No FMI, não importa a cor do gato, desde que ele cace ratos

*Por Patricia C. Mello - Folha.com
Os países emergentes vêm batendo o pé já há algum tempo para acabar com a dobradinha 'europeu no FMI (Fundo Monetário Internacional) e americano no Banco Mundial'. Seria uma reforma de grande simbolismo, refletindo nas instituições multilaterais a nova ordem global.

Agora, surgiu uma possibilidade de apressar esse processo. Com a renúncia do diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn, que foi acusado de tentar estuprar uma camareira em um hotel em Nova York, abre-se um vácuo na liderança do Fundo. Leia Mais


Mas os europeus estão correndo contra o tempo, tentando acelerar a escolha do novo diretor-gerente, e emplacar outro europeu no comando. Já há lobby europeu para nomes como o da ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, o ex-primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, o presidente do Bundesbank alemão, Axel Weber, e o ex-ministro de Finanças alemão, Peer Steinbrück.

Enquanto isso, não há nenhum tipo de costura entre os emergentes. Não existe ainda um nome de consenso entre os países emergentes.

Tanto Brasil como China manifestaram o desejo de ver um emergente à frente do Fundo. Mas, no caso brasileiro, esse desejo talvez possa esperar --e, no atual momento, um candidato europeu progressista poderia ser melhor que um emergente que tenha ideias menos afinadas com os desejos dos BRICs de democratização do Fundo.

Ou seja, parafraseando Deng Xiaoping, não importa a cor do gato, desde que cace ratos --seja francês, seja emergente, o importante é manter as reformas, e não voltar ao velho FMI.

DSK tinha ótimo relacionamento com os países emergentes. O desejo do governo brasileiro é ter um diretor-gerente que prossiga com as reformas de DSK, não importa se ele é europeu ou de outro país. Mas esse diretor-gerente teria de se comprometer com o fim da dobradinha obrigatória a partir do próximo mandato.

A situação não está assentada e pode haver ainda algum tipo de costura entre os emergentes para emplacar um nome. Por enquanto, não existe uma figura que galvanize os países. E os europeus e americanos, ciosos do status quo, querem acelerar ao máximo o processo de escolha --e haverá pouco tempo para uma campanha efetiva, do tipo que ocorreu com DSK.

Em sua campanha, inclusive, DSK teria prometido ao Brasil acabar com a dobradinha EUA --fato que contou muitos pontos com o governo brasileiro.

Agora, no entanto, "Inês é morta

*Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

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