Como a Globo crucificou Ibraim Abi-Ackel

Fonte: Luis Nassif Online
Por Stanley Burburinho
Um escândalo que envolveu nos anos 80, durante o regime militar, o ex-ministro da Justiça Ibraim Abi-Ackel (foto) no contrabando para os Estados Unidos, mas foi inocentado.

Ibraim Abi Ackel foi ministro da Justiça do presidente João Figueiredo (1979/1985), e seu nome apareceu quando o norte-americano Mark Lewis foi preso na alfândega dos Estados Unidos, em março de 1983, ao tentar entrar no país com pedras preciosas, no valor de US$10 milhões.

Mark confessou que as pedras tinham conexões com o empresário Antonio Carlos Calvares, dono da empresa Embraime, de Goiânia/GO, e amigo de Ibraim Abi-Ackel. O ministro-chefe do SNI, general Ivan de Souza Mendes, admitiu que se tratava de um "caso político". Leia mais
Além de caso de polícia - a notícia publicada em março de 1983 na Folha de São Paulo, e recuperada pelo acervo do Arquivo Ana Lagoa, da UFSCar, especializado em memória dos militares, incluindo o período da ditadura militar. O ex-ministro da Justiça, Ibraim Abi-Ackel foi apontado como um dos envolvidos no contrabando de pedras preciosas pelo advogado norte-americano, Charles Haynes, por causa da amizade do ministro com Calvares.

O empresário goiano Antonio Carlos Calvares admitiu na época, que entregou as pedras preciosas ao norte-americano Mark Lewis. O superintendente da Polícia Federal de Goiânia, na ocasião, Francisco de Barros Lima, confirmou que o SNI (Serviço Nacional de Informação, atual ABIN) estava ajudando os agentes federais na apuração do caso.

O ex-secretário de segurança de Goiás, coronel Herberth Curado, disse na mesma reportagem, que Calvares era um "testa de ferro de uma rede de contrabandista e um vigarista de cheque sem fundo". Em 21/08/1985, durante a presidência de José Sarney - primeiro presidente civil indicado pelos militares -, o jornal O Estado de São Paulo publicou que o SNI estava fora do caso do contrabando das pedras preciosas.

De acordo com a informação passada ao jornal por um graduado assessor do Palácio do Planalto, não tinha fundamento a informação de que no governo anterior, de João Figueiredo, o SNI tivesse apurado a participação do ex-ministro Abi-Ackel no contrabando e alertado o presidente da República. Se isto tivesse realmente acontecido, prosseguiu a reportagem, haveria registro nos arquivos do SNI e "nada foi encontrado referente ao contrabando, nem quanto o envolvimento de Abi-Ackel." Também ficou descartada a hipótese de que os documentos incriminadores tivessem desaparecidos, pois "os arquivos foram entregues à nova direção sem baixas em seus papéis," teria dito o alto assessor do planalto.

Segundo as informações do informante do jornal, a recomendação do então presidente Sarney ao ministro-chefe do SNI, Ivan Mendes, quanto ao acompanhamento dos atos da administração pública, "para que não existam dúvidas quanto ao acerto na aplicação do dinheiro público e quanto à conduta de todos os integrantes do governo."

O general Figueiredo, o último presidente militar do país, em entrevista ao site Pampa Livre, em 2000, disse que o envolvimento do ex-ministro Abi-Ackel no contrabando de pedras preciosas foi uma maldade da Rede Globo. Na época, contou o general, a Polícia Federal estava investigando contrabando de drogas em malotes de empresas privadas. A notícia vazou de que a próxima empresa a ser investigada pela polícia federal seria a TV Globo.

Abi-Ackel era naquele momento advogado de uma firma norte-americana que lidava com pedras preciosas. O advogado norte-americano, Charles Haynes, enviou um documento acusando a firma de Abi-Ackel de contrabando de pedras preciosas e "Roberto Marinho botou logo no ventilador e publicou tudo. Mas a justiça americana julgou o caso, inocentou a firma e prendeu como estelionatário o advogado que deu o documento para o Roberto Marinho."

Segundo o jornalista Eliakim Araujo, em Direto da Redação, de 04/10/2007, a campanha foi movida contra o ex-ministro porque ele "ousou impedir a liberação de uma carga de equipamentos destinados à TV Globo". Em represália, durante várias edições, o Jornal Nacional acusou o ministro de envolvimento no contrabando de pedras preciosas, no qual Abi-Ackel não teve, comprovou-se depois, nenhuma participação.

Em 2005, Abi-Ackel ressurgiu no noticiário ao ser reconduzido à Câmara Federal, e como relator da CPI do Mensalão. Abi-Ackel se viu então novamente envolvido em um novo escândalo: seu filho foi suspeito de ser um dos sacadores de R$ 150 mil das contas do publicitário Marcos Valério, protagonista do Mensalão.

Outros casos - Em março de 2010, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu R$ 700 mil em pedras preciosas em Jeremoabo (BA). Em 2009, a PF descobriu um contrabando milionário de US$ 350 mil, envolvendo rubis na região de Barra Velha, norte de Santa Catarina.

No mesmo ano, a PF descobriu que a reserva indígena Roosevelt, habitada principalmente pelos índios Cinta Larga, localizada no sul de Rondônia e parte do Mato Grosso, tinha uma das maiores minas de diamantes do mundo. Apesar da extração de mineral em terras indígenas ser ilegal e depender de regulamentação do Congresso, elas eram exploradas pelo crime organizado, que contrabandeava, segundo estimativas da Abin e do serviço de inteligência da PF, US$ 20 milhões de diamantes do Roosevelt todos os meses.

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