Um cenário dos jornais impressos nos EUA

Fonte: Observatório da Imprensa
Um relatório baseado em 10 anos de investigações será divulgado em janeiro pela Universidade do Sul da Califórnia, unidade de Annenberg, e antecipa que além do The New York Times, The Washington Post, The Wall Street Journal e USA Today, nos Estados Unidos sobreviverão apenas os jornais locais que decidirem mudar sua estratégia de negócios.Leia mais

O diretor do Center for the Digital Future (Centro para o Futuro Digital), Jeffrey Cole, adiantou as linhas gerais do estudo e admitiu que outras previsões feitas antes sobre o fim dos jornais impressos já falharam anteriormente, mas salientou que o desfecho é inevitável. “Pode haver variação de meses, mas não há dúvida de que estamos diante do fim de uma era”, disse.

A Escola de Comunicação e Jornalismo da USC/Annenberg é um dos três mais respeitados centros de estudo e pesquisa sobre jornalismo nos Estados Unidos. Embora o documento tenha atraído mais atenção pelo fato de marcar uma data para a agonia do jornal impresso como um negócio lucrativo, ele põe mais ênfase numa série de perguntas ainda sem respostas.

A grande questão levantada pelo documento se refere às mudanças que a expansão acelerada da tecnologia digital está provocando nas nossas vidas. Cole afirma na página web do relatório que “os Estados Unidos estão às vésperas de uma mudança radical" e lança a pergunta: “Até que ponto estamos preparados e dispostos a pagar o preço que a tecnologia está cobrando em nossas vidas?”

O informe “Is America at a digital turning point?” destaca mais de 100 dilemas a serem enfrentados pelos norte-americanos, destacando entre eles:

** a questão da credibilidade online,

** a avalancha informativa,

** a obsolescência dos desktops e a sua substituição pelos tablets,

** a implantação do trabalho contínuo (24 horas, sete dias da semana),

** o fim do hábito de ler jornais matutinos,

** a perda da privacidade individual,

** a incógnita da política via internet,

** a mudança dos hábitos de compra de bens de consumo.

As questões levantadas pelo documento já foram tratadas em vários outros estudos de outras universidades e centros de pesquisa tanto dos Estados Unidos com da Europa e do Japão. Mas o que ele destaca é a constatação de que o principal dilema deste momento de transição não é a tecnologia, mas simos valores e comportamentos que ela altera.

A mídia convencional e os grandes portais da Web ainda estão fascinados pelos gadgets eletrônicos e pelos softwares capazes de automatizar processos e ampliar a capacidade de processamento de informações. São raros os estudos sobre como estas mudanças já impactam o nosso quotidiano e vão transformá-lo ainda mais no futuro próximo.

Em pouca coisa se avançou nesse caminho, mas apesar de estarmos apenas engatinhando na avaliação das mudanças nos comportamentos e valores da era digital, já é possível antever que será um processo extremamente complexo porque:

** a avalancha informativa multiplicou o número de variáveis a serem consideradas em qualquer estudo,

** a diversificação e segmentação de conhecimentos viabilizaram a investigação de nichos sociais, econômicos, políticos e culturais em nossa sociedade;

** a estatística e a probabilidade ganham espaço como novos parâmetros para certificação de credibilidade;

** surge uma nova relação entre o individual e o coletivo;

** a hierarquia perde importância em favor da heterarquia;

** e as afirmações absolutas cedem terreno para a abordagem complexa dos fenômenos e processos sociais.

Nenhum dos itens mencionados acima pode ser considerado absoluto e irreversível. Se há uma coisa que a era digital está mostrando de forma quase brutal, esta é a de que tudo muda com uma rapidez perturbadora. Conviver com a incerteza e com a insegurança parece ser o nosso grande desafio daqui por diante.

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