Pode o lucro ser ético?

Por João Batista Herkenhoff
Há empresários que não orientam suas atividades por uma linha ética. Para estes, professor João Batista Herkenhoff (foto) envia 12 mandamentos para uma mudança de comportamento.


Bertolt Brecht, na sua famosa peça “Ópera dos três vinténs”, coloca o dilema: prender o ladrão do banco ou o dono do banco? Essa frase é um libelo contra o banqueiro porque, à face do banqueiro, Brecht coloca a dúvida: quem é mais ladrão – o ladrão do banco ou o próprio dono do banco? Leia Mais...


Todos os bancos, a própria atividade bancária merece o anátema fulminante de Bertolt Brecht? É possível haver ética na atividade bancária? Ou ampliando a indagação: as empresas em geral podem ser éticas? A atividade empresarial, por si mesma, nega a Ética? As empresas têm como um dos seus objetivos o lucro. O lucro pode ser ético?

Comecemos pela pesquisa etimológica.

Lucro tem origem no latim “lucru”, que significa logro. Logro quer dizer "artifício para iludir e burlar; trapaça, fraude, cilada". Neste caso, o lucro é um logro, um artifício para burlar, o lucro é uma trapaça. Se o lucro é uma trapaça, o objetivo de uma empresa é trapacear.
Através deste encadeamento de frases estamos construindo um silogismo ou um sofisma?

A meu ver, se não fizermos ressalvas, estamos incorrendo num sofisma. Não me parece que a atividade empresarial, por sua própria natureza, negue a Ética. Mesmo a atividade bancária, aquela que lida diretamente com o dinheiro, mesmo essa atividade não me soa, antecipadamente e acima de qualquer consideração, uma atividade que contraria a Ética.

Parece-me, não apenas possível, mas absolutamente necessário, que as empresas subordinem-se à Ética. Pobre país será aquele em que a atividade empresarial estiver descomprometida com a Ética.

Muitas empresas, muitos empresários desconhecem o que seja Ética, não têm o mínimo interesse em que suas atividades orientem-se por uma linha ética. Mas me parece injusto lançar este juízo de condenação contra todas as empresas.

Se algumas empresas dão as costas para a Ética, muitas outras optam por uma linha oposta: fazem da Ética um mandamento.
Vamos então ao miolo desta página.

Quais são os requisitos para que uma empresa mereça o título de empresa ética? Como fruto de uma profunda reflexão, que me acompanha de longa data, proponho doze condições que me parecem devam ser exigidas para que uma empresa conquiste o galardão ético:

1 – que a empresa saiba respeitar e valorizar seus empregados, tratando-os com dignidade, justiça, proporcionando a eles oportunidade de crescimento, entendendo que os empregados são colaboradores, e não subordinados e serviçais;

2 – que a empresa saiba valorizar e respeitar seus dirigentes, gerentes, ocupantes de cargos de chefia, confiando e enaltecendo seu esforço;

3 – que as chefias exerçam seu papel democraticamente, com delicadeza, e não de forma autoritária; que os chefes saibam elogiar e estimular os auxiliares; que emitam instruções operacionais claras e de fácil compreensão; que compreendam que o diálogo favorece um ambiente feliz na empresa, fator que contribui até mesmo para maior produtividade; que diretores e chefes entendam que direção e chefia são missões, e não privilégios, pois, em última análise, todos somos credores de consideração e compreensão;

4 – que o empregado, a que se atribui alguma falta, tenha sempre o direito de se explicar e de se defender;
5 – que a empresa crie e mantenha canais de comunicação dos empregados com as chefias, de modo que os empregados possam apresentar postulações, reclamar, sugerir;

6 – que a empresa saiba respeitar o meio ambiente repudiando toda e qualquer agressão ambiental;

7 – que a empresa não sonegue impostos mas, pelo contrário, compreenda que pagar impostos é uma obrigação social, pois só através da coleta dos impostos pode o Estado cumprir seus deveres para com o povo;

8 – que a empresa saiba exigir do Poder Público a utilização correta dos impostos para que o erário sirva ao bem comum;

9 – que a empresa rejeite qualquer forma direta ou indireta de corromper funcionários, agentes de autoridade ou dirigentes politicos com a finalidade de desviá-los de seus deveres para proveito da empresa;
10 – que a empresa respeite a privacidade do empregado, pois a privacidade é sagrada; que jamais um empregado seja repreendido em público e de forma a ser humilhado;

11 – que a empresa respeite os direitos do consumidor, que esteja sempre pronta para atender reclamações decorrentes de mau serviço ou defeitos em mercadorias e que as falhas encontradas sejam prontamente reconhecidas e corrigidas;

12 – que a empresa, como um todo, englobando empresários, dirigentes, trabalhadores, sinta-se parte de alguma coisa que é superior à empresa: a Pátria, a comunhão nacional, o sentimento de que todos fazemos parte de uma sinfonia universal, de uma caminhada da Civilização e da Cultura, na construção de um mundo melhor.

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3 Comentários

  1. Primeiramente, João Batista, há uma colocação indevida no seu texto: as empresas, seja indústrias, comércio, bancos ou prestadoras de serviços, elas NÃO PAGAM IMPOSTOS. Elas apenas tem a incumbência de arrecadar o valor correspondente ao imposto exigido e REPASSAR para o governo, pois quem PAGA OS IMPOSTOS embutidos nos serviços ou produtos, são os consumidores ou usuários. Nunca as empresas. Em segundo, mesmo que se siga a linha proposta por John Lennon, de que "O Sonho Não Acabou", a esperança no cumprimento de pelo menos 50% do que você propõe às empresas não passa de sonho. E, se assim, o sonho acabou. Não, não sou pessimista, SOU REALISTA. A cada ano que passou só tenho visto aumentar a ganância, a usurpação, o "lucro", o engodo e os procedimentos ilícitos, anti-éticos e imorais. Não vejo luz alguma no final do túnel que me devolva a esperança desse sonho que vocês propõe SONHAR. In - fe- liz - men - te !!!

    Xico Júnior

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  2. Caro, João Batista! Faltou explicitar, ainda sobre o tema "Pode o lucro ser étio?", que sonegação é um apelido que casuisticamente colocaram prá lograr os ignaros e incautos, posto que SONEGAÇÃO é, segundo a legislação vigente, "CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA", portanto um ato de tal gravidade que é passível de punição exemplar, mas que passa quase que se normal, pois SONEGAÇÃO virou coisa vulgar, banal. Agora "Crime de Apropriação Indébita" tem, psicologicamente, outro peso. Até porque as empresas, repito, não PAGAM IMPOSTOS, elas apenas são agentes de arrecadação que devem, legal e religiosamente, REPASSAR O DINHEIRO ARRECADADO dos cidadãos contribuintes ao Estado. Peço ao caro articulista que sempre que for falar em SONEGAÇÃO não esqueça de que esse apelido amenizador, por banalizado, ESCONDE um "CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA".

    Xico Jr

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  3. Saint-Clair escreveu:
    É Professor... Se o senhor souber de alguma que se enquadre nessas doze condições, conta pra nós aqui no DR. Parabéns pelo artigo.

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