Por José Maurício Guimarães
PREMISSAS:
"A
Maçonaria não impõe nenhum limite à livre investigação da verdade".
"A
Maçonaria tem por fim combater a ignorância em todas as suas formas; combater
os hipócritas que enganam a humanidade; os pérfidos, que a defraudam e os
ambiciosos que a usurpam."
Apesar
de a Maçonaria moderna ter se estruturado na Inglaterra (1717), ela já existia
atuante no século anterior e de maneira germinal em tempos remotos. Na
Inglaterra, a Maçonaria alcançou o estágio mais sofisticado de "negócio de
Estado" e desde então permanece condescendente com o sistema monárquico de
governo.
Foi
na França, com a assistência dos adversários comuns da Coroa Britânica – os
escoceses – que as bases da República foram moldadas e tomadas para si, pelo
Rito Escocês Antigo e Aceito, a partir de 1786 no decorrer da história. Menos
de setenta anos separam a Maçonaria como negócio de Estado monárquico da
Maçonaria revolucionária e republicana (Revolução Francesa, 1789-1799), cujos
principais líderes e redatores da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
foram maçons. Leia mais
Não
pretendo dizer que a Revolução Francesa foi exclusivamente "obra da
Maçonaria", mesmo porque toda obra maçônica só é válida quando abraçada
primeiro pelos seus membros e Lojas; depois pelo povo.
A
progressiva saída de cena da Maçonaria aconteceu com o surgimento, por um lado,
das organizações sindicais durante o século XIX – no Reino Unido, em 1871, e na
França, em 1884 – e por outro, com o desenvolvimento das modernas universidades,
laicas e de caráter estatal, introduzindo-se assim uma relação nova entre os
governos, os trabalhadores e o conhecimento.
No
final do século XIX os "segredos" da organização do trabalho (atuação
operativa) e os "mistérios" da pesquisa científica (atuação
especulativa) passaram das mãos dos maçons para os sindicatos e as
universidades – não por descuido da Maçonaria, mas por vontade própria da
legítima organização maçônica que almeja, em primeiríssimo lugar, o processo
civilizatório condenando qualquer forma de absolutismo.
Não
obstante essa realidade histórica, a Maçonaria do século seguinte (1901-2000)
insistiu em preservar os feudos que haviam sido derrubados há mais de um século
e meio. O desgaste advindo dessa peleja é melhor observado em países de cultura
jovem como o Brasil, pois nos Estados Unidos a Maçonaria vinha se fortalecendo,
nos últimos séculos, mediante projetos
sólidos, abrangentes em termos da república e do interesse social.
Entre
nós, os prolongados queixumes entremeados de gemidos e gritos de grande pesar
face ao desgosto de que – dizem eles – "a Maçonaria não está fazendo
nada", reflete a consequência de um absolutismo que insiste num modelo
feudal, cuja natureza intrínseca e oculta é monárquica.
Este
é o "nó górdio" que ainda não conseguimos desatar (Górdio, segundo a
lenda, foi um camponês da Frigia coroado rei quando, cumprindo a previsão dos
oráculos, chegou à cidade numa humilde carroça que ele amarrou a uma coluna com
um nó impossível de desatar. Enquanto a carroça ali estivesse, só ele poderia
governar fazer as leis e julgar.)
Assim
permanecem os novos carroceiros que amarram seus coches nas colunas do templo
da sabedoria, com um nó desafiante à inteligência e ao poder de seus súditos.
Chega-se ao poder pelo voto democrático, mas governa-se pelo sistema
discricionário – esta é a regra das novas sociedades onde a educação, o
conhecimento e o poder não são compartilhados de forma igualitária.
Alexandre,
o Grande, ouviu a história do nó górdio e, intrigado com a questão, foi até o
templo e, após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó com um
único golpe.
Onde
estarão os Alexandres hoje?
Parafraseando
Fiedrich Hegel, ouso apreciar o que acontece com quaisquer outros fatos do
passado, refiram-se eles aos costumes, às leis, etc. – fatos pertencentes à
história que a miopia desses maçons insiste, à custa de cultuar a estupidez, em
classificá-los sem nenhuma relação com a vida presente. E por melhor que os
verdadeiros maçonólogos reconheçam esses fatos e personalidades em todos os
seus pormenores, o desafio que devemos enfrentar não tem se tornado cultura
nossa. A indigência cultural impede que um direito nosso − o conhecimento do
poder e a participação no poder do conhecimento − produza os efeitos da glória
que já não existe. O que é histórico, disse Hegel, só é nosso quando pertence à
nação a que também pertencemos ou quando podemos considerar o presente em geral
como uma consequência de tais ou tais acontecimentos passados, em especial
daqueles cujos caracteres e atos neles representados se prendem como os anéis
de uma cadeia. Não basta o laço que existe entre o povo e a terra em que ele
vive; é preciso que haja uma íntima ligação entre o passado do nosso povo e o
nosso estado atual, a nossa vida e modo de existência de hoje.
Mas
que essa ligação entre o passado e o nosso estado atual não se imobilize pela
carroça de Górdio estacionada na entrada do templo.
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