O MUNDO PRECISA MUITO DESTE HOMEM. VIDA LONGA PARA O PAPA FRANCISCO

Por Barbosa Nunes
Independentemente da sua crença religiosa, de sua profissão de fé ou do que você apoia, não acredita ou combate, o papa Francisco com sua voz mansa, sorriso franco e cativante, olhar que transmite confiança, cria em torno de si um círculo altamente positivo  transmissor de  novos valores, criando beleza espiritual, com percepção segura e firme de sua missão perante o mundo e a Igreja Católica. Inova nos hábitos e discursos. De um estilo pastoral que o torna único.

Cultivador amável da sua personalidade, vai com ressonância e eco para o mundo, em especial para a Igreja Católica, que tem mais de um bilhão e duzentos milhões de fiéis e para os detentores de poder material em dezenas de países, falando com humildade, de caridade, perdão e amor, sem medo, caminhando sem atropelar, mas com passos firmes.
A cada pronunciamento, vai fundo, dizendo que há necessidades de mudanças no homem, nos responsáveis pela condução das nações e especialmente na Igreja Católica, o que não tem agradado muito a alguns setores. Os contrariados afirmam que Francisco está banalizando a figura do papado, mas ele quer mudanças, como queria João Paulo I, o “papa sorriso”, que esboçou nos primeiros dias de seu curto período de um mês, iniciativas de investigação sobre corrupção no denominado Banco do Vaticano, ficando dúvidas, fantasias e inúmeros comentários, sem nenhuma prova, sobre detalhes de sua morte.
Francisco não é diferente do que foi em seus 45 anos de atividade sacerdotal, ordenado  padre em 13 de dezembro de 1969. Desempenha os cargos de Chefe de Estado e da Santa Sé como missão, despojado e com simplicidade. Como Cardeal Presbítero em Buenos Aires vivia num pequeno e austero quarto nos fundos da Catedral, usava transporte público, metrô e ônibus, cozinhava sua própria comida e ia para os estádios torcer para o seu time,  Atlético San Lorenzo de Almagro.
Quando do conclave que ao final seu nome surgiu como novo Papa, pagou sua conta no hotel onde se hospedou, hotel da igreja. Recusou instalações especiais sempre destinadas ao chefe da igreja, passando a residir em apartamento onde se hospedam os bispos. Seu crucifixo é de prata e não de ouro, como antes, sapatos pretos e comuns, recusando  a ocupar lugar na limusine blindada papal.
Foi o primeiro jesuíta ordenado Papa. Escolheu o nome por ter São Francisco uma vida dedicada aos pobres e muito simples, declarando em uma de suas frases “Ah, como eu queria uma igreja pobre para os pobres”.
   Recentemente em 22 de dezembro em audiência especial na Sala Clementina, falou aos membros da Cúria Romana sobre doenças ou tentações, esclarecendo que estas não dizem respeito apenas à Cúria, mas são um perigo para qualquer cristão, diocese, comunidade, congregação, paróquia e movimento eclesial. Com extrema autocrítica disse:
“Seria belo pensar na Cúria Romana como um pequeno modelo de igreja, ou seja, como um corpo que tenta seriamente e cotidianamente  ser mais vivo, mais são, mais harmonioso e mais unido em si próprio e com Cristo”. Como pastor determinado e compromissado com um novo tempo, enumerou aos membros da Cúria as tentações e desafios aos seus membros e aos cristãos do mundo, declarando “A  igreja não pode viver sem ter uma relação vital, pessoal e autêntica com Cristo”. Enumerou as tentações e desafios em 15 itens, assim classificados:
1 – Sentir-se imortal ou indispensável: “Uma Cúria que não faz autocrítica, que não se atualiza é um corpo enfermo”.
2 – Doença do excesso de trabalho, que é o Martalismo, os que trabalham sem usufruírem do melhor, com falta de repouso, levando ao estresse e a agitação dura.
3 – Mentalidade dura. “Quando se perde a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e nos escondemos atrás de papéis, deixamos de ser “homens de Deus”.
4 – Excessiva planificação: “Quando o apóstolo planifica tudo minunciosamente e pensa que assim as coisas progridem, torna-se um contabilista. É a tentação de querer pilotar o Espírito Santo”.
 5 – Má coordenação: “É quando se perde a comunhão e o corpo perde a sua harmoniosa funcionalidade”
6 –Alzheimer espiritual: “É o esquecimento à história do encontro com Deus. Perda da memória com o Senhor, criando muros e escravos de ídolos”.
7 – Rivalidade e vã glória. “Quando objetivos da vida são as honorificências, levando à falsidade e vivência de um falso misticismo”.
8 – Esquizofrenia existencial. “Vivem uma vida dupla fruto da hipocrisia típica do medíocre e do progressivo vazio espiritual que licenciaturas e títulos acadêmicos não podem preencher. Burocratismo e distância da realidade. Uma vida paralela”.
9 – Fofocas: “Nunca é demais falar desta doença. Podem ser homicidas a sangue frio. É a doença dos velhacos que não tendo a coragem de falar diretamente falam pelas costas. Defendamo-nos do terrorismo da fofoca”.
10 – Cortejar os chefes – carreirismo e oportunismo. “Vivem o serviço pensando unicamente àquilo que devem obter e não ao que devem dar. Pode acontecer também aos superiores”.
11 – Indiferença perante os outros. “Quando se esconde o que se sabe. Quando por ciúme sente-se alegria em ver a queda dos outros, em vez de o ajudar a ajudar a levantar”.
12 – Cara fúnebre – para ser sérios não é preciso ser duros e arrogantes. “A severidade teatral e o pessimismo estéreo são muitas vezes sintomas de medo e insegurança. O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa cortes, serena, entusiasta, alegre e que transmite alegria. Como faz bem, uma boa dose de humorismo”.
13 – Acumular bens materiais. “Quando o apóstolo tenta preencher um vazio existencial no seu coração acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para sentir-se seguro”.
14 – Círculos fechados – viver em grupinhos. “Inicia com boas intenções mas faz cair em escândalos”.
15 – Lucro mundano e exibicionismo. “Quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter lucros mundanos ou mais poder”.
Concluiu a sua fala aos membros da Cúria Romana : “A importância do nosso serviço sacerdotal e quanto mal poderia causar um só sacerdote que cai”.
Lembro aqui neste artigo citações em algumas páginas escritas em 2005, por Jorge Mario Bergóglio, quando era arcebispo de Buenos Aires, cujo texto integral está publicado em italiano no livro “A cura da corrupção”.
Em cores fortes afirma que a corrupção está ligada ao pecado, mas é diferente dele. “A corrupção não é um ato, mas um estado pessoal e social no qual a pessoa se acostuma a viver, por meio de hábitos que vão deteriorando e limitando a capacidade de amar. Se para o pecado existe perdão, para a corrupção, não. Por isso a corrupção precisa ser curada”.
Muito lúcido alertou, fazendo uma análise do estado de corrupção cotidiana, que “lentamente faz a vida religiosa encalhar, convidando como arcebispo de Buenos Aires para que a nossa indigência deve se esforçar um pouco para abrir espaço à transcendência, por que o Senhor nunca se cansa de chamar: Não tenha medo. Não ter medo de quê? Não ter medo da esperança, porque a esperança não decepciona”.
Foi importante nas tratativas do reatamento de relações entre Estados Unidos e Cuba e ao deplorar os ataques mortíferos em Paris, condenou a violência justificada pela religião, quando em outra oportunidade declarou: “Não se podem construir pontes entre os homens, esquecendo Deus, e vice-versa, não se podem viver ligações com Deus, ignorando os outros, sem intensificar o diálogo entre as diversas religiões, para que jamais prevaleçam as diferenças que separam e ferem”.
Não sei porquê quando falo e penso no Papa Francisco sempre me vem à mente o “Papa sorriso”, João Paulo I.

O mundo precisa muito deste homem. Vida longa para o Papa Francisco. 

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