SONHOS E PESADELOS DA MAÇONARIA NO SÉCULO XXI

Por Ir.’. José Maurício Guimarães
 A prática da Maçonaria no Brasil, se não piorou também não mudou muito nos últimos cinquenta anos. Aliás, permanecemos nos mesmos patamares desde 1930 ‒ e lá se vão 85 anos! ‒ desde o nefasto 24 de outubro daquele ano, quando Getúlio Dornelles Vargas deu golpe de estado, depôs e mandou prender o último presidente maçom, Washington Luís. Não preciso narrar em detalhes o desastre que desabou sobre a Maçonaria brasileira desde então.


Getúlio Vargas moveu severa perseguição contra a Maçonaria, atirando contra nossas instituições a sanha de inimigos que poderiam vir a existir. As animosidades que ainda hoje persistem (principalmente nos meios religiosos) datam daquela época em que Vargas flertava com as ideias do fascismo e do nacional-socialismo alemão. Alegando combater o comunismo, o Estado Novo colocou tudo "num mesmo saco": todos os sistemas que contradissessem a organização corporativista do Estado e a organização patriarcal da sociedade foram emudecidos. A ditadura Vargas jogava com cartas escondidas na manga: espalhava a história de que o pai de Getúlio, General Manuel do Nascimento Vargas (que Kurt Prober chamou de "venerando progenitor do Presidente Vargas") fora maçom, hipótese não confirmada durante todo aquele período. Se não foi fechada, a Maçonaria foi vigiada também de dentro: o Coronel Viriato Dornelles Vargas, irmão mais velho de Getúlio, foi iniciado em Loja de emergência do GOB, dirigida pelo Grão-Mestre Rodrigues Neves, em 1942. Viriato sempre manteve uma visão distorcida da Maçonaria, utilizando nossa Ordem como "sustentáculo" do autoritarismo getulista. Dizia ele: "A democracia é como um chapéu de borracha muito elástico, em que cabem todas as cabeças. A questão é de maior ou menor pressão." Naquela época, o GOB teria sido "constrangido" a instituir uma solenidade comemorativa nas Lojas na data do aniversário de Getúlio Vargas. (*)

Detive-me nestes fatos antigos por considerar o final do Século XX e nosso século atual como de extrema mendicância em termos de projetos válidos ‒ com começo, meio e fim ‒ capazes de motivar a participação da Maçonaria como um todo. A criação das Grandes Lojas em 1927, por Mário Behring, estabelecendo Potências estaduais soberanas e independentes ‒ a exemplo do que fizera George Washington nos Estados Unidos ‒ preservou parte da Maçonaria do convívio promíscuo e servil com o Palácio do Catete (antiga sede do governo federal no Rio de Janeiro).

Precisamos olhar para a história, pois como disse Freud, quanto menos as pessoas sabem do passado e do presente, tanto mais impreciso será o juízo que farão sobre o futuro.

Na verdade, a Maçonaria brasileira ainda não despertou do sonho (ou pesadelo) que vem se arrastando desde a luta fratricida entre José Bonifácio (monarquista) e Gonçalves Ledo (republicano), rixa que obrigou a D.Pedro I encerrar as atividades do então recém fundado Grande Oriente do Brasil (1822 ).

Aquela casa direita que é tão justa e perfeita (assim cantada pelo Irmão Luiz Gonzaga em Acácia Amarela) onde "não tem luta nem discórdia, onde o mal é submerso e o Grande Arquiteto do Universo é harmonia, é concórdia" prossegue revivendo a LENDA do Templo de Salomão que, por sua vez, é uma reprodução do golpe fatal de Caim sobre Abel.

Não tendo um projeto pelo qual lutar, setores de nossa "irmandade" voltam-se contra si mesmos ‒ irmão contra irmão ‒ numa espécie de "autofagia" como definiu o historiador Marco Morel no (autor do livro "O poder da Maçonaria: história de uma sociedade secreta no Brasil") em entrevista ao Estado de São Paulo em 12 de outubro de 2008. Essa autofagia (**) resulta sempre da burocracia que cumpre ordens sem questioná-las, colocando leis maçônicas acima do dever de fraternidade. Muita energia é desperdiçada em difamações; por outro lado, procura-se punir mais do que instruir, formando assim uma horda daqueles que usam a organização como trampolim de seus interesses pessoais. Na maioria são pessoas que, a rigor, não seriam sequer aprovadas em processo sério de sindicância, mas que se mantêm indefinidamente defraudando os objetivos da Ordem. Beneficiam-se da tolerância que entre nós é liberal e magnânima.

De fato, os maçons não imaginam a força que têm. Repito aqui o que ouvi de um conferencista nosso Irmão, fazendo a paráfrase: "somos um hardware gigantesco e potente; mas o software que insistem em instalar em nós é ultrapassado e não funciona mais" (quem conhece informática, que entenda).

Contentamo-nos muitas vezes com o maldito "chapéu de borracha" em que cabem todas as cabeças, dependendo de maior ou menor pressão, como queria o Viriato Vargas. Pois não se iludam: temos entre nós os que pregam essa "maior ou menor pressão" sobre as bases das Lojas e das Potências.

Se na República um operário alcançou a Presidência, quando é que na Maçonaria os simples Pedreiros (***) terão sua vez e sua voz? A caminhada começa antes das urnas, pois o tapinha nas costas não é a solução para o papel da Maçonaria no mundo moderno.

A ilustração que acompanha este texto representa Jacó dormindo enquanto anjos sobem e descem pela escada... Os maçons discutem muito sobre uma "escada de Jacó" mas poucos aprendem corretamente sobre seu significado. Ainda não é tarde para recomeçarmos o processo e vermos a coisa toda por outro ângulo: Jacó está dormindo ‒ pode até estar sonhando ‒ mas sua cabeça está bem apoiada sobre a PEDRA. Nisso reside a diferença dos que são livres.

(*) Esses fatos estão descritos e documentados no meu livro "Grande Loja Maçônica de Minas Gerais-História, Fundamentos e Formação" que pode ser adquirido no site da GLMMG http://www.glmmg.org.br 
(**) Autofagia = ato de autodestruição por nutrir-se da própria carne. 
(***) Pedreiro é maçon em francês; e mason em inglês.


FONTE: JB NEWS

Postar um comentário

0 Comentários