Do blog de Hildegard Angel
Não é o povo que sai às ruas, é a classe
média.
É e sempre foi…
Em 1969, foram os jovens de classe média
que ocuparam a Cinelândia, no Rio de Janeiro, na passeata do estudante Edson
Luís, morto no restaurante Calabouço. A primeira manifestação, depois vieram
todas as outras.
Foram aqueles jovens da classe média que
correram das patas dos cavalos, defenderam-se como puderam dos tanques dos
déspotas, foram torturados nas masmorras da truculência e morreram em nome de
nossa Democracia.
Depois vieram as passeatas das Diretas
Já, dos Caras Pintadas e tantas outras, sempre tendo a juventude classe média
como combustível da locomotiva que leva às ruas as multidões.
O hoje não difere do passado.
Os jovens estão nas ruas. Os jovens
precisam das ruas. A juventude quer as ruas.
Não à toa Caetano Veloso cantou que “a
Praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião”. Ou que o próprio Castro
Alves, muito antes, disse “A praça é do povo! como o céu é do condor” Leia Mais
Os jovens querem as ruas. Não só aqui e
agora, mas em toda a parte e ontem, na 1968 de Cohn-Bendit, em Paris, na 69 dos
Edson Luíses, na Cinelândia.
Os jovens querem gritar o que lhes
aperta o peito, o grito da sua idade. E querem uma causa. A de agora nos é
apresentada pela mídia como “a causa dos 20 centavos”. Mas sabemos que é muito mais do que isso.
Esses moços sem ilusões gritam contra a
insegurança em casa e fora dela; contra o sistema de saúde capenga, o público e
o dos planos de saúde, que oprime a classe média lhe negando vagas, tratamentos
e cirurgias, obrigando-a a longas esperas e filas, como se os usuários fossem
pedintes e não pagantes; protestam contra os aluguéis extorsivos e inviáveis ao
bolso do assalariado; contra o show de horrores da corrupção, corroendo todos
os poderes, e não é de hoje.
Gritam contra as altas mensalidades
escolares que obrigam a classe média a, para educar seus filhos, recorrer a um
ensino público da pior qualidade; contra universidades sem verbas, sem
reformas, sem equipamentos, em que os professores ganham salários vis e, por
isso mesmo, não podem ser sequer um espectro do que foram os grandes mestres do
passado.
Esses jovens da classe média se sentem
maltratados. Ouvem boas notícias do governo, porque há muitas para serem dadas,
realmente há – nosso país retomou seu desenvolvimento e encontrou uma forma
mais justa de distribuir sua renda – mas esses resultados parecem não
afetá-los.
Posicionada numa camada do meio, onde
não é alcançada por benefícios que contemplam os mais pobres, situados abaixo
dela, e incentivos que impulsionam o setor produtivo empresarial, colocados
acima, a classe média protesta, entre outras coisas, porque se sente esquecida,
relegada aos telefonistas do telemarketing.
Classe média entregue às gravações
impessoais e sem rosto das prestadoras de serviços públicos e privados, que não
lhes solucionam os problemas e a desrespeitam repetidamente, sob o beneplácito
das agências reguladoras, criadas para defendê-la, porém solenemente ignoram
sua angústia multiplicadora de AVCs e infartos do miocárdio.
Daí que, quando os jovens da classe
média levantam a “bandeira dos 20 centavos”, mesmo sem andar de ônibus, como
alguns já disseram, eles dão muitos gritos.
Gritam nas ruas pelos que não gritam,
não querem gritar, não têm tempo, têm é pressa para chegar em casa, jantar e
ver a novela.
Em 1969, espremido dentro dos ônibus
lotados, o povão olhava com estranheza aqueles jovens da classe média
sobraçando livros serem espancados pela polícia, enquanto berravam
ensanguentados “pelo povo e abaixo a ditadura!”.
Mas o povo dos ônibus tinha pressa para
ir dormir, descansar do dia puxado de trabalho. Pressa pra ir buscar ou levar
os filhos na escola. Pressa pra fazer seu curso noturno e, com o diploma, ter
um salário melhor. Pressa pra tirar os sapatos, esticar as pernas. Pressa pra
uma chuveirada, mesmo fria.
Passadas cinco décadas, nosso povo
continua com pressa pra conseguir lugar na barca. Pra chegar à estação do trem,
à rodoviária. Pressa pra fazer a baldeação de dois, três ônibus, até seu ponto
final. Pressa para botar a cabeça no travesseiro, pois há sempre o dia
seguinte.
O povo tem pressa da pressa. Os jovens
têm pressa das ruas. A polícia tem pressa de bater. Os partidos políticos têm
pressa de ganhar eleição. E quem tem pressa de defender o Brasil?
Quem tem pressa de dar a esses jovens de
2013 uma bandeira de que o Brasil necessita com urgência? A bandeira do
patriotismo!
Coragem de mostrar aos jovens as
vísceras da realidade brasileira, oculta sob os panos cirúrgicos de uma
vergonhosa operação lambança, a dos leilões petrolíferos da margem equatorial
brasileira, roubando a estes mesmos jovens o seu futuro? Aquele futuro
brilhante prometido na campanha eleitoral?
A Agência Nacional de Petróleo acaba de
vender um bilhete premiado às empresas petrolíferas estrangeiras e todos se
calaram.
Perplexos, assistimos em maio passado
como que a um grande conluio entre as classes dominantes em todas as
esferas – Executivo, Legislativo,
Judiciário, grande mídia – parecendo compactuarem com o que, aos tempos de FHC,
disse o primeiro diretor geral da ANP a uma plateia de empresários top: “O
petróleo é vosso!”.
É fundamental levar a essa juventude
inquieta das ruas a realidade desses leilões de entrega do patrimônio nacional
às multinacionais, sem compensação ao povo brasileiro, um crime de lesa-pátria,
um escárnio, um escarro na Soberania Nacional.
Pressa, temos pressa para que seja
cumprida a promessa de campanha da candidata Dilma: “O pré-sal é o nosso
passaporte para o futuro”.
No entanto, passadas as eleições e às
vésperas de uma próxima, vemos chocados a retomada dos leilões, inclusive das
áreas regidas pela Lei 9478/97, aquela que dá todo o petróleo a quem o produz
e, para a União, apenas a suave obrigação de pagar módicos, inexpressivos, 10%
de royalties, em dinheiro!
Migalhas atiradas da mesa da Casa Grande
(os grandes grupos multinacionais) aos da senzala de sempre (nós).
Jovens das ruas, o Brasil precisa
desesperadamente do protesto indignado de vocês contra o desprezo por uma
questão estratégica para o País!
A corajosa juventude brasileira precisa,
com pressa, fazer sua voz alçar voo, junto com o condor de Castro Alves, e
bradar que a Petrobras não precisa leiloar nada, pois já descobriu mais de 54
bilhões de barris no pré-sal, que, somados à reserva anterior de 14 bilhões de
barris, nos dão uma auto suficiência para mais de 50 anos.
Por que, então, essa teimosia em
realizar os leilões? Por que essa pressa?
Vemos hoje estrangulamentos sucessivos e
ilegais na Petrobras, obrigando a empresa a importar derivados por preços
menores do que é obrigada a vender no país.
Mas não obrigam as concorrentes
multinacionais a fazerem o mesmo.
Vemos abrirem o caminho para o cartel
internacional atuar em bloco e se beneficiar da eventual impossibilidade da
Petrobras participar dos leilões. No da margem equatorial, foi pífia a
participação da petrolífera brasileira, enquanto os compradores estrangeiros
saíram deles de pança cheia e palitando os dentes (nada temos contra os
investidores internacionais, mas não queremos ser explorados).
No caso do pré-sal, é previsto na nova
lei 12351/10 que o vencedor do leilão é aquele que der maior percentual do lucro
para a União.
Se a Petrobras não participar, o cartel
poderá ganhar blocos com uma oferta irrisória do percentual do lucro, o que
anularia o esforço do Governo Lula para neutralizar o estrago que a Lei 9478/97
tem feito ao País.
A última novidade foi a Receita Federal
desengavetar esta semana um processo tentando impedir a Petrobras de participar
dos próximos leilões do pré-sal. Se alguém chamar de complô, não estranharemos.
Jovens das ruas, aí está uma causa
fundamental! Uma causa que definirá o seu futuro. Bandeira costurada na medida
da sua energia à flor da pele, à flor de seu grito e de seu coração aberto:
modulem a voz, engrossem o grito, deem à sua luta maior potência e tônus!
Afinal de contas: era ou não era o
petróleo que iria garantir a nossa educação?
Já somos assaltados indefesos, nas ruas
e dentro de casa.
Vamos reagir contra o pior de todos os
assaltos: aquele contra a nossa possibilidade de independência, cidadania,
prosperidade e futuro!
Vamos defender nossos interesses. O
interesse do povo brasileiro.
Ser patriota não está fora de moda.
Ainda está valendo. Esse papo de globalização é só pra nós. Nos países deles
todos se ufanam da Nação que têm.
Vamos dar o nosso grito do Resgate
Patriótico!
Se não abrirmos o olho e levantarmos
nossa voz, o Brasil, mesmo com todo o seu petróleo do pré-sal, continuará
senzala do mundo, curvando a cabeça e recebendo as migalhas da “Casa Grande”
dos países poderosos
Não custa lembrar e até declamar o poema
épico do ‘poeta dos escravos’ Castro Alves,cujos versos do século 19 vêm a
calhar neste 21
Ao Povo o Poder
“A praça é do povo! como o céu é do
condor”.
É o antro onde a liberdade
cria águias em seu calor.
Senhor, pois quereis a praça?
Desgraçada a população!
Só tem a rua de seu…
Ninguém vos rouba os castelos,
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.
Mas embalde… que o direito
Não é pasto de punhal
Nem a patas de cavalo
Se faz um crime legal…
Ah! não há muitos setembros!
Da plebe doem-se os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensanguentado
Diz: já não posso sofrer
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