"Gostem ou não, essa é a política!"

*Por Valdo Cruz
Numa tradução livre, a presidente Dilma Rousseff mandou o seguinte recado aos analistas de mercado durante reunião do Conselhão: Gostem ou não, podem duvidar e até cobrar, mas a política econômica é uma decisão dela, combina combate à inflação sem brecar o crescimento e não adotará medidas drásticas.

Essa foi a tônica do seu discurso no Conselhão, antecedido por falas de sua equipe buscando mostrar unidade e afinidade entre Casa Civil, Ministério da Fazenda e Banco Central --até pouco tempo foco de rumores sobre divisões dentro do próprio governo por conta dos rumos da economia. Leia Mais

Todo roteiro do evento foi montado para responder as críticas do mercado à política econômica, classificada por analistas de ambígua exatamente por priorizar tanto o ataque à inflação como o crescimento elevado da economia do país, na busca de fazer o PIB (Produto Interno Bruto) registrar taxa acima de 4% neste ano.

Desde a fala de Guido Mantega (Fazenda), antecipando dados positivos do ajuste fiscal, passando pela de Alexandre Tombini (BC), destacando as previsões do mercado para a queda da inflação no segundo semestre, até a intervenção de Antonio Palocci (Casa Civil), pontuada por elogios a Mantega e Tombini, o esforço foi um só: estamos todos no mesmo barco, em sintonia com as determinações da chefe Dilma Rousseff.

Três discursos num tom convergente, alinhados na análise sobre a condução da política econômica, mas também não tão eloquentes para evitar ofuscar a fala principal do dia, a da presidente Dilma. Na qual a presidente fez questão de dizer que foi ela quem "orientou" as ações da política econômica para cumprir dois "compromissos" assumidos durante a campanha: controlar a inflação e garantir um crescimento econômico e social.

A presidente, porém, não se furtou a admitir algo que no início do ano não era uma unidade em sua equipe. Depois de repetir o mantra de que a inflação é um "fenômeno mundial", a presidente afirmou "que, hoje, nós sabemos também que a nossa inflação subiu devido a choques internos". Intercalou no meio desta frase um "não vamos esconder esse fato", algo que até pouco tempo atrás a equipe da Fazenda procurava deixar em segundo plano.

Enfim, a fala da presidente foi uma resposta às desconfianças do mercado em relação à política de combate à inflação. Desconfianças refletidas nas previsões de analistas sobre a inflação no final de 2011, que indicam a possibilidade de o índice superar o teto da meta, de 6,5%. Desconfianças, porém, que por enquanto não fazem Dilma Rousseff mudar sua rota. Em seu discurso, deixou isso bem claro, ao lembrar das "cobranças diárias" por medidas por parte do mercado, acrescentando porém que agirá com "responsabilidade e serenidade". Ou seja, nada de agir por conta das pressões vindas de fora. A conferir o resultado dessa política nos próximos meses.


* Valdo Cruz é repórter especial da Folha de São Paulo

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