Gotas de Inclusão

Por Ir.'. Ailton Elisiário
Academia Maçônica de Letras de Campina Grande PB
Uma lei encontra-se aguardando ser sancionada pela presidente da República: a lei que reserva e garante aos alunos egressos do ensino médio público, aos negros, aos pardos e aos índios, a metade das vagas das universidades federais. São 120.000 das 240.000 vagas anualmente disponíveis nessas universidades, que deverão ser preenchidas exclusivamente por alunos que se enquadrem nestas categorias.
A política de cotas de inclusão já vem sendo praticada por universidades públicas federais e estaduais em percentuais mais modestos. Porém, mesmo que se possa pensar que seja boa tal política, vez que cria vantagens para aqueles que educacionalmente vivem em desvantagens, garantir a estes a entrada nas universidades certamente acarretará queda nos níveis de qualidade do ensino superior e da pesquisa acadêmica. As universidades públicas abrirão mais espaços aos alunos menos preparados em detrimento dos mais preparados. Leia mais

É que por ser deficiente o ensino médio público brasileiro, os alunos dessas escolas competem em desvantagem com os alunos das escolas privadas. Prova disto é que o IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica divulgado recentemente pelo INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira registra que os alunos da escola pública terminam o ensino médio com nota média de 3,4, enquanto os da escola privada com 5,7.

A maior parte da produção de conhecimento científico no país provém das universidades públicas, enquanto que as universidades privadas estão praticamente ocupadas com o ensino. Os processos seletivos demonstram que para estas acorrem os alunos egressos do ensino público, enquanto para as públicas acorrem os do ensino privado.

Ao se reservar metade das vagas das universidades para aquelas categorias terse- á, sem dúvidas, uma aceleração da perda de qualidade do ensino. Hoje, os professores já sentem dificuldades na transmissão dos conhecimentos, sendo levados a baixar os níveis de suas aulas para que os alunos possam acompanhar as matérias, adequando-se eles próprios e os conteúdos que ministram por força das circunstâncias. Trata-se de um nivelamento por baixo, o que somente pode resultar em produto final de má qualidade. Imagine-se agora com este acréscimo percentual de vagas.
O que está por detrás dessa política? O descompromisso com a educação fundamental, com o ensino médio, penalizando o ensino superior. Ao invés do governo corrigir as distorções do ensino fundamental e médio deficientes que oferece, transfere o problema para as universidades, que passam a receber obrigatoriamente metade dos seus alunos com baixo desempenho. É muito mais fácil criar cotas nas universidades que realizar investimentos nas escolas de ensino fundamental e médio. Desse modo, as universidades despontam com desinteresse para o governo, com um ensino sem importância. A atual greve das universidades já no seu terceiro mês comprova isto. 

Ora, se não corrigem as distorções do ensino fundamental e médio e deixam o ensino superior perder qualidade, tudo faz crer que a meta é a velada perseguição pela privatização de todo o sistema de ensino nacional. O Estado Brasileiro está a cada dia se esquecendo de suas obrigações para com o povo e a sociedade, transformando-se num Leviatã glutão, leonino por excelência.

Transcrito do Informativo JB News

Postar um comentário

0 Comentários