E a base não era tão grande assim...

Por Gabriel Castro
Quando subiu à tribuna na noite desta terça-feira para tentar convencer a base aliada a votar com o governo e derrubar a emenda apresentada pelo PMDB ao projeto do Código Florestal, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP) (foto), abriu seu pronunciamento com uma reflexão: “Talvez este seja o momento mais tenso da nossa legislatura”. O desfecho da noite, com uma derrota do Planalto, confirmou o prognóstico. A base do governo Dilma no Congresso é ainda mais folgada do que a de seu antecessor, mas essa variedade de aliados é justamente parte do problema: como dar unidade a uma bancada que inclui ambientalistas e ruralistas, militantes pró-casamento gay e pastores protestantes, grandes empresários e socialistas históricos?

Na noite desta terça, a votação do Código Florestal exibiu as fragilidades do governo para formar uma maioria coesa no Congresso, e os interesses de cada bancada falaram mais alto do que a lealdade ao Executivo. Duas semanas antes, a Câmara já havia adiado a votação do Código porque uma emenda apresentada pelo DEM ameaçava derrubar a proposta governista. Nos dias seguintes, os democratas recuaram para apoiar uma proposta global do PMDB. A maior parte dos aliados embarcou, mas o Planalto bateu o pé. Faltou, entretanto, habilidade para construir uma proposta de consenso. Restou ao governo distribuir ameaças – entre elas, a de vetar parte do projeto.

Truculência - A incerteza do governo sobre o tema também pesou: até as últimas horas no dia da votação, o Executivo demonstrava insegurança sobre alguns itens da proposta. Prevendo a debandada, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP) tentou elevar o tom com a bancada aliada. “Quando o governo perde, o Congresso fica sob ameaça”, disse, em plenário. Citando Dilma, ele também classificou como uma “vergonha” a emenda prestes a ser aprovada. O resultado foi o oposto. O arroubo de autoritarismo tirou ainda mais votos da proposta governista. “A base desautorizou o líder. O governo perdeu o controle”, avaliou o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA).

A temática ambiental causa divisões que ultrapassam os limites entre aliados e oposicionistas. Mas o governo já calcula que terá mais trabalho para lidar com o Congresso. O estilo de Dilma Rousseff não colabora: em sua gestão, parlamentares passaram a ter mais dificuldade para chegar ao gabinete presidencial – ou ao do ministro mais poderoso, Antonio Palocci, da Casa Civil. O corte orçamentário que atingiu grande parte das emendas parlamentares também pesou no relacionamento entre o Planalto e a base no Congresso.

Oposição - A oposição parece ter percebido a fragmentação da base. PSDB, DEM e PPS têm apostado em aliados de ocasião para rachar a base aliada em cada tema importante. O diálogo sobre o Código Florestal no Congresso passa agora ao Senado, onde a proposta deve sofrer novas alterações que colocarão à prova a capacidade de articulação do Executivo. Mas há outras batalhas no horizonte. Entre elas, a queda de braço que envolve Antonio Palocci, cujo patrimônio se multiplicou por 20 nos últimos anos.

A tentativa de blindar o ministro pode ser influenciada por outros interesses da base aliada. Parlamentares das bancadas católica e evangélica, composta majoritariamente por representantes de partidos aliados, anunciaram que não votarão nenhuma proposta enquanto o ministro da Educação, Fernando Haddad, não desistir do material didático sobre homossexualismo que o governo pretende distribuir às escolas públicas. Insatisfeitos com a postura do ministro diante do episódio, os deputados agora querem abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Educação. E já avisaram: a queixa pode se transformar em apoio aos requerimentos que pedem investigação sobre o ministro da Casa Civil. Um flanco aberto para a oposição explorar.

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