“1793: Quando a Guilhotina Calou o Grão-Mestre da França”



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Da Redação

O ano de 1793 marcou um dos momentos mais sombrios e simbólicos da Revolução Francesa. Nesse turbilhão de sangue e ideais, Luís Filipe José de Orléans, mais conhecido como Duque de Orléans ou Filipe Igualdade, encontrou seu destino final na guilhotina. Ironia ou tragédia histórica: o homem que um dia presidiu a Grande Loja e o Grande Oriente da França — sendo um dos mais influentes maçons de seu tempo — foi devorado pela própria revolução que, de certa forma, ajudara a inspirar.

Filho da Casa Real Francesa, primo do rei Luís XVI, e dotado de uma personalidade ambiciosa e controversa, o Duque de Orléans parecia representar a síntese das contradições de sua época. Educado nos ideais iluministas e simpatizante das reformas, tornou-se Grão-Mestre do Grande Oriente da França, cargo que o colocava à frente da elite intelectual e progressista do país. Sob sua liderança, a Maçonaria francesa expandiu-se, tornando-se um espaço de debate filosófico e político, onde se discutiam liberdade, igualdade e fraternidade — ideais que ecoariam com força nos eventos de 1789.

Contudo, quando a Revolução Francesa escapou ao controle das elites reformistas e mergulhou no radicalismo jacobino, o Duque vacilou. Temendo pela própria vida e pela de sua família, rompeu seus laços com a Maçonaria, tentando afastar de si qualquer associação com instituições vistas como “burguesas” ou “aristocráticas”. Esse gesto, que pretendia ser uma estratégia de sobrevivência, acabou por isolá-lo tanto dos revolucionários quanto dos antigos aliados.

A ironia cruel da história é que, apesar de adotar o nome “Filipe Igualdade” e de votar pela execução do próprio primo, o rei Luís XVI, o Duque não escapou à fúria dos mesmos que antes aplaudira. Em 6 de novembro de 1793, foi levado à guilhotina sob a acusação de traição. Sua morte simbolizou o colapso das ilusões de conciliação entre nobreza e revolução — e, para a Maçonaria, representou a trágica lembrança de como o medo e o cálculo político podem destruir até os mais nobres ideais.

O Duque de Orléans permanece, assim, uma figura paradoxal: um maçom reformista, um aristocrata revolucionário, e um homem que acreditou poder domar a tempestade, mas acabou tragado por ela. Sua execução não foi apenas o fim de um homem, mas o epitáfio de uma era em que razão e poder, fé e liberdade, se confrontaram de forma implacável.

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