A Maçonaria e a Carta Apostólica de 29 de Abril de 1876: O Caso do Duque de Caxias


Da Redação 

No dia 29 de abril de 1876, um episódio emblemático marcou as relações entre a Igreja Católica e a Maçonaria no Brasil. Nesse dia, o Papa Pio IX, reforçando a postura de condenação já tradicional do Vaticano contra a Ordem Maçônica, expediu uma carta apostólica direcionada aos bispos brasileiros. O documento recomendava, de forma enérgica, que as confrarias religiosas fossem purgadas daquilo que chamava de "infecção maçônica".

A influência da Maçonaria nas instituições civis e religiosas brasileiras era, à época, considerável. Muitos homens de prestígio público — militares, magistrados, políticos e membros de irmandades católicas — eram declaradamente maçons. Essa sobreposição de pertencimentos era vista pela hierarquia eclesiástica como uma ameaça à autoridade e à ortodoxia da Igreja.

Entre os atingidos pela orientação papal estava Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, herói da nação e hoje Patrono do Exército Brasileiro. Fiel católico e também maçom, Caxias foi expulso da Irmandade de Santa Cruz dos Militares, confraria de forte tradição ligada ao meio militar carioca. A medida ilustra o grau de tensão que a questão maçônica provocava, chegando a atingir até mesmo figuras centrais da história do Brasil Imperial.

No entanto, a ironia histórica não tardou a se manifestar. Em 1949, quando os ossos do Duque de Caxias foram trasladados em uma cerimônia cívico-militar de grande significado nacionalista, a missa de vigília em sua homenagem foi realizada na mesma igreja da Irmandade de Santa Cruz dos Militares — a instituição da qual ele fora expulso décadas antes. Dezoito bispos e arcebispos participaram da celebração, marcando uma clara mudança na postura da Igreja em relação à memória de Caxias e, de certa forma, sinalizando um abrandamento das hostilidades históricas contra maçons que, como ele, também eram fervorosos cristãos.

Este episódio ilustra não apenas as tensões entre Maçonaria e Igreja Católica no Brasil do século XIX, mas também a capacidade de evolução institucional ao longo do tempo. Ele nos convida a refletir sobre como a história é construída por momentos de conflito, reconciliação e reconhecimento das contribuições individuais para o bem comum — independentemente de filiações ideológicas ou religiosas.


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