ao longo do tempo, mas não é
tudo. Ela revela-se como um agente transmissor de valores elevados e
compreensão espiritual, proporcionados pelo aumento das percepções sensoriais
ativadas pela vivência e dinâmica da ação ritualística, podendo resultar no
recebimento de impressões superiores tornando a mente um instrumento receptivo
e transmissor de valores elevados e ampla compreensão espiritual.
Toda
existência de qualquer ser humano (e todos os outros seres da natureza,
“animados ou inanimados”) tem um termo onde sua existência manifesta termina,
havendo uma decomposição material e transformação em seus elementos básicos, mas
a força ou energia de coesão desses elementos não se perde se transforma. No
Universo que conhecemos há uma causa ativa que podemos chamar força ou energia
que provoca uma manifestação, a existência dessa manifestação e o seu
afastamento. Essa manifestação toma uma forma, entra em atividade e tem uma
função apresentando um determinismo próprio que é necessário compreender e está
em constante evolução.
Foi
em Londres que IIr.’. premidos pela necessidade de se adequar ao espírito da
época procurando escapar dos estreitos (9) padrões mentais até então vigentes
(séc. XVII), que em 24 de junho de 1717 a Maçonaria passa de operativa para
especulativa fundando-se a Grande Loja de Franco-Maçonaria dando-se uma
estrutura escrita e unificada procurando estabelecer uma unidade formal e
controlada. Isso não quer dizer que a Maçonaria passa a existir a partir dessa
data, organizou-se como instituição a partir desse período, mas suas origens
remontam a um passado distante onde são encontrados símbolos e sinais no Egito
antigo e princípios morais e espirituais em todas as civilizações da
antiguidade. Ofuscou-se em parte a mais bela e atrativa idéia de uma Maçonaria
livre em uma Loja livre, pois, a necessidade de controle foi se sobrepondo aos
méritos pessoais dos cidadãos livres e de bons costumes, dificultando em nossa
ótica, uma atuação autônoma e independente de Lojas e IIr (10)
Mas,
o que queriam registrar em nossos templos através de toda simbologia nossos
antepassados maçônicos? Após o ingresso, o que nos motiva verdadeiramente em
continuar participando dos trabalhos? Qual nossa aspiração em ascendermos os
vários graus? Desejo de servir à humanidade, devoção aos trabalhos
ritualísticos, oportunidade de lapidar nossos conceitos morais, expandir nossa
consciência, aculturação (11), convívio social e político, alimentar um status
relevante? Por que preservar? O que nos atrai?
Nossos
estudos estão ancorados no conteúdo histórico maçônico que está à disposição
através da bibliografia oferecida pelos diversos ritos; em toda dinâmica
proporcionada pelo rito que provoca uma mudança no comportamento estimulando
nosso caráter na sociedade; e nos conceitos inseridos no ritualismo que
estimulam a reflexão sobre a espiritualidade. Atualmente com o recurso da
tecnologia da informática e das novas conquistas da ciência estamos mais
amparados com informações sobre qualquer tema, pois, estamos perfeitamente
habilitados a desenvolver e compreender a história, aprimorar nosso caráter,
desenvolver nossa espiritualidade sem precisarmos freqüentar e nos submeter a
uma autoridade constituída como a Ordem ou a qualquer instituição, propiciando
a apreciação pessoal da realidade. Por todo esse processo (se for só isso) não
precisamos freqüentar as oficinas, pois, somos capazes de compreender e
aprofundar os estudos referentes à Maçonaria sem os chamados “segredos” que
(sob nosso ponto de vista) nada mais são (nesta atualidade) do que conteúdos que
convergem para um aprimoramento do caráter. Também muito falamos em “escola de
líderes”, mas muitos que aqui adentram possuem o embrião da liderança, pois
tomam atitudes políticas em seu ambiente profissional e social sem se
revelarem. Mas, não haveria algo mais inserido nessa dinâmica, nesse conjunto
de fatores, que foi incluído no passado e que ainda não conseguimos visualizar
ou compreender?
Podemos
afirmar que o trabalho ritualístico da Ordem Maçônica, isto é, a prática dos
rituais que se repetem é o símbolo da dinâmica das formas e funcionamento do
Universo (sistema e ordem) e se referem ao homem por ser este uma consciência
que pode compreender e assimilar o mundo objetivo e que não está manifesto por
acaso. Revitaliza nossa vida espiritual, pois, proporciona uma diretriz para o
comportamento e entendimento que direcionam a compreensão da essência criativa.
A
advertência (12) e o título utilizado nas sessões e impressos “À Glória do
Grande Arquiteto do Universo” e comumente usado em forma abreviada “GADU” deixa
claro e expressa a lembrança e o reconhecimento de um “Princípio Criador” e
como conseqüência, de um “plano criativo” (13) com Leis e conjunto de processos
gerando no universo um desenvolvimento que favorece o desabrochar da vida. São
forças construtivas disseminadas cujo efeito na humanidade, a sua natureza e
sua qualidade são ainda um mistério.
Quanto
mais conhecimento e sabedoria nós adquirimos, observamos que por trás da
diversidade de formas há uma unidade básica, que a Humanidade é a soma de todas
as individualidades constituindo-se um “Corpo da Humanidade” se assim podemos
chamar, que o Homem não é um produto isolado apesar de observarmos apenas as
diferenças, e que nessa diversidade há um todo único habitando o planeta e
caminhando para uma realização maior.
Nossos
“Princípios Gerais” caminham e indicam para a realização de uma humanidade
melhor e mais esclarecida que é o esforço e o propósito que vem sendo
trabalhado desde os primórdios das diversas civilizações reconhecidas historicamente
ou não (14). Todo propósito quer de ordem política, tecnológica, científica ou
religiosa propugna o bem-estar, uma qualidade de vida que proporcione
satisfação e felicidade, liberdade de expressão, o direito de usufruir dos bens
oferecidos pela atual civilização proporcionando o espírito fraternal em sua
essência, o que afinal tem sido uma das buscas do ser humano.
A
hipótese é que há um plano evolutivo em andamento desde a criação do Universo
(ou Universos) e que ainda não temos a plena consciência de tal intuito. Desde
o aparecimento do homem no planeta esse plano vem sendo executado ao longo de
todas as civilizações e pelo grande impulso dado pelos grandes “instrutores”
das diversas raças. Se nos afastarmos de nossa individualidade (15) e focarmos
o aspecto abrangente e geral do ser humano no planeta, perceberemos que há um
ponto comum entre todos os povos e civilização presentes ou passadas que é a
elevação da consciência e convivência irrestrita e fraternal entre todos os
seres vivos de todos os reinos da natureza.
Esse
aspecto comum está manifesto ou latente entre os homens pelas suas
organizações, grupos, ordens fraternais e iniciáticas, instituições, igrejas
(16) e personalidades que almejam e pregam um mundo melhor e mais esclarecido.
Esses grupos formam e disseminam conhecimentos que refletem suas ambições que
são comuns entre si, mas formulados e expostos por aspectos diferentes. Cada um
desses grupos com sua dinâmica própria, instrui, esclarecem e educam procurando
elevar o nível de consciência de seus participantes a um plano em que percebam
em seu interior que há uma “família humana” que caminha por um processo
evolutivo que independe de nossa compreensão. Foram se formando através dos
tempos sem que tivessem contato, emergindo “espontaneamente” em todos os pontos
do planeta e se auto-estruturando procurando organizar-se e facilitar sua
propagação.
Nossa
Ordem objetiva a elevação e a expansão da consciência em primeiro plano, um
despertar para as metas espirituais, e como conseqüência, deverá transpor as
paredes da Oficina levando esse conhecimento para a humanidade. Trabalhamos com
regulamentos e objetivos procurando capacitar individualmente nossos membros
para a ação influenciando a opinião pública e assim provocando mudanças nas
atitudes humanas. Somos partes de um todo único cujo propósito é facultar a
possibilidade da evolução pessoal e de toda a humanidade.
(*) José
Eduardo Stamato, M.’.I.’.
ARLS
Horus nº 3811 – Santo André – SP (Oriente de São Paulo) – Brasil
Notas:
Pela
sobrecarga como efeito de um acúmulo de informações em nosso arquivo cerebral,
acabamos armazenando informações com a certeza de estar de posse da verdade
maçônica (em particular), e hipóteses novas ou “redescobertas” necessitam ser
estudadas, pesquisadas e compreendidas em termos evolucionários. E sendo uma
suposição admissível, é passível de ser revelada.
Estratificação
– disposição por camadas ou estratos; (sociol.) processo social que conduz à
superposição de camadas sociais, mais ou menos fixa e rígido, de estados,
classes ou castas.
Por
analogia temos como ex. geral o óculo de grau onde cada um se ajusta às suas
próprias condições. São os diferentes graus de consciência ou os diferentes
patamares das inúmeras zonas de conforto.
Buda
nasceu por volta de 563 a.C. e morreu por volta de 483 a.C.
Se
estivermos atentos perceberemos que essas transformações são cíclicas. Os
pontos de ruptura com o “status quo” das diversas épocas geralmente foram
marcados pelas revoltas, revoluções das massas ou por comportamentos
sanguinários de tiranos.
Profano
– como adj.: (fig.) alheio; estranho a idéias ou conhecimentos sobre certos
assuntos. Não pertencente à religião; oposto ao respeito que se deve a coisas
sagradas; não sagrado; leigo. Como s.m.: o oposto a coisas sagradas.
Subliminar
– inferior ao limiar; que não passa do limiar da consciência; que não chega a
penetrar nela; suconsciente.
Isso
tem a possibilidade de ser firmado se os procedimentos na iniciação são feitos
de maneira séria e não apenas mais uma formalidade a ser cumprida.
No
sentido de compreensão limitada, tendo como parâmetro nosso século em que a
ciência e a tecnologia nos favorecem uma dimensão maior do homem e do Universo.
Não esquecendo que nossos conceitos de hoje também serão considerados
“estreitos” no futuro.
Na
época e por algum tempo como instituição social, mostrou-se forte e unida
provocando mudanças nos ambientes social-político e econômico, mas houve um
enfraquecimento pelo crescimento exagerado de membros que nem sempre abraçavam
os ideais maçônicos, mas favoreciam uma elevação de status.
Aculturação
– conjunto dos fenômenos resultantes do contato, direto e contínuo, de grupos
de indivíduos representantes de culturas diferentes.
Advertência
– ato ou efeito de advertir; aviso; observação. Advertir – notar; considerar;
refletir em; dar fé.
Plano
criativo – não há acaso, há um desencadeamento de fatores que geram uma
manifestação cósmica possibilitando o aparecimento de universos, sistemas e
como conseqüência a vida, e havendo um Arquiteto ou algo que idealize e promova
uma manifestação se presume (em nossa limitada compreensão humana) um plano,
uma intenção ou uma vontade.
Como
ex. geral, Lemúria e Atlântida.
Isso
não significa abandono de nossas atribuições pessoais (que também fazem parte
desse plano).
Como
organização religiosa
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