* Por Nuno Raimundo - Fonte: A Partir Pedra
O texto que hoje publico, vai abordar algo que
no meu entendimento será bastante relevante para a Maçonaria e que é o papel
que um padrinho deverá ter na formação do seu afilhado maçom.
Um
padrinho deve ter a sensibilidade para poder analisar quem deve ou não fazer
parte da Augusta Ordem Maçônica. E padrinho pode ser qualquer maçom exaltado à
condição de Mestre. O Mestre é o maçom de pleno direito. Logo tem a
responsabilidade de fazer respeitar os princípios da Ordem, auxiliar na
formação dos seus Irmãos, detenham eles o grau que tiverem, e de apesar de não
fazer proselitismo, deve procurar no mundo profano quem tenha qualidades para
ingressar na Maçonaria e que com essa admissão possa desenvolver um trabalho
correto tanto pela Ordem Maçônica bem como pela sociedade civil na sua generalidade.
O
padrinho não tem de ser um guru nem ser um visionário (pois ele será também um
eterno aprendiz), o papel que ele deverá representar para o seu afilhado é o de um guia, de uma
pessoa que o auxílie na sua integração na Loja bem como o de sendo alguém que o
ajude na sua formação maçônica, principalmente nos primeiros tempos, em
complemento com a formação que é efetuada na loja, auxiliando também o Segundo
Vigilante (cargo oficial desempenhado pelo terceiro elemento da hierárquia de uma loja maçônica) no
cumprimento das suas funções, nomeadamente como formador dos Aprendizes Maçons.
Compete
ao padrinho após identificar no mundo profano alguém com as capacidades
intelectuais e morais que são necessárias para alguém ser reconhecido maçom,
abordar o mesmo da forma como achar que será melhor recebida pelo seu
interlocutor. Na maioria das situações, a abordagem é feita pelo reverso,
alguém que é profano e que se identifica com a Maçonaria intercede junto de um
maçom para que lhe seja concedida a entrada na Ordem. Independente da maneira
de como é feita a proposição, cabe ao maçom que irá ser o padrinho efetuar
algumas diligências, ou seja, conhecer os gostos e preferências do seu futuro
afilhado bem como dos hábitos e rotinas que ele possa ter (se não os conhecer anteriormente), isto é,
tudo aquilo que é habitual num ser humano. Conhece-lo!
E numa fase posterior, se concluir que o
profano detém as qualidades necessárias
para entrar na Maçonaria, deve abordar alguns temas de âmbito maçónico,
retirando algumas das dúvidas que possam persisitir na mente do seu futuro
apadrinhado sobre o que a Ordem Maçônica é e qual o seu papel no mundo. Mas
mais que isso, na minha opinião, o futuro padrinho deve fazer-se acompanhar
pelo profano em eventos maçónicos de cariz aberto (eventos brancos) onde este
poderá ter um contato mais alargado com o que é a Ordem, ou seja, frequentar
tertúlias e palestras onde a Maçonaria seja o tema principal a ser abordado.
Neste
caso, admito que começará aqui, para mim, a formação maçônica do futuro
iniciado. Pois se o mesmo afinal decidir que não se identifica com o que
encontra, observa e escuta, então o processo de candidatura não terá início e o
profano aproveitará apenas para aumentar a sua cultura geral sobre o que à
Maçonaria concerne e ter uma opinião mais concreta sobre esta Augusta Ordem. No
entanto, e caso o profano se identifique claramente com o que lhe é mostrado,
deverá então ser iniciado o processo de candidatura à admissão numa loja maçônica.
E de preferência que seja na loja que é integrada pelo seu padrinho. Isso é de
extrema importância. E porquê?!
Porque
durante o desenrolar do processo de candidatura, os membros da loja confiarão
no zelo que o padrinho se propõe a cumprir ao apadrinhar a candidatura em
avaliação porque o conhecem, e também
estes por sua vez, respeitarão quem vier a ser escolhido para ser acolhido pela
loja.
E
depois, porque o padrinho deverá acompanhar o seu afilhado na assistência das
sessões da loja a que estes pertencem, para que este não se sinta desapoiado e
nem desintegrado num grupo de gente que à partida não o conhece bem nem o qual
deverá conhecer devidamente.
Acontece
também o contrário, por vezes quem chega a uma loja maçônica já é popular no
mundo profano ou poderá ter relações profanas com alguns membros da loja e
assim a sua integração é mais facilmente consumada.
Mas
e apesar de todo o fraternalismo que existe na Maçonaria em geral, os
“primeiros tempos de vida” de um maçom podem-lhe parecer estranhos porque terá
de ser relacionar inclusive com gente que talvez, no mundo profano, preferiria
evitar. É verdade, tal pode acontecer e ainda bem que tal assim acontece. Desta
forma, é possível um entendimento que de outra maneira não seria possível
acontecer. Porque os irmãos são “obrigados” a confraternizar, logo, encontrar
"pontos de comunhão” e de “convergência”. Também, pelo facto de se terem
de relacionar, isso obrigará a que as pessoas se conheçam melhor, e com isso,
desfazer alguns preconceitos que poderiam ter anteriormente e que se assumirão
posteriormente, como errados e descabidos. Outros quiçá, manterão a mesma
opinião que anteriormente. Tal poderá acontecer, somos humanos e em relação a
isso pouco se pode fazer… A não ser, tolerar e respeitar o próximo tal como
outra pessoa qualquer o deve merecer.
- Os maçons são pessoas como as outras, não
são perfeitos; a forma de como combatem
as suas paixões e evitam os seus vícios é que os difere dos restantes membros
da sociedade -.
E
ter um padrinho que os guie corretamente nessas situações, que lhes dê a mão para os apoiar quando
necessitarem disso e que acima de tudo os critique quando o deve fazer para os
manter num bom caminho, marcará de todo a diferença. Isso é “meio caminho
andado” para um crescimento maçónico correto e que não seja funesto para a
Ordem no futuro.
Os
casos que normalmente vêm a público no mundo profano devem-se a erros de
casting ou a gente que foi mal formada ou que não se identificou depois com os
princípios morais que encontrou no interior da Maçonaria. Por isto, é que não
basta a um padrinho convidar ou apadrinhar alguém apenas por ser seu amigo, por
ser seu colega ou por essa pessoa ter alguma influência ou notoriedade no mundo
profano. Esse “alguém” terá mesmo de se identificar com a Maçonaria e saber um
pouco ao que vai, porque caso contrário, criará uma perca de tempo ao próprio e
à loja maçônica que o acolher com as consequências que sabemos que poderão
suceder e que algumas vezes ocorrem mesmo!
E
nos casos em que os maçons “derrapam” ou se desviam do seu caminho na virtude,
os padrinhos deveriam ser também responsabilizados, isto é, serem chamados à
atenção por terem trazido para dentro da Instituição Maçônica quem agiu de
forma errada e que levou a que a imagem desta Augusta Ordem fosse questionada
profanamente. Obviamente que não digo que fossem sancionados, mas que exista
uma conversa para os alertar do perigo que é de apadrinhar gente com este tipo
de conduta para que no futuro sejam mais zelosos nos seus apadrinhamentos e que
também tivessem acompanhado a conduta do seu apadrinhado. Naturalmente que um
padrinho não pode ser culpado, a não ser que seja cúmplice, da atuação do seu
afilhado, mas se puder prever que o mesmo possa se desviar e errar, deve
alertar o mesmo dos riscos que este corre, seja de suspensão ou até mesmo de
expulsão da Ordem, com tudo o que isso acarretará moralmente para ambos. Porque
mesmo em surdina, as “orelhas” do padrinho sofrem sempre as consequências dos
atos do seu afilhado. É habitual o ser humano criticar algo, todos somos
“treinadores de bancada”, logo criticar-se algo que não correu bem é a
consequência lógica de tal. Por isso até mesmo quem entra na Maçonaria deve
refletir na sua conduta para que não ponha a imagem dos outros irmãos em
questão.
Porém,
e ainda no âmbito da instrução maçônica do seu afilhado, o padrinho deverá complementar a formação que será concedida
pela loja ao seu apadrinhado; porque ao lhe demonstrar também que a Maçonaria
vive de símbolos, metáforas e alegorias, mas fundamentalmente, da prática de
rituais próprios, também ele (padrinho) ao instruir o seu afilhado, poderá
refletir e por em prática os conhecimentos que já adquiriu até então - o que é
sempre uma mais valia pessoal - e que lhe permitirá vivenciar o que também ele
aprendeu durante a sua formação até atingir o mestrado.
-
Conhecer e ensinar outrém é do melhor que o ser humano poderá fazer pelo seu
semelhante. Tanto que acredito que o Conhecimento somente é Sabedoria quando compartilhado-.
Mais
tarde, quando o seu afilhado já se encontrar na condição de mestre, já não será
tão essencial ter aquela “especial” atenção que considero como importante na
caminhada de um maçom, porque este já atingiu uma parte importante da sua
formação maçônica e concluiu o seu percurso até à mestria. Mas no entanto, nunca o deverá abandonar, pois apesar de este
ser um irmão seu, será sempre o seu afilhado, logo alguém que um dia reconheceu
como tendo capacidades e qualidades maçônicas. E essa responsabilidade nunca
desaparecerá.
E
isto é algo que por vezes acontece e que eu considero como sendo nefasto para a
vida interna de uma Obediência. Não basta convidar alguém, se iniciar alguém,
(mal) formar alguém e depois deixá-lo à
mercê dos tempos e vontades… Virar as costas a um irmão, mesmo que seja
inconscientemente, nunca trará resultados frutuosos para ninguém e
principalmente para a Ordem. É na nossa união que reside a nossa força, é com nosso
apoio que conseguimos enfrentar o dia-a-dia. E se isto poderá parecer como
demasiado simplista e inocente, não nos devemos esquecer que é no nosso
espírito de corpo que se encontra a fonte da egrégora que é criada em loja e
que é a impulsionadora da nossa fraternidade.
Assim,
alguém que queira apadrinhar a candidatura de um profano, terá de assumir que
adquire uma responsabilidade tal, que nunca será irrelevante e que nos seus
“ombros” suportará o “peso” de uma Ordem iniciática e de cariz fraternal como o é a Maçonaria. E que terá como seus
deveres principais: reconhecer,
informar, transmitir/formar e acompanhar
quem ele considerar como sendo um válido (futuro) membro da Maçonaria.
Não
será uma tarefa fácil, esta de se apadrinhar alguém, mas este é um compromisso
que os maçons assumem para com a Ordem e a bem da Ordem...
* O Irmão Nuno Raimundo é membro da RL Mestre Affonso Domingues
Or.'. de Lisboa - Portugal
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