Da Redação
A histórica relação entre a Maçonaria e
instituições do Estado britânico tornou-se, nas últimas semanas, palco de um
embate jurídico e simbólico de grandes proporções. A Grande Loja Unida da
Inglaterra, principal organização maçônica da Inglaterra e do País de Gales,
anunciou que ingressará com uma ação judicial contra a Polícia Metropolitana de
Londres, em razão de uma nova exigência imposta aos seus agentes: declarar
formalmente se são membros da Ordem Maçônica.
A controvérsia surgiu após a Polícia
Metropolitana incluir a Maçonaria em sua lista de “associações declarativas”,
equiparando-a, na prática administrativa, a informações sensíveis como
condenações criminais anteriores. Segundo o comando da corporação, a decisão
foi motivada por preocupações levantadas durante uma consulta interna, nas
quais se discutiu se a percepção pública da imparcialidade policial poderia ser
afetada pela filiação de agentes a organizações consideradas reservadas ou
discretas.
A reação da UGLE foi imediata e contundente. Em
comunicado oficial, a instituição afirmou que a medida “lança uma aura de
desconfiança sobre toda a comunidade maçônica”, afetando injustamente
milhares de homens e mulheres que, segundo a entidade, servem a sociedade com
integridade. O Grande Secretário da UGLE, Adrian Marsh, declarou que a
organização “não tem outra opção senão tomar medidas legais para contestar
esta decisão ilegal”, ressaltando o impacto negativo direto sobre seus
membros, atuais e antigos, que atuam na Polícia Metropolitana.
Marsh destacou ainda que a decisão não foi
tomada de forma leviana, mas como último recurso para proteger os direitos
individuais de maçons que exercem funções públicas. Ele lembrou que, ao longo
dos últimos 30 anos, a Maçonaria inglesa realizou um “trabalho significativo”
para combater concepções errôneas sobre a Ordem, investindo em maior abertura e
transparência perante a sociedade.
A posição da Polícia Metropolitana, por sua
vez, encontra respaldo em recomendações do Painel Independente Daniel Morgan,
criado para investigar o assassinato do investigador particular Daniel Morgan,
ocorrido em 1987. O caso, que permanece sem solução, envolveu policiais que
mantinham ligações com a Maçonaria. Embora o relatório final do painel não
tenha encontrado provas de que tais vínculos tenham sido usados de forma
corrupta no homicídio ou na investigação falhada, o documento registrou que
alguns agentes manifestaram dúvidas sobre possíveis conflitos entre a lealdade
maçônica — jurada por seus membros — e a lealdade devida à corporação e ao
público.
Com base nessas conclusões, o painel recomendou
que todos os policiais e funcionários declarassem filiação a qualquer grupo que
pudesse colocar em dúvida sua imparcialidade ou gerar a percepção de conflito
de lealdades. Ao anunciar a adoção dessa recomendação, o comandante Simon
Messinger afirmou que a confiança do público e dos próprios agentes “deve ter
prioridade sobre o sigilo de qualquer organização de membros”.
Em resposta ao anúncio da ação judicial, um
porta-voz da Polícia Metropolitana confirmou o recebimento de uma notificação
extrajudicial da Grande Loja Unida da Inglaterra, acrescentando que, nesta fase
inicial, não seria apropriado fazer comentários adicionais.
O caso coloca em debate temas sensíveis como transparência, liberdade de associação, sigilo institucional e confiança pública. Mais do que um conflito jurídico, a disputa revela tensões profundas entre tradição, percepção social e as exigências contemporâneas de prestação de contas nas forças de segurança do Estado.
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