Por
Rui Bandeira
A
formação de um maçom está formalmente concluída logo que concluída a cerimónia
pela qual ele é elevado ao 3.º grau e assume a qualidade de Mestre Maçom. Todos
os "segredos" lhe estão transmitidos, todas as "lições" lhe
estão dadas, o método maçónico de evolução é-lhe conhecido. A partir desse
momento, o Mestre Maçom é um Aprendiz que aprende o que tem de aprender, como
pretende, segundo as suas prioridades e preferências. Acabou a sua aprendizagem
e tem a sua "carta de condução". Mas aprender o quê? Tudo o que lhe
foi exposto, apresentado, mostrado. Todos os símbolos, rituais, ornamentos, textos,
que lhe foram fornecidos ao longo da sua formação. Não que tenha de saber esses
textos de cor. Mas porque todos esses elementos são pistas, sinais, caminhos
abertos à sua individual exploração. Leia mais
Onde
conduzem esses caminhos? Ao interior de si próprio! À interiorização das
virtudes e normas de comportamento e princípios que devem reger a conduta de um
homem bom e justo e que procura aproximar-se o mais possível do conceito de
homem perfeito. Porquê? Porque crê que é esse trabalho, esse esforço, esse objetivo,
o verdadeiro significado da vida, a razão de ser da nossa existência, porque o
nosso caráter, o nosso espírito, a nossa alma (chame-se-lhe o que se quiser)
necessita desse esforço, desse reforço, desse aperfeiçoamento, para evoluir e
passar adiante (chame-se-lhe Ressurreição, ou Glória, ou Paraíso, ou Nirvana,
ou o que se quiser). Complementarmente à sua crença religiosa e em reforço e
desenvolvimento desta, o maçom procura assim descortinar o inescrutável,
entrever o sentido da vida e o Plano do Criador, cumprir a sua vocação.
Em
bom rigor, para o fazer segundo o método maçónico não necessita de mais
ferramentas do que as que lhe foram dadas ao longo da sua instrução como
Aprendiz e Companheiro e na sua exaltação a Mestre. Elas chegam, está lá tudo o
que é necessário para que o homem bom que um dia bateu à porta do Templo se
torne um homem melhor, um pouco melhor em cada dia que passa, um tudo nada
melhor do que no dia anterior e um não sei quê pior do que no dia seguinte.
Para
esse trabalho fazer, basta-lhe atentar e meditar e trabalhar nos conceitos e
lições que recebeu, explorar a miríade de símbolos e chamadas de atenção com
que se deparou. E tirar de cada meditação, de cada exploração, de cada
esclarecimento, a respetiva lição e - mais e sobretudo - aplicá-la na sua
conduta de vida. O Mestre Maçom tem tudo o que necessita para o seu trabalho e
a obrigação de ensinar os que se lhe seguem - cedo descobrindo que será também
ensinando que ele próprio aprende...
Mas
alguns Mestres Maçons sentiam-se insatisfeitos, desconfortáveis. Até à sua
exaltação, tinham tido um guião, uma cartilha, mentores, que auxiliavam o seu
percurso. E, de repente, ainda inseguros, ainda tateando o seu caminho, os seus
Irmãos largavam-nos ao caminho e diziam-lhes: "aí tens tudo o que precisas
de ter para fazer o teu caminho! Procura, lê, estuda, medita, tenta, acerta,
erra, quando errares volta atrás e tenta de novo até acertares." Não
haveria maneira de guiar ainda o seu trabalho? Não de os conduzir, mas de
fornecer como que um mapa, um guia, que facilitasse a sua tarefa? Tudo bem que
tudo o que havia a explorar e aprender já lá estava no que lhe fora ensinado.
Mas as alegorias têm de ser decifradas, os significados encontrados... É certo
que o trabalho tem de ser individual mas... precisa absolutamente de ser tão
solitário? Está certo que cada Mestre Maçom deve procurar a sua Luz e, para o
fazer, tem de se abalançar ele próprio a atravessar a escuridão mas... não se
pode dar-lhe nem uns fosforozitos, nem uma velinhas, para ajudar a alumiar o
caminho?
Cedo
se chegou à conclusão que sim, que se podia. Que, embora cada um tivesse os
meios de explorar o seu caminho, não havia mal nenhum em proporcionar a quem o
quisesse um mapa, um guia, um roteiro, que desenvolvesse, paulatinamente,
patamar a patamar, as noções que já estavam disponíveis para serem
desenvolvidas, mas que não havia mal nenhum se o fossem através de um roteiro
bem organizado.
E
assim se desenvolveu aquilo a que hoje se chama Altos Graus. Nas derivas do
Romantismo, muitos sistemas de altos Graus foram desenvolvidos. De alguns deles
ainda restam resquícios, tentativas de manutenção. Outros entretanto
desapareceram. No mundo maçónico, nos dias de hoje, predominam dois sistemas de
Altos Graus, do Rito Escocês Antigo e Aceite e do Rito de York. Outros são
também praticados: do Rito Escocês Retificado, por exemplo.
Mas
não se engane ninguém: ao percorrer qualquer desses sistemas (ou mais do que
um), não se sobe, não se fica mais alto, mais poderoso, superior. Ao percorrer
cada um dos sistemas de Altos Graus está-se a utilizar um guia de auxílio no
nosso caminho individual. Cada grau não é um patamar. É uma viagem de
descoberta e estudo. E o grau seguinte não é um patamar superior. É apenas
outra viagem de descoberta e estudo. De que se volta para de novo partir, seja
para reestudar a mesma lição, para reestudar lição anterior, ou para explorar
nova lição. E, a todo o momento, o Mestre Maçom pode decidir fazer nova viagem
segundo o seu roteiro (e tomar novo grau) ou explorar por sua conta própria. Ou
fazer ambas as coisas...
A
Maçonaria é um caminho de conhecimento, iluminação e aperfeiçoamento. Que cada
um percorre como quer. Às vezes com roteiro. Às vezes sem guia. Uns de uma
maneira. Outros de outra. Nem sequer, bem vistas as coisas, o mais importante é
o destino. Importante, importante mesmo, é afinal a viagem e o que se retém
dela!
Rui
Bandeira
Este
texto foi originalmente publicado no blogue A Partir Pedra em 15 de setembro de
2010
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