De Ubaldino de Amaral a Laelso Rodrigues

*Por Barbosa Nunes
Ubaldino do Amaral                                     Laelso Rodrigues
Entre os anos 1869 e 2013, centenas de maçons concorreram incomparavelmente em ação construtiva da história de Sorocaba. Inicialmente, 28 fundando a Loja Maçônica “Perseverança III”. Entre eles, Ubaldino do Amaral, um dos 24 semeadores que plantaram uma boa semente que ao nascer resultou numa trincheira do idealismo atravessando os anos, firmando-se no conceito maçônico paulista e brasileiro. Após, outros 22, já em 1963, criaram a Fundação Ubaldino do Amaral, o único vivo hoje, Laelso Rodrigues.
Ao longo de todos estes anos nunca desanimaram, enfrentaram forças poderosas e as vezes muito resistentes. Hoje a Loja “Perseverança III” integra a história da notável cidade de Sorocaba. História de liberdade, de luta em favor dos menos favorecidos. Sem excesso de reconhecimento, é indispensável à cidade e seu povo. Pedaço da história de Sorocaba. Leia mais

Representando o Grande Oriente do Brasil e o seu Grão-Mestre Geral, Marcos José da Silva, estive no dia 29 de julho, na sessão magna de comemoração dos 144 anos da Loja, instalada em prédio próprio de 8 andares, no centro da cidade, ocupando dois pavimentos. 
Pesquisei o significado da palavra “sorocaba”, e encontrei que ela vem do tupi, “soroc” (rasgar) e “aba” (lugar), “terra rasgada”, simbolizando a entrada da colonização pelos bandeirantes.
Imenso foi o prazer de reencontrar o Grão-Mestre Geral Honorário do Grande Oriente do Brasil, Laelso Rodrigues, muito saudável e alegre. Ser humano que presidiu a instituição Grande Oriente do Brasil, durante 7 anos, administração que integrei com honra e dedicação, exercendo a  Coordenação Nacional do Programa Maçonaria a Favor da Vida – Contra as Drogas e Secretaria Geral de Interior e Relações Públicas.
O evento presidido pelo Venerável Mestre José Delfino Feliciano Filho, homenageou com gratidão as entidades administradas pela Loja “Perseverança III”. Associação Protetora dos Insanos de Sorocaba – 95 anos de existência, que presta grandioso serviço na saúde, administrando 5 CAPs; Vila dos Velhinhos de Sorocaba – 79 anos, que acolhe 251 idosos; Fundação Ubaldino do Amaral – 49 anos, que edita diariamente o Jornal Cruzeiro do Sul; Liga Sorocabana de Combate ao Câncer – 38 anos; Fraternidade Cruzeiro do Sul – 34 anos; Fundação Cultural Cruzeiro do Sul – Rádio Cruzeiro FM – 18 anos e a Fundação Educacional Politécnica de Sorocaba – Colégios Politécnico e Monteiro Lobato, que atendem gratuitamente a 1310 jovens, selecionados através de critérios socioeconômicos, com assistência integral e sem custos.
Na mesma ocasião foi inaugurada a “Vitrine Filatélica Maçônica”. Mostra permanente de selos comemorativos de “Vultos da Maçonaria Brasileira”, concessão e entrega de medalhas em homenagem aos maçons João Luis Monteiro, Lauri Lopes e Carlos Hingst Corrá. Conheci mais de perto a célula social beneficente e educacional, que resiste com o mesmo vigor e cresce a cada ano no aspecto maçônico e administrativo, especialmente atingindo altíssimo conceito como instituição séria e exclusivamente voltada para a prática social. Ao ser fundada em 31 de julho de 1869, nasceu com o binômio: LIBERDADE/EDUCAÇÃO,  preservado até os dias de hoje.
Suas instituições têm papeis preponderantes no desenvolvimento político, econômico, cultural e social, com destaque para a Fundação Ubaldino do Amaral, atualmente presidida por Laelso Rodrigues. Em 1963 adquiriu o histórico jornal “Cruzeiro do Sul”, fundado em 12 de junho de 1903. Hoje, órgão de divulgação da cidade e região, com parque gráfico moderno, mais de 300 funcionários, editado diariamente, com 28 mil exemplares de segunda a sábado e 32 mil aos domingos, em sistema de assinatura e entrega em domicílio.
Fui presenteado com a obra de José Aleixo Irmão, intitulada “A Perseverança III e Sorocaba” em 6 volumes, narrando com documentos, detalhes e muitos registros, a história da Loja desde o ano de 1869.
Ubaldino do Amaral foi um dos fundadores da Loja “Perseverança III”, idealizador e incentivador da chamada “sociedade emancipadora”, desenvolvida dentro e principalmente fora da Loja, através dos seus meios de projeção que prosperavam socialmente e no fundo da alma de todos.
Ubaldino do Amaral, foi líder abolicionista, e republicano, que após a Proclamação da República exerceu no novo regime funções da maior relevância e integrou a diretoria de várias organizações, apoiadas pelos maçons da época, como a Estrada de Ferro Sorocabana.
Já em campanha pela libertação dos escravos, Ubaldino do Amaral em plena atividade jornalística, publicou no dia 15 de abril de 1870, um dos muitos artigos que produzia para o jornal “O Sorocabano”, assim se manifestando:
“Nestes dias em que a cristandade comemora o acontecimento mais notável da história, resumindo em breve quadro a vida de Jesus Cristo, desde a entrada triunfal em Jerusalém, até a ressurreição gloriosa, lembra um fato ocorrido no Grande Oriente (Beneditinos) ou seja, a ideia de se formar sociedades que algumas senhoras organizaram no Rio de Janeiro e em São Paulo para libertação de escravas.
Esse acontecimento, de grande alcance social, a nosso ver, não é só a redenção do cativo, para quem chega enfim uma gota do sangue derramado na cruz, senão também a nobilitação da mulher, cuja vida por bem da nossa educação asiática, dividia-se até agora em dois períodos, o das modas e o do beatismo inteligente, que a invasora horda dos jesuítas explora ao seu sabor. Desejamos que os senhores sorocabanos adotem a generosa ideia, fazendo assim entrada na comunhão social de que vivem desterrados.
Oferecemo-lhes nosso fraco auxílio, e pomos à sua disposição as colunas desta folha para quaisquer publicações”.
A Loja “Perseverança III” não somente pregava. Mais do que as palavras, valiam os exemplos e os fatos. Nesse ano, além do trabalho desenvolvido, fora das suas colunas e rapidamente mostrados, prosseguia no auxílio à libertação dos escravos, já agora mais incentivada com o projeto de lei maçônica, apresentado por Ruy Barbosa. Assim é que destinou valores para libertação de escravos, fazendo subscrição para referido fim, inclusive cancelando não se gastar com ceias e banquetes, o dinheiro destinado à “Caixa de Emancipação”, deliberando-se em sessão de 30 de outubro de 1870, a liberdade que se daria a algumas crianças. Foi a primeira loja maçônica a comprar alforrias para os escravos, montando a primeira escola para filhos de escravos, isto cerca de 15 anos antes da libertação oficial.
Faço aqui uma conexão desta maravilhosa história social e maçônica, buscando Ubaldino do Amaral em 1869 e ligando-o com o mesmo valor histórico, dedicação e amor à Sorocaba, ao cidadão admirado por todos os maçons do Brasil, Laelso Rodrigues, hoje dirigindo uma empresa com moderno parque gráfico, novo centro administrativo e de comunicação em condições as mais modernas, que ele foi um dos fundadores em 1963.
Ubaldino do Amaral e Laelso Rodrigues, juntos com inúmeros outros maçons, são também heróis e construtores de uma estrutura social que a cidade de Sorocaba não pode prescindir. Hoje 80% do trabalho social, educacional e de saúde de Sorocaba, são dirigidos pela maçonaria, pontuando também de repercussão nacional o Banco de Olhos de Sorocaba, a maior reserva de córneas do país.
Vou aprofundar na leitura dos seis volumes intitulados “A Perseverança III e Sorocaba”, para conhecer sua gloriosa história através da obra do maçom José Aleixo Irmão, que junto com Laelso Rodrigues foi um dos 22 que tiveram a visão de instituírem a Fundação Ubaldino do Amaral e adquirir o Jornal Cruzeiro do Sul, que continua comprometido com a liberdade e educação.
Nossas homenagens a estes dois bandeirantes, Ubaldino do Amaral e Laelso Rodrigues.

*Barbosa Nunes é Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil


Postar um comentário

0 Comentários