No livro “Você é do tamanho de seus sonhos”, autoria de Cesar
Souza, Editora Gente, encontro uma frase símbolo para este momento de decepção
para a torcida brasileira. “Não importa se seus sonhos viraram pesadelos. O que
importa é voltar a acreditar nos seus sonhos, assumindo o comando e inventando
o futuro em vez de ficar tentando advinhá-lo”.
Qual foi o tamanho dos sonhos do povo brasileiro? Ser campeão
do mundo mais uma vez ou ter uma nação organizada, pelo menos que se aproxime
da impiedosa no futebol, Alemanha? Aproximar com a seriedade, organização,
recomposição de duas Alemanhas, hoje potência mundial respeitada pelo seu
passado e pelo seu presente. Em qualidade de vida mundo é a 5° e o Brasil a
85°. Leia mais
Esta Copa foi buscada com as cambalhotas comemorativas do
presidente à época e com 72% de aprovação do povo brasileiro. Veio com a
promessa de que sua realização traria altos dividendos positivos. Conduzida
pelos interesses e escândalos, trouxe resultados nos seus bastidores,
incalculavelmente lucrativos. Na verdade a prática do futebol, lá nas quatro
linhas, dentro de campo, foi colocada em último plano. Torci ferrenhamente para
que a face triste do brasileiro se abrisse com um sorriso.
Em primeiro plano, os grandes contratos publicitários, a
exclusividade da confecção e venda de produtos, inclusive com a limitação de
território, o que muito feriu a nossa nacionalidade, pois a FIFA foi a
administradora em todos os minutos, inclusive impondo a venda de cerveja no
interior dos estádios.
Estádios que foram nas suas construções ou reformas, fontes
das maiores denúncias de superfaturamento e como elefantes brancos, ficarão em
alguns locais em que a torcida é pequena para um campo de várzea.
Expressões desrespeitosas foram pronunciadas de forma irresponsável,
como a do jogador Ronaldo, membro da comissão da FIFA de que: “Não se faz uma
copa construindo hospitais”. Claro que não! Pois ele é um privilegiado que está
quilometricamente distante do sofrimento do povo. Pelé, que segundo Romário,
“fala melhor quando está com a boca fechada”, como sempre, sem consciência
política, não teve sensibilidade de identificar o momento que o país passa, com
a frase "brasileiro fica estragando uma festa dessa", referindo-se
aos protestos.
Xuxa completa o “trio da sabedoria” quando assim disse em
entrevista: "O povo quer tudo, a redução da maioridade penal e a liberação
da maconha. É bem melhor a gente olhar para a Copa do Mundo que já está
acontecendo, acho que é uma perda de tempo do povo criticar o governo nesse
momento de tantas coisas boas acontecendo no Brasil".
Em entrevista na Inglaterra em 2012, Jérôme Valcke, secretário geral da FIFA, foi
duro e agressivo com o andamento das intervenções referentes ao Mundial de 2014
no Brasil.
“As coisas não estão funcionando. Muitas coisas estão
atrasadas. O Brasil merece um chute no traseiro”.
Anteriormente o presidente da CBF renunciou ao cargo por
indícios de corrupção e processos. O próprio presidente da FIFA recebe pela
imprensa referências quanto a um sobrinho envolvido em empresa sócia da entidade,
que vendia ingressos. Em consequência foram indiciados 11 suspeitos de
envolvimento no esquema milionário de venda de ingressos da Copa do Mundo.
A Rede Globo de Televisão vendeu para o povo a imagem de uma
seleção imbatível, que tinha a obrigação de ganhar a Copa aqui. Iludiu o povo
brasileiro, vendeu falsas esperanças, montou uma casa de sonhos e escondeu
muitas mazelas.
Admitamos que o futebol brasileiro não é mais o melhor do
mundo, no campo. Fora do campo, um dos piores! Cercado somente de interesses
capitalistas.
Estamos concluindo hoje e amanhã a Copa de 2014, não
importando se em terceiro ou quarto lugar e não importando se vença Alemanha ou
Argentina. A verdade é que o futebol alemão, consciente, planejado, eficiente,
matemático, frio, sem os excessos de comemoração dos jogadores, chega ao final
com merecimento para ser o campeão.
Curvemo-nos ao futebol argentino, que muitas vezes irrita o
torcedor brasileiro, mas reconhecidamente lutador não se entrega até o último
minuto, também merecedor do título mundial.
Terminada a “festa”, voltamos à dura e triste realidade de um
país que vivencia continuadamente em sua história o fenômeno da corrupção
banalizada, que faz de Brasília, onde o Brasil estará jogando hoje contra a
Holanda, o símbolo dos desmandos, onde não há separação do que é público do que
é particular.
Não tenho esperança, mas torço e penso de que nesta caminhada
para um marco que poderá ser positivo, ou até continuar no mesmo, as próximas
eleições, com seus resultados possam trazer uma nova sistemática política e
administrativa.
Levei um grande susto, não estou acreditando que após a
fragorosa derrota para a Alemanha, a moralidade eleitoral e a dignidade tenham
sido feridas nas suas mais altas profundidades, ao receber a notícia de que um ex-governador
de Brasília, retirado do cargo, preso em 2010, condenado esta semana por ato de
improbidade administrativa e multado em quase 1 milhão de reais, suspeito de
envolvimento com o esquema de compra de apoio político, possa ser candidato.
Antes do último dia 5 de julho era considerado ficha limpa. No dia 5 registrou
a candidatura. Agora, com a condenação ocorrida após o pedido do registro, não
sofrerá impedimento em disputar a eleição. É um ficha suja, condenado, multado,
mas deverá ser candidato. E assim sendo, o povo de Brasília o elegerá, segundo
as pesquisas.
Então com uma consciência política desta, o Brasil merece
mesmo uma boa surra da Alemanha!
*Barbosa Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil
0 Comentários