Por Hercule Spoladore
O
maçom tem que caminhar uma longa trajetória, para se considerar e ser na
realidade um verdadeiro Iniciado.
Ele,
para entrar na Ordem passará por duas portas. Uma, a porta física do Templo
onde o espera um estranho e intrigante ritual, mas ao mesmo tempo belo, um
verdadeiro teatro simbólico e sublimado.
É
o dia do seu recebimento formal na Ordem, que quando bem desempenhado pelos
Iniciadores [1], a cerimônia o marcará, de forma indelével na mente.
A
segunda porta é simbólica. Do ponto de vista mental, é um acesso através de uma
pequena fresta, isto é, uma pequena abertura que está fechada pelo
Subconsciente. Leia mais
Uma
vez a venda cobrindo a visão, isto fará com que o Iniciando desperte e aguce os
outros órgãos dos sentidos, e ele então enxergará com os olhos da mente e se
colocará especialmente numa situação de pura introspecção que nada mais é que
uma verdadeira jornada interior e que para a grande maioria dos Iniciandos é o
reencontro, ou mesmo o primeiro encontro súbito, inesperado e surpreendente com
o seu duplo Eu, há muito tempo adormecido, talvez nunca procurado, ou quem sabe
ele nem soubesse da existência de um duplo estado de sua consciência. O profano
terá que, justamente auxiliado por uma técnica iniciática perfeita e bem
desempenhada, usando-se uma ritualística bastante eficiente fluente e fácil,
franquear esta barreira, e passar por ela, mas para isso ele terá que se sentir
humilde, pequeno, diminuto, ínfimo. A Iniciação neste primeiro dia de contato
com a Maçonaria se consubstancia neste detalhe. Será apenas a conscientização
de que existe este outro estado do Ser, um outro estado da mente.
É
necessário frisar que não haverá com esta conscientização a descoberta
instantânea de todo o conhecimento humano, ou maçônico, dos mistérios ou
segredos, mas tão somente a auto revelação de sua consciência dupla, tomando-se
conhecimento que existe em cada um de nós um outro EU.
Este
aspecto é apenas o começo. Esta revelação não é tudo. A verdadeira Iniciação se
processará durante toda a vida através do estudo, da pesquisa, da meditação, da
dedução, do conhecimento adquirido corretamente, e do auto aperfeiçoamento. Ela
será praticamente inatingível em sua totalidade, porque o Homem jamais atingirá
a perfeição. Ele tenderá a chegar perto, e quanto mais perto chegar, mais
poderá ser considerado um Iniciado.
Já
na própria Antigüidade o conceito de Iniciação foi se atualizando e se
transformando numa forma de conhecimento gradativo pelo qual o Iniciando
receberá inicialmente instruções através de mensagens dogmáticas, ainda que
hipotéticas, ele a partir delas, desenvolverá, por seus próprios meios, a sua
iluminação interior, das quais apenas ele só possúe a semente ou germe.
Se
considerarmos que o maçom tem duas entradas, para ele permanecer na Ordem ele
terá didaticamente duas saídas para escolher qual a delas ela adotará.
Ele escolherá aquela do seu aprimoramento
pessoal, ou então escolherá aquela que identifica apenas a sua passagem física
pela Maçonaria.
Ele terá que escolher a opção correta e isso
será tão somente uma decisão sua.
O
grande mérito seu, de sua mente, será pessoal, intransferível, ninguém
conseguirá lhe ensinar, ele aprenderá sozinho por qual das duas saídas ele
optará.
Grande
parte dos maçons não percebe ou não querem perceber que estão tendo a grande
opção enquanto estão passando pelos graus simbólicos, aliás, graus estes que
constituem a verdadeira Maçonaria. Infelizmente, estes maçons constituem a
grande maioria, e embevecidos acham que a Ordem é festa, banquetes, auxilio
mútuo, graus, política de lojas, fachada para outras atividades, belos
aventais, distintivos na lapela, e outras tantas dicotomias.
Que são na verdade, verdadeiros subprodutos ou
complementos que a Ordem coloca a disposição de todos. Alguns até acabam
descobrindo através dos anos, que tudo isso não está coerente, não está certo.
Mas acham que é tarde demais para mudar. Não têm coragem. Continuarão inertes e
coniventes, pois já estão um tanto quanto idosos, e esperam que os maçons mais
jovens mudem tal situação. Puro engano. Um verdadeiro maçom jamais poderá se
considerar idoso, mas sim experiente humilde e sábio, e ele terá a obrigação de
ter a ousadia e firmeza de mudar o que pode e deve ser mudado. Esta é em
síntese, a primeira saída que normalmente a maioria dos maçons escolhem ou
preferem.
Mas
existem aqueles que descobrem durante a sua vivência maçônica que há algo mais
profundo, mais abrangente por trás das mensagens dos rituais, ou das migalhas
maçônicas que as Lojas oferecem em matéria de ensinamentos, que toda aquela
ganância em torno do poder maçônico [2], da bulimia maçônica também conhecida
por fome exagerada de graus, sem conhecer a fundo o grau em que se está colado;
da filantropia amadora e ingênua mal feita, da fraternidade hipócrita que
alguns são hábeis em aplicá-la enganando outros inocentes e bons Irmãos, da
falta de instruções, além de outras inúmeras razões, enfim, decidem mudar,
porque descobriram a ESSÊNCIA da natureza da Entidade para qual foram chamados
a integrá-la e ao entenderem a sua profundidade, mudam completamente seu
comportamento mental.
Passam
a entendê-la como uma Escola de Vida, descobrem que sua principal função é
político-social, e que eles serão consequentemente os construtores da futura
sociedade mundial, que terão que amadurecer como cidadãos, que terão que ser
embriões catalisadores dos movimentos de vanguarda, atuando como aglutinadores
de ideias, de sonhos que se tornarão realidades, não responsabilizando nem
Lojas e nem Irmãos com relação a este compromisso que será só deles, pois eles
serão o fermento que provocará os fenômenos sociais e que, tão somente a introspecção,
a meditação, a análise exata, o raciocínio transparente e o estudo eficiente e
correto da Filosofia, da História, do Simbolismo do Ritualismo e das coisas
pertinentes à Ordem lhes darão o poder do conhecimento, o qual poderá ser
repassado ou dividido com os demais adeptos, mas ninguém lhes tirará esta
riqueza intelectual e consequentemente neste caminho deslumbrarão toda a
espiritualidade que este estado mental encerra.
Descobriram simplesmente a ESSÊNCIA porque
acabaram de despertar para um mundo novo...
Quando
chegarem nesta fase mental, o autoconhecimento e a espiritualidade adquiridos
farão com que estes Irmãos mesmo que não se apercebam, e se perceberem não
deixarão que os outros notem, já estarão alguns passos à frente deles.
Considera-se
que eles avançando em seus progressos penetrarão nas profundezas do
Subconsciente ou Inconsciente, alcançarão a Consciência Cósmica e, indo alem,
chegarão á Supraconsciência que é nada mais que o próprio GADU mais justo, bom,
racional e espiritual de um livre pensador.
Uma verdadeira transformação ocorrerá na mente
quando se perceberá uma sensação que não é de insatisfação com esta humanidade
imperfeita, ela é muito mais um sentimento de calma, que mais parecerá uma
percepção de humildade de bondade e compreensão, que será mais uma entrega de
si mesmo, a uma força maior que, embora desconhecida objetivamente, sentem-na
presente. E assim conhecerão a expansão do campo da consciência, e verão que as
coisas se tornam mais belas, a vida tem mais sentido, quase não ficam
aborrecidos ou irritados, porque este estado especial, desviará sua
agressividade instintiva para algo mais construtivo. Este autoconhecimento é
considerado como uma verdadeira catarse, limpeza ou purificação da mente,
porque ele mostra, estabelece e orienta a força capaz de criar, reprogramar e
incentivar a condução da própria vida. Neste momento o maçom estará preparado
para ser um verdadeiro líder e também estará no caminho seguro em direção à sua
verdadeira Iniciação Real.
Para se chegar a este estado mental,
percorrer-se-á um caminho tortuoso, difícil, gratificante, mas totalmente
individual, pois somente o adepto sem auxilio de quem quer que seja, o
alcançará. Este é o autêntico segredo maçônico. Os sinais, palavras toques
rituais e etc., não são em realidade os verdadeiros segredos. O Irmão que
chegar a esta situação mental não terá condições, nem que queira de
transmiti-la, descreve-la ou conceitua-la. Não conseguirá. Será impossível. É
inexprimível. É um estado da alma que não estará ao alcance de ninguém, a não
ser tão somente de sua psique. Será só seu. É o mesmo mecanismo que se observa
nas transformações mentais dos gurús, dos santos, dos chamãs, dos jejuadores,
de alguns paranormais e dos Grandes Iniciados.
Estará em estado de expansão da mente, em
ondas cerebrais “alpha” ou “theta”. Acresça-se que não é só a Maçonaria que
realiza Iniciações. As grandes escolas iniciáticas da Antigüidade, das quais
somos herdeiros, e mesmo outras entidades iniciáticas do presente, basicamente
sempre utilizaram técnicas muito semelhantes.
Temos que ressaltar que nosso Inconsciente
sempre busca satisfazer nossos desejos instintivos, mas eles são bloqueados por
outra parte da mente chamada de Superego segundo Freud. Nossa civilização
incide neste fato, onde os conflitos deste bloqueio geram a infelicidade do
homem. O Iniciado deverá romper esta barreira. É uma bela e fantástica
aventura, esta ruptura. Este é o ideal superior que ele se proporá a realizar.
A sua mente deverá se abrir. Eis a sua tarefa. A trajetória percorrida para se
chegar a este ideal superior é muito linda e rica em sabedoria, por causa das
observações, incidentes de percurso e das experiências vividas para se chegar
lá. Quantas lindas verdades ocultas serão descobertas a caminho.. O percurso
será tão importante quanto o ideal a ser atingido. É uma linda e longa viagem
para dentro de SI MESMO.
[1]
Bom desempenho significa, que o Venerável, e todos os Irmãos que forem ler algum
trecho do Ritual, o façam com clareza, com boa dicção, palavras bem
pronunciadas, para que todos ouçam, sem tartamudear (gaguejar) e que os
procedimentos tenham sido devidamente muito bem treinados. Não se devem dar
trotes nos candidatos, aliás, costume grosseiro, medieval, desumano que ainda
persiste, e que bloqueará ainda mais a mente do neófito.
[2]
O poder verdadeiro e respeitado dos dirigentes advém tão somente do carisma,
bondade, sabedoria, polidez, educação já que nenhum maçom é obrigado a obedecer
a dirigentes déspotas, e impositivos que não conheçam os princípios básicos da
democracia e que o “poder” lhes tenha “subido à cabeça”. Um Grão-Mestre ou um
Venerável não governarão seu povo por decretos, leis, por imposição, a grito ou
através de tramas e perseguições, só governarão pela bondade de seu coração...
* Hercule Spoladore- Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil
Enviado
pelo Ir.'. Alfredo Roberto – Presidente da AMEM (Associação de Médicos Maçons)
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