*Por Barbosa Nunes
Meu pensamento encontra-se em remoinho,
movimento causado pelo cruzamento de ondas e ventos contrários. Circular e
forte, se processa em espiral, como rajadas, pé de vento e tufão, causando-me sofrido
questionamento. Não estou conseguindo mais saber o que é normal ou regular. Até
quando, meu Deus?
Encontramo-nos em decepção pelos
acontecimentos desonestos que fazem parte da rotina diária dos noticiários. Em
foco agora, o escândalo da Petrobras.
O Procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, declarou: “O escândalo na
Petrobras é como um grande incêndio, que consome a empresa e que corrói as
riquezas do Brasil”. Complementou:
"Corruptos e corruptores precisam
conhecer o cárcere e devolver os ganhos espúrios que engordaram suas contas, à
custa da esqualidez do tesouro nacional e do bem-estar do povo. A corrupção
sangra e mata". Prosseguiu: “O
Brasil ainda é um país extremamente corrupto. Estamos abaixo da média global,
rateando em posições que nos envergonham e nos afastam de índices toleráveis.
Envergonha-nos estar onde estamos”. Resumiu: “Atribuo o ranqueamento do país a maus dirigentes, que se associam a
maus empresários, em odiosas quadrilhas, montadas para pilhar continuamente as
riquezas nacionais. Essas pessoas, na verdade, roubaram o orgulho dos
brasileiros".
O
juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava-Jato, considera que existem indícios de
que os crimes de corrupção e propinas "transcenderam
a Petrobras". Ele demonstra perplexidade com a planilha de dados sobre
cerca de 750 obras públicas, "nos mais diversos setores de infraestrutura,
que foi apreendida com o doleiro Alberto Youssef".
Fomos
obrigados no interior de nossas casas a ouvir uma frase que é verdadeira, mas
agressiva aos bons princípios, pronunciada pelo advogado Mário Oliveira Filho,
afirmando que: “A corrupção está
presente em toda obra feita no País. Se não fizer acerto, não põe um
paralelepípedo no chão”
Já
o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal de Justiça, disse: "Nós
falávamos que estávamos a julgar o maior caso, pelo menos de corrupção
investigado, identificado. Mas nós falávamos de 170 milhões de reais, do
mensalão”. Ao falar da Operação Lava-Jato ele alertou que é um caso de
proporções bem maiores. "Estamos a ver que esse dinheiro está sendo
patrimonializado. Quando vemos uma figura secundária que se propõe a devolver
100 milhões de dólares, já estamos em um outro universo, em outra
galáxia".
O
Procurador da República, Hélio Telho Correa Filho, vai mais longe e me deixa
mais perplexo: “Vamos ter um escândalo de corrupção ainda maior do que o da
Petrobrás. E será no BNDES. Este pode ser
7 vezes maior que 'Petrolão' e 'Mensalão' juntos. No Petrolão já são mais de R$
70 bilhões de reais, e no 'possível próximo escândalo', são 500 bilhões em jogo”.
Tento me reequilibrar na minha avaliação e socorro-me
de Suzana J. de Oliveira Carmo, em seu artigo “Corrupção: Uma explanação
filosófica sobre uma onerosa e reincidente realidade humana”, quando descreve:
“Conceitualmente, a corrupção pode ser entendida como atentado ou transgressão
às normas, princípios e valores, tanto os jurídicos quanto os sociais. Em
verdade, retrata uma violação mediata ou imediata ao organismo como um todo,
configurando-se sempre em uma lesão. Retrata uma conduta gravosa,
independentemente de sua ordem: social, econômica ou
político-estatal.
Em sua representação denotativa, a corruptibilidade
evidencia algo corrompido, desmoralizado, desacreditado, podre, estragado,
pervertido, desnaturado, ou ainda, decomposto”.
Então estamos no fim do poço?
A própria presidente da República, Dilma Roussef, em
café da manhã com jornalistas, na segunda feira, 22 de dezembro, admitiu: “É
absurdo o volume de desvio de dinheiro em corrupção na Petrobras”. Disse ainda
que a situação não é confortável, mas não tem como punir, mantendo a presidente
da empresa Graça Foster, em seu cargo, pois “como tipificar uma ação sem
provas”.
O professor e pensador Schwantes reconhece a
fragilidade do caráter humano, sua tendência nata à deformação e, atribui à
crise moral o sintoma mais flagrante da ausência generalizada de caráter e
afirma: “São parasitos os que exploram
a sociedade para benefício próprio, os que vivem à custa do Estado sem nada
produzir, os que vegetam em lastimosa ociosidade. Tais indivíduos são como
células cancerosas que roubam a vitalidade do organismo social”.
O título deste artigo nos
conduz ao pensamento exposto pela coragem e competência do maçom Rui Barbosa. Leva-nos
à verdade de um futuro triste e que deverá se desdobrar em elementos mais especializados
na prática da corrupção e nos alerta para o tempo de hoje: “Cada um dos que vão
chegando, se aduba dos outros; com eles se cruza e recruza, novas espécies lhe
surgem do coito sutil; há hibridação em hibridação, de multiplicação em
multiplicação, um mundo incalculável de malignidades se enxameia, os antigos
colaboram com os recentes; do ajuntamento de uns e outros se vem gerando novos,
pelo concurso destes com aqueles, crescem ao infinito, em número, em
diversidade, em virulência aos contágios, às infecções, às pestes”.
A corrupção é um mal sociocultural, mas não pode significar
que estejamos fadados à sua permanência, muito menos, que não possamos
extirpá-lo. Moralidade e transparência política são caminhos a serem
encontrados e percorridos, com uma sociedade consciente de seus direitos de
cidadania, ciente de seu poder político para ser autora de uma reforma que impeça
acontecimentos como este da Petrobras. Aprimorando nosso poder de escolha,
conseguiremos êxito.
Abordarei no próximo artigo, o livro “A mais pura
verdade sobre a DESONESTIDADE”, do escritor Dan Ariely, Editora Campos, que
sugiro sua leitura, como o fiz e releio, para tentar saber sobre as causas da
desonestidade e por que a desonestidade é tão interessante, e ai me reencontro
em remoinho quando leio nesta obra, a frase que coloco em análise aos amigos de
todos os sábados: “Tal como a média dos assaltantes, todos nós buscamos nossa
própria vantagem enquanto avançarmos pelo mundo”.
Até quando, meu Deus?
*Barbosa Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil
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