Da Redação
Johann Wolfgang von Goethe, nascido em 1749 em Frankfurt e falecido em 1832 em Weimar, é universalmente reconhecido como o maior homem de letras da Alemanha e, para muitos, também como o maior maçom alemão. Sua obra multifacetada — que abarca poesia, teatro, romance, filosofia, ciência e política — é marcada por influências diversas, entre as quais a Maçonaria ocupa um lugar de destaque, ao lado de temas esotéricos como a Alquimia, a Cabala e a Tradição Rosacruz.
A Iniciação Maçônica
Goethe foi iniciado em 23 de junho de 1780 na Loja "Amalia zu drei Rosen", em Weimar, onde passou pelos rituais da Arte Real ao lado do Grão-Duque Charles Augustus. Embora não tenha sido um frequentador assíduo dos trabalhos maçônicos, sua adesão à Ordem foi mais do que formal. Goethe esteve presente nos momentos decisivos da história de sua Loja e produziu diversas obras em que o ideal maçônico se revela com clareza.
Literatura e Simbolismo Iniciático
A Maçonaria aparece como influência contínua em sua produção literária. Entre os poemas que expressam esse vínculo, destaca-se Bendita Nostalgia, uma ode à transformação espiritual que remete à ideia central do Terceiro Grau: “morrer para renascer”. O verso final, “Morra e seja transformado”, é, por si só, um resumo da iniciação maçônica e da jornada espiritual de todo Mestre.
Em O Grande Copta (1791), Goethe satiriza a figura de Cagliostro e os falsos profetas que exploravam o prestígio da Maçonaria Egípcia. Aqui, ele faz uma defesa velada da verdadeira Maçonaria, ao criticar o charlatanismo envolvido em ritos obscuros e pretensamente místicos.
Em Geheimnisse (Os Mistérios), poema inacabado escrito em 1784, ele narra a jornada do Irmão Marcos, que encontra uma misteriosa irmandade de cavaleiros unidos em torno de um Mestre chamado Humanus. A presença de uma cruz enlaçada por rosas — símbolo inequívoco da Tradição Rosacruz — indica o entrelaçamento entre os diversos caminhos espirituais e a busca pela verdade universal.
Wilhelm Meister: Um Romance Maçônico
A saga de Wilhelm Meister, composta por diversos volumes como O Aprendizado de Wilhelm Meister e Os Anos de Viagem de Wilhelm Meister, é a obra em que o ideal maçônico se apresenta de forma mais explícita. A trajetória do protagonista, que parte da juventude imatura em direção à sabedoria e ao serviço da coletividade, representa alegoricamente a evolução iniciática do Aprendiz rumo à Maestria. A presença de uma sociedade secreta chamada “Sociedade da Torre” funciona como metáfora de uma Ordem Iniciática que orienta e protege o neófito em sua jornada.
Fausto e a Iniciação Alquímica
Em Fausto I e Fausto II, Goethe mescla simbolismos cristãos, alquímicos e maçônicos numa obra-prima do espírito humano. A jornada de Fausto em busca do conhecimento e da realização espiritual, marcada por provações e tentações, pode ser interpretada como uma representação do processo de iniciação interior. A redenção de Fausto no final, não pela ortodoxia, mas pela busca sincera da verdade, ressoa com os princípios da Maçonaria espiritual.
A Luz como Símbolo Supremo
As últimas palavras de Goethe — “Mehr Licht!” (“Mais luz!”) — proferidas momentos antes de sua morte, têm sido interpretadas como um poderoso símbolo maçônico. A busca pela luz, central na tradição da Arte Real, expressa a aspiração constante do ser humano à sabedoria, à liberdade e ao aperfeiçoamento moral.
Goethe, os Illuminati e a Estrita Observância Templária
O envolvimento de Goethe com outras sociedades iniciáticas, como a Ordem da Estrita Observância Templária e os Illuminati da Baviera, indica seu profundo interesse pelos mistérios esotéricos e pelos ideais iluministas de transformação social e individual. Tais experiências expandiram ainda mais seu horizonte espiritual e intelectual, fornecendo-lhe materiais simbólicos e doutrinários que foram incorporados em sua vasta obra literária.
Goethe não foi apenas um literato de gênio, mas um verdadeiro iniciado, cuja obra é atravessada por arquétipos, símbolos e metáforas que refletem uma visão profundamente espiritual da existência. A Maçonaria, com sua pedagogia simbólica e ética universalista, ofereceu-lhe não apenas inspiração, mas um modelo de vida. Entre as palavras que melhor expressam sua herança espiritual e maçônica, destaca-se uma de suas reflexões:
“A nossa associação tem o dever de desenvolver, no Eu de cada um dos seus membros, o sentimento religioso, sem referência particular.”
É assim que Goethe, poeta da luz e do espírito, permanece entre nós: como uma tocha acesa na escuridão do mundo profano, guiando o caminhar dos que buscam, na senda da Iniciação, mais luz.
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